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Mitos e Verdades sobre a Psicanálise: entre fatos e mal-entendidos
Ella Barruzzi
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Mitos e Verdades sobre a Psicanálise: entre fatos e mal-entendidos
Conheça mitos e verdades sobre a psicanálise, suas abordagens e como ela transforma a compreensão do inconsciente e das relações humanas.

A psicanálise vai muito além da simples compreensão de sintomas psicológicos. Ela investiga o inconsciente, os desejos reprimidos e os conflitos internos que influenciam o comportamento humano. Justamente por ser um tema tão amplo, é cercada por diversas crenças – algumas verdadeiras, outras nem tanto. Por isso, é importante esclarecer os mitos e verdades sobre a psicanálise.

Muitas pessoas acreditam que a psicanálise se restringe a um modelo rígido criado por Freud e que suas ideias permanecem estáticas.

No entanto, ela evoluiu significativamente desde sua fundação, incorporando novas perspectivas e diálogos com outras áreas do conhecimento. Hoje, há diferentes escolas psicanalíticas, como a lacaniana, a winnicottiana e a kleiniana, que ampliam o alcance e a aplicabilidade da teoria freudiana.

Diferentemente de abordagens que focam exclusivamente no alívio sintomático, a psicanálise trabalha com o tempo subjetivo de cada indivíduo. O processo analítico não é imediato, pois envolve a construção de significados, a ressignificação de experiências e a elaboração de conteúdos inconscientes.

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Todo psicanalista é psicólogo?

Falar sobre as diferenças entre psicólogo e psicanalista é fundamental para compreender a diversidade de abordagens dentro da saúde mental. Enquanto a Psicologia é uma ciência com base acadêmica formal, a Psicanálise é um campo de estudo e prática que segue uma trajetória formativa distinta, baseada na transmissão de conhecimento entre analistas.

Diferentemente da Psicologia, que exige uma graduação reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) e, no caso do exercício clínico, registro no Conselho Regional de Psicologia (CRP), a Psicanálise não é regulamentada como uma profissão de ensino acadêmico tradicional. Os profissionais que desejam começar a formação psicanalítica precisam seguir três pilares fundamentais:

  1. Estudo teórico: o psicanalista precisa se aprofundar nos textos clássicos e contemporâneos da Psicanálise, incluindo as obras de Sigmund Freud, Jacques Lacan, Melanie Klein, Donald Winnicott, entre outros. Essa formação é conduzida por institutos de Psicanálise, sociedades psicanalíticas, grupos de estudo e cursos livres como o +Psicanálise da Casa do Saber.
  2. Análise pessoal: um dos requisitos mais importantes para um psicanalista é passar pelo próprio processo de análise. Essa experiência é considerada essencial para que o futuro analista compreenda suas próprias questões inconscientes, evitando que interfiram na escuta do paciente.
  3. Supervisão clínica: o aprendizado prático se dá por meio do acompanhamento de casos clínicos, sob a orientação de um psicanalista mais experiente. Esse processo de supervisão garante que o analista em formação refine sua escuta e sua capacidade interpretativa dentro da prática clínica.


Então, se você está se perguntando: “Para ser psicanalista é obrigatório ter curso superior?”, a resposta é não. Isso porque os psicanalistas podem atender sem formação em Psicologia.

Como a Psicanálise não exige uma graduação específica, um psicanalista pode ter diferentes formações acadêmicas – Filosofia, Comunicação, Medicina, Direito, Letras, entre outras. O que define um psicanalista não é um diploma universitário, mas sim seu percurso formativo dentro da tradição psicanalítica.

É importante destacar que sua atuação está focada na escuta do inconsciente e na condução do processo terapêutico a partir das associações livres e da interpretação das formações do inconsciente, como os sonhos e atos falhos.

O psicólogo clínico, por outro lado, tem uma formação acadêmica estruturada e regulamentada. Sua prática envolve o uso de métodos científicos para avaliar e intervir em processos cognitivos, emocionais e comportamentais.

Ou seja, enquanto a Psicanálise enfatiza o papel do inconsciente e das experiências infantis na constituição da subjetividade, a Psicologia Clínica pode adotar uma abordagem mais voltada para padrões de pensamento e comportamento no presente, dependendo da linha teórica escolhida.

Com essas distinções em mente, vamos abordar algumas questões recorrentes sobre a psicanálise para desmistificar, de uma vez por todas, as crenças que o senso comum muitas vezes trata como verdades absolutas – mesmo quando são difíceis de engolir.



Para a psicanálise, todo mundo tem raiva da mãe?

Desde os primeiros momentos da vida, a mãe – ou a figura que representa esse papel – desempenha funções cruciais no desenvolvimento do bebê e constrói essa relação mãe e filho na psicanálise.

Mas não se trata apenas de afeto ou cuidado físico, mas de uma construção subjetiva: é por meio desse vínculo inicial que o indivíduo começa a formar sua identidade, reconhecer limites e estruturar seus primeiros desejos.

Nos primeiros meses, o bebê vive um estado de fusão simbiótica com a mãe, em que não se percebe como separado dela. Gradualmente, à medida que o mundo externo se impõe e outras figuras entram em cena, ocorre a diferenciação entre o “eu” e o “outro”. Esse processo de separação é fundamental para o desenvolvimento emocional e pode ser marcado por momentos de frustração e ambivalência.

Dessa forma, Sigmund Freud formulou o conceito de complexo de Édipo, que descreve como a criança organiza seus primeiros sentimentos amorosos e conflitos em torno das figuras parentais. Nesse processo, é comum que sentimentos contraditórios surjam, incluindo amor, desejo de proximidade, ciúme e até raiva.

No entanto, é um erro interpretar isso de forma literal ou universal – ou como sendo uma verdadeira raiva da mãe na psicanálise. O complexo de Édipo não significa que todas as pessoas desenvolvem ressentimento ou hostilidade contra a mãe. Em vez disso, ele ilustra como as relações familiares moldam a forma como lidamos com nossos afetos e criamos modelos de relacionamento para o futuro.

Outro conceito fundamental vem do pediatra e psicanalista Donald Winnicott, que introduziu a ideia da mãe suficientemente boa. Para ele, não existe uma mãe perfeita, mas uma mãe que atende às necessidades do bebê de forma responsiva, sem sufocar nem abandonar.

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Terapia é coisa de doido?

A ideia de que “terapia é coisa de doido” é um dos mitos mais prejudiciais à saúde mental, pois cria um estigma que impede muitas pessoas de buscarem ajuda psicológica ou psicanalítica.

A verdade é que a terapia não é destinada apenas a quem enfrenta transtornos psíquicos graves, mas a qualquer pessoa que deseje compreender melhor seus sentimentos, comportamentos e desafios emocionais.

Historicamente, a sociedade sempre teve dificuldades em lidar com questões ligadas à mente e às emoções. Durante séculos, distúrbios psíquicos foram associados à loucura, possessões demoníacas ou fraqueza moral.

Além disso, a Psiquiatria, no passado, esteve fortemente ligada à internação compulsória em manicômios, o que contribuiu para reforçar a visão negativa sobre o tratamento da saúde mental.

Com o tempo, o avanço da Psicologia, da Psicanálise e da Neurociência mostrou que o sofrimento psíquico faz parte da experiência humana e que todos podem se beneficiar de um espaço de escuta e reflexão. No entanto, o preconceito ainda persiste em algumas culturas e contextos sociais.

A psicanálise e outras abordagens terapêuticas da psicologia não são exclusivas para quem tem transtornos mentais diagnosticados. Muitos procuram terapia para:

  • Compreender melhor seus sentimentos e padrões de comportamento.
  • Melhorar seus relacionamentos interpessoais e profissionais.
  • Aprender a lidar com momentos de crise, como luto, separação ou mudanças na vida.
  • Desenvolver um senso mais profundo de identidade e propósito.
  • Trabalhar questões como ansiedade, insegurança e autoestima.


Ou seja, buscar terapia não é um sinal de fraqueza, mas um ato de cuidado consigo mesmo. Assim como cuidamos do corpo indo ao médico ou praticando exercícios, cuidar da saúde mental deveria ser encarado como algo natural e necessário.



Psicanalista não fala nada?

A concepção de que o psicanalista permanece em silêncio durante toda a sessão, apenas ouvindo o paciente, é uma das ideias mais equivocadas sobre a psicanálise.

De fato, a escuta ativa é uma parte central do processo terapêutico, mas o papel do psicanalista vai muito além de simplesmente ser um ouvinte passivo – envolve uma participação ativa, com intervenções que estimulam o paciente a refletir sobre seu inconsciente, seus conflitos e seus padrões emocionais.

Freud, o pai da psicanálise, estabeleceu que o psicanalista deve ouvir atentamente as palavras do paciente, mas também prestar atenção nos lapsos, esquecimentos, hesitações e até nos silêncios. Esses aspectos podem revelar o que está reprimido ou fora da consciência, oferecendo pistas preciosas sobre o inconsciente.

Porém, essa escuta ativa não significa que o analista não fale. O psicanalista utiliza a escuta como uma ferramenta para compreender as dinâmicas internas do paciente, mas também intervém de maneira estratégica, questionando, sugerindo e interpretando.

O silêncio do analista, quando presente, não é passividade, mas um espaço que permite ao paciente elaborar seus próprios pensamentos e sentimentos.

Embora a psicanálise se concentre na escuta e no processo de livre associação, onde o paciente fala livremente sobre tudo o que vem à mente, o psicanalista intervém de maneira cuidadosa e ponderada. Essas intervenções podem ocorrer de várias formas:

INTERVENÇÃO NA PRÁTICA
Questões O psicanalista faz perguntas que incentivam o paciente a aprofundar sua reflexão. Essas perguntas muitas vezes buscam explorar inconscientemente os sentimentos e pensamentos que surgem nas associações livres. Elas podem ser simples, mas com grande potencial de provocar uma mudança de perspectiva no paciente.
Interpretações Uma das funções principais do psicanalista é ajudar o paciente a conectar as pontes entre os pensamentos conscientes e os inconscientes. Quando o analista percebe um padrão ou um conflito inconsciente, pode oferecer uma interpretação que ajude o paciente a compreender suas resistências, medos ou desejos ocultos. A interpretação visa trazer à luz o que está reprimido ou não plenamente consciente.
Reflexões O analista também pode refletir sobre o que foi dito pelo paciente, destacando padrões emocionais ou comportamentais que ele observa. Isso pode ajudar o paciente a perceber aspectos da sua psique que talvez não tivesse notado, promovendo insights valiosos sobre seu próprio comportamento.
Contratransferência Refere-se às reações emocionais do analista em relação ao paciente. O psicanalista deve estar ciente de como suas próprias emoções e percepções influenciam a terapia. Muitas vezes, essas reações podem oferecer informações valiosas sobre os sentimentos inconscientes do paciente, e o analista pode usá-las para ajudar a entender melhor a dinâmica da relação terapêutica.


Ao dar ao paciente tempo e espaço para pensar, o psicanalista ajuda a criar um ambiente de liberdade psíquica, no qual o paciente pode se abrir e trazer à tona aspectos mais profundos de sua psique. O silêncio do psicanalista pode, assim, ser visto como uma ferramenta terapêutica importante.



Tudo é sobre sexo?

A afirmação de que "tudo é sobre sexo" é um mal-entendido comum sobre a psicanálise, muitas vezes simplificando excessivamente as ideias complexas de Freud.

Embora a sexualidade seja de fato uma parte fundamental da teoria psicanalítica, ela não é a única área de investigação da psicanálise. O trabalho de Freud estabeleceu a importância da libido, ou energia psíquica relacionada ao desejo, mas sua teoria vai muito além da sexualidade, envolvendo uma análise abrangente das motivações inconscientes, das relações interpessoais e das experiências formativas ao longo da vida.

Sigmund Freud introduziu o conceito de libido como uma energia psíquica que, em sua forma mais simples, está relacionada ao desejo sexual. Em sua teoria inicial, ele sugeriu que a libido se manifesta primariamente na sexualidade e, portanto, muitos dos impulsos humanos e comportamentos são de alguma forma influenciados por desejos sexuais inconscientes.

A ideia central da teoria da libido é que nossas motivações e conflitos não são apenas conscientes, mas também profundamente enraizados em aspectos ocultos da nossa psique.

No entanto, Freud também enfatizou que a libido não se limita ao sexo genital, mas se manifesta em uma variedade de formas ao longo do desenvolvimento humano. Ele sugeriu que a energia libidinal se desloca por diferentes estágios do desenvolvimento sexual, começando com a infância e a fase oral, passando para a fase anal, fálica e, por fim, à fase genital, com diferentes fixações e formas de expressão da libido ao longo desses estágios.

Embora a sexualidade tenha sido um foco central da teoria de Freud, a psicanálise moderna abrange uma gama muito mais ampla de experiências humanas. Freud reconheceu que as pulsões de vida e de morte, a dinâmica do inconsciente e as relações de apego são igualmente cruciais para o entendimento da mente humana.

Para ele, os conflitos inconscientes entre desejos instintivos e a moralidade imposta pela sociedade eram fundamentais para compreender as motivações e os sintomas psíquicos.

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Psicanálise não funciona?

Muitas vezes, as pessoas buscam soluções imediatas para seus problemas emocionais ou psíquicos, mas a psicanálise, ao contrário de métodos terapêuticos mais diretos, é um processo gradual e profundo. Ela não promete alívio instantâneo, mas sim a transformação lenta e consistente de padrões emocionais e comportamentais que podem estar enraizados em experiências passadas e dinâmicas inconscientes.

A psicanálise é um processo de longo prazo, que pode durar anos, dependendo das necessidades do analisando. Ao contrário de terapias mais breves, que se concentram em resolver problemas específicos em um tempo limitado, a psicanálise busca uma compreensão profunda e duradoura da psique humana.

Esse tempo prolongado de análise permite que a pessoa consiga entrar em contato com partes da sua psique que estão geralmente escondidas, e também com sentimentos e memórias reprimidas.

Embora a psicanálise não prometa uma solução rápida ou "cura" para os sintomas, ela tem o potencial de provocar transformações profundas e duradouras.

Ao longo da análise, o paciente pode descobrir as raízes inconscientes de seus conflitos e sintomas, o que muitas vezes permite uma mudança significativa no modo como ele vê a si mesmo e ao mundo ao seu redor.

Outra razão pela qual algumas pessoas podem acreditar que a psicanálise "não funciona" está ligada ao conceito de resistência, um fenômeno central no processo psicanalítico.

A resistência se refere às defesas psíquicas que as pessoas desenvolvem para evitar enfrentar conteúdos emocionais dolorosos ou traumáticos. Isso pode ocorrer de várias formas, como a falta de vontade de falar sobre certos assuntos, a sensação de que o processo não está trazendo resultados ou a tendência a sabotar o próprio progresso.

Outro aspecto fundamental é a relação entre o paciente e o psicanalista. A chamada "transferência" é um processo no qual o paciente projeta sentimentos, desejos e expectativas em relação ao psicanalista, muitas vezes revivendo relacionamentos significativos do passado.

Em um mundo em que a rapidez e a eficiência são muitas vezes vistas como os maiores valores, a psicanálise se destaca por seu compromisso com a exploração mais rica e complexa da mente humana.



O tratamento demora muito?

O tempo de tratamento na psicanálise é frequentemente visto como uma das suas características mais distintas, e também uma das que geram mais questionamentos.

De fato, quando comparada a outras abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que tende a ser mais curta e focada em soluções práticas e imediatas, a psicanálise pode parecer demorada.

No entanto, a duração do tratamento psicanalítico está diretamente relacionada à sua profundidade e ao objetivo de compreensão do inconsciente, tornando-o um processo transformador e, muitas vezes, de longa duração.

Ao contrário de abordagens que visam tratar os sintomas de forma mais rápida e objetiva, a psicanálise se propõe a uma exploração profunda das causas subjacentes dos problemas emocionais e psíquicos do paciente, como dito anteriormente. Ela busca compreender padrões inconscientes, traumas de infância, dinâmicas familiares e os mecanismos psíquicos que moldam o comportamento e os conflitos emocionais.

Esse tipo de análise exige tempo, porque muitas vezes os conteúdos inconscientes estão protegidos por mecanismos de defesa, como a repressão, que impedem que a pessoa tenha acesso imediato às suas questões mais profundas.

O psicanalista, portanto, ajuda o paciente a "desbloquear" esses conteúdos e a enfrentar suas resistências ao longo do processo. Esse trabalho gradual de descobrimento e integração exige tempo para que a pessoa compreenda, aceite e se transforme.

Embora a psicanálise seja geralmente mais longa, a duração do tratamento pode variar amplamente entre os pacientes, dependendo de vários fatores, como a gravidade dos sintomas, os objetivos terapêuticos e a intensidade do trabalho que é necessário para acessar o inconsciente.

Algumas pessoas podem sentir que as questões que estão explorando são resolvidas em menos tempo, enquanto outras podem passar anos em análise, especialmente se estiverem lidando com traumas complexos ou questões emocionais profundamente enraizadas – em muitos casos, a psicanálise não tem um "prazo final" pré-estabelecido.




Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

Psicopatologias e Saúde Mental: Um Olhar Crítico da Psicanálise
Ella Barruzzi
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Psicopatologias e Saúde Mental: Um Olhar Crítico da Psicanálise
Entenda como a psicanálise interpreta as psicopatologias, sua relação com a saúde mental e os impactos da sociedade moderna e da medicalização.

A discussão sobre psicopatologias tem ganhado cada vez mais espaço na sociedade contemporânea, refletindo uma preocupação crescente com a saúde mental e os impactos do mundo moderno no bem-estar das pessoas.

No entanto, a forma como essas questões são abordadas pode variar consideravelmente, dependendo do referencial teórico utilizado.

A psicanálise, por exemplo, compreende a psicopatologia de maneira distinta, considerando a subjetividade do indivíduo e sua relação com o inconsciente. Para a abordagem, os sintomas não são apenas sinais de uma doença, mas manifestações de conflitos internos que podem ser trabalhados através da fala e da escuta.

Por isso, neste texto, iremos nos aprofundar em cada um dos aspectos da psicopatologia, explorando significados, além da sua relação com a sociedade contemporânea e as críticas à medicalização do sofrimento.

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Saúde mental e sua relação com as psicopatologias

A psicopatologia é o campo de estudo que investiga os transtornos mentais, buscando compreender suas causas, manifestações e formas de tratamento. A palavra vem do grego "psykhē" – alma – e "pathos" – sofrimento –, indicando a análise do sofrimento psíquico.

Desde o século XIX, o conceito de psicopatologia tem sido estudado por diversas correntes, incluindo a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise. A abordagem psicanalítica se diferencia das perspectivas biomédicas ao priorizar o inconsciente, os processos simbólicos e a subjetividade do sofrimento psíquico.

Enquanto a psiquiatria compreende as doenças mentais principalmente como disfunções biológicas ou neuroquímicas passíveis de tratamento medicamentoso e intervenções comportamentais, a psicanálise as interpreta como manifestações de conflitos internos e experiências subjetivas.

A abordagem psiquiátrica, amplamente adotada na medicina moderna, fundamenta-se em classificações diagnósticas como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) e a Classificação Internacional de Doenças (CID), que estruturam os critérios para identificação e tratamento dos transtornos mentais.

A psicopatologia psicanalítica, estudada por Freud e aprofundada por diversos autores ao longo do tempo, adota uma perspectiva distinta. Para a psicanálise, os sintomas não são apenas disfunções a serem corrigidas, mas expressões do inconsciente que devem ser compreendidas no contexto da história singular de cada indivíduo.

Dessa forma, um mesmo diagnóstico pode assumir significados completamente diferentes para cada pessoa, dependendo de sua subjetividade, vivências e traumas.

A principal diferença entre essas abordagens está no tratamento: enquanto a psiquiatria frequentemente recorre à prescrição de medicamentos para aliviar os sintomas, a psicanálise propõe um espaço de escuta e elaboração, permitindo que o sujeito compreenda e ressignifique seus conflitos internos.



A relação entre psicopatologias, a sociedade contemporânea e a psicanálise

A psicanálise compreende as psicopatologias como formas de expressão do sofrimento humano ligadas à estrutura psíquica de cada sujeito. Sigmund Freud foi um dos primeiros a categorizar os transtornos mentais de acordo com três estruturas clássicas, que classificou como neurose, psicose e perversão.

  • Neurose: conflitos inconscientes gerando sintomas como ansiedade e fobias.
  • Psicose: perda do contato com a realidade, como ocorre na esquizofrenia.
  • Perversão: modo de organização psíquica em que o desejo se realiza por meio da transgressão das normas e da negação da castração simbólica.

Atualmente, a psicopatologia psicanalítica amplia esses conceitos, incorporando elementos socioculturais e novas formas de sofrimento psíquico, como transtornos relacionados à hiperconectividade e ao mal-estar na sociedade contemporânea.
A sociedade moderna tem desempenhado um papel central no aumento dos diagnósticos de transtornos mentais como depressão, ansiedade e burnout. O ritmo acelerado de vida, o excesso de informação e as exigências de produtividade são fatores que impactam diretamente a saúde psíquica dos indivíduos, criando um cenário no qual o sofrimento emocional se torna cada vez mais presente.
O neoliberalismo, enquanto modelo econômico e ideológico, impôs uma lógica de performance e competitividade, na qual o indivíduo é constantemente incentivado a se reinventar, otimizar seu tempo e alcançar resultados cada vez mais expressivos.

CARACTERÍSTICAS DO NEOLIBERALISMO IMPACTO NA SAÚDE MENTAL RESPOSTA PSICANALÍTICA
Competitividade excessiva Ansiedade e depressão Reflexão sobre o impasse social e individual.
Busca por resultados rápidos Burnout e exaustão Compreensão dos conflitos internos e da pressão externa.
Falta de tempo para o lazer Dificuldades em descansar e certos vícios Aprofundamento do sofrimento psíquico e questionamento do ritmo de vida.




Essa pressão constante tem transformado a saúde mental em uma questão mercadológica – em vez de serem compreendidas como respostas legítimas ao contexto social, angústia, medo e insatisfação passaram a ser tratadas como falhas individuais a serem corrigidas.

A patologização do sofrimento se torna, assim, uma resposta cultural. Muitos buscam soluções rápidas, como o consumo de psicofármacos ou métodos de autoajuda, na tentativa de manter um funcionamento produtivo, ignorando as raízes subjetivas e estruturais do problema.

O sujeito neoliberal se vê como o único responsável pelo próprio sucesso ou fracasso, o que acarreta um sentimento de culpa diante da exaustão e da incapacidade de atender às expectativas impostas.

Podemos dizer que a cultura digital amplificou esse processo ao criar ambientes de exposição e comparação constante. Redes sociais funcionam como vitrines de um ideal de vida bem-sucedida, onde felicidade, beleza e produtividade se tornam métricas de validação social. Essa dinâmica gera uma pressão para que os indivíduos não apenas performem bem no trabalho, mas também exibam uma vida pessoal impecável.

Isso tem levado a um aumento significativo nos índices de depressão e ansiedade, especialmente entre os mais jovens. O fenômeno da "economia da atenção" reforça essa lógica ao transformar o próprio tempo livre em um ativo explorável – o lazer se torna um espaço para autopromoção, e o descanso, uma pausa estratégica para voltar ao jogo da performance.

Diante desse cenário, a psicanálise propõe uma abordagem distinta. Em vez de tratar sintomas como transtornos isolados a serem eliminados, enxerga-os como manifestações subjetivas que carregam significados profundos sobre o indivíduo e seu contexto – a depressão, por exemplo, pode ser entendida não apenas como um distúrbio químico, mas como um sintoma que expressa conflitos internos e impasses da vida moderna.

Ao contrário de soluções padronizadas, a psicanálise incentiva uma reflexão sobre a origem dos sofrimentos psíquicos, possibilitando que o sujeito compreenda seus próprios desejos e angústias de maneira singular. Em um mundo que valoriza a velocidade e a superficialidade, essa abordagem propõe um olhar mais profundo para a existência humana e suas complexidades.

Dessa forma, ao considerar as psicopatologias como respostas subjetivas a uma sociedade marcada por excessos e exigências, é possível não apenas tratá-las, mas questionar as próprias estruturas que as produzem. Afinal, o sofrimento psíquico não é apenas uma falha a ser corrigida, mas um sinal de que algo na forma como vivemos precisa ser repensado.

A medicalização do sofrimento

Uma das principais críticas feitas pela psicanálise à psiquiatria contemporânea é a tendência de transformar todas as formas de sofrimento psíquico em transtornos mentais que exigem tratamento medicamentoso. Esse fenômeno pode ser chamado de medicalização do sofrimento.

A psiquiatria moderna, baseada em evidências biológicas, tem avançado no tratamento de doenças mentais, mas também tem sido alvo de críticas por sua tendência a simplificar o sofrimento humano. Em muitos casos, sintomas como tristeza, angústia e insatisfação são reclassificados como distúrbios que precisam ser corrigidos com medicamentos.

Isso cria uma série de problemas, como a dependência de psicofármacos, a falta de uma compreensão mais profunda dos sintomas e a desconsideração da singularidade de cada indivíduo.

A psicanálise propõe uma abordagem diferente: em vez de buscar eliminar os sintomas rapidamente, ela convida o paciente a compreendê-los. O sintoma, segundo Freud, tem uma função no psiquismo, e tratá-lo exige uma escuta cuidadosa que vá além de um simples rótulo diagnóstico.



Psicopatologias e o corpo: o fenômeno psicossomático

O conceito de psicossomática refere-se à relação entre mente e corpo, destacando como conflitos psíquicos podem se manifestar em sintomas físicos.

Muitas doenças sem explicação médica clara – como dores crônicas, distúrbios gastrointestinais e problemas dermatológicos – podem ter origem em questões emocionais. A psicanálise sugere que, quando um sofrimento não pode ser elaborado psiquicamente, ele pode se expressar no corpo, sendo o organismo uma espécie de "canal" por onde a mente inconsciente comunica suas questões não resolvidas.

Esse fenômeno reforça a importância de abordagens terapêuticas que considerem o sujeito em sua totalidade, e não apenas como um conjunto de sintomas isolados. A psicanálise, por exemplo, oferece uma compreensão mais ampla do sujeito ao integrar o corpo e a mente, considerando que o sofrimento emocional pode se transformar em manifestações físicas quando não encontrado um espaço para sua expressão simbólica.

Nesse contexto, a psicossomática não se limita a um entendimento de que o corpo apenas reflete a mente, mas que o corpo também exerce um papel ativo no processo de comunicação do inconsciente.

Além disso, propõe que, ao trabalhar o sofrimento psíquico por meio da fala e da interpretação, é possível promover um processo de integração entre corpo e mente, permitindo que os conflitos internos sejam elaborados de maneira mais saudável, reduzindo, assim, os sintomas físicos que surgem como consequências de tais conflitos.

Nesse sentido, o tratamento psicanalítico pode oferecer alívio tanto no nível emocional quanto físico, ao restabelecer o equilíbrio entre as dimensões psíquica e corporal.



A compreensão da psicossomática, portanto, vai além da simples ideia de que o corpo manifesta o que está acontecendo na mente. Ela envolve uma complexa interação entre o sofrimento psíquico não elaborado e as respostas do corpo, que, muitas vezes, trazem à tona as dores não processadas do sujeito.

A cura, então, não se dá apenas por meio de medicamentos ou intervenções físicas, mas também por meio de uma escuta profunda e sensível, capaz de compreender as causas emocionais subjacentes aos sintomas.

Em um mundo onde as pressões externas parecem ditar o ritmo da vida, é crucial lembrar que o sofrimento psíquico não deve ser visto como um erro a ser corrigido rapidamente, mas como uma manifestação legítima da complexidade humana.

A psicanálise nos convida a olhar para as psicopatologias com um olhar mais profundo, entendendo-as não como falhas, mas como expressões de conflitos internos que merecem ser ouvidos, compreendidos e trabalhados.

O caminho para o cuidado da saúde mental vai além do tratamento sintomático. Ao integrar corpo e mente, e ao dar espaço para que as dores internas se manifestem de forma simbólica e construtiva, podemos promover um tratamento mais completo e efetivo.

O verdadeiro cuidado com a saúde mental exige não apenas remédios para os sintomas, mas também uma profunda escuta e compreensão do sujeito como um todo.

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Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Introdução à psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: O eu e o id. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: A psicopatologia da vida cotidiana. Rio de Janeiro: Imago, 1996.





TDAH: Sintomas, O que é, Características no Adulto e Tratamento
Xavana Celesnah
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TDAH: Sintomas, O que é, Características no Adulto e Tratamento
O que é o TDAH? Sintomas e características do déficit no adulto e na criança, diagnóstico pelo comportamento e tratamento para o transtorno CIDF90.

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma disfunção neuropsiquiátrica muito frequente. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 3% da população mundial convive com esse distúrbio que afeta a saúde mental, caracterizado pela dificuldade de concentração e pela inquietação constante. Esses sintomas são típicos do TDAH, que se manifesta também por uma impulsividade excessiva e, em alguns casos, uma hiperatividade difícil de controlar.

Quando não tratado adequadamente, o transtorno pode prejudicar o desempenho acadêmico, profissional e até mesmo as relações sociais, afetando a qualidade de vida do indivíduo. Embora muitos associem o TDAH à infância, a verdade é que ele pode se estender à vida adulta. Neste artigo, vamos esclarecer o que é TDAH, mostrar quais são seus sintomas, como é feito o diagnóstico e quais são os tratamentos mais indicados.



O que é o TDAH?

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno caracterizado pela dificuldade em manter o foco, impulsividade excessiva e, em muitos casos, hiperatividade. O TDAH impacta profundamente a vida cotidiana de seus portadores e não se restringe à infância, já que muitos adultos também convivem com seus sintomas.

Muitas vezes, o TDAH é reduzido a uma simples dificuldade de concentração, mas é importante destacar que suas implicações vão muito além disso. Quem tem o transtorno pode conviver com um constante sofrimento psíquico, já que não se trata apenas de “não conseguir prestar atenção”, mas de uma dinâmica cerebral que dificulta o controle das ações e pensamentos, resultando em comportamentos que são frequentemente mal interpretados pela sociedade.

De perto ninguém é normal – o que é considerado uma característica de "anormalidade" no TDAH, muitas vezes reflete uma forma de ser e de estar no mundo, que não se encaixa nas expectativas da sociedade sobre como devemos nos comportar. Essa dificuldade em seguir normas pode levar a frustrações, principalmente porque a pessoa com TDAH é constantemente desafiada a corresponder a expectativas que não são naturais para ela.

Como o TDAH afeta o corpo e a mente?

Sabe aquela pessoa que parece viver no “mundo da Lua”? Ou aquela que é uma “espoleta” e não consegue ficar parada de jeito nenhum? Provavelmente você já conheceu alguém assim e é possível que essas pessoas tenham TDAH. A mente da pessoa com TDAH parece estar em constante movimento, saltando de um pensamento para outro, o que dificulta a concentração em uma única tarefa. Esse ciclo de desatenção afeta a autoestima, alimentando sentimentos de inadequação e fracasso.

Além disso, a impulsividade, um dos principais sintomas do TDAH, adiciona outra camada de complexidade à condição. As decisões tomadas com pressa e sem a devida reflexão muitas vezes resultam em comportamentos inadequados ou prejudiciais, tanto no âmbito social quanto profissional. No contexto interpessoal, a falta de autocontrole pode gerar mal-entendidos e desentendimentos, uma vez que a pessoa com TDAH pode agir de forma impetuosa, sem considerar as consequências de suas atitudes. No trabalho, isso se traduz em dificuldades para lidar com tarefas que exigem paciência, atenção aos detalhes e pensamento estratégico, prejudicando o trabalho em equipe. A impaciência pode levar a erros evitáveis e à incapacidade de concluir projetos de maneira satisfatória.

O TDAH também afeta o corpo. A inquietude física é uma característica comum, fazendo com que muitos indivíduos sintam necessidade constante de se movimentar. Essa agitação pode resultar em dificuldades para permanecer sentado por longos períodos, como em salas de aula ou em ambientes de trabalho. Além disso, essa inquietação pode gerar tensão muscular e fadiga, já que o corpo está em constante estado de alerta. A dificuldade em se concentrar e em manter o controle sobre os impulsos também pode afetar a capacidade de realizar tarefas motoras finas, como escrever ou coordenar ações mais complexas.

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Quais são as causas do TDAH?

As causas do TDAH incluem fatores genéticos, neurológicos e ambientais. Entre os principais fatores que contribuem para o transtorno, destacam-se:

  1. Genética: O TDAH é frequentemente observado em famílias, o que sugere uma forte base hereditária. Se um dos pais tem TDAH, as chances de o filho também ser diagnosticado aumentam significativamente.
  2. Anormalidades Neurológicas: O TDAH está relacionado a desequilíbrios nos neurotransmissores cerebrais, principalmente a dopamina. Esse desequilíbrio afeta os circuitos cerebrais responsáveis pela atenção e pelo controle do comportamento, dificultando a regulação dessas funções.
  3. Fatores Ambientais: A exposição a substâncias tóxicas durante a gestação, como nicotina e álcool, ou complicações no parto, podem ser fatores que aumentam o risco de desenvolvimento do transtorno.
  4. Pressões e Estresse Social: Vivemos em uma sociedade cada vez mais acelerada, o que coloca enormes demandas sobre os indivíduos, principalmente sobre as crianças, que são as mais afetadas por esse contexto. O impacto de uma educação excessivamente pressionada, sem espaço para a individualidade e a criatividade, pode desencadear ou agravar os sintomas de TDAH.


Quais são os tipos de TDAH?

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é classificado em três tipos principais, de acordo com a literatura médica:

  • predominantemente desatento

  • predominantemente hiperativo e impulsivo

  • combinado (que mistura características dos dois anteriores)


O tipo predominantemente desatento é caracterizado pela dificuldade persistente de manter a atenção, focar em uma tarefa ou seguir instruções, resultando em um desempenho abaixo do esperado, tanto na escola quanto no ambiente de trabalho. Indivíduos com esse tipo de TDAH frequentemente são vistos como "sonhadores", distraídos e esquecidos. Eles podem ter dificuldades em concluir tarefas e manter a organização, o que afeta sua produtividade e autoestima. Na infância, esse tipo é mais comumente diagnosticado em meninas, que tendem a exibir um comportamento mais internalizado, ao contrário dos meninos que, frequentemente, apresentam sinais mais evidentes de hiperatividade.

O segundo tipo, o predominantemente hiperativo e impulsivo, é marcado pela impulsividade excessiva e pela hiperatividade, o que torna difícil para o indivíduo controlar seus impulsos ou manter-se calmo em situações que exigem paciência ou quietude. Pessoas com esse perfil frequentemente têm dificuldade em permanecer sentadas por longos períodos, interrompem os outros enquanto falam, tomam decisões apressadas e se envolvem em comportamentos arriscados sem considerar as consequências. Na infância, esse tipo é mais comumente identificado em meninos, já que os sinais de hiperatividade são mais visíveis e frequentemente associados a comportamentos que causam incômodos em ambientes como escolas e outros locais sociais. A impulsividade pode afetar a interação com os outros, dificultando o estabelecimento de relacionamentos saudáveis.

Finalmente, o TDAH combinado é o tipo mais comum, caracterizado pela presença de sintomas tanto de desatenção quanto de hiperatividade/impulsividade. Indivíduos com esse tipo de TDAH apresentam uma combinação de dificuldades em manter o foco e uma constante necessidade de se movimentar, o que pode interferir em várias áreas da vida, como desempenho acadêmico, habilidades sociais e relacionamentos.

TIPOS DE TDAH SINTOMAS
Predominantemente desatento Dificuldade em manter o foco, organização e seguir instruções.
Predominantemente hiperativo e impulsivo Impulsividade excessiva, hiperatividade e dificuldades em controlar comportamentos.
Combinado Combinação de desatenção, impulsividade e hiperatividade.


Como é feito o Diagnóstico do TDAH?

O diagnóstico do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um processo que exige uma análise clínica minuciosa, dada a sobreposição de sintomas com outras condições psicológicas e neuropsiquiátricas. Sintomas como desatenção, impulsividade e hiperatividade podem ser confundidos com outras condições, como depressão, distúrbios de aprendizagem e até mesmo transtornos de personalidade. Por essa razão, é essencial que o diagnóstico seja realizado por profissionais qualificados, como psicólogos, psiquiatras ou neurologistas, que tenham experiência no reconhecimento dos sinais e na diferenciação do TDAH em relação a outras condições.

O diagnóstico adequado do TDAH requer várias etapas. Inicialmente, o profissional realiza uma entrevista clínica detalhada com o paciente, além de conversar com familiares, professores ou outras pessoas que convivem com o indivíduo, a fim de entender melhor o histórico e o comportamento ao longo do tempo. Também são aplicadas escalas de avaliação específicas, que medem a intensidade dos sintomas de desatenção e impulsividade, além de verificar como esses sintomas impactam a vida cotidiana do paciente. Em alguns casos, exames neurológicos e testes psicológicos mais profundos podem ser indicados para descartar outras condições que possam gerar sintomas semelhantes, como dislexia ou transtornos de humor.

Adicionalmente, o Código CIDF90, presente na Classificação Internacional de Doenças, pode ser utilizado para facilitar a identificação do TDAH, promovendo a padronização do diagnóstico e auxiliando na escolha do tratamento mais adequado. Ao considerar todos esses fatores, o diagnóstico do TDAH não se resume à simples observação de sintomas, mas envolve um olhar atento para o histórico clínico e a avaliação cuidadosa das variáveis psicológicas e neurológicas, garantindo um caminho eficaz para o manejo do transtorno.



Existe tratamento para TDAH?

O tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) exige uma abordagem profissional personalizada, que leve em consideração as diversas características do indivíduo, incluindo aspectos neurológicos, emocionais e comportamentais. Uma combinação de intervenções médicas, terapêuticas e complementares é frequentemente utilizada para lidar com os principais sintomas do transtorno, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e o bem-estar geral do paciente.

Além do uso de medicamentos, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem se mostrado uma das abordagens mais eficazes para o tratamento do TDAH. Por meio da TCC, o paciente aprende estratégias para organizar suas tarefas, controlar suas emoções e melhorar suas habilidades de resolução de problemas. Essa terapia também é eficaz para lidar com as questões de impulsividade e baixa autoestima que frequentemente acompanham o transtorno. Outras terapias complementares, como o treinamento de habilidades sociais, programas de reabilitação cognitiva e práticas de mindfulness, podem ser incluídas no tratamento para oferecer recursos adicionais e promover uma vida mais equilibrada.

Saúde Mental e TDAH

Para quem deseja se aprofundar no conhecimento acerca dos maiores transtornos e sofrimentos psíquicos da humanidade, a Casa do Saber + possui diversos cursos na área, incluindo o curso do psicanalista, psiquiatra e professor titular de psicopatologia clínica pela Aix-Marseille Université (França), Mario Eduardo Costa Pereira. O curso sobre Transtornos e Sofrimentos Psíquicos aborda questões como depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar e dependência química.

A plataforma Casa do Saber + possui uma série de opções de estudo que tratam das principais questões de saúde mental contemporâneas, incluindo a hiperatividade, abordada no curso Excitados, Desatentos e Cansados, da Doutora em teoria psicanalítica pela UFRJ, Nina Saroldi.



Conclusão

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma condição que vai além das limitações cognitivas, influenciando o comportamento do indivíduo e a maneira como interage com o mundo e com as pessoas ao seu redor. Através de um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adaptado às necessidades de cada pessoa, aqueles com TDAH têm a oportunidade de gerenciar seus sintomas e alcançar uma vida plena e produtiva, superando as dificuldades impostas pelo transtorno. É essencial que o apoio familiar, escolar e social esteja presente ao longo desse percurso, criando um ambiente de acolhimento e compreensão.

Perguntas frequentes sobre TDAH

  1. Quais são os principais sintomas do TDAH e como identificá-los?


    Os principais sintomas de TDAH incluem dificuldades em manter a atenção em tarefas ou conversas por períodos prolongados, impulsividade (agir sem pensar nas consequências), hiperatividade (excesso de movimento ou inquietação), e uma tendência a ser facilmente distraído. Além disso, pessoas com TDAH podem apresentar desorganização, dificuldade em seguir instruções e esquecimento frequente. Esses sintomas podem variar de acordo com a idade, sendo mais evidentes em crianças, mas também presentes em adultos. Caso esses sintomas persistam por mais de seis meses e impactem a vida diária, pode ser um indicativo de TDAH.

  2. O TDAH é um transtorno que afeta apenas crianças?


    Não. O TDAH não é exclusivo da infância e pode persistir na vida adulta. Muitas pessoas com TDAH são diagnosticadas quando crianças, mas seus sintomas podem continuar ou até ser reconhecidos tardiamente na fase adulta. Nos adultos, o transtorno pode se manifestar de formas diferentes, como dificuldades de concentração no trabalho, desorganização nas tarefas cotidianas, impulsividade em decisões financeiras ou sociais, e até mesmo desafios nas relações interpessoais. O tratamento do TDAH em adultos pode incluir Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), acompanhamento psicológico e, em alguns casos, medicação, dependendo da gravidade dos sintomas.





Referências

https://drauziovarella.uol.com.br/psiquiatria/o-que-esta-por-tras-da-explosao-de-casos-de-tdah-no-brasil-e-no-mundo/


https://bvsms.saude.gov.br/transtorno-do-deficit-de-atencao-com-hiperatividade-tdah/




Psicanálise
Mitos e Verdades sobre a Psicanálise: entre fatos e mal-entendidos
Ella Barruzzi
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Mitos e Verdades sobre a Psicanálise: entre fatos e mal-entendidos
Conheça mitos e verdades sobre a psicanálise, suas abordagens e como ela transforma a compreensão do inconsciente e das relações humanas.

A psicanálise vai muito além da simples compreensão de sintomas psicológicos. Ela investiga o inconsciente, os desejos reprimidos e os conflitos internos que influenciam o comportamento humano. Justamente por ser um tema tão amplo, é cercada por diversas crenças – algumas verdadeiras, outras nem tanto. Por isso, é importante esclarecer os mitos e verdades sobre a psicanálise.

Muitas pessoas acreditam que a psicanálise se restringe a um modelo rígido criado por Freud e que suas ideias permanecem estáticas.

No entanto, ela evoluiu significativamente desde sua fundação, incorporando novas perspectivas e diálogos com outras áreas do conhecimento. Hoje, há diferentes escolas psicanalíticas, como a lacaniana, a winnicottiana e a kleiniana, que ampliam o alcance e a aplicabilidade da teoria freudiana.

Diferentemente de abordagens que focam exclusivamente no alívio sintomático, a psicanálise trabalha com o tempo subjetivo de cada indivíduo. O processo analítico não é imediato, pois envolve a construção de significados, a ressignificação de experiências e a elaboração de conteúdos inconscientes.

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Todo psicanalista é psicólogo?

Falar sobre as diferenças entre psicólogo e psicanalista é fundamental para compreender a diversidade de abordagens dentro da saúde mental. Enquanto a Psicologia é uma ciência com base acadêmica formal, a Psicanálise é um campo de estudo e prática que segue uma trajetória formativa distinta, baseada na transmissão de conhecimento entre analistas.

Diferentemente da Psicologia, que exige uma graduação reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC) e, no caso do exercício clínico, registro no Conselho Regional de Psicologia (CRP), a Psicanálise não é regulamentada como uma profissão de ensino acadêmico tradicional. Os profissionais que desejam começar a formação psicanalítica precisam seguir três pilares fundamentais:

  1. Estudo teórico: o psicanalista precisa se aprofundar nos textos clássicos e contemporâneos da Psicanálise, incluindo as obras de Sigmund Freud, Jacques Lacan, Melanie Klein, Donald Winnicott, entre outros. Essa formação é conduzida por institutos de Psicanálise, sociedades psicanalíticas, grupos de estudo e cursos livres como o +Psicanálise da Casa do Saber.
  2. Análise pessoal: um dos requisitos mais importantes para um psicanalista é passar pelo próprio processo de análise. Essa experiência é considerada essencial para que o futuro analista compreenda suas próprias questões inconscientes, evitando que interfiram na escuta do paciente.
  3. Supervisão clínica: o aprendizado prático se dá por meio do acompanhamento de casos clínicos, sob a orientação de um psicanalista mais experiente. Esse processo de supervisão garante que o analista em formação refine sua escuta e sua capacidade interpretativa dentro da prática clínica.


Então, se você está se perguntando: “Para ser psicanalista é obrigatório ter curso superior?”, a resposta é não. Isso porque os psicanalistas podem atender sem formação em Psicologia.

Como a Psicanálise não exige uma graduação específica, um psicanalista pode ter diferentes formações acadêmicas – Filosofia, Comunicação, Medicina, Direito, Letras, entre outras. O que define um psicanalista não é um diploma universitário, mas sim seu percurso formativo dentro da tradição psicanalítica.

É importante destacar que sua atuação está focada na escuta do inconsciente e na condução do processo terapêutico a partir das associações livres e da interpretação das formações do inconsciente, como os sonhos e atos falhos.

O psicólogo clínico, por outro lado, tem uma formação acadêmica estruturada e regulamentada. Sua prática envolve o uso de métodos científicos para avaliar e intervir em processos cognitivos, emocionais e comportamentais.

Ou seja, enquanto a Psicanálise enfatiza o papel do inconsciente e das experiências infantis na constituição da subjetividade, a Psicologia Clínica pode adotar uma abordagem mais voltada para padrões de pensamento e comportamento no presente, dependendo da linha teórica escolhida.

Com essas distinções em mente, vamos abordar algumas questões recorrentes sobre a psicanálise para desmistificar, de uma vez por todas, as crenças que o senso comum muitas vezes trata como verdades absolutas – mesmo quando são difíceis de engolir.



Para a psicanálise, todo mundo tem raiva da mãe?

Desde os primeiros momentos da vida, a mãe – ou a figura que representa esse papel – desempenha funções cruciais no desenvolvimento do bebê e constrói essa relação mãe e filho na psicanálise.

Mas não se trata apenas de afeto ou cuidado físico, mas de uma construção subjetiva: é por meio desse vínculo inicial que o indivíduo começa a formar sua identidade, reconhecer limites e estruturar seus primeiros desejos.

Nos primeiros meses, o bebê vive um estado de fusão simbiótica com a mãe, em que não se percebe como separado dela. Gradualmente, à medida que o mundo externo se impõe e outras figuras entram em cena, ocorre a diferenciação entre o “eu” e o “outro”. Esse processo de separação é fundamental para o desenvolvimento emocional e pode ser marcado por momentos de frustração e ambivalência.

Dessa forma, Sigmund Freud formulou o conceito de complexo de Édipo, que descreve como a criança organiza seus primeiros sentimentos amorosos e conflitos em torno das figuras parentais. Nesse processo, é comum que sentimentos contraditórios surjam, incluindo amor, desejo de proximidade, ciúme e até raiva.

No entanto, é um erro interpretar isso de forma literal ou universal – ou como sendo uma verdadeira raiva da mãe na psicanálise. O complexo de Édipo não significa que todas as pessoas desenvolvem ressentimento ou hostilidade contra a mãe. Em vez disso, ele ilustra como as relações familiares moldam a forma como lidamos com nossos afetos e criamos modelos de relacionamento para o futuro.

Outro conceito fundamental vem do pediatra e psicanalista Donald Winnicott, que introduziu a ideia da mãe suficientemente boa. Para ele, não existe uma mãe perfeita, mas uma mãe que atende às necessidades do bebê de forma responsiva, sem sufocar nem abandonar.

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Terapia é coisa de doido?

A ideia de que “terapia é coisa de doido” é um dos mitos mais prejudiciais à saúde mental, pois cria um estigma que impede muitas pessoas de buscarem ajuda psicológica ou psicanalítica.

A verdade é que a terapia não é destinada apenas a quem enfrenta transtornos psíquicos graves, mas a qualquer pessoa que deseje compreender melhor seus sentimentos, comportamentos e desafios emocionais.

Historicamente, a sociedade sempre teve dificuldades em lidar com questões ligadas à mente e às emoções. Durante séculos, distúrbios psíquicos foram associados à loucura, possessões demoníacas ou fraqueza moral.

Além disso, a Psiquiatria, no passado, esteve fortemente ligada à internação compulsória em manicômios, o que contribuiu para reforçar a visão negativa sobre o tratamento da saúde mental.

Com o tempo, o avanço da Psicologia, da Psicanálise e da Neurociência mostrou que o sofrimento psíquico faz parte da experiência humana e que todos podem se beneficiar de um espaço de escuta e reflexão. No entanto, o preconceito ainda persiste em algumas culturas e contextos sociais.

A psicanálise e outras abordagens terapêuticas da psicologia não são exclusivas para quem tem transtornos mentais diagnosticados. Muitos procuram terapia para:

  • Compreender melhor seus sentimentos e padrões de comportamento.
  • Melhorar seus relacionamentos interpessoais e profissionais.
  • Aprender a lidar com momentos de crise, como luto, separação ou mudanças na vida.
  • Desenvolver um senso mais profundo de identidade e propósito.
  • Trabalhar questões como ansiedade, insegurança e autoestima.


Ou seja, buscar terapia não é um sinal de fraqueza, mas um ato de cuidado consigo mesmo. Assim como cuidamos do corpo indo ao médico ou praticando exercícios, cuidar da saúde mental deveria ser encarado como algo natural e necessário.



Psicanalista não fala nada?

A concepção de que o psicanalista permanece em silêncio durante toda a sessão, apenas ouvindo o paciente, é uma das ideias mais equivocadas sobre a psicanálise.

De fato, a escuta ativa é uma parte central do processo terapêutico, mas o papel do psicanalista vai muito além de simplesmente ser um ouvinte passivo – envolve uma participação ativa, com intervenções que estimulam o paciente a refletir sobre seu inconsciente, seus conflitos e seus padrões emocionais.

Freud, o pai da psicanálise, estabeleceu que o psicanalista deve ouvir atentamente as palavras do paciente, mas também prestar atenção nos lapsos, esquecimentos, hesitações e até nos silêncios. Esses aspectos podem revelar o que está reprimido ou fora da consciência, oferecendo pistas preciosas sobre o inconsciente.

Porém, essa escuta ativa não significa que o analista não fale. O psicanalista utiliza a escuta como uma ferramenta para compreender as dinâmicas internas do paciente, mas também intervém de maneira estratégica, questionando, sugerindo e interpretando.

O silêncio do analista, quando presente, não é passividade, mas um espaço que permite ao paciente elaborar seus próprios pensamentos e sentimentos.

Embora a psicanálise se concentre na escuta e no processo de livre associação, onde o paciente fala livremente sobre tudo o que vem à mente, o psicanalista intervém de maneira cuidadosa e ponderada. Essas intervenções podem ocorrer de várias formas:

INTERVENÇÃO NA PRÁTICA
Questões O psicanalista faz perguntas que incentivam o paciente a aprofundar sua reflexão. Essas perguntas muitas vezes buscam explorar inconscientemente os sentimentos e pensamentos que surgem nas associações livres. Elas podem ser simples, mas com grande potencial de provocar uma mudança de perspectiva no paciente.
Interpretações Uma das funções principais do psicanalista é ajudar o paciente a conectar as pontes entre os pensamentos conscientes e os inconscientes. Quando o analista percebe um padrão ou um conflito inconsciente, pode oferecer uma interpretação que ajude o paciente a compreender suas resistências, medos ou desejos ocultos. A interpretação visa trazer à luz o que está reprimido ou não plenamente consciente.
Reflexões O analista também pode refletir sobre o que foi dito pelo paciente, destacando padrões emocionais ou comportamentais que ele observa. Isso pode ajudar o paciente a perceber aspectos da sua psique que talvez não tivesse notado, promovendo insights valiosos sobre seu próprio comportamento.
Contratransferência Refere-se às reações emocionais do analista em relação ao paciente. O psicanalista deve estar ciente de como suas próprias emoções e percepções influenciam a terapia. Muitas vezes, essas reações podem oferecer informações valiosas sobre os sentimentos inconscientes do paciente, e o analista pode usá-las para ajudar a entender melhor a dinâmica da relação terapêutica.


Ao dar ao paciente tempo e espaço para pensar, o psicanalista ajuda a criar um ambiente de liberdade psíquica, no qual o paciente pode se abrir e trazer à tona aspectos mais profundos de sua psique. O silêncio do psicanalista pode, assim, ser visto como uma ferramenta terapêutica importante.



Tudo é sobre sexo?

A afirmação de que "tudo é sobre sexo" é um mal-entendido comum sobre a psicanálise, muitas vezes simplificando excessivamente as ideias complexas de Freud.

Embora a sexualidade seja de fato uma parte fundamental da teoria psicanalítica, ela não é a única área de investigação da psicanálise. O trabalho de Freud estabeleceu a importância da libido, ou energia psíquica relacionada ao desejo, mas sua teoria vai muito além da sexualidade, envolvendo uma análise abrangente das motivações inconscientes, das relações interpessoais e das experiências formativas ao longo da vida.

Sigmund Freud introduziu o conceito de libido como uma energia psíquica que, em sua forma mais simples, está relacionada ao desejo sexual. Em sua teoria inicial, ele sugeriu que a libido se manifesta primariamente na sexualidade e, portanto, muitos dos impulsos humanos e comportamentos são de alguma forma influenciados por desejos sexuais inconscientes.

A ideia central da teoria da libido é que nossas motivações e conflitos não são apenas conscientes, mas também profundamente enraizados em aspectos ocultos da nossa psique.

No entanto, Freud também enfatizou que a libido não se limita ao sexo genital, mas se manifesta em uma variedade de formas ao longo do desenvolvimento humano. Ele sugeriu que a energia libidinal se desloca por diferentes estágios do desenvolvimento sexual, começando com a infância e a fase oral, passando para a fase anal, fálica e, por fim, à fase genital, com diferentes fixações e formas de expressão da libido ao longo desses estágios.

Embora a sexualidade tenha sido um foco central da teoria de Freud, a psicanálise moderna abrange uma gama muito mais ampla de experiências humanas. Freud reconheceu que as pulsões de vida e de morte, a dinâmica do inconsciente e as relações de apego são igualmente cruciais para o entendimento da mente humana.

Para ele, os conflitos inconscientes entre desejos instintivos e a moralidade imposta pela sociedade eram fundamentais para compreender as motivações e os sintomas psíquicos.

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Psicanálise não funciona?

Muitas vezes, as pessoas buscam soluções imediatas para seus problemas emocionais ou psíquicos, mas a psicanálise, ao contrário de métodos terapêuticos mais diretos, é um processo gradual e profundo. Ela não promete alívio instantâneo, mas sim a transformação lenta e consistente de padrões emocionais e comportamentais que podem estar enraizados em experiências passadas e dinâmicas inconscientes.

A psicanálise é um processo de longo prazo, que pode durar anos, dependendo das necessidades do analisando. Ao contrário de terapias mais breves, que se concentram em resolver problemas específicos em um tempo limitado, a psicanálise busca uma compreensão profunda e duradoura da psique humana.

Esse tempo prolongado de análise permite que a pessoa consiga entrar em contato com partes da sua psique que estão geralmente escondidas, e também com sentimentos e memórias reprimidas.

Embora a psicanálise não prometa uma solução rápida ou "cura" para os sintomas, ela tem o potencial de provocar transformações profundas e duradouras.

Ao longo da análise, o paciente pode descobrir as raízes inconscientes de seus conflitos e sintomas, o que muitas vezes permite uma mudança significativa no modo como ele vê a si mesmo e ao mundo ao seu redor.

Outra razão pela qual algumas pessoas podem acreditar que a psicanálise "não funciona" está ligada ao conceito de resistência, um fenômeno central no processo psicanalítico.

A resistência se refere às defesas psíquicas que as pessoas desenvolvem para evitar enfrentar conteúdos emocionais dolorosos ou traumáticos. Isso pode ocorrer de várias formas, como a falta de vontade de falar sobre certos assuntos, a sensação de que o processo não está trazendo resultados ou a tendência a sabotar o próprio progresso.

Outro aspecto fundamental é a relação entre o paciente e o psicanalista. A chamada "transferência" é um processo no qual o paciente projeta sentimentos, desejos e expectativas em relação ao psicanalista, muitas vezes revivendo relacionamentos significativos do passado.

Em um mundo em que a rapidez e a eficiência são muitas vezes vistas como os maiores valores, a psicanálise se destaca por seu compromisso com a exploração mais rica e complexa da mente humana.



O tratamento demora muito?

O tempo de tratamento na psicanálise é frequentemente visto como uma das suas características mais distintas, e também uma das que geram mais questionamentos.

De fato, quando comparada a outras abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que tende a ser mais curta e focada em soluções práticas e imediatas, a psicanálise pode parecer demorada.

No entanto, a duração do tratamento psicanalítico está diretamente relacionada à sua profundidade e ao objetivo de compreensão do inconsciente, tornando-o um processo transformador e, muitas vezes, de longa duração.

Ao contrário de abordagens que visam tratar os sintomas de forma mais rápida e objetiva, a psicanálise se propõe a uma exploração profunda das causas subjacentes dos problemas emocionais e psíquicos do paciente, como dito anteriormente. Ela busca compreender padrões inconscientes, traumas de infância, dinâmicas familiares e os mecanismos psíquicos que moldam o comportamento e os conflitos emocionais.

Esse tipo de análise exige tempo, porque muitas vezes os conteúdos inconscientes estão protegidos por mecanismos de defesa, como a repressão, que impedem que a pessoa tenha acesso imediato às suas questões mais profundas.

O psicanalista, portanto, ajuda o paciente a "desbloquear" esses conteúdos e a enfrentar suas resistências ao longo do processo. Esse trabalho gradual de descobrimento e integração exige tempo para que a pessoa compreenda, aceite e se transforme.

Embora a psicanálise seja geralmente mais longa, a duração do tratamento pode variar amplamente entre os pacientes, dependendo de vários fatores, como a gravidade dos sintomas, os objetivos terapêuticos e a intensidade do trabalho que é necessário para acessar o inconsciente.

Algumas pessoas podem sentir que as questões que estão explorando são resolvidas em menos tempo, enquanto outras podem passar anos em análise, especialmente se estiverem lidando com traumas complexos ou questões emocionais profundamente enraizadas – em muitos casos, a psicanálise não tem um "prazo final" pré-estabelecido.




Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

O que é narcisismo? Entenda a partir da teoria de Freud
Gabriel Cravo Prado
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O que é narcisismo? Entenda a partir da teoria de Freud
Você é uma pessoa narcisista? Entenda o que é narcisismo, suas características e conheça o Mito de Narciso através da psicanálise e da obra de Freud.

Vamos percorrer neste texto algumas ideias de Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, que fez contribuições fundamentais para a compreensão do narcisismo.

Freud explorou como o narcisismo se relaciona ao desenvolvimento do eu e à formação da identidade, discutindo a transição entre o amor próprio e o amor aos outros. Suas reflexões sobre a libido e as fases do desenvolvimento infantil estão intrinsecamente ligadas à constituição do sujeito. Através de conceitos como o "narcisismo primário", "narcisismo secundário" e "libido", Freud lançou as bases para o entendimento contemporâneo desse fenômeno.



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O que é o mito de Narciso?

O mito de Narciso, oriundo da mitologia grega, narra a trágica trajetória de um jovem de beleza ímpar, filho da ninfa Liríope e do deus do rio Céfiso. Segundo a narrativa, Narciso, ao se inclinar para beber água, se depara com sua própria imagem refletida e, em um ato de deslumbramento, se vê tragicamente consumido por uma obsessão por sua beleza.

Depois desse apaixonamento pela sua imagem, ele se torna surdo à Eco, uma ninfa que estava apaixonada por ele, e não corresponde essa paixão. Narciso então é tragado pela sua própria imagem refletida no lago e morre afogado. E é a partir do mito de narciso que Freud propõe um modelo para entender o que seria a origem do Eu.

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O que é narcisismo para a psicanálise?

O conceito de narcisismo possui características que divergem significativamente do que é geralmente discutido no senso comum, conforme descreveu Freud no artigo de 1914 Introdução ao Narcisismo:

"O narcisismo não seria uma perversão, mas o complemento libidinal do egoísmo do instinto de autoconservação, do qual justificadamente atribuímos uma porção a cada ser vivo" (FREUD, 2010/1914, p. 15)

Para Freud, o narcisismo é uma etapa crucial no desenvolvimento do eu, representando a transição do autoerotismo — onde o prazer é centrado no próprio corpo — para a escolha de outro ser como objeto de amor. Neste estágio, o indivíduo ainda não se distingue plenamente das demais pessoas e do mundo ao seu redor, refletindo uma fase em que a identificação com o eu é predominante.

Investimento libidinal e objeto

É importante observar que na teoria psicanalítica:

  • Investimento libidinal: refere-se à canalização da energia psíquica, ou libido, para objetos ou aspectos da realidade, como pessoas, ideias ou o próprio eu.
  • Objeto: é empregado para designar pessoas ou coisas do ambiente externo, do mesmo modo, a relação de objeto consiste na maneira que o sujeito lida com o mundo exterior.


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Narcisimo Primário e Narcisismo Secundário

Assim, para a psicanálise, narcisismo é compreendido como um investimento libidinal no próprio eu, essencial para a formação dele. Esses investimentos necessitam ser direcionados para outros objetos, para o mundo exterior, ou seja, o sujeito precisa fazer investimentos que vão para além de si. Como diz Freud “ É preciso amar para não adoecer" (FREUD, 2010/1014, p. 29) .

A teoria freudiana divide o narcisismo em duas partes, sendo narcisismo primário e narcisismo secundário.

Narcisismo primário Seria o estado precoce em que a criança investe toda a sua libido em si mesma. Essa é a fase do desenvolvimento que a libido está dirigida ao próprio eu. Pode-se dizer que é o reservatório da libido, para onde ela faz o seu retorno, trabalhando no autoerotismo.
Narcisismo secundário Aqui é quando a libido não está somente no eu, ela passa a ir em direção aos objetos externos, porém, acontece o fracasso da pulsão ao tentar obter satisfação por meio de objetos externos, levando o sujeito a novamente redirecionar essa energia para o próprio eu. É quando acontece um recolhimento dos investimentos objetais.


A escolha objetal para Freud

Ainda no mesmo texto, Freud descreve um breve sumário dos caminhos para a escolha de objeto, onde diz que uma pessoa pode amar (FREUD, 2010/1914: p. 36):

Conforme o tipo narcísico:

  • o que ela mesma é (a si mesma),
  • o que ela mesma foi,
  • o que ela mesma gostaria de ser,
  • a pessoa que foi parte dela mesma.

Em contrapartida, ao tipo de escolha narcísica, a escolha anaclítica pode recair sobre:

Conforme o tipo “de apoio”:

  • a mulher nutriz,
  • o homem protetor


A escolha anaclítica é vista como uma forma de projetar necessidades afetivas em outras pessoas que pode caracterizar esse tipo de amor. Essa escolha se contrasta com o amor narcísico, onde a própria pessoa é tomada como modelo e a escolha é segundo a sua imagem e semelhança. Cabe dizer que os dois tipos de escolha estão, ao mesmo tempo, presentes no sujeito.

Retrato de Freud feito por Salvador Dali
Sigmund Freud (1938) | Salvador Dali
Retrato de Freud feito por Salvador Dali



O que é uma pessoa narcisista?

O narcisismo é uma fase necessária da evolução da libido, antes que o sujeito se volte para um objeto sexual externo. É o que estrutura da subjetividade, é um aspecto da condição humana, assim, de algum modo, todos são narcisistas, pois todo sujeito possui uma porção de libido que pode ser investida em si mesmo e para outros objetos. Ela é investida parcialmente nos objetos e parcialmente no eu.


Em suma, pode-se dizer que todos possuem narcisismo, tendo em vista que ele atua como uma forma de organização para o sujeito, garantindo a própria preservação dele. Com isso pode-se afastar a ideia de estigmas associados a comportamentos considerados excessivamente egocêntricos ou vaidosos, pois o narcisismo é um investimento do sujeito em si mesmo.

Assim o narcisismo é importante para a psicanálise tendo em vista que nos estágios iniciais da vida, não se percebe os objetos como algo externo, gradativamente ao longo dos primeiros meses é que o infante aprende a se distinguir de outros objetos. Até aqui pode-se perceber que uma pessoa sem narcisismo seria uma pessoa com uma grave questão, tendo em vista que ela não teria empatia e não conseguiria se identificar com os objetos externos.




Como se aprofundar nos estudos sobre narcisismo?

O conceito de narcisismo é fundamental na psicanálise e, além disso, requer uma análise cuidadosa. Para aprofundar-se, é fundamental investigar a obra de Freud, que estabelece as bases teóricas do narcisismo e suas implicações no desenvolvimento do eu.

É recomendada a leitura de textos clássicos, como Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905), Introdução ao Narcisismo (1914), Luto e Melancolia (1917 [1915]). Jacques Lacan também teorizou sobre o tema no O Seminário 1 - Os Escritos Técnicos de Freud - Jacques Lacan e no escrito O Estádio do Espelho como Formador da Função do Eu.

Assistir aos cursos de psicanálise da plataforma da Casa do Saber é extremamente importante, também para se aprofundar no conceito de narcisismo.

Aqui vão 2 cursos essenciais para entender a teoria do narcisismo:





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, Sigmund. Introdução ao Narcisismo (1914). Companhia das Letras: São Paulo, 2010.

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Zahar: Rio de Janeiro, 1985.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.







Cursos de psicanálise: saiba quais são e como começar a estudar
Carolina Tosetti
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Cursos de psicanálise: saiba quais são e como começar a estudar
Um guia para começar a estudar psicanálise ou atualizar sua formação. Conheça os melhores cursos, professores e as instituições de referência na área.

Você sabe o que estuda a psicanálise? Ou, se você já se interessa por essa área de conhecimento, sabe como fazer para começar a se aprofundar nas teorias e ideias dos maiores autores da psicanálise?

Neste artigo, vamos te explicar o passo a passo para aprender alguns dos principais conceitos da psicanálise criados por grandes personalidades reconhecidas mundialmente por suas contribuições à compreensão da psique humana, como Sigmund Freud e Jacques Lacan. Você também irá conhecer alguns dos mais renomados professores e especialistas em psicanálise do Brasil e as instituições que são referência nesta disciplina.

banner folia do saber cursos de psicanalise

O que é psicanálise?

A psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud, é um método de investigação dos processos mentais, que se utiliza da associação livre para acessar, por inferência, os conteúdos inconscientes do paciente a partir de seus relatos à um analista, a fim de identificar possíveis causas e se utilizar da transferência estabelecida na relação analítica para tratamento dos sintomas.



imagem com diversos cursos da plataforma Casa do Saber


Esta prática é frequentemente associada à ideia de deitar no divã e falar livremente, mas vai muito além disso. A teoria e a prática clínica hoje permitem que o psicanalista interprete padrões, desejos, intenções, pensamentos e comportamentos do paciente. Neste sentido, um dos objetivos da psicanálise é trazer à consciência as questões do inconsciente que afetam o sujeito, sendo efetiva para uma melhora para a saúde mental, o senso crítico e o bem-estar pessoal do analisando. Entretanto, os objetivos de uma análise podem variar entre as escolas. Em maior escala, o impacto de uma análise bem desenvolvida pode ser notado na tomada de consciência e no poder decisão dos pacientes para deixarem de seguir determinados padrões, por exemplo, bem como no relacionamento consigo mesmo e com os outros.

Quais são as principais abordagens e escolas da psicanálise?

A psicanálise é uma área de conhecimento que perdura há mais de 100 anos. Existem várias abordagens dentro da psicanálise, refletindo diferentes escolas de pensamento sobre como os processos inconscientes afetam o comportamento e a vida humana. Abaixo listamos, em resumo, as principais linhas de pensamento da psicanálise e suas características essenciais. As principais incluem a Freudiana, a Lacaniana e a Kleiniana, por exemplo. Dentre as escolas podemos citar principalmente a inglesa, representada por Donald Winnicott e Wilfred Bion, e a francesa associada à Jacques Lacan.

Escola Características
Escola Freudiana Destacam-se os temas do inconsciente, as pulsões de vida e morte, a sexualidade, as estruturas psíquicas (neurose, psicose e perversão), o Complexo de Édipo, os mecanismos de defesa, as resistências, as transferências e as contratransferências em uma análise. Dentre os principais autores estão Sigmund Freud e Anna Freud.
Escola Kleiniana Também conhecida como escola das relações objetais, é a escola fundada pela austríaca Melanie Klein, cujas principais contribuições teóricas são a posição esquizo-paranóide, a posição depressiva, as fantasias infantis e os primitivos mecanismos de defesa, com destaque para a identificação projetiva. Klein é pioneira em análise de crianças, e seus estudos pensam o indivíduo desde o nascimento, acompanhando o seu desenvolvimento principalmente desde a infância.
Escola Francesa Jacques Lacan propôs um retorno a Freud e fez inúmeras contribuições, sobretudo se utilizando da Linguística e da Filosofia. Para Lacan, o inconsciente é estruturado como linguagem, e através dos ditos do sujeito teremos indícios de como ele se posiciona no mundo, nas relações com os outros, de suas alienações a certos ideais e de seus modos de desejar. Dentre diversos conceitos originais destacam-se os significantes, significados, objetos, o estágio do espelho e o corte lacaniano.
Escola de Winnicott Donald Winnicott teve uma vasta experiência no tratamento de crianças como pediatra, e desenvolveu sua teoria com ênfase na relação cuidador-bebê, com conceitos como mãe suficientemente boa: nem perfeita, nem negligente na criação do bebê, e a ideia de que a elaboração imaginativa do corpo e suas funções é que moldam a psique, não sendo uma estrutura pré-existente, mas sim, fruto dos cuidados recebidos. O inconsciente winnicottiano seria uma experiência que a imaturidade do bebê não tornou possível criar uma representação, e não o reprimido da teoria freudiana. Alguns de seus conceitos fundamentais são: holding, handling e integração de objetos, personalização e realização e desenvolvimento emocional primitivo.
Escola de Bion Wilfred Bion foi analisando e discípulo de Klein, mas criou diversos conceitos originais. Dentre suas principais contribuições estão a psicoterapia psicanalítica de grupo, o enfoque nos vínculos e a dinâmica do campo analítico, em que existe uma mútua influência entre analisando e analista e vice-versa.
Escola da Psicologia do Ego Heinz Hartmann é o principal nome ligado a esta escola. Nesta abordagem, o ego desenvolve-se a partir do id enquanto a criança passa a entender a diferença do seu corpo-mente em relação ao mundo e atenção se volta para o “eu”. Funções como percepção, afeto, memória, conhecimento e juízo crítico passam a ter valor para o analista nesta abordagem.
Escola da Psicologia do Self Nesta abordagem, Heinz Kohut (EUA) traz a introspecção e empatia como principais instrumentos da psicanálise, seguidos da tese das “falhas dos self-objetos primitivos”. Retira-se também a hegemonia do conceito de Complexo de Édipo e trata o Narcisismo como importante etapa do desenvolvimento.


Além das escolas mencionadas na tabela anterior, ainda há a psicanálise do húngaro Sándor Ferenczi, que surge a partir da escola freudiana. Ou seja, há muitas abordagens, e cada uma delas oferece uma perspectiva única sobre a estrutura da mente e os métodos de tratamento, influenciando significativamente as ementas dos cursos de psicanálise. Além disso, práticas modernas como a psicanálise relacional e conceitos como a intersubjetividade também estão ganhando espaço, mostrando a evolução e atualização contínua desta área.





Como estudar psicanálise hoje?

Para aqueles interessados em se tornar profissionais nesta área, há diversas opções de formação em psicanálise clínica. Os cursos podem variar, desde:

  • Workshops introdutórios
  • Pós-graduações
  • Programas de mestrado
  • Programas de doutorado
  • Residências


Atualmente, também existem cursos de psicanálise clínica disponíveis online, proporcionando flexibilidade para estudar de acordo com as próprias necessidades e ritmos. Um curso de psicanálise típico cobre fundamentos teóricos, técnicas e manejos terapêuticos e práticas supervisionadas, essenciais para quem busca uma compreensão profunda da mente humana e deseja praticar clinicamente.

Quem pode estudar psicanálise?

Enquanto área de conhecimento, todos! Para saber como começar a estudar psicanálise, acreditamos que o primeiro passo é entender qual é o seu perfil. Na Casa do Saber, sabemos que há variados tipos de interesse em aprender sobre esta disciplina. Abaixo, detalharemos um pouco sobre cada um deles. Veja qual é o seu caso:

1. "Sou psicanalista e quero aprofundar minha formação"

A psicanálise é uma área de estudo constante, por isso, tanto se você é um psicanalista em formação, quanto se você já tem muitos anos de experiência clínica é preciso tomar conhecimento das novas tendências culturais, das obras e dos autores relevantes para ter leituras fundamentais ao trabalho de analista. Mesmo após a conclusão de um curso de psicanálise, é essencial que o profissional continue em um processo de aprendizado contínuo, supervisionado por psicanalistas experientes e se mantenha em constante atualização.





2. "Sou estudante e quero me tornar um psicanalista"

Já que é considerada uma ocupação, a profissão de psicanalista pode ser exercida por qualquer pessoa que tenha concluído um curso de graduação em alguma das mais diversas áreas do saber. A atividade psicanalítica é independente de cursos regulares acadêmicos, sendo os seus profissionais formados pelas sociedades e instituições psicanalíticas.

Qualquer pessoa pode fazer um curso de psicanálise, desde que atenda aos pré-requisitos estabelecidos pela instituição de ensino que oferece o curso, como a exigência de se ter uma graduação completa, por exemplo. Além dos tradicionais cursos de psicologia e medicina associados à prática psicanalítica, têm destaque áreas dialógicas como ciências sociais, filosofia, antropologia, entre outras. O psicanalista em formação precisa também ter, é claro, interesse e afinidade com a área da saúde mental e da psicanálise.

Para exercer o ofício de psicanalista, ou seja, clinicar, dar aulas, entre outros, é recomendado que a pessoa interessada tenha uma formação específica em psicanálise, oferecida por uma instituição reconhecida e que realize um curso completo, com supervisão e análise pessoal. A formação em psicanálise é profunda, demandando uma capacidade de reflexão crítica, de análise, de leitura e de interpretação. No entanto, é possível fazer cursos de introdução à psicanálise, participar de encontros ao vivo, workshops e eventos acadêmicos para absorver conhecimento sobre teoria e prática psicanalítica.

No curso Uma Psicanálise da Existência o renomado professor e psicanalista Christian Dunker traça conceitos e leituras de Freud e Lacan.

Assista às aulas para se embasar nas principais teorias e começar a entender questões que envolvem a todos nós em diferentes momentos da vida.

banner do curso 'Uma psicanálise da existência', de Christian Dunker




3. "Gosto de aprender sobre diversas áreas para compreender o mundo"

A psicanálise permite uma profunda reflexão sobre a condição humana, influenciando várias áreas do conhecimento. Profissionais com noções em psicanálise utilizam suas habilidades não apenas em contextos clínicos, mas também em áreas como literatura, filosofia e estudos culturais. Ao entender como os processos inconscientes determinam comportamentos, decisões e relações sociais, a psicanálise oferece perspectivas interessantes para perceber a complexidade humana em diversos aspectos da vida, ampliando a compreensão sobre como pensamos e interagimos em diferentes contextos. Você só tem a ganhar aprendendo mais sobre essa disciplina extremamente versátil e profunda.





Confira algumas das principais áreas de estudo da psicanálise atualmente:

  • Psicanálise e Saúde Mental: focada no tratamento de distúrbios emocionais e psicológicos, essa área é a pedra angular da prática clínica.
  • Psicanálise e Literatura: utiliza teorias psicanalíticas para analisar textos literários, desvendando os aspectos inconscientes que moldam as narrativas.
  • Psicanálise e Cultura: examina como as normas culturais são internalizadas e como influenciam a identidade e o comportamento social ao longo da história.
  • Psicanálise e Educação: aplica conceitos psicanalíticos para entender dinâmicas de aprendizagem e desenvolvimento em ambientes educacionais.
  • Psicanálise e Arte: investiga a expressão inconsciente na criação e interpretação artística, proporcionando uma compreensão mais aprofundada dos movimentos e obras de arte.

E aí, se identificou? Entenda sobre o comportamento humano de forma aprofundada, considerando sentimentos, emoções, pensamentos, o consciente e o inconsciente.

A Casa do Saber + é a plataforma que permite que você conheça as ideias dos grandes pensadores como Sigmund Freud, Melanie Klein, Jacques Lacan, Donald Winnicott, Wilfred Bion, Sándor Ferenczi e muito mais, aprofundando o seu olhar sobre si mesmo e as suas relações.





Como aprender a teoria psicanalítica?

Se você quer complementar sua formação, se atualizando nos temas contemporâneos, revisitando conceitos importantes, aplicando-os à sua clínica e entendendo as contextualizações necessárias com a teoria das principais referências na área e abordagens é preciso aprender com bons profissionais ou professores. Conheça os grandes nomes da psicanálise no Brasil hoje:

Contardo Calligaris


Alexandre Patrício


Pedro de Santi


Christian Dunker


Marcelo Veras


Ana Suy


Conheça todos os professores da Casa do Saber

Quanto custa estudar psicanálise?

Sabia que você pode estudar sobre a teoria e a prática psicanalítica com os grandes mestres do país e ter um guia das principais obras, autores e conceitos para se aprofundar de forma online e em uma linguagem acessível?

A Casa do Saber + é o streaming do conhecimento: uma plataforma com mais de 60 cursos online de psicanálise exclusivos para você aprender com grandes profissionais, doutores e professores na área como Christian Dunker, Ana Suy, Marcelo Veras, Alexandre Patricio de Almeida, Pedro de Santi, Contardo Calligaris, Fernanda Samico, Daniel Omar Perez, Guilherme Facci, entre muitos outros.

Além dos cursos de psicanálise, a plataforma oferece mais de 600 horas de aulas sobre diversas áreas do conhecimento para você se desenvolver pessoalmente e profissionalmente. Lá você também encontra aulas que fazem aproximações entre a psicanálise e a literatura, a filosofia, as artes e a neurociência, por exemplo, afinal, a proposta da Casa do Saber é desenvolver de forma cultural e interdisciplinar os seus alunos.

Os cursos disponíveis no plano regular da plataforma, no entanto, não habilitam a pessoa a iniciar a prática clínica, servindo principalmente como fontes de aprofundamento, ampliação de repertório clínico e formação continuada.

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Quanto custa e como posso pagar?

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Com o plano anual desta plataforma de streaming você garante acesso a mais de 300 cursos disponíveis em 9 áreas distintas do conhecimento, ministrados por grandes nomes da atualidade. Todas as aulas são gravadas e emitem certificados com horas assistidas. Assim, você pode escolher a quais aulas assistir, quando e quantas vezes quiser. Legal, né?

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O programa de expansão em teoria e clínica psicanalítica da Casa do Saber é especialmente desenvolvido para profissionais e estudantes de psi que buscam aprofundar seus conhecimentos em psicanálise.

Os inscritos ganham acesso por 1 ano a uma jornada de conteúdos exclusivos em diferentes formatos: cursos gravados conduzidos pelos maiores professores e profissionais do Brasil, ciclos de aulas online e ao vivo e materiais complementares.

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Especialização em psicanálise

Agora, se você é psicólogo(a), médico(a), tem graduação em alguma outra área e a sua ideia é se especializar em psicanálise, pode apostar em uma pós-graduação, mestrado, doutorado ou escolher alguma escola ou sociedade de referência para construir o seu caminho nesta área tão importante. Confira algumas opções de destaque no Brasil:

Sociedades Escolas Pós-graduações e especializações
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo – SBPSP Fórum do Campo Lacaniano - São Paulo Universidade de São Paulo (USP)
Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro – SBPRJ Fórum do Campo Lacaniano - Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto - SBPRP Escola Brasileira de Psicanálise - Salvador Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Escola Brasileira de Psicanálise - Florianópolis Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)




Para começar a entender Freud, Lacan, Melanie Klein e os principais autores da psicanálise

Agora que você já sabe como estudar psicanálise de acordo com o seu objetivo, que tal começar de forma descomplicada, online e com os melhores recursos?

Para conhecer a teoria psicanalítica de Sigmund Freud; entender mais sobre o inconsciente; estabelecer relações entre a literatura, a mitologia e o comportamento humano; esclarecer ideias sobre parentalidade; se relacionar melhor com as pessoas; viver bem no século XXI, entre tantas outras possibilidades que a psicanálise oferece, experimente acessar o conhecimento de onde estiver e quando quiser.

Começar a entender a psicanálise não precisa ser uma tarefa complexa, e aprender com os maiores professores do país não é algo distante ou inacessível. Além disso, ao tornar a sua rotina de estudos adaptável ao seu tempo, espaço e momento você garante mais chances de continuar aprendendo continuamente.

Nesse sentido, a Casa do Saber + te acompanha em todos os lugares e momentos da vida. Você pode assistir às aulas pausando-as e retomando o seu progresso quando precisar, ou até mesmo ouvi-las em forma de podcast. O aplicativo do streaming está disponível para Android e IOS, e você também pode baixá-lo na sua SmarTV ou acessar pelo navegador do computador.

Dedicando 20 minutos do seu dia você baixa o aplicativo, acessa a plataforma e começa a sua primeira aula com um dos grandes mestres em psicanálise do Brasil.

Esperamos que este artigo tenha te ajudado a conhecer mais sobre o universo de conhecimento que te aguarda estudando psicanálise com a Casa do Saber.

Psicologia
Depressão tem cura? Conheça os sinais e tratamentos
Carolina Tosetti
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Depressão tem cura? Conheça os sinais e tratamentos
Você sabe quais são os tipos de depressão? Entenda esse transtorno psíquico desde o diagnóstico psiquiátrico até as profundezas da psicanálise.

Quando fala-se sobre depressão hoje, a realidade aponta que este é um transtorno complexo e cada vez mais comum, que não faz distinção de idade ou status social.

Explore as estatísticas alarmantes no Brasil, entenda as classificações psiquiátricas, os manejos psicanalíticos e a importância do diagnóstico profissional na identificação e tratamento da depressão.

O contexto da depressão na atualidade

A depressão é um transtorno mental ou psíquico que pode atingir qualquer um, independentemente da idade, gênero, etnia ou classe social. Apesar da sua gravidade, muitas pessoas não dão a atenção necessária para a doença, o que pode dificultar o diagnóstico e, consequentemente, o seu tratamento.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem a maior taxa de prevalência de depressão da América Latina e a segunda maior nas Américas. A previsão é que, em 2030, a depressão seja a primeira causa específica de incapacidade funcional no mundo.

De maneira geral e simplificada, pela visão psiquiátrica, a depressão é um transtorno biológico que se manifesta em forma de tristeza e angústia. A pessoa deprimida perde o interesse ou prazer em realizar atividades que antes gostava, podendo levar a mudanças bruscas de humor e comportamento, afetando diversas áreas de sua vida.

As alterações repentinas do humor são, inclusive, um dos sintomas mais comuns da doença. Por isso, o acompanhamento profissional se faz essencial para diagnosticar a depressão ou episódios de tristeza prolongados.

imagem de divulgação de masteclass sobre psicopatologias na atualidade com alexandre patrício



A visão da psiquiatria sobre a depressão

Em 1952, a Associação Psiquiátrica Americana (American Psychiatric Association, APA) publicou pela primeira vez o Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, DSM-1), a primeira tentativa de abordar o diagnóstico das doenças mentais por meio de definições e critérios padronizados.

A DSM-5-TR, publicada em 2022, fornece um sistema de classificação que tenta separar as doenças mentais em categorias diagnósticas com base na descrição dos sintomas.

A Classificação Internacional de Doenças, décima-primeira revisão (CID-11), e a mais recente versão publicada pela Organização Mundial da Saúde, utiliza categorias diagnósticas semelhantes às encontradas no DSM-5-TR. Essa semelhança indica que o diagnóstico das doenças mentais específicas está sendo feito de forma mais padronizada em todo o mundo.

A coleta da história clínica, a anamnese e o exame devem observar os critérios da décima primeira versão da Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde (CID), da Organização Mundial da Saúde.

Nenhum sinal ou sintoma representa propriamente uma patologia. A confecção do diagnóstico da depressão deve levar em conta que os critérios da CID apresentam grau de subjetividade, devendo-se evitar a psicopatologização e a medicalização de sentimentos humanos normais.

Sintomas da depressão: a importância do diagnóstico profissional

O diagnóstico da depressão é feito a partir da avaliação clínica de um profissional com base na persistência, abrangência e interferência que os sintomas apresentam na vida do indivíduo. Segundo o DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), os sintomas da depressão incluem:

  • Humor deprimido constante
  • Diminuição do interesse ou prazer em quase todas as atividades
  • Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta
  • Diminuição ou aumento significativo do apetite
  • Insônia ou sonolência
  • Agitação ou retardo psicomotor
  • Falta de energia, preguiça ou cansaço excessivo
  • Sentimentos de inutilidade, culpa excessiva ou inadequada
  • Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou indecisão
  • Pensamentos de morte ou suicídio


Para que os sintomas tenham uma relevância clínica, é preciso que se note uma mudança nos pensamentos, sentimentos, comportamento ou na fisiologia, devendo esta ser vivenciada por um período significativo de tempo.

Há regras específicas que indicam quantos sintomas de cada categoria devem estar presentes para se fazer o diagnóstico. Essa complexidade é apenas uma das razões pelas quais um profissional deve ser consultado para diagnosticar a depressão.

Quais são os tipos de depressão?

Um indivíduo que sofre de depressão também pode apresentar sintomas de ansiedade, distúrbios do sono e de apetite e podem demonstrar sentimentos de culpa ou baixa auto-estima, falta de concentração.

Um episódio depressivo pode ser leve, moderado ou grave, a depender da intensidade dos sintomas. Durante um episódio depressivo grave, é pouco provável que a pessoa afetada possa continuar com atividades sociais, de trabalho ou cotidianas. Também pode-se fazer uma diferenciação da depressão em pessoas que têm ou não histórico de episódios de mania.

Episódios de mania envolvem humor exaltado ou irritado, excesso de atividades, pressão de fala, auto-estima inflada e uma menor necessidade de sono, além da aceleração do pensamento. Os tipos de depressão podem ser crônicos (isto é, acontecem durante um período prolongado de tempo), com recaídas, especialmente se não forem identificados e tratados, ou pontuais.

Conheça alguns dos principais tipos de depressão e a sua classificação na CID-11:

  • Transtorno depressivo recorrente | CID-11 6A71: esse distúrbio envolve repetidos episódios depressivos. Durante esses episódios, a pessoa experimenta um humor deprimido, perda de interesse e prazer e energia reduzida, levando a uma diminuição das atividades em geral. Este tipo de sofrimento pode ser longo, duradouro e mais difícil de ser diagnosticado.
  • Transtorno bipolar | CID-11 6A6Z: esse tipo de depressão consiste tipicamente na alternância entre episódios de mania e depressivos, separados por períodos de humor regular.
  • Transtorno depressivo de episódio único | CID-11 6A70: é caracterizado pela presença de um episódio depressivo quando não há histórico de episódios depressivos anteriores.
  • Transtorno distímico | CID-11 6A72: o transtorno distímico é caracterizado por um estado depressivo persistente (isto é, com duração de 2 anos ou mais), durante a maior parte do dia, na maior parte dos dias. Durante os primeiros 2 anos do distúrbio, nunca houve um período de 2 semanas durante o qual o número e a duração dos sintomas foram suficientes para satisfazer os requisitos de diagnóstico para um Episódio Depressivo.
  • Transtorno misto de ansiedade e depressão| CID-11 6A73: o transtorno misto de ansiedade e depressão é caracterizado por sintomas de ansiedade e depressão na maior parte dos dias por um período de duas semanas ou mais. Nenhum conjunto de sintomas, considerado separadamente, é suficientemente grave, numeroso ou persistente para justificar o diagnóstico de um episódio depressivo, distimia ou um distúrbio relacionado à ansiedade e ao medo.
  • Transtorno disfórico pré-menstrual |CID-11 GA34.4: um padrão de sintomas de humor (humor deprimido, irritabilidade), sintomas somáticos (letargia, dor nas articulações, excessos alimentares) ou sintomas cognitivos (dificuldades de concentração, esquecimento) que comece vários dias antes do início da menstruação, e comece a melhorar dentro de alguns dias após o início da menstruação e, em seguida, torne-se mínima ou ausente dentro de aproximadamente 1 semana após o início da menstruação, estando presente na maioria dos ciclos menstruais no último ano.
  • Depressão psicótica: o indivíduo em sofrimento geralmente convive com episódios de delírio e alucinação, em que se somam os sintomas de depressão a alguma forma de psicose. Pode ser considerado um tipo de depressão grave.


O que é depressão para a psicanálise?

No contexto da psicanálise, a partir da obra Luto e Melancolia, Freud (1917) inicialmente considerava a depressão como um fenômeno que envolvia a "diminuição do sentimento de auto-estima" e "expectativas ilusórias de punição". Sua visão inicial era de que as crianças, devido à falta de capacidade de auto-estima e de prever o futuro, não poderiam experimentar a depressão.

Acreditava-se que na adolescência o desenvolvimento da personalidade permitia a vivência da depressão, embora até a década de 1970 alguns estudiosos considerassem os sintomas depressivos como parte normal do desenvolvimento adolescente.

Ao longo do século 20, a compreensão da relação entre eventos na infância e o funcionamento da personalidade no futuro começou a ganhar destaque. Freud propôs que a personalidade de uma criança era amplamente desenvolvida até os cinco anos de idade, sendo influenciada pela maneira como ela se ajustava a experiências precoces. A depressão, para Freud, surgia da resolução inadequada dos conflitos entre impulsos primitivos (id) e a aceitação de tabus sociais pelo superego.

mão encostando na própria sombra sob fraca luz

Numa leitura mais recente, o mal-estar contemporâneo, para o psiquiatra Joel Birman, manifesta-se no corpo, na ação e na intensidade como uma dor difícil de ser simbolizada.

Nesse cenário, a depressão destaca-se como uma forma de subjetivação, refletindo um aumento significativo nos diagnósticos e previsões de uma sociedade predominantemente depressiva.

A contemporaneidade revela a psicanálise como um discurso relevante para entender questões sociais e culturais. As mudanças na estrutura familiar, a crise da paternidade e a ascensão do individualismo na vida pós-moderna contribuem para a proliferação da cultura do narcisismo.

A falta de consenso sobre o termo "depressão" na sociedade atual reflete a dificuldade em lidar com as transformações sociais, econômicas e culturais que afetam a evolução da subjetividade.

Por uma perspectiva psicanalítica, a depressão pode ser considerada uma posição subjetiva diante das demandas sociais que enfatizam o individualismo e a cultura do espetáculo.

O sujeito contemporâneo, sob pressão para buscar a satisfação constante, muitas vezes se vê paralisado, afastado de seu desejo, resistindo às exigências sociais. Assim, a depressão pode ser uma resposta à sociedade que não tolera a falta, a dor e o sofrimento.

Neste contexto, enquanto dispositivo de "cura pela palavra" a psicanálise concebe a escuta do "singular" como importante possibilidade de abertura para as manifestações subjetivas, que podem estar relacionadas às múltiplas expressões sintomáticas, inclusive as depressivas.

Em todos os casos, torna-se essencial o diagnóstico precoce para que o tratamento seja bem sucedido, evitando novos episódios. É fato que a depressão pode aparecer em diversas fases da vida, a começar pela infância.

Depressão na Era Digital
por Ana Suy e Alexandre Patrício

No curso Depressão na Era Digital, os psicanalistas e escritores Ana Suy e Alexandre Patricio de Almeida apresentam uma discussão sobre saúde mental, cultura e sociedade a partir da psicanálise, oferecendo uma imersão nas complexidades do adoecimento psíquico na era atual, em especial sobre o fenômeno da depressão.

Confira o curso!



Sintomas e diagnóstico da depressão infantil

Em crianças pré-escolares - de idade até sete anos - a manifestação clínica mais comum é representada pelos sintomas físicos, tais como dores, fadiga e tontura. Ainda segundo o autor, seguem-se além das queixas dos sintomas físicos a presença de ansiedade, fobias, agitação psicomotora ou hiperatividade, irritabilidade, diminuição do apetite com falha em alcançar o peso adequado, e alterações do sono.

Alguns estudiosos citam surgimento de choro excessivo e frequente, comunicação falha, tristeza na fisionomia e um comportamento que apresenta agressividade.

Em crianças escolares - entre seis a doze anos -, o humor depressivo já pode ser verbalizado e é frequentemente relatado como tristeza, irritabilidade ou tédio. As crianças podem apresentar apatia, tristeza, fadiga, isolamento, aparência triste, queda do desempenho escolar, ansiedade diante de uma separação, dentre outros.

Os estudos dedicados à depressão infantil, semelhantes aos adultos, revelam a importância do diagnóstico precoce. A peculiaridade do diagnóstico infantil reside na possibilidade de identificação tardia, agravando a situação.

A depressão infantil pode passar despercebida ou ser confundida com características temperamentais, tornando-se desafiador reconhecê-la. Desde a década de 1970, há consenso de que as crianças apresentam sintomas depressivos semelhantes aos dos adultos, com a irritabilidade assumindo o papel do abatimento no diagnóstico infantil.

15 sinais da depressão infantil

  • Angústia.
  • Pessimismo
  • Agressividade
  • Falta de apetite
  • Falta de prazer em executar atividades
  • Isolamento
  • Apatia
  • Insônia ou sono excessivo que não satisfaz
  • Queixas de dores
  • Sentimentos de desesperança
  • Dificuldade de concentração, atenção memória ou raciocínio
  • Baixa auto-estima e sentimento de inferioridade
  • Sensação frequente de cansaço ou perda de energia
  • Sentimentos de culpa
  • Dificuldade de se afastar da mãe


A depressão em crianças: uma visão da psicanálise

A teoria de Sigmund Freud trouxe uma nova perspectiva sobre as angústias infantis, que se assemelham às vivenciadas na idade adulta. Estudos recentes corroboram a ideia de que, contrariamente a concepções antigas, as crianças experimentam emoções, enfrentam perdas, mudanças e traumas, que podem ter repercussões na vida adulta, tornando-se terrenos férteis para o desenvolvimento da depressão.

Para a psicanálise freudiana, a depressão infantil está relacionada a situações de perdas e luto, impactando diretamente na fase narcísica da criança. A infância, caracterizada pela ainda incompleta constituição psíquica, evidencia a singularidade de como cada criança vivencia e elabora suas perdas, considerando que as histórias de vida são distintas.

banner do curso Melanie Klein e a refundação do eu desenvolvimento psiquico e a teoria das posicoes, do professor Alexandre Patricio, para a Casa do Saber



Psicanálise, psicoterapia e psiquiatria no tratamento da depressão

Pesquisas sobre a depressão de difícil tratamento enfatizam a importância da associação do acompanhamento psiquiátrico ao acompanhamento psicanalítico. Nestes casos graves, nota-se a predominância de derivados de impulsos agressivos nos humores depressivos.

Na clínica psicanalítica destacam-se dois tipos de desprazer: a ansiedade e o afeto depressivo, decorrentes de situações como luto, perdas amorosas ou punições.

Uma leitura psiquiátrica associada ao manejo psicanalítico ressalta que o afeto depressivo desempenha papel equivalente à ansiedade na psicopatologia, sendo uma parte inevitável da vida mental, acionando defesas e conflitos, podendo ser ou não consciente em um dado compromisso.

Aqui os transtornos depressivos são definidos como a "sensação de impotência e desesperança diante da realização de um desejo intenso", colorindo toda a auto-representação com sentimentos de inferioridade, incapacidade e ameaça.

Grandes autores da psicanálise, como Melanie Klein, criaram conceitos e formas de compreensão das manifestações do transtorno depressivo. Aprofunde-se no tema da depressão com a Masterclass do professor e psicanalista Alexandre Patricio de Almeida dedicada às psicopatologias atuais.



Como vencer a depressão?

O acolhimento das pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo depressão e as necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, e seus familiares é fundamental para a identificação das necessidades assistenciais, alívio do sofrimento e planejamento de intervenções medicamentosas e terapêuticas, se e quando necessárias.

No Brasil, além de contar com a disponibilidade de consultórios e clínicas particulares, os indivíduos em situações de crise podem ser atendidos em qualquer serviço da rede pública de saúde.

Os casos de pacientes em situação de emergência devem ser atendidos nos serviços de urgência e emergência e nos serviços da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) é composta por equipamentos variados, em sua maioria guiados por princípios de cuidado comunitário e em liberdade, tais como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência e Cultura e as Unidade de Acolhimento (UAs). As diretrizes da política envolvem o governo federal e os estados e municípios.






Referências:

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Ciúmes: Significado, Tipos de ciúme, Retroativo, Relacionamentos
Xavana Celesnah
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Ciúmes: Significado, Tipos de ciúme, Retroativo, Relacionamentos
O que é ciúmes, suas causas e tipos, como esse sentimento impacta os relacionamentos românticos e como as redes sociais agravam a insegurança.

O ciúme é um sentimento presente em todo ser humano e é considerado normal até certo ponto. Ele indica que o outro é importante em um relacionamento e que a pessoa que sente ciúmes tem medo de perder aquele relacionamento. Porém, o ciúme se torna um problema quando ele passa a ser uma obsessão. Nesse ponto, a pessoa ciumenta busca controlar a vida do parceiro, prejudicando a qualidade da relação. Neste artigo, vamos abordar o significado dos ciúmes, suas causas, tipos e de que maneira ele impacta os relacionamentos. Além disso, vamos discutir a influência das redes sociais sobre esse sentimento.

O que é Ciúmes?

O ciúme pode ser definido como um sentimento de insegurança emocional que surge quando uma pessoa teme perder o afeto de seu parceiro devido à presença de uma terceira pessoa ou a percepções de diminuição de sua importância. A palavra "ciúmes" tem origem no latim zelumen e no grego zelozus, que significam um desejo ardente, calor ou zelo. Em essência, os ciúmes estão intimamente relacionados ao medo de perder algo ou alguém que consideramos valioso, o que inclui nossos relacionamentos amorosos.

De acordo com o dicionário Aurélio, a palavra ciúme é definida como um “sentimento doloroso que as exigências de um amor inquieto, o desejo de posse da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de sua infidelidade, fazem nascer em alguém; zelos; angústia provocada por sentimento exacerbado de posse”.

Este sentimento pode ser natural e até mesmo saudável em algumas situações. Um certo grau de ciúmes pode sinalizar que a pessoa valoriza o relacionamento e tem medo de perdê-lo. No entanto, o ciúmes se torna problemático quando a insegurança e o medo de perda se transformam em obsessão. Neste ponto, a pessoa ciumenta busca controlar a vida do parceiro, o que pode prejudicar a confiança mútua e a qualidade do relacionamento.

Para entender melhor sobre o tema, assista a seguir a aula gratuita sobre ciúmes com a psicanalista e escritora Ana Suy. A autora dos livros “A gente mira no amor e acerta na solidão” e “Não pise no meu vazio”, Ana Suy esclarece sobre as origens do ciúmes e seu significado.

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Tipos de Ciúmes: Quando o Sentimento Se Torna Prejudicial

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, acreditava que o ciúmes seria um estado emocional natural, mas que sua manifestação exacerbada causaria uma patologia. Ele identificou três níveis de ciúmes: o competitivo ou normal, o projetado e o delirante, cada um com suas características e intensidades.

Os ciúmes podem se manifestar de várias formas, desde uma preocupação momentânea até uma obsessão destrutiva. Conhecer os diferentes tipos de ciúmes é essencial para entender como esse sentimento pode afetar um relacionamento, de que forma a dependência emocional pode estar relacionada ao ciúmes e como ele pode ser tratado.

Ciúmes Normal ou Competitivo

Este tipo de ciúmes é o mais comum e natural. Ocorre quando uma pessoa percebe uma ameaça à sua relação, geralmente devido à presença de uma terceira pessoa que disputa a atenção ou o afeto do parceiro. O ciúme competitivo, também definido como normal, é desencadeado por situações reais e específicas, como um parceiro que passa mais tempo com um amigo(a) ou tem interações constantes com um ex-namorado(a).

O ciúme competitivo é, em muitos casos, uma reação à percepção de que outra pessoa pode estar ocupando um espaço importante ou oferecendo algo que a pessoa teme não poder oferecer, como atenção ou carinho. Esse tipo de ciúmes está relacionado a uma insegurança temporária e pode ser agravado pela dependência emocional. Mas, é possível ser superado por meio de diálogos abertos e pelo fortalecimento da confiança mútua.

Ciúmes Projetado

O ciúme projetado ocorre quando a pessoa que sente ciúmes transfere suas próprias inseguranças para o parceiro. Em vez de perceber seus próprios medos e desejos, ela começa a projetar essas emoções no outro. Por exemplo, uma pessoa pode suspeitar que seu parceiro está atraído por alguém, quando, na verdade, ela mesma está experimentando sentimentos de atração por outra pessoa. O ciúme projetado reflete uma desconfiança infundada e pode levar a um comportamento possessivo e controlador, sem base na realidade.

Freud acreditava que esse tipo de ciúmes está relacionado a processos inconscientes, onde a pessoa, ao sentir algo negativo sobre si mesma, começa a "enxergar" esse comportamento no parceiro, mesmo quando não há evidências concretas.

Ciúmes Delirante

O ciúme delirante é o tipo mais extremo e patológico de ciúmes. Nesse caso, o indivíduo sente uma obsessão irracional e sem fundamentos de que está sendo traído, mesmo na ausência de qualquer prova concreta. O ciúme delirante pode levar a distúrbios emocionais graves, como raiva, depressão, paranóia e até comportamentos obsessivos de vigilância, como o monitoramento constante do parceiro.

Nesse caso, a pessoa não apenas sente ciúmes de maneira exagerada, mas acredita de forma delirante e sem fundamento que o parceiro está constantemente sendo infiel. O ciúme delirante pode levar o indivíduo a criar fantasias e acreditar em situações inexistentes, como ter convicções firmes de que o parceiro está escondendo algo, mesmo sem nenhuma evidência concreta.

Esse tipo de ciúmes está frequentemente associado a transtornos psiquiátricos, como o transtorno delirante, em que a pessoa se torna obcecada por uma crença infundada. Muitas vezes, esse comportamento é uma forma de defesa contra sentimentos profundos de insegurança, baixa autoestima ou medo da perda. O ciúmes delirante pode destruir um relacionamento, pois a pessoa afetada vive imersa em fantasias e crenças distorcidas, tornando-se cada vez mais difícil para ela distinguir o que é real do que é imaginário.

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Como as Redes Sociais Intensificam os Ciúmes nos Relacionamentos

O surgimento das redes sociais tem adicionado uma nova camada de complexidade ao ciúmes nos relacionamentos. Plataformas como Instagram, Facebook e WhatsApp por exemplo, permitem uma exposição constante de nossas interações sociais e de momentos da nossa vida privada, o que pode alimentar a insegurança e a desconfiança no parceiro. Além disso, esses aplicativos surgem como uma fonte inesgotável de mal entendidos e de comparações, especialmente quando um parceiro interage com outras pessoas de forma aberta ou “excessiva” na internet.

A facilidade com que podemos monitorar as atividades online do outro gera o fenômeno conhecido como "stalking digital" ou ou monitoramento das redes sociais. Esse comportamento é cada vez mais comum e envolve desde a análise de fotos e postagens do parceiro até a investigação de mensagens privadas. Em alguns casos, o parceiro começa a criar cenários e conclusões baseadas em interpretações das interações online, o que pode gerar uma espiral de insegurança e desconfiança, prejudicando o fluir do amor.

Para muitas pessoas, esse tipo de comportamento provoca sofrimento emocional e pode até levar ao fim de um relacionamento saudável, já que o foco passa a ser no mal estar e insegurança gerados pelas redes sociais e não nos sentimentos reais entre os parceiros.

Ciúmes e a Psicanálise: A Profundidade das Motivações Inconscientes

Na psicanálise, o ciúme é frequentemente relacionado a uma manifestação de conflitos emocionais inconscientes, muitas vezes, enraizados em experiências passadas e dinâmicas familiares. Assim, a complexidade e os contratempos das relações amorosas teriam origens muito mais profundas. Segundo Freud, o ciúmes pode ser um reflexo de rivalidades internas, como aquelas com pais ou irmãos, ou até mesmo um desejo inconsciente de controle ou possessividade.

A psicanálise e suas diferentes perspectivas, seja através das concepções de Jacques Lacan, pela psicologia analítica de Carl Jung e de Freud, sugere que, para entender profundamente os ciúmes, é necessário examinar as emoções reprimidas e os mecanismos de defesa que as pessoas utilizam para lidar com suas inseguranças. O ciúme excessivo pode, muitas vezes, ser um reflexo de um medo profundo de abandono ou uma sensação de inadequação, que a pessoa projeta no parceiro.

O que é Ciúmes Retroativo?

O ciúme retroativo é um tipo de ciúmes que surge quando uma pessoa sente insegurança ou desconforto em relação ao passado amoroso ou sexual de seu parceiro. Ao contrário do ciúme tradicional, que geralmente está relacionado ao medo de uma ameaça no presente — como uma terceira pessoa que pode estar competindo pela atenção do parceiro — o ciúme retroativo é alimentado por sentimentos de possessividade ou inveja sobre experiências passadas.

Esse tipo de ciúmes pode ser desencadeado por conversas sobre relacionamentos anteriores, a presença de objetos ou recordações do passado (como fotos ou presentes de ex-namorados), ou até mesmo a comparação constante entre o parceiro atual e ex-parceiros. Também é possível surgir a partir de relacionamentos tóxicos com narcisistas, que costumam realizar triangulações com a intenção de desestabilizar o parceiro e causar ciúmes propositalmente. A pessoa com ciúmes retroativo pode sentir que o parceiro ainda tem uma conexão emocional com os ex, o que cria uma sensação de insegurança ou inadequação.

Por que os Ciúmes Retroativos Surgem?

O ciúme retroativo geralmente está ligado a questões de autoestima e insegurança. Quando uma pessoa não consegue se sentir completamente segura ou valorizada no relacionamento amoroso atual, pode começar a projetar suas próprias inseguranças sobre o que o parceiro viveu anteriormente. Esse sentimento é muitas vezes exacerbado por um desejo de "ser a única" pessoa ou a mais importante na vida do parceiro, levando a uma idealização de uma relação sem passado.

Além disso, pessoas com dificuldades em lidar com sentimentos de abandono ou rejeição são mais propensas a desenvolver o ciúmes retroativo, uma vez que se sentem ameaçadas pela ideia de que o parceiro possa ter experimentado um sentimento de amor mais intenso e significativo com outra pessoa no passado.

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Como o Ciúmes Retroativo Afeta o Relacionamento?

Quando não tratado, o ciúme retroativo pode causar tensão e desconfiança no relacionamento. Ele pode levar a conflitos frequentes, onde o parceiro ciumento questiona o outro sobre detalhes do passado, exige explicações ou tenta apagar símbolos da história anterior do parceiro, como fotos ou presentes de ex-namorados. Isso cria um ambiente de controle e possessividade, onde o foco não está na construção de um relacionamento saudável, mas em tentar apagar ou substituir o passado.

Além disso, o ciúmes retroativo pode gerar uma sensação de culpabilização no parceiro que tem um passado amoroso. Esse parceiro pode se sentir constantemente acusado ou pressionado a se desvincular de suas experiências anteriores, o que é um comportamento injusto e prejudicial à autoestima e à liberdade individual.

Como Lidar com o Ciúme Retroativo?

Autoconhecimento: Entender a origem do ciúme retroativo é fundamental. Muitas vezes, esse sentimento está relacionado a inseguranças próprias, como o medo de não ser bom o suficiente ou a ideia de que o parceiro teve experiências melhores no passado. Trabalhar esses sentimentos pode ajudar a reduzir o impacto do ciúmes.

Diálogo honesto: É importante que o parceiro que sente ciúmes retroativo converse de forma verdadeira e respeitosa com o outro, explicando suas inseguranças sem acusar ou culpar. O diálogo construtivo pode ajudar a esclarecer mal-entendidos e fortalecer a confiança.

Aceitação do Passado: Todo relacionamento tem um passado, e é saudável aceitar que o parceiro teve experiências antes de estar com você. Tentar apagar ou negar esse passado prejudica a relação. O respeito pelo passado do outro é fundamental para o fortalecimento do vínculo no presente.

Desenvolvimento da Autoestima: Investir em melhorar a autoestima e autoconfiança é essencial para quem sente ciúmes retroativo. O parceiro que se sente inseguro deve focar no seu próprio crescimento e entender que seu valor não depende das comparações com outras pessoas.

Conclusão

O ciúmes é um sentimento humano natural, mas quando se torna uma obsessão leva a comportamentos prejudiciais que afetam profundamente os relacionamentos românticos. Compreender suas origens, seus tipos e os efeitos que ele pode ter nas nossas interações é essencial para lidar com esse sentimento de forma saudável.

Se você se vê constantemente sentindo ciúmes e nota que isso está prejudicando sua vida amorosa e suas relações pessoais, a psicanálise pode ser uma boa ferramenta para entender suas causas mais profundas. Um relacionamento saudável é construído com base na confiança, no respeito mútuo e no amor, não na posse ou controle.




Perguntas Frequentes sobre o Ciúmes

  1. O que causa o ciúmes em um relacionamento?
    O ciúmes é causado por insegurança emocional, medo de perder o parceiro, baixa autoestima, e, em alguns casos, traumas devido à experiências passadas de traição ou rejeição.
  2. Como controlar o ciúmes de maneira saudável?
    Para controlar o ciúmes, é importante desenvolver a autoestima, estabelecer uma comunicação aberta com o parceiro e procurar ajuda psicológica, quando necessário.




Referências:

https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/287/amor-e-solidao-uma-psicanalise-das-conexes-humanas

https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/476/vocabulario-dos-afetos

https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/311/as-relaces-amorosas-e-seus-contratempos-uma-abordagem-interdisciplinar

https://www.filosofiaepsicanalise.org/2013/11/freud-explica-o-ciume.html

Ansiedade: Sintomas, Causas, Crise de Ansiedade e Transtornos
Xavana Celesnah
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Ansiedade: Sintomas, Causas, Crise de Ansiedade e Transtornos
Saiba o que é ansiedade, crise de pânico e transtornos relacionados. O tratamento da ansiedade com psicólogo e psiquiatra e a melhora da saúde mental

A ansiedade é uma emoção humana universal caracterizada por sentimentos de preocupação, medo e apreensão, geralmente despertados em situações de incerteza ou pressão. Todos nós a experimentamos em algum momento. Em si, ela não é uma doença.

Apesar de ser uma reação natural e muitas vezes útil, que nos prepara para enfrentar desafios, a ansiedade pode se tornar um problema quando ganha proporções excessivas e se transforma em um transtorno, passando a interferir no cotidiano, afetando o sono, o humor e as relações interpessoais.

Os casos de sofrimento psíquico, exigem cuidado especializado. Assim como todos os problemas de saúde mental, os transtornos de ansiedade precisam ser tratados com mais naturalidade, retirando-se o preconceito e o estigma tão culturalmente arraigados em relação a tudo o que diz respeito às questões de ordem emocional.

O Que é Ansiedade?

A ansiedade é uma reação emocional do corpo diante de situações que envolvem incerteza ou perigo. De acordo com o psiquiatra Rodrigo Bressan, “nosso corpo, através dos sistemas nervosos autônomo e simpático, está preparado para situações de luta ou fuga”, por possuir um mecanismo biológico capaz de lidar com situações de perigo. Mas, existem contextos de estresse que ultrapassam a capacidade de regulação emocional do corpo, fazendo com que as pessoas saiam do eixo e causando diversos problemas de saúde mental, como os transtornos de ansiedade.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os transtornos de ansiedade são os transtornos mentais mais comuns do mundo e afetaram aproximadamente 301 milhões de pessoas em 2019, o que corresponde a cerca de 4% da população mundial. Ainda segundo a OMS, as mulheres são mais afetadas por este tipo de transtorno do que os homens e os sintomas começam a surgir na infância e na adolescência.

Os transtornos de ansiedade, além de provocarem sofrimento, interferem de forma significativa nas atividades cotidianas, causando grande impacto no nível de incapacitação da nossa sociedade. Quando não tratados, esses sintomas podem persistir por anos, impactando ainda mais na saúde mental e emocional do indivíduo.

A boa notícia é que grande parte dos transtornos mentais, como os de ansiedade, são tratáveis e existem terapias e intervenções altamente eficazes, como a psicoterapia e o uso de medicamentos, que podem ajudar a controlar os sintomas e permitir que a pessoa recupere o bem estar e a qualidade de vida.

Apesar da alta prevalência e do impacto significativo desses transtornos, estima-se que apenas 1 em cada 4 pessoas com os sintomas busque tratamento. A falta de conscientização sobre a natureza tratável da condição, o baixo investimento público em serviços de saúde mental, a falta de profissionais de saúde qualificados para este tipo de atendimento e o estigma social em torno do tema são algumas das barreiras que dificultam o acesso a um tratamento adequado, segundo a OMS.

A conectividade moderna tem um impacto direto na nossa saúde mental. Acordar, checar notificações, rolar feeds infinitos, adiar o sono... Isso soa familiar? Se sim, é hora de refletir sobre como as redes sociais podem estar afetando o seu equilíbrio emocional.

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Sintomas de Ansiedade

Os sintomas de ansiedade podem variar de pessoa para pessoa, mas geralmente incluem manifestações físicas e emocionais. É importante entender que a ansiedade não é um fenômeno exclusivamente psicológico. Ela também afeta o corpo e muitas pessoas com transtornos de ansiedade experimentam uma série de sintomas físicos que podem ser tão intensos ao ponto de se confundirem com outros problemas de saúde. Assim, os transtornos de ansiedade podem provocar sintomas físicos, emocionais e comportamentais.

Sintomas Físicos da Ansiedade

Os sintomas físicos mais recorrentes dos transtornos de ansiedade incluem:

  • Tensão muscular: A musculatura do corpo, especialmente nas regiões do pescoço, ombros e mandíbula, tende a se contrair, causando desconforto.
  • Taquicardia: O aumento da frequência cardíaca é o sintoma clássico da ansiedade. As palpitações e a sensação de coração acelerado são muito frequentes.
  • Falta de ar: A dificuldade para respirar ou "respiração curta" é recorrente em episódios de ansiedade, especialmente durante ataques de pânico.
  • Suor excessivo: Suor demasiado, especialmente nas palmas das mãos, axilas ou testa, mesmo em situações sem estresse imediato.
  • Tremores nas mãos: O nervosismo pode causar tremores involuntários nas mãos ou até mesmo em outras partes do corpo
  • Boca seca: A ansiedade pode diminuir a produção de saliva, resultando em boca seca e desconforto.
  • Dores no peito: O estresse físico pode provocar dores no peito ou uma sensação de pressão, frequentemente confundida com problemas cardíacos.
  • Náuseas e desconforto abdominal: O estômago e o sistema digestivo podem reagir de maneira exacerbada ao estresse, causando náuseas, cólicas ou diarreia.


Sintomas Emocionais e Psicológicos da Ansiedade

Os transtornos de ansiedade, além de causarem sintomas físicos, manifestam-se no emocional do indivíduo, afetando o seu bem-estar e a qualidade dos seus relacionamentos. Dentre os sintomas psicológicos da ansiedade, as pessoas experimentam:

  • Preocupação excessiva: A mente fica sem paz, devido à preocupação permanente com todas as atividades cotidianas. Tarefas do trabalho, problemas familiares, atividades pessoais, tudo está sendo processado com muita velocidade e os pensamentos estão sempre direcionados à próxima atividade que deve ser realizada, retirando o indivíduo do presente. Nesses casos, a meditação mindfulness pode auxiliar como uma terapia complementar e trazer a mente de volta ao presente.
  • Medo iminente: A sensação angustiante de que algo terrível pode acontecer a qualquer momento é outro sintoma comum. Esse medo pode não ter um motivo claro, mas também pode estar associado a algum evento na vida do indivíduo, como uma viagem, uma apresentação importante, algum evento social.
  • Irritabilidade: Pessoas ansiosas tendem a se tornar mais irritadas e impacientes, agindo de maneira ríspida no cotidiano.
  • Dificuldade de concentração: Como a mente está repleta de pensamentos voltados para o futuro, é comum que haja uma dificuldade de concentração em tarefas do dia a dia. Esse fator é particularmente prejudicial à produtividade, afetando o indivíduo no trabalho.
  • Nervosismo ou inquietação: As pessoas tendem a se sentir em alerta constante, sem relaxar. Daí a sensação de inquietude, pois vivem como se estivessem prestes a ter uma crise a qualquer momento.




Sintomas Comportamentais da Ansiedade

Todos os sintomas da ansiedade estão interligados, mas de maneira didática eles são divididos nesses três tipos: físicos, emocionais e comportamentais. Em relação ao comportamento, os indivíduos acometidos com o transtorno podem começar a adotar certos padrões com o desejo de evitar o desconforto da ansiedade. Veja exemplos de como a ansiedade afeta o comportamento:

  • Dificuldade para dormir (insônia): As pessoas com transtornos de ansiedade geralmente têm dificuldades para relaxar e adormecer. A mente hiperativa, cheia de preocupações, impede o descanso adequado.
  • Isolamento: Uma das respostas mais comuns à ansiedade é evitar situações que possam desencadear medo ou desconforto. Assim, alguém com transtorno de ansiedade pode evitar encontros sociais ou eventos públicos.
  • Procrastinação: A ansiedade provoca dificuldade de tomada de decisões e acaba deixando as pessoas sem realizar suas atividades. O medo do fracasso é outro motivo que gera a procrastinação.
  • Comportamentos de fuga: Em alguns casos, a pessoa pode buscar formas de "escapar" da ansiedade, como o abuso de substâncias.


O que é uma Crise de Ansiedade?

Uma crise de ansiedade é um episódio intenso e súbito em que os sintomas de ansiedade atingem um pico, causando grande desconforto e aflição. Geralmente, essas crises estão relacionadas a eventos estressantes. Elas costumam ter uma duração limitada, por volta de 30 minutos, mas podem deixar a pessoa com uma sensação de cansaço extremo ou vulnerabilidade quando passam.

Durante uma crise de ansiedade, a pessoa normalmente vivencia sintomas emocionais e físicos. Entre os sintomas psicológicos estão: sensação de medo, angústia, nervosismo, apreensão, sensação de estar fora de si mesma e de que o mundo ao redor não é real. A mente tende a se concentrar nas piores possibilidades, com o medo iminente de perder o controle ou até mesmo de morrer.

Já os sintomas físicos são consequência da liberação de hormônios como o cortisol e a adrenalina, que são ativados pelo sistema nervoso simpático em situações de estresse. Eles podem incluir:

  • Aceleração do batimento cardíaco e palpitações
  • Sensação de sufocamento ou falta de ar
  • Tontura e sensação de desmaio
  • Formigamento nas extremidades
  • Aumento da pressão arterial
  • Suor excessivo, boca seca, mãos geladas e pele fria
  • Náuseas, podendo até levar ao vômito
  • Vontade frequente de urinar


Durante uma crise, as pessoas sentem dificuldade em realizar tarefas cotidianas, e ficam incapazes de retomar a normalidade até que o episódio termine. Existem tratamentos eficazes para as crises de ansiedade, que podem ser feitos através de atendimentos psicológicos. Além disso, as técnicas de relaxamento e atenção plena podem reduzir os sintomas do transtorno.

Diferença entre Crise de Ansiedade e Crise de Pânico

A crise de pânico é um tipo específico de ataque de ansiedade e ambos possuem sintomas semelhantes. O que costuma diferenciá-los é a causa. A crise de pânico normalmente ocorre sem um motivo identificável, sem uma causa óbvia e costuma ser acompanhada de um medo súbito de morrer.

Uma crise de pânico, pode ocorrer de forma inesperada, sem qualquer aviso, e se caracteriza por ser extremamente aterrorizante.

Já a crise de ansiedade é desencadeada por algum estímulo estressante específico. A síndrome do pânico, por sua vez, é a recorrência de ataques de pânico, que acontecem com frequência e de forma imprevisível.

Os sintomas da crise de pânico incluem:

  • Aumento súbito do batimento cardíaco
  • Dificuldade para respirar ou sensação de sufocamento
  • Suor excessivo, calafrios ou tremores
  • Sensação de morte iminente ou perda de controle


Embora assustadoras, as crises de pânico geralmente não apresentam risco físico imediato. No entanto, quando são recorrentes, elas podem levar ao desenvolvimento de um transtorno de pânico, que prejudica significativamente a qualidade de vida da pessoa.

Tipos de Transtornos de Ansiedade

Pela visão da psiquiatria, os transtornos de ansiedade podem se manifestar de várias formas e cada tipo tem características específicas que afetam a vida cotidiana de maneira distinta. Os transtornos mais comuns incluem o transtorno de ansiedade generalizada (TAG), o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), a fobia social e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Veja a seguir os principais tipos de transtornos de ansiedade, com suas particularidades e sintomas típicos.

TIPOS DE TRANSTORNO DE ANSIEDADE SINTOMAS
Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) É caracterizado por preocupações persistentes e exageradas com as situações do cotidiano. As pessoas com esse tipo de transtorno se sentem ansiosas em relação ao trabalho, à saúde, aos relacionamentos, às finanças. Ou seja, o medo abrange basicamente todos os aspectos da vida e causa um forte desgaste emocional e físico no indivíduo.
Transtorno de Pânico É identificado quando a pessoa tem o histórico de vários episódios de ataque de pânico. A sensação de perda de controle, falta de ar, desespero, medo da morte são constantes.
Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social) Diz respeito a um medo de ser julgado, rejeitado ou humilhado em situações sociais. Ademais, a pessoa com fobia social tem pavor de apresentações em público ou reuniões. É um transtorno que prejudica as relações interpessoais e o desenvolvimento profissional.
Agorafobia É um transtorno relacionado ao medo de estar em lugares desconhecidos ou onde o indivíduo sente que não tem o controle sobre a situação. O medo de não conseguir escapar ou de não conseguir obter ajuda limitam o deslocamento de quem tem esse tipo de transtorno. Viajar de ônibus ou avião, estar em espaços fechados, como cinemas, lojas, ou mesmo no transporte público podem ser extremamente difíceis para quem tem agorafobia.
Fobias Específicas São medos irracionais e intensos de objetos ou situações específicas, como medo de voar, de aranhas, de cobras, de locais fechados ou de altura. Esses medos podem ser tão paralisantes que a pessoa afetada fará o possível para evitar enfrentar a situação ou objeto temido. Apesar de serem inconscientes, essas fobias podem gerar grande sofrimento emocional e interferir nas atividades diárias.
Mutismo Seletivo É um transtorno que afeta principalmente crianças e é mais comum em meninas. Caracteriza-se pela incapacidade de falar em determinadas situações sociais. As crianças com mutismo seletivo têm dificuldade em interagir fora do seu círculo familiar próximo, atrapalhando sua adaptação escolar e social.
Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) Ocorre após a pessoa viver uma situação traumatizante, como um acidente grave, um abuso ou violência. Ela se manifesta através de flashbacks, pesadelos e uma sensação de alerta. A pessoa fica revivendo o trauma e tende a evitar lugares e atividades que lembrem o evento traumático.
Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) Envolve a presença de pensamentos repetitivos: ideias, imagens ou impulsos que surgem de forma repetitiva e incontrolável. Para aliviar a ansiedade causada por esses pensamentos, a pessoa pode desenvolver comportamentos compulsivos, como lavar as mãos repetidamente, verificar várias vezes se a porta está trancada ou realizar constantes rituais de organização.



Vivemos em uma cultura que proporciona o desenvolvimento da ansiedade. Estamos sempre consumidos com as próximas tarefas que precisam ser realizadas e existe uma competitividade extrema por desempenho. Nesse sentido, mesmo que não ocorram fatores estressantes diretos, é possível que as pessoas desenvolvam algum transtorno de ansiedade devido ao estilo de vida que levam.

Além disso, a ansiedade pode ser causada por relacionamentos abusivos, ambientes familiares e profissionais tóxicos, traumas e estresse crônico. O histórico familiar também pode aumentar as chances de desenvolver o problema.

Relação entre Ansiedade e Depressão

É comum a coexistência da ansiedade com a depressão em uma mesma pessoa. Os sintomas de um transtorno acabam agravando os do outro, gerando um ciclo vicioso. Transtornos de ansiedade podem causar uma preocupação intensa em relação ao futuro que acabam gerando uma descrença no próprio potencial.

Além disso, pessoas deprimidas podem tentar usar substâncias como uma forma de anestesiar suas dores e acabam desenvolvendo crises de ansiedade devido ao consumo de drogas.

Psicólogo ou Psiquiatra: Quando Consultar Cada Um?

A escolha entre consultar um psicólogo ou um psiquiatra depende das necessidades e características de cada caso. Ambos os profissionais têm papeis complementares, mas com enfoques diferentes no tratamento da ansiedade.

  • Psicólogo: O psicólogo trabalha com o paciente para explorar e compreender as causas emocionais e comportamentais da ansiedade. Ele pode utilizar diversas abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que foca em identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais que alimentam a ansiedade.
  • Psiquiatra: O psiquiatra, por sua vez, tem a capacitação necessária para diagnosticar transtornos mentais e, quando necessário, prescrever medicamentos, como antidepressivos ou ansiolíticos, para controlar os sintomas da ansiedade. Embora os psiquiatras também realizem sessões de psicoterapia, sua especialização é focada no tratamento medicamentoso e no diagnóstico de condições relacionadas a outros transtornos de saúde mental, como depressão, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou transtornos de pânico.


A Psicanálise e o Tratamento da Ansiedade

A análise pessoal, por meio da psicanálise, também é eficaz no tratamento dos transtornos de ansiedade, pois trata a questão a partir do inconsciente. De acordo com a psicanálise, existe uma parte da mente humana que armazena conteúdos que o sujeito não consegue perceber conscientemente. Isso ocorre, dentre outros aspectos, porque esses elementos podem entrar em conflito com a imagem que a pessoa construiu a respeito de si mesma.

Para a psicanálise, a ansiedade excessiva ou patológica está frequentemente associada a esses conteúdos inconscientes. Em vez de ver os eventos estressores como a causa direta da ansiedade, a psicanálise considera que eles funcionam como gatilhos, que desencadeiam reações emocionais intensas. Esses gatilhos, na verdade, estão relacionados a experiências ou conflitos reprimidos no inconsciente, que ainda não foram processados.

Nesse sentido, a psicanálise entende que grande parte de nossas questões e conflitos mais profundos estão guardados no inconsciente, e, por isso, somos incapazes de reconhecê-los por conta própria. Isso é mais evidente ainda em relação aos traumas e emoções reprimidos durante a infância ou adolescência, que, mais tarde, podem se manifestar como sintomas de ansiedade na vida adulta.

O trabalho do psicanalista é ajudar o paciente a perceber que a situação imediata, que ele acredita ser a causa da ansiedade, é apenas um gatilho que ativa questões mais profundas e inconscientes. Durante a análise, por meio do discurso, o paciente passa a trazer suas questões e o psicanalista o ajuda a elaborar essas conexões.

Esse processo gradual permite que o paciente entre em contato com os conteúdos reprimidos do inconsciente, os reconheça e, ao fazer isso, reduza a sua ansiedade e insegurança. Portanto, pessoas que sofrem de ansiedade podem se beneficiar significativamente de um tratamento baseado nos princípios da psicanálise.

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Como tratar a ansiedade?

O tratamento para os transtornos de ansiedade é eficaz e pode ser realizado por meio de diferentes abordagens, incluindo terapias, o processo de análise, intervenções medicamentosas orientadas por um psiquiatra e mudanças no estilo de vida. O sucesso do tratamento depende não apenas das intervenções, mas também da qualidade da relação entre o paciente e o profissional de saúde.

A confiança e o vínculo terapêutico são fundamentais, pois ajudam no processo de autoconhecimento, essencial para o enfrentamento da ansiedade. Como explica o Dr. Rodrigo Bressan, “se a gente entende como a gente funciona, é mais fácil se autorregular emocionalmente e estabelecer estratégias de superação”. Isso significa que, quanto mais uma pessoa compreende seus próprios mecanismos emocionais, mais preparada ela estará para lidar com situações estressantes.

Perguntas Frequentes sobre Ansiedade

Pergunta 1: Ansiedade tem cura?

Sim, já existem vários tratamentos eficazes para os transtornos de ansiedade, que incluem intervenções e tratamentos psicológicos, psicanálise, medicamentos e técnicas de mindfulness. Pessoas com sintomas de ansiedade devem procurar atendimento, além de aliar a prática de exercícios físicos regulares e uma alimentação saudável.

Pergunta 2: Quais são os tratamentos disponíveis para a ansiedade?

Os tratamentos mais comuns incluem psicoterapia, medicamentos (como ansiolíticos e antidepressivos) e técnicas específicas, como a prática de mindfulness e a gestão do estresse.

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Referências:

https://www.who.int/

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/174/a-ciencia-dos-sentimentos-alcancando-bem-estar-psicologico

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/224_ansiedade.html

https://www.paho.org/pt/noticias/17-6-2022-oms-destaca-necessidade-urgente-transformar-saude-mental-e-atencao

Filosofia
O que é o estoicismo? Entenda os pilares, conceitos e significados
Tainá Voltas
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O que é o estoicismo? Entenda os pilares, conceitos e significados
Criado há mais de 2000 anos, o estoicismo encontra adeptos ainda hoje. Entenda mais sobre a corrente filosófica marcada pela resiliência ao inevitável

Como reagir à imprevisibilidade da vida e qual o seu sentido? Essas são as principais questões do estoicismo, uma escola filosófica potente na Grécia Antiga, mas que ainda hoje produz efeitos significativos ao incentivar reflexões acerca da felicidade, desapego e apatia.

Neste texto você viajará rumo ao período helenístico, nos séculos IV, III e II a.C, para conhecer a importante filosofia estoica e o seu significado. Faremos isso a partir do seguinte roteiro:

  • O que é o Estoicismo
  • Os Pilares do Estoicismo
  • Estoicismo vs. Cinismo: Diferenças Essenciais
  • Os Principais Filósofos Estoicos: Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio


Pintura de Epicteto, um dos expoentes filósofos do estoicismo.
Ao lado de Marco Aurélio e Sêneca, Epicteto foi um dos expoentes filósofos estoicos (Fonte: Domínio Público)


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O que é o Estoicismo?

A observação da vida e a busca pela explicação de seus fenômenos é um traço comum na história da Filosofia Ocidental, independentemente da sua escola. Cada uma delas se empenhou para explicar essa equação (e ainda o faz) por meio de argumentos complexos e bastante aprofundados.

No estoicismo não foi diferente. A doutrina filosófica, fundada durante o período helenístico, sobretudo nas leis da natureza, se debruçava sobre a compreensão do sentido da vida, tendo a lógica e a razão como aliadas para esse processo.

De forma geral, a abordagem estoica tinha a felicidade com um fim último e acreditava alcançá-la através da aceitação da inevitabilidade da vida e do cultivo de uma resiliência emocional diante das adversidades e do que era imprevisível.

Ou seja, para o estoicismo a felicidade poderia ser palpável a partir do momento em que as emoções eram racionalizadas, os episódios da vida eram entendidos como pertencentes a uma teia natural e inevitável de causas e efeitos, e os esforços/desejos de mudança humanos eram direcionados para as coisas passíveis de serem controladas e não para aquelas alheias à nossa vontade, tal qual a morte.

Por esse motivo, a felicidade estoica figura como um dos temas mais difundidos e importantes da filosofia. Mas como essa escola foi idealizada?

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De que forma o Estoicismo começou?

Zenão de Cítio (333 a.C - 263 a.C), seu precursor, foi influenciado pela Escola de Cínica, a qual defendia o desapego aos bens materiais e deu origem à expressão cinismo*, a estruturar uma corrente de pensamento alicerçada na ideia de uma vida simples, distante dos vícios e medos e mais próxima da virtude.

* A ideia de cinismo associado à falsidade trata-se de uma perspectiva contemporânea acerca do tema, afastada da sua concepção original. Na Grécia Antiga, o cinismo descrevia, na verdade, o movimento dos “filósofos do desapego”, ou seja, aqueles não aficionados com a matéria/bens.

Para isso, praticava o ensino por meio de uma lógica cosmopolita - realizada em um ambiente aberto chamado "stoá", que traduzido dá conta de algo como Pórtico (uma ágora utilizada para difundir os pensamentos filosóficos da época e para propiciar discussões intelectuais sobre os mais variados temas).

Ágoras, espaços nos quais os filósofos estoicos disseminavam suas ideias. Estrutura arquitetônica romana.
O Stoá Poikilé, ou Pórtico Pintado, era o espaço destinado à transmissão das reflexões estoicas, em uma estrutura de pensamento livre e dinâmico (Designed by Freepik)



É dessa tradição, praticada por Zenão e outros filósofos, que a palavra estoicismo toma forma e que a doutrina, criada inicialmente na Grécia Antiga, se populariza para outras regiões, tal qual Roma, sendo, inclusive, uma das bases do cristianismo

A partir disso, a filosofia estoica foi abraçada por grandes nomes, como Marco Aurélio, Epicteto e Sêneca, expandindo seu significado conforme as especificidades de cada tempo.

Na era moderna, por exemplo, Foucault usou o pensamento estoico para destacar a relevância do desenvolvimento de uma escuta bem conduzida¹.

"Aprender a Viver: Como a Sabedoria Pode ser o Caminho para uma Vida Melhor"

Um convite às descobertas do pensamento de expoentes que moldaram a filosofia, desde Platão, Sêneca, Aristóteles e Tomás de Aquino, a Descartes, Espinosa, Nietzsche


Características do estoicismo

Em resumo, o estoicismo acredita que o ser humano faz parte e é habitado pela natureza (physis - Φύσις, em grego), de modo que acompanhá-la é, de igual modo, agir segundo nosso próprio ser (GAZOLLA, 2006).

Por esse motivo, a perfeição e virtuosidade está na compreensão de uma ligação intrínseca entre homem e natureza, que orienta a busca pela felicidade a partir da negativa aos desejos e do estabelecimento de uma razão em conformidade com as leis naturais do universo.

De acordo com a escola, o ser humano é a própria natureza, afastando-se dela quando atormentado pelas paixões:

(...) se a natureza é dita perfeita, se é divina, se todos os seres são excelentes por ela e nela, e seu modo de mover-se é eterno, o reverso é perguntar sobre as perturbações da perfeição e como são possíveis. Ora, as perturbações do mover-se perfeito têm nome na Stoa: são as paixões pleonásticas ou exacerbadas (GAZOLLA, 2006, p. 189).


Assim, para entender o que é o estoicismo, basta que compreendamos também a sua perspectiva ética baseada na ataraxia (ou indiferença/apatia) como forma de driblar a tendência humanoide ao afastamento da physis (natureza).

Para seus pensadores, a vida era determinada inafastavelmente por uma força cósmica equilibrada e harmoniosa, sobre a qual a virtude se estabeleceria em uma existência experienciada conforme desígnios da physis.

Desse modo, deveriam ser evitados os desejos vazios, os excessos, as paixões perturbadoras e as coisas supérfluas, à medida que a razão e a lógica seriam privilegiadas.

Na filosofia estoica, então, agir virtuosamente seria reconhecer o potencial do ciclo cósmico infindável, aceitando as mudanças sobre as quais não se teria controle, posicionando-se com resiliência frente à elas, e dedicando-se a alterar somente aquilo que fosse possível, como, por exemplo, as reações ao “não programável”.

Por essa razão, a máxima estoica é descrita como “a vida deve seguir a natureza", tese de autoria de Zenão.

Leis da Natureza Imutáveis O agir estoico
Morte Priorizar a qualidade de vida
Mudanças Aceitar a impermanência
Sofrimento Cultivar resiliência emocional
Incerteza Focar no controle sobre as próprias reações
Limitações humanas Buscar autoconhecimento e desenvolvimento pessoal
Destino Agir com virtude, aceitando o que não se pode mudar
Ciclo da vida Viver no presente. Valorizar cada momento


O estoicismo, estruturado há mais de 2 mil anos, continua reverberando suas reflexões e conquistando adeptos ao longo da história

Nos tempos contemporâneos, marcados pelos excessos (de informação, produção, consumo, acúmulo, entre outros), oferece respostas apaziguadoras para o ambiente caótico, pressionado cada vez mais pelo ritmo acelerado das transformações digitais.

Leia também:

“Por que estamos tão esgotados? Como a filosofia de Byung-Chul Han (Sociedade do Cansaço) nos oferece uma resposta!”


Assim, podemos definir o estoicismo como uma escola filosófica que procura dar respostas à inquietação humana, propondo um modo de vida sereno e guiado pela racionalização.

Trata-se de um exercício para privilegiar a razão como ferramenta para lidar com as emoções, afastando os vícios e cultivando as virtudes.

Mauricio Marsola , professor de história e filosofia da Unifesp, contribui para a acepção do conceito, em um material produzido pela Casa do Saber:

“Para o estoicismo o mundo é um grande sistema composto de relações causais necessárias. É uma racionalidade plena, na qual todas as coisas concorrem para uma harmonia maior. A isso os estoicos chamam de logos (o que também pode ser compreendido como physis, ou Deus). Cabe a nós criarmos uma harmonia em nossa alma que reproduza a harmonia do cosmos”

Assista na íntegra:



Os componentes e os pilares do estoicismo

Como vimos, o estoicismo propõe uma lógica de pensamento realista, que não idealiza o mundo, mas sim o aceita tal como é.

Nesse contexto, a apatheia (indiferença às emoções perturbadoras da paixão) é compreendida como um pré-requisito para um estado de paz interior, conhecido como ataraxia.

Componentes do estoicismo

Para concretizar a sua doutrina e tornar o objetivo acima factível, o estoicismo sugere ainda um sistema para pensar a filosofia, metaforicamente, como um organismo vivo, interconectado e interdependente, assim como formado por três componentes:

"Os antigos estóicos, como se sabe, criam um interessante sistema para pensar a Filosofia no qual todas as partes, absolutamente interligadas, são metaforicamente expostas como se fosse um organismo. Uma das metáforas é a de que os ossos e nervos seriam a Lógica, a carne seria a Ética e a alma, a Física" (GAZOLLA, 2006, p. 185)


Pilares do estoicismo

Além disso, a sabedoria estoica se traduz no exercício de um trabalho de consciência interior, que leva em consideração os campos que podem ser realmente modificados pelo ser humano.

Nesse sentido, surgem as virtudes cardeais, também enquadradas como os 4 pilares ou modos de atuação do estoicismo, quais sejam:

  1. Sabedoria: entender as dinâmicas do mundo de uma maneira lógica e calma, com discernimento sobre o que é realmente importante. Fazemos isso por meio da meditação, da leitura de textos filosóficos, do ensino, e através das nossas experiências.

  2. Justiça: agir com equidade e sem impulsividade, considerando as consequências das ações em relação ao próximo.

  3. Coragem: ter o conhecimento do que deve ser temido e o que deve ser suportado, sendo uma ferramenta incrível para o enfrentamento das adversidades com bravura.

  4. Moderação (ou Temperança): equilibrar os desejos, minimizar os vícios e experimentar as virtudes. Trata-se de evitar os excessos e buscar constantemente a harmonia.


Para o estoicismo, esses 4 pilares, que se complementam e se retroalimentam, performam a base da virtuosidade plena.




Estoicismo vs. Cinismo: Diferenças Essenciais

As duas correntes emergiram na Grécia Antiga, compondo as chamadas filosofias helenísticas - as quais são caracterizadas por se preocuparem com a ética, felicidade e bem-viver.

Porém, embora se entrelacem e se aproximem em uma ideia central (busca por uma harmonia com a natureza), tais escolas possuem diferenças significativas, sobretudo quanto à radicalidade das suas percepções.

Enquanto o cinismo enfatiza o desapego e a rejeição total das convenções sociais, o estoicismo busca uma aceitação ativa da realidade, propondo a virtude como um caminho para a felicidade.

Estoicismo Cinismo
Principais Expoentes Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio. Diógenes de Sinop, Crates de Tebas.
Visão de Mundo Harmonia entre homem e universo. Rejeição das normas e convenções sociais
Relação com a Virtude Aceitação e racionalidade. Desprezo pelas convenções e comodidades.
Conceito de Felicidade Alcançada por meio da aceitação do inevitável e da busca pela mudança daquilo que pode ser controlado. Encontrada na harmonia com a natureza.
Autonomia Aceitação do que não se pode controlar. Autarquia e controle sobre a própria vida.


Os Principais Filósofos Estoicos

1) Sêneca

Nascido em 4 a.C, Sêneca foi um dos mais influentes filósofos e o principal expoente do estoicismo no Império Romano.

Faleceu em Roma, no ano 65 d.c, acusado de conspiração contra o imperador Nero, mesmo que tivesse sido seu preceptor anteriormente. O episódio é narrado no quadro “A Morte de Sêneca”, de Jacques-Louis David (1748–1825).

Pintura a morte de Sêneca
La morte di Seneca, olio su tela, Musée du Petit-Palais, Parigi, de Jacques-Louis David (1748–1825) (Fonte: Domínio Público). Acusado, junto a Pisão, de conspiração para o assassinato planejado de Nero, Sêneca foi obrigado a tirar a própria vida. Não houve qualquer tipo de julgamento. O quadro retrata o momento em que o filósofo cumpre seu destino na presença de amigos.



Entrou para a história não só como um exímio filósofo, como também um humanista dedicado, além de excelente orador, escritor, advogado e político.

Enfatizava a importância da razão e do autoconhecimento, acreditando ser a reflexão sobre a vida o caminho para a verdadeira felicidade.

Além disso, como diferencial, preocupou-se e se indispôs contra as desigualdades entre os homens, sendo avesso à escravidão e à distinção social.

Tem como umas de suas principais obras a "Sobre a brevidade da vida", um ensaio moral dedicado a seu amigo Paulino, pelo qual o autor discrimina vários princípios estoicos - entre eles a natureza do tempo e o tempo gasto na perseguição de objetivos sem valor.

"Nós sofremos mais na imaginação do que na realidade." - Sêneca
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2) Epicteto

Epicteto (55 d.C - 135 d.C), é um dos mais respeitados filósofos estoicos da Antiguidade e, ao lado de Sêneca e Marco Aurélio, faz parte da terceira fase estoica, chamada de “Novos Estoicos”*.

Escravo por muito tempo em Roma, após ser libertado dedicou sua vida à filosofia e aos ensinamentos sobre a verdadeira liberdade. Para ele, ser livre não dependia da posição social, mas da capacidade de controlar as próprias reações diante dos eventos da vida.

Na sua perspectiva, a essência do estoicismo estava na separação clara entre o que está sob o controle humano (ações, pensamentos e atitudes) e o que não está (as circunstâncias externas).

Seu ensinamento foi registrado principalmente no texto Manual e em alguns discursos assinados por seu discípulo Flávio Arriano, tendo em vista que ele próprio, assim como Sócrates, não deixou nada escrito.

Em tais obras o filósofo explora a importância da aceitação das adversidades com serenidade, refletindo em uma postura prática para enfrentar os desafios cotidianos.

Depois de exilado pelo imperador Domiciano, junto com outros filósofos romanos, decidiu abrir a própria escola, em Nicópolis, local onde faleceu anos mais tarde.

*

  • A primeira fase do estoicismo é representada Zenão de Cítio, Cleantes de Asso e Crisipo de Solunte (ou de Sole);
  • A segunda fase, ou médio estoicismo, é caracterizada pelos nomes de Panécio de Rodes e Posidônio.


“A felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas coisas estão sob nosso controle, outras não” - Epicteto



3) Marco Aurélio

Marco Aurélio (121 d.C.a 180 d.C.) foi um dos mais célebres imperadores romanos, responsável pela autoria de uma obra bastante aclamada no estoicismo: o livro Meditações, um conjunto de reflexões pessoais que escreveu ao longo de sua vida.

Como líder do maior império da época, enfrentou inúmeras adversidades, tanto políticas quanto militares, o que o orientou ao estoicismo como ferramenta para contornar os desafios

Por esse motivo, ficou conhecido como o “monarca-filósofo”, cujo traço proeminente era valorizar os prazeres da alma e face daqueles do mundo material. Para ele, a vida se apresentava como uma oportunidade para agir de forma ética e virtuosa, independentemente das circunstâncias externas.

Embora fosse o homem mais poderoso de seu tempo, defendia uma visão mais humilde da existência, com a crença de que tudo na vida, inclusive a morte, deveria ser aceito com serenidade, uma vez que faria parte da ordem natural do universo.

"A felicidade da vida depende da qualidade de nossos pensamentos." - Marco Aurélio



Conheça também o que pensava Santo Agostinho, um dos mais importantes nomes da história da filosofia e teologia

Os três pensadores foram essenciais para o desenvolvimento e disseminação do estoicismo e também para a filosofia Ocidental, influenciando a observação do mundo e da vida ainda hoje.






Referências:

¹SANTOS, Kleys Jesuvina dos. A influência do estoicismo na filosofia de Foucault. Kinesis, Marília, v. 11, n. 28. 2019. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/kinesis/article/view/9140. Acesso em: 25 set. 2024.


GAZOLLA, Rachel. Representação compreensiva: critério de verdade e virtude no Estoicismo Antigo. Revista da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, v. 19, n. 2, 2006. Disponível em: https://www-periodicos-capes-gov-br.ez40.periodicos.capes.gov.br/index.php/acervo/buscador.html?task=detalhes&source=&id=W1511359753. Acesso em: 25 set. 2024.







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Rodrigo Gomes
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Saiba o que é Filosofia, o que estuda e principais pensadores. Veja a lista de melhores cursos para estudar à distância, do introdutório ao avançado.

Entenda o que é Filosofia, como ela surgiu e sua importância para o mundo. Vamos conhecer os períodos e principais pensadores que marcaram a história da Filosofia, as áreas de estudo, além dos melhores cursos à distância para aprender sobre esta área do conhecimento.



Quais os passos para estudar Filosofia?

É comum as pessoas entenderem que estão filosofando (e de fato o estão) ao se verem introspectivas refletindo sobre qual o sentido da vida, observando as árvores, animais, as estrelas e ao se espantarem diante da grandeza do universo em contraste com a pequenez do homem.

Estruturar o pensamento filosófico, no entanto, está longe de ser uma tarefa simples. É possível acessar um material rico já construído por mentes brilhantes com reflexões e métodos que servem como guia para se construir o saber filosófico.

Por isso, além de explorar uma inquietação filosófica espontânea, aprender filosofia significa essencialmente se debruçar sobre a própria história da filosofia, seus conceitos e métodos.

O que a Filosofia estuda?

Este campo do saber procura investigar as nossas origens, a existência, as transformações observadas na natureza, e as relações e experiências do homem no mundo.

A partir da curiosidade, questionamentos e observações sobre o que está à nossa volta, é possível filosofar sobre tudo o que possa provocar espanto, despertar dúvidas ou admiração. Dentro de seu estudo sistematizado, encontramos diversas áreas de investigação.

Um exemplo é o estudo da Ética, onde a filosofia se propõe a refletir sobre valores morais e as ações humanas, levanta questões sobre a definição do que é o bem e o mal, o certo e o errado ou o conceito de justiça.

Outro ramo é a Estética, em que o interesse está focado na experiência artística, sendo possíveis questionamentos sobre a concepção do que é considerado belo ou a reflexão sobre o papel da arte na sociedade. Estes são apenas alguns exemplos das muitas ramificações possíveis para desenvolver o pensamento filosófico.

pintura escola de atenas, de rafael sanzio
Afresco "A Escola de Atenas", de Rafael Sanzio, que apresenta Platão e Aristóteles ao centro.(Wikimedia Commons)

Quem pode estudar Filosofia?

Pelo seu aspecto livre e universal, a filosofia é acessível a todas as pessoas que desejam se lançar ao estudo da área, abarcando desde a trajetória acadêmica formal ao puro desejo pessoal de estudar a existência e as questões que nos concernem.

Dentro deste espaço de aprendizado, encontramos diferentes ramos de estudo - como moral, ética, política, religião, epistemologia - diversos pensadores e períodos históricos, além de tratar de dilemas ancestrais até questões contemporâneas. Em cada campo mencionado, há um universo inesgotável de possibilidades de investigação e estudo.

A Filosofia não implica em uma posição de posse do saber, mas uma prática do pensar a realidade pela razão. Por isso, seu estudo não se limita apenas ao caminho acadêmico. A Filosofia é para todos aqueles que têm curiosidade de saber, que desejam questionar, se debruçar nas questões levantadas por grandes pensadores e analisar criticamente a realidade, trilhando um caminho próprio em busca da verdade.

Por onde começar a estudar Filosofia?

A construção de aprendizado nesta área do saber é subjetiva e marcada por um exercício constante de elaboração em relação aos mistérios da vida. Para começar os estudos em Filosofia , sabemos que é necessário traçar minimamente um caminho para início da jornada.

Os estudos iniciais geralmente tomam por partida o pensamentos de filósofos ocidentais, como Sócrates, Platão e Aristóteles, através de textos considerados fundamentais, como a obra “O Banquete”, de Platão. Porém, indicar a leitura dos textos pode não ser o suficiente para a devida compreensão do tema.

Por isso, passaremos ponto a ponto pela história da filosofia, grandes pensadores e áreas de estudo para que você consiga entender um pouco mais sobre o percurso e encontrar as melhores opções de cursos de filosofia.

O que é Filosofia e como surgiu?

Traçar uma definição clara e simples da filosofia é uma tarefa desafiadora, pois sua estrutura conceitual é baseada em uma linguagem complexa e necessita de um certo conhecimento prévio na área para compreendê-la em essência. É da natureza da filosofia não contar com respostas imediatas.

A filosofia é um livre saber que se baseia na razão para explicar a realidade a partir do uso de conceitos. A palavra "filosofia" (do grego φιλοσοφία) resulta da união de outras duas palavras:

- "philos” - significa "amizade", "amor fraterno" (não no sentido erótico), desejo intenso por algo e respeito entre os iguais.

- "sophia” - significa "sabedoria", "conhecimento".

Filosofia significa, portanto, amizade ou amor pela sabedoria, amor e respeito pelo saber ou pelo conhecimento. A partir da Filosofia, o homem pode caminhar em direção à autonomia para pensar sobre si mesmo e o mundo e, por isso, carrega um sentido de liberdade. É um exercício do pensar e constante busca pelo saber, uma atitude que não se submete a nenhuma forma de controle ou qualquer outro conhecimento.

A origem da filosofia remonta à Grécia Antiga, no século VI a.C, e marca a transição do pensamento mítico para o da razão. Surge não por uma pergunta teórica ou alguma questão efetiva, mas a partir da admiração diante de fenômenos que ultrapassam o poder do conhecimento e provocam curiosidade, temor e espanto.

À época, fenômenos naturais que não podiam ser explicados, como a noção de finitude marcada pela vida e morte, a mudança das estações ou a transição entre dia e a noite, eram ilustrados por meio de mitos.

Os mitos eram narrativas que pretendiam explicar a origem dos deuses e do universo de forma fantasiosa e sobrenatural, onde eram representados os fenômenos da natureza, os sentimentos humanos e as contradições presentes na sociedade.

Mito de Perséfone: a mudança das estações pela mitologia grega

imagem antiga retratando mito de perséfone e hades exposta no British Museum,em Londres
Representação de Perséfone e Hades - Vulci, c. 440-430 BCE. (British Museum, London)

Segundo conta a mitologia grega, Perséfone era filha de Zeus com Deméter, deusa da colheita e da agricultura. Um dia, ao ver a jovem colhendo flores em uma pradaria, Hades, o deus do submundo, se apaixona por Perséfone e a sequestra.

Enfurecida e entristecida pelo sumiço da filha, Deméter deixa o Olimpo e passa a não cumprir suas funções de colheita, tornando o solo da Terra estéril. Ao notar a devastação causada pela ausência de Deméter, Zeus envia o mensageiro Hermes ao submundo para negociar a libertação de Perséfone. No entanto, sem saber das consequências, a jovem havia ingerido sementes de romã oferecidas por Hades, fato que criou uma ligação eterna com o submundo e que a impediu de deixá-lo permanentemente.

Assim, foi feito um acordo: Perséfone viveria dois terços do ano com Deméter, representado o período de boa colheita, quando Deméter estava contente pela chegada da filha (primavera e verão) e um terço do ano com Hades, representando o período de dificuldade na colheita, pois Deméter estava infeliz por conta do regresso da filha para o submundo (outono e, principalmente, inverno)

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Por que a Filosofia surgiu na Grécia?

Há diferentes teses sobre esta questão. Uma delas é conhecida como “Milagre Grego”, em que se acreditava que a Filosofia surgiu de maneira única, inesperada e espontânea na Grécia , como defendia o historiador Diógenes Laércio (180-240 d.C).

Outra vertente considera que as transformações vivenciadas pelos gregos se deram por conhecimentos advindos dos povos “orientais”, através de uma herança dos egípcios, caldeus, babilônios e persas, contribuindo para que florescessem conhecimentos como geometria, astrologia e meteorologia.

Por uma visão histórica, é possível constatar que a topografia da região facilitou a construção de portos, viagens marítimas e intercâmbio econômico. Isso levou os gregos ao contato com outras civilizações e seus diferentes mitos, trazendo descrença e busca por explicações mais racionais sobre o mundo.

mapa do mundo grego referente ao período histórico de início da filosofia
Mapa do mundo grego - Reprodução: Livro “Iniciação à História da Filosofia - dos pré-socráticos a Wittgenstein, de Danilo Marcondes


Quais foram os primeiros filósofos?

A estrutura e modelo político desenvolvidos nas polis gregas, propiciaram o surgimento dos primeiros filósofos, conhecidos como pré-socráticos. Eles se concentravam na pergunta e busca pelo arché, que seria o elemento primordial a que todas as outras coisas se derivam, a substância primeira capaz de constituir todo o universo e tudo o quanto existe na realidade.

Tales de Mileto (sec. VII e VI a.C) é considerado o primeiro filósofo da História. Marcou o rompimento em relação ao mito ao questionar racionalmente a natureza, buscando compreender o mundo a partir da investigação e não se satisfazendo com as respostas fantásticas e sobrenaturais colocadas pela mitologia. Ele propôs que a água era a substância fundamental e que compunha todas as coisas que existiam no mundo.

Não à toa os filósofos pioneiros são chamados de pré-socráticos. Esta definição já indica a importância do legado deixado por Sócrates, que contribuiu de forma consistente para o início e desenvolvimento do período conhecido como filosofia clássica, seguido por Platão e Aristóteles. A partir de então, a disciplina se desenvolve com métodos mais sistemáticos e analíticos de investigação, e se expande para áreas como´ética, política, lógica e epistemologia.

Para entendermos melhor essa caminhada, vamos conferir os períodos que marcam a filosofia e um pouquinho da característica de cada um deles.

Imagem de Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo
Imagem de Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo da História. (Wikimedia Commons)


Conheça os períodos e grandes pensadores da Filosofia

Os períodos da Filosofia são marcados por diversas condicionantes, que refletem mudanças estruturais e impactam no modo de vida da sociedade. Acontecimentos históricos, descobertas científicas e tecnológicas, mudanças políticas, entre outros fatores são determinantes para uma mudança de comportamento em relação ao modo de se pensar e se viver no mundo.

As ideias propostas por grandes pensadores, advindas de suas reflexões e expostas em suas obras, contribuem de forma substancial para esta demarcação entre os períodos. Confira a lista dos períodos abaixo:

  • Filosofia Antiga (séc.VI a.C. até sec. V d.C):

    Este período marca o início da Filosofia , que começou na Grécia Antiga e se estendeu até ao mundo romano. Foi iniciada pelos Pré-Socráticos, com as investigações sobre a natureza, ordem e origem do mundo (cosmologia) e seguiu com Sócrates, Platão e Aristóteles, que trouxeram as atenções para o homem (“conhece-te a ti mesmo”) e estabeleceram as bases da ética, epistemologia e metafísica ocidentais. No período helenístico, escolas como o Estoicismo e o Epicurismo focaram na ética prática e na busca pela felicidade.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Antiga:

    Sócrates, Platão, Aristóteles, Epicuro, Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímees, Heráclito, Pitágoras, Parmênides e Zenão.

  • Filosofia Medieval (séc. V d.C até séc XV d.C):

    Este longo período histórico vai do final do helenismo até o Renascimento e o início do pensamento moderno e marca a fusão da filosofia grega com as tradições religiosas, como o cristianismo. Os principais temas incluíam a relação entre fé e razão, a natureza de Deus, a existência da alma e a moralidade.

    A maior parte da produção conhecida como “filosofia medieval”, porém, está concentrada entre os séculos XII e XIV, período do surgimento e desenvolvimento da escolástica. Filósofos como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, buscaram integrar o pensamento racional à fé religiosa. Esse período foi essencial para o desenvolvimento da filosofia e ciência modernas.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Medieval:

    Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Anselmo de Cantuária, Boécio, Duns Scotus, Guilherme de Ockham e Avicena (Ibn Sina).

  • Filosofia Moderna (séc. XVII d.C até XIX d.C):

    A filosofia moderna representa um movimento centrado na ideia de progresso e valorização da subjetividade. Impulsionado pela queda do regime feudal, ascensão burguesa, descobertas científicas e declínio da influência da Igreja Católica, a filosofia passa a operar pela razão e empirismo científico.

    Pensadores como Descartes, Locke, Kant, Spinoza e Hume exploraram o conhecimento, a mente humana e a realidade. Esse período destacou a importância da liberdade, do governo e dos direitos humanos, influenciando a ciência, a política e a ética. O Iluminismo enfatizou a razão e a ciência como caminhos para o progresso, enquanto Hegel e Marx moldaram debates filosóficos e sociais que são relevantes até os dias de hoje.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Moderna:

    René Descartes, Immanuel Kant, John Locke, David Hume, Baruch Spinoza, Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau, Francis Bacon, G.W.F. Hegel, Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche e Karl Marx.

  • Filosofia Contemporânea (séc. XX - atualmente):

    Abarcando o início do século XX até os dias atuais, o período abrange uma ampla gama de temas que refletem as profundas mudanças sociais, políticas e tecnológicas. Pensadores como Sartre, Foucault, Derrida e Deleuze exploraram questões fundamentais como a natureza da existência, o exercício do poder, a linguagem e a construção da identidade.

    Já o movimento analítico, representado por Wittgenstein e Russell, concentrou-se na lógica e na análise da linguagem como instrumentos centrais de investigação filosófica. Temas como ética, direitos humanos, feminismo e desafios contemporâneos relacionados à questões ambientais e tecnológicas são evidenciados neste período. Este cenário apenas comprova a importância do estudo contínuo e relevância da filosofia para pensarmos os dilemas e as complexidades do mundo atual.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Contemporânea:

    Jean-Paul Sartre, Michel Foucault, Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Martin Heidegger, Ludwig Wittgenstein, Simone de Beauvoir, Hannah Arendt e Jürgen Habermas

Foto da “O pensador”,de Auguste Rodin, escultura de homem com a mão no queixo pensando filosoficamente, exposta no Musée Rodin, em Paris, na França.
Escultura “O Pensador”, obra-prima de Auguste Rodin. Representa a introspecção, contemplação e a intelectualidade. Reprodução: Site Musée Rodin

“O que faz meu Pensador pensar é que ele pensa não só com o cérebro, mas também com suas sobrancelhas tensas, suas narinas distendidas e seus lábios comprimidos. Ele pensa com cada músculo de seus braços e pernas, com seus punhos fechados e com seus artelhos curvados”

- citação de Auguste Rodin sobre a própria obra.



Conheça as áreas de estudo da Filosofia

Entender as ramificações da filosofia é um passo interessante para vislumbrar os passos de investigação na área.

Confira de forma um pouco mais detalhada algumas das principais ramificações da Filosofia abaixo:

  • Metafísica:

    Você já parou para refletir sobre o que é a alma ou mesmo a existência?

    Essas são algumas das perguntas abordadas pelos filósofos nesta área de estudo. A palavra metafísica vem de um vocábulo grego que significa “depois da física” ou “além do físico”, por isso investiga a realidade como um todo e o que está além do mundo físico e da experiência de nossos sentidos.

  • Epistemologia:

    O que é a verdade? Ela é subjetiva ou objetiva? Como definir quais fontes de conhecimento são válidas e por que algumas ideias têm mais espaço do que outras?

    Conhecida como “teoria do conhecimento”, este é um dos campos principais da filosofia, onde se estuda a relação do sujeito com o conhecimento, os tipos de conhecimento e em que investiga-se sua origem, limites e validade.

  • Ética:

    Esta área se debruça sobre questões morais e as ações humanas como uma ciência do bom comportamento para construir uma vida boa para o todo em sociedade.

    Busca refletir sobre bem e mal, bom e ruim e levantar debates sobre condutas de comportamento humano como a definição do que é certo e errado e a noção de justiça.

  • Estética:

    Ao visitar um museu, é possível que você escute alguém questionando a beleza das obras expostas. Afinal como - ou quem - define o que é o belo?

    Conhecida também como “Filosofia da Arte” , a estética se dedica a estudar o conceito do que é belo e do fenômeno artístico, refletindo sobre percepções e sensações para além do gosto pessoal de cada um, mas levando em conta também a natureza da criatividade na arte e aspectos culturais.

  • Filosofia Política:

    Ao longo da história, presenciamos diversos tipos de ideologias e formas de governar. Este ramo da filosofia busca refletir sobre a natureza do poder, da justiça, igualdade, direitos e liberdade.

    Por que um governo precisa existir, o que o torna legítimo e de que forma ele se estabelece? O que é cidadania e qual a sua importância da participação política? A política está presente na vida social de todos e as perguntas feitas pela filosofia são de grande importância para a sociedade.

  • Lógica:

    A lógica é utilizada para construir e validar raciocínios, distinguindo o que é correto e o que é incorreto no intuito de encontrar um resultado verdadeiro.

    A partir de diferentes métodos, como dedução e indução, direciona a linha de pensamento para uma conclusão que seja coerente. Confira abaixo um exemplo de silogismo, modelo dedutivo introduzido por Aristóteles:

    1ª premissa: Todos os homens são mortais

    2ª premissa: Sócrates é homem

    Conclusão: Sócrates é mortal.

Agora que já entendemos um pouco mais sobre a história da filosofia e suas áreas de estudo, vamos conferir uma lista com os melhores cursos de filosofia para você estudar à distância?

Melhores cursos online de Filosofia com certificado

Até aqui aprendemos algumas informações importantes sobre a Filosofia, mas como começar a de fato a estudar os métodos, conceitos e enriquecer a caminhada em busca de respostas às questões filosóficas de forma mais satisfatória e menos “aventureira”? Separamos cursos por alguns recortes que podem auxiliá-lo nesta empreitada em busca de conhecimento.

Indicaremos cursos de filosofia relacionados especificamente a períodos históricos, cursos focados na vida e obra de pensadores, grandes questões da humanidade ou em áreas de estudo da Filosofia. Todos os cursos listados geram certificado de conclusão.

Cursos introdutórios sobre Filosofia

Para todo início, precisamos “começar do começo”. Considere partir por aqui se você está tendo o primeiro contato com Filosofia e gostaria de ser apresentado a ela antes de seguir para caminhos mais profundos na área.

  • Introdução à Filosofia, por Franklin Leopoldo e Silva
    07 aulas | Duração (50 min)

    Este curso é bem interessante para quem está buscando algo bem introdutório. Nele, o professor Franklin Leopoldo e Silva explica sobre o surgimento da Filosofia de maneira leve, clara, sem abordar conceitos complexos e difíceis de assimilar para um iniciante.

    O curso ajuda a entender como o início da Filosofia contribuiu para criar as bases teóricas do conhecimento e que definiram o ponto de partida para a ciência.

  • Assistir ao curso



  • Introdução à Mitologia Grega, por Julia Myara
    02 aulas | (50 min)

    Se a Filosofia surgiu na Grécia Antiga e marcou uma transição do mito para a razão, é interessante conhecer um pouco sobre a mitologia grega.

    Conheça a origem do mito, as primeiras gerações de Deuses e entenda como essa concepção de mundo sustentava a compreensão dos gregos em relação à existência.

  • Assistir ao curso



  • Para Começar a Estudar Filosofia, por Mauricio Pagotto Marsola
    08 aulas | (3h03)

    Este curso traça um bom caminho para efetivamente iniciar os estudos na área.

    Você será apresentado a obras fundamentais que servem como base para o aprendizado da Filosofia, como “O Banquete”, de Platão, e terá um panorama sobre pensadores e ideias que alicerçam o pensamento filosófico.

  • Assistir ao curso



Cursos sobre as áreas de estudo da Filosofia

Vimos anteriormente neste texto, que a Filosofia tem algumas áreas de estudo. Seguem abaixo algumas opções de cursos relacionados às áreas de investigação da disciplina para que você possa se debruçar:

  • Jornada da Filosofia: Ética, por Douglas Rodrigues Barros
    06 aulas | (2h57)

    Como a ética pode contribuir para uma vida boa para o todo na sociedade?

    Reflita sobre público e privado, certo e errado, justo e injusto e desenvolva recursos de pensamento a partir da introdução às ideias de diferentes pensadores a respeito do tema.

  • Assistir ao curso



  • Jornada da Filosofia: O que é Beleza?, por Eduardo Wolf
    06 Aulas | (3h03)

    Como entender a Beleza para além do gosto pessoal? Seja introduzido à história do conceito de beleza ocidental.

    Entenda como os gregos a enxergavam, tenha um panorama sobre o ponto de vista da Filosofia e compreenda a importante relação da beleza com a maneira como lidamos com o mundo e a vida em sociedade.

  • Assistir ao curso



  • Jornada da Filosofia: Saber, por Suze Piza
    07 aulas | (3h56)

    Por que as afirmações e hipóteses de alguns têm mais espaço e aceitação do que outras?

    Debruce-se pela epistemologia, área de estudo da Filosofia que investiga o conhecimento, suas origens e conceitos sobre a verdade e tenha uma perspectiva da filosofia refletida sobre ela mesma e outros saberes.

  • Assistir ao curso


Cursos sobre períodos históricos da Filosofia

Nesta série, o professor Paulo Niccoli Ramizes apresenta o "Guia Essencial da Filosofia", traçando um panorama com os pontos mais importantes, mudanças, grandes pensadores e as questões trabalhadas no período destacado no curso.

Cursos sobre grandes pensadores da Filosofia

Uma boa maneira de estudar Filosofia é compreender a vida, obra e visão de mundo do filósofo em específico. Confira algumas indicações de cursos neste sentido:

  • Os pensadores: Aristóteles, por Franklin Leopoldo e Silva
    04 aulas | (1h51)

    Entenda a importância e legado de Aristóteles para a Filosofia.

    O curso aborda o pensamento aristotélico e mostra que ele entendia a virtude como a melhor maneira de agir nas ocasiões que se apresentam durante a vida, pois depende, em grande parte, do uso da razão.

  • Assistir ao curso



  • Um dia com Spinoza, por Clóvis de Barros Filho
    07 aulas | (2h54)

    Nascido em Amsterdã em uma família de origem portuguesa, Espinosa (1632-1677) é um dos nomes mais importantes da filosofia moderna.

    Neste curso, os conceitos do pensador sobre ética, Deus e paixões são abordados pelo professor Clóvis de Barros Filho.

  • Assistir ao curso



  • Nietzsche: Vida, Obra e Legado, por Scarlett Marton
    08 aulas | (1h35)

    Seja introduzido ao pensamento de um dos filósofos mais conhecidos (e mais controversos) da história: Friedrich Nietzsche.

    Criador do termo "Übermensch" e da concepção filosófica do "Eterno Retorno" , acreditava que o homem precisava superar seus próprios valores para alcançar a evolução.

  • Assistir ao curso


Cursos de Filosofia sobre temas atuais

A Filosofia permanece viva e atual, trazendo uma visão crítica sobre o modo que vivemos, levantando questões importantes sobre a dinâmica neoliberal, feminismo, questões ecológicas, entre outros assuntos. Conheça alguns cursos de filosofias interessantes para se debater os dilemas contemporâneos abaixo:

Esperamos que este texto tenha te ajudado a compreender melhor sobre o que é Filosofia, suas áreas de estudo, períodos e grandes pensadores.

Se você tem sede por conhecimento e deseja aprender mais sobre Filosofia com professores de referência, conte com os cursos da plataforma Casa do Saber +!




Cansaço mental: sintomas de ansiedade, fadiga, sono, fraqueza
Xavana Celesnah
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Cansaço mental: sintomas de ansiedade, fadiga, sono, fraqueza
Cansaço extremo o que pode ser, estresse, burnout, Sociedade do Cansaço, Byung-Chul Han, fraqueza no corpo, angústia, sistema nervoso.

O livro A Sociedade do Cansaço, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, oferece uma análise perspicaz sobre um fenômeno globalizado que afeta milhões de pessoas: a sensação de cansaço e exaustão. Essa sensação tornou-se onipresente na sociedade tecnológica voltada para o desempenho. Existe, em grande parte, uma valorização implícita das pessoas que experimentam esse cansaço extremo, por ele estar associado a um esforço contínuo pela produtividade no trabalho.

Essa admiração, alimentada pela ideologia neoliberal, sugere que a cultura do estar “sempre ocupado” é sinal de sucesso. Contudo, os efeitos dessa entrega excessiva – seja no trabalho presencial, no home office ou nos estudos – resultam em um fardo diário de esgotamento, que pode levar a condições como ansiedade, burnout e depressão. Neste artigo, exploraremos as possíveis causas da sobrecarga mental e como a filosofia de Byung-Chul Han pode nos oferecer uma compreensão ampla da situação, criando ferramentas para redefinir as formas de ação dentro de uma ideologia que exalta o "empreendedor de si mesmo".



Como as redes sociais influenciam na ansiedade?

As redes sociais têm um papel central na sociedade contemporânea, impactando significativamente a saúde mental da humanidade. De acordo com o filósofo Byung-Chul Han, estamos vivendo um contexto de mudança de paradigma, onde ocorre a transição entre a sociedade disciplinar descrita por Michel Foucault, para a sociedade do desempenho. Nessa nova configuração, os limites entre o eu e o outro desaparecem, pois tudo passa a ser visto a partir da preocupação com a própria existência. Como consequência, tudo se transforma em mero reflexo de si mesmo. Em cada situação, o indivíduo enxerga a prolongação de sua própria identidade, e as pessoas acabam enxergando apenas a si mesmas.

Nesse sentido, as redes sociais são o principal veículo por meio do qual as pessoas constroem e afirmam suas próprias identidades. Cada postagem, foto ou atualização é uma forma de autoafirmação narcisista, que visa mostrar ao mundo o quanto o indivíduo é produtivo, bem-sucedido e realizado. Isso reflete a lógica neoliberal que se baseia na ideia de que o sucesso provém do esforço contínuo e permanente.

Cansados e Conectados: O Preço da Busca pelo Reconhecimento nas Redes Sociais

No entanto, essa busca incessante por validação e autoafirmação nas redes sociais tem um custo significativo. Ao se verem como produtos a serem consumidos pelos outros, os indivíduos se sentem compelidos a manter uma produtividade constante. Essa busca por aprovação torna-se uma forma de "empreendedorismo de si", onde a pessoa precisa sempre "vender" a melhor versão de si mesma.

Esse comportamento acaba por produzir uma exaustão psicológica que, em muitos casos, leva a problemas psíquicos como ansiedade, insônia, burnout e depressão, como apontado pelo filósofo Byung-Chul Han. A produtividade ininterrupta, tanto no trabalho quanto na vida social, surge com aparência de liberdade, já que não existem chefes ou horários impostos. Mas, na prática, é uma “falsa liberdade”, pois as pessoas sentem-se na obrigação de realizar entregas virtuais cada vez mais constantes, comprometendo a capacidade de desfrutar de uma vida plena.

Para obter mais conhecimento sobre como superar a ansiedade na era digital, baixe gratuitamente o ebook abaixo, que explica os impactos das redes sociais na saúde mental e o conceito de Brain Rot, termo usado para se referir aos efeitos negativos da exposição contínua aos conteúdos de baixa qualidade das redes sociais. O ebook contém informações do curso da Casa do Saber intitulado Saúde Mental e Estresse: Uma Visão das Neurociências, ministrado pela doutora em Ciências pela UFRJ, Ana Carolina Souza. Preencha o formulário a seguir e tenha acesso ao ebook instantaneamente no seu e-mail:

Banner ebook 'Ansiedade e redes sociais', da Casa do Saber

As redes sociais: uma dependência patológica

As redes sociais, ao promoverem um modelo de produtividade constante, reduzem a vida humana a uma busca incessante por reconhecimento. Assim, o que antes era um espaço pessoal, como a casa ou a privacidade do pensamento, agora se mistura ao olhar e ao julgamento constante do público. Esse processo de exposição contínua cria uma atmosfera de pressão, onde o indivíduo não pode mais se relacionar com sua própria identidade de maneira autêntica, mas em função de como é percebido pelos outros. Assim, a autoafirmação na era digital se torna dependente da validação externa, medida por curtidas, comentários, seguidores, compartilhamentos.

Esse fenômeno revela um paradoxo de liberdade. Em vez de promover a liberdade individual, as redes sociais, na verdade, encorajam uma forma de escravidão contemporânea. Ao acreditar que estão se autoafirmando e sendo livres, os indivíduos acabam presos a uma lógica de produtividade sem fim. O filósofo Byung-Chul Han explica que, no capitalismo neoliberal, a liberdade é confundida com a obrigação de se afirmar constantemente, o que leva a uma exploração do próprio corpo e mente. O indivíduo, ao tentar se destacar e se afirmar nas redes sociais, está, na realidade, se exaurindo, tornando-se incapaz de desfrutar dos próprios momentos de descanso ou de lazer em conexão com outras pessoas.

Essa incessante procura por autossuperação nas redes sociais reflete o modelo de vida capitalista, onde a produtividade desenfreada gera uma exaustão que compromete a saúde mental e emocional. A pessoa, que inicialmente se vê como livre ao produzir e compartilhar sua identidade, acaba se tornando um "morto-vivo", como descreve o já mencionado pensador sul-coreando, presa a um ciclo de atividade e consumo sem limites. Nesse sentido, as redes sociais não apenas refletem essa lógica, mas também a amplificam, tornando o indivíduo cada vez mais dependente da constante validação externa, e cada vez mais distante de alcançar momentos de plenitude que estejam desprovidos de uma função econômica.

Burnout e Redes Sociais

Quem trabalha com redes sociais, seja como social media para empresas ou como empreendedor de si mesmo no digital, sabe que o esgotamento mental é uma constante nesse ambiente virtual de trabalho. Postagens diárias, seja no Instagram ou no TikTok, precisam ter alcance, curtidas, compartilhamentos, engajamento. Portanto, esse tipo de trabalho opera em uma lógica de produtividade ininterrupta, que acaba sugando as energias dos criadores de conteúdo. Principalmente, quando o produtor de conteúdo digital também é o próprio empreendedor, fato que acontece com frequência na sociedade do desempenho que vivenciamos.

A lista de atividades diárias de quem trabalha como produtor de conteúdo digital nas redes sociais é interminável:

  • Fotos
  • Legendas
  • Carrosséis
  • Arte com conteúdo para feed
  • Vídeos para reels
  • Vídeos para story
  • Vídeo para TikTok
  • Caixinhas de perguntas para story
  • Compartilhamento de conteúdo relevante
  • Texto persuasivo de copywriter para vendas


Além da pressão para estar disponível 24 horas por dia, responder imediatamente a mensagens e estar presente em múltiplas plataformas. Tudo isso gera uma sensação de sobrecarga. Se identificou? Muito provavelmente sim.

Mas, o que você talvez ainda não saiba é que a lógica neoliberal tem propagado uma ideia sedutora de liberdade no ambiente virtual. Apesar da aparência de liberdade que essa lógica sugere, ela resulta, na prática, em uma uniformização das experiências de vida. As pessoas, ao acreditarem que estão tomando decisões autônomas, estão, na realidade, sendo moldadas por uma mesma dinâmica de produtividade e consumo. Todos estão seguindo o mesmo caminho: trabalhar mais, se expor mais, alcançar mais.

Nesse sentido, são incentivadas a se perceberem como responsáveis pelo seu próprio destino e pela sua realização pessoal. Mas, essa promessa de autonomia, no entanto, esconde uma realidade de exploração constante. Trata-se da “uberização do trabalho”, uma dinâmica onde as pessoas se percebem como “donas de seu próprio tempo” e acreditam que assim, são livres. Quando, na verdade, estão sujeitas a uma nova forma de subordinação. Ao se verem como empresários de suas vidas, acabam presas a uma rotina de produtividade incessante, sem descanso e sem a possibilidade de se desconectar das demandas virtuais, sociais e econômicas.

Nesse contexto, o trabalho não é mais uma obrigação imposta de fora, como propôs Foucault com sua sociedade disciplinar, mas tornou-se uma escolha que se transforma em uma necessidade constante de atingir metas. A lógica do "empreendedorismo de si mesmo" faz com que o indivíduo se sinta constantemente pressionado a demonstrar sua capacidade nas redes sociais, em um ciclo de validação permanente.

Essa obsessão por produzir e se autoafirmar em todas as esferas da vida intensifica a carga de trabalho e drena as energias emocionais e psicológicas, levando as pessoas a uma exaustão constante. Daí, o surgimento de quadros de muito sono acumulado, estresse e o aumento significativo dos casos de burnout. Dados da Organização Mundial da Saúde indicam um aumento significativo de diagnósticos relacionados a distúrbios mentais, com o Brasil sendo um dos países com maiores índices de síndrome de burnout, um reflexo claro de uma sociedade que sobrecarrega seus cidadãos em nome do desempenho.

A exaustão provocada por essa lógica é uma das consequências mais devastadoras do neoliberalismo. O constante esforço para manter a imagem de sucesso e capacidade leva ao esgotamento físico e mental. O indivíduo, pressionado a se afirmar a todo momento, perde a capacidade de se conectar consigo mesmo e de aproveitar os momentos de lazer. O paradoxo é claro: ao tentar conquistar sua liberdade através do trabalho e da produtividade, as pessoas se tornam cada vez mais escravizadas por essas mesmas exigências. O “empreendedor de si mesmo” está, na realidade, preso a um ciclo de autossubordinação, onde sua identidade é definida unicamente pela sua capacidade de produzir e de se mostrar ativo. E essa dinâmica leva, inevitavelmente, à exaustão, à perda de autonomia real e ao sofrimento psicológico.

Entenda as ideias de Byung-chul Han no curso

thumb do curso 'A Filosofia de Byung-chul Han', por Lucas Nascimento Machado


Veja agora



Como recuperar a saúde mental na Era Digital?

Alcançar o bem-estar psicológico na era das redes sociais exige um esforço consciente para desacelerar e redefinir o que significa bem-estar. A sociedade atual valoriza a produtividade acima de tudo, mas é preciso saber valorizar também a pausa, o descanso. Até mesmo o tempo de lazer é frequentemente visto como algo secundário, um luxo ou até mesmo um desperdício, especialmente em um cenário onde as redes sociais impõem uma imagem de sucesso ininterrupto e constante.

No entanto, é fundamental entender que o descanso genuíno não é apenas uma pausa física, mas também emocional e psicológica. A recuperação da saúde mental começa quando se reconhece que o descanso não deve ser vivenciado com culpa ou com a mesma lógica da produtividade, considerando que as pessoas muitas vezes ficam querendo compartilhar fotos e vídeos de onde estão nas férias; assistir ao máximo de séries e filmes, ler o máximo de livros, fazer o máximo de viagens possíveis. Ou seja, mesmo nos momentos de descanso, a lógica da produtividade continua a mesma.

Isso resulta em um ciclo vicioso de autocobrança, onde não fazer nada é inaceitável e o sofrimento é invisibilizado. Para quebrar esse ciclo, é essencial que as pessoas questionem a forma como se relacionam com o trabalho e a busca pelo sucesso. O verdadeiro descanso envolve parar, refletir e dar a si mesmo permissão para não estar sempre "fazendo algo". Ao interromper o ciclo de exigências, é possível recuperar uma vida mais equilibrada.



Conclusão

Em uma sociedade que induz as pessoas a acreditarem que o resultado de suas conquistas depende exclusivamente de seu esforço, é preciso redefinir o conceito de produtividade. A ideologia dominante pressiona as pessoas a acreditarem que o sucesso é resultado exclusivo do esforço individual. Portanto, é essencial redefinir o conceito de produtividade. Essa lógica do esforço individual impõe uma opressão psicológica que leva muitos a acreditarem que o valor de sua existência e conquistas depende exclusivamente do seu desempenho. Esse pensamento cria uma cobrança constante, onde o indivíduo se vê em um ciclo exaustivo de autossuperação.

Quando os resultados não correspondem às expectativas, o impacto psicológico é profundo, gerando sentimentos de inadequação, frustração e até angústia. Essa pressão por resultados, combinada com a ideia de que não há limites para o esforço, acaba produzindo uma exaustão física e um sofrimento mental significativo, pois a busca incessante por sucesso é vivida como uma obrigação pessoal, e não como uma escolha saudável.

A produtividade também pode envolver momentos de introspecção, cuidado consigo mesmo e conexão com os outros. Integrar esses momentos na rotina, ao lado do trabalho, cria um espaço para a regeneração mental e emocional. Para que isso aconteça, é necessário estabelecer limites claros entre o trabalho e o lazer, respeitando o tempo de desconexão sem que isso seja visto como uma falha. A recuperação da saúde mental não se resume a diminuir o ritmo, mas a reconfigurar as expectativas sobre o que é produtivo e valioso.

Para lidar com a sobrecarga mental imposta pela era das redes sociais, é importante procurar um profissional de saúde habilitado para realizar um tratamento individualizado. Por mais que atitudes possam ser incluídas na rotina no sentido de minimizar os efeitos negativos provocados pela exposição incessante e diária ao universo virtual, o acompanhamento psicológico continua sendo fundamental no processo de recuperação psíquica.

thumb do curso 'Manual Psicanalítico para Viver Melhor no Século 21', por Marcelo Veras




Referências

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/259/a-filosofia-de-byung-chul-han

Artes, Literatura e História
Elena Ferrante: por onde começar a ler, livros de romance, Netflix
Xavana Celesnah
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Elena Ferrante: por onde começar a ler, livros de romance, Netflix
Quem é Elena Ferrante? Conheça a autora italiana da tetralogia Napolitana, obra 'A Amiga Genial' no New York Times e qual livro ler primeiro!

Elena Ferrante é uma das escritoras mais enigmáticas da literatura contemporânea. A autora conquistou uma legião de leitores ao mergulhar em temas profundos sobre a amizade, a identidade e a experiência feminina. Conhecida mundialmente por sua tetralogia Napolitana, que começa com A Amiga Genial, Ferrante oferece uma reflexão intensa sobre as complexas relações humanas e os labirintos psicológicos que nos permeiam. A Amiga Genial foi considerada pelo The New York Times como o livro do século, eleito após uma pesquisa com 503 especialistas literários, o que demonstra a relevância e o impacto profundo de sua obra no cenário literário mundial.

Sua escrita, marcada pela sinceridade crua e pela profundidade emocional, tem o poder de transformar a maneira como entendemos os vínculos afetivos e a complexidade da vida interna de suas personagens. Além disso, o mistério em torno de sua verdadeira identidade, já que Elena Ferrante é um pseudônimo, aumenta a curiosidade em relação à autora, criando uma aura de fascínio que apenas intensifica o interesse por suas obras. Neste artigo, vamos explorar a trajetória de Elena Ferrante, suas obras mais impactantes e como ela se tornou uma das vozes mais relevantes da literatura atual.



Por que ler Elena Ferrante?

Elena Ferrante oferece uma literatura que toca as profundezas da alma humana. Suas histórias, repletas de uma sinceridade crua, revelam os complexos laços de amizade, as contradições da identidade e os desafios da experiência feminina de forma magistral. Suas personagens são imersivas, e a forma como ela aborda as nuances dos sentimentos e das relações é capaz de alterar profundamente a maneira como entendemos nossas próprias vidas emocionais.

Sem dúvida, ela é uma das mulheres da literatura contemporânea que mais causa fascínio e curiosidade. Afinal, até hoje se mantém no anonimato. O mistério em torno de quem é Elena Ferrante gera um fascínio adicional que contribui para o charme de suas obras. Ao não se expor publicamente, ela desvia o foco da autora e coloca toda a atenção em suas histórias, permitindo que o leitor se conecte diretamente com os temas e as emoções descritas em seus livros.

O anonimato, aliado à escrita profundamente envolvente, criou uma aura de curiosidade que tem feito de Elena Ferrante uma das autoras mais discutidas e admiradas da literatura contemporânea. Suas obras não são apenas para ser lidas, mas para serem sentidas, tornando-se uma experiência emocional que vai além das páginas.

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Quem é Elena Ferrante?

Elena Ferrante é o pseudônimo de uma autora italiana cuja verdadeira identidade permanece desconhecida. A escolha de se manter anônima, ao longo dos anos, despertou uma onda de especulação e curiosidade, mas a escritora sempre declarou que a obra é mais importante do que a figura de quem a escreveu. Sua literatura, então, se destaca por sua sinceridade e profundidade emocional, proporcionando uma visão íntima da vida feminina, das relações humanas e da complexidade das identidades.

Apesar do anonimato, Elena Ferrante construiu uma carreira literária sólida e admirada, sendo reconhecida globalmente. O que importa, para a autora, são as palavras e as histórias que ela compartilha, e não a imagem que o público tem dela.

Para Elena Ferrante, manter sua identidade em sigilo é uma escolha. Mas, nem sempre foi assim para as mulheres. Ao longo da história, as vozes femininas foram caladas e sufocadas. O sistema patriarcal reprimiu a expressão das ideias femininas, através de relações de poder que mantinham as mulheres tolhidas em sua liberdade criativa e existencial. A escritora Mary Shelley, por exemplo, autora de Frankenstein, demorou alguns anos para ter sua identidade associada à obra prima que escreveu. E até mesmo J.K.Rowling, criadora da saga Harry Potter, foi aconselhada por seu editor a não revelar sua identidade feminina nas primeiras publicações, porque ele acreditava que os meninos não iriam se interessar em ler seus livros, caso soubessem que eram escritos por uma mulher. Portanto, a misoginia não ficou no passado, quando deusas, bruxas e feiticeiras foram incineradas pela fogueira da inquisição.

Livros de Elena Ferrante: quais são os mais conhecidos?

Os livros de Elena Ferrante têm conquistado leitores ao redor do mundo devido à sua profundidade emocional e à forma como abordam as relações humanas. Entre seus trabalhos mais famosos está a Tetralogia Napolitana, que começa com A Amiga Genial. Veja a seguir quais são as principais obras de Elena Ferrante:

LIVROS DE ELENA FERRANTE RESUMO
A Amiga Genial (2011) A história de uma amizade intensa e complexa entre Lila e Lenù, duas meninas que crescem em Nápoles, e como essa relação se desenvolve ao longo dos anos. A obra explora temas como identidade, classe social e o impacto do ambiente no desenvolvimento humano.
A História do Novo Sobrenome (2012) Continuação de A Amiga Genial, este livro segue a vida de Lila e Linù na juventude, aprofundando-se nas suas escolhas de vida, em especial a busca de Lila por um caminho diferente de Elena.
História de Quem Foge e de Quem Fica (2013) A amizade entre Lila e Linù continua a se transformar enquanto elas lidam com o amadurecimento, o amor e os conflitos internos.
História da Menina Perdida (2014) O último livro da Tetralogia Napolitana foca na busca de Linù por uma identidade própria, enquanto ela lida com os desafios da maternidade e a conclusão da sua amizade com Lila. A obra trata da experiência feminina e dos dilemas existenciais, culminando em um retrato de amadurecimento pessoal.
Um Amor Incômodo (1991) Delia retorna a Nápoles após a morte misteriosa de sua mãe, e, ao investigar o passado de sua mãe, ela se vê confrontada com descobertas desconcertantes. A obra explora os segredos familiares e a complexidade das relações maternas e filiais.
Dias de Abandono (2002) Olga enfrenta uma profunda crise emocional após seu marido pedir o divórcio, entrando em um período de instabilidade psicológica enquanto lida com a maternidade e sua identidade.
Frantumaglia (2003) Uma coleção de cartas, entrevistas e reflexões de Elena Ferrante, revelando suas ideias sobre o processo de escrita, o anonimato e a identidade literária. Este livro oferece uma visão sobre a autora e sua abordagem da criação literária e dos temas de suas obras.
A Filha Perdida (2006) Leda, uma mulher de meia-idade, passa suas férias em uma praia italiana, onde reflete sobre sua maternidade e suas escolhas, ao se envolver com a família de uma jovem mulher.
Uma Noite na Praia (2007) A história segue duas mulheres que, em uma noite à beira-mar, refletem sobre suas vidas e os dilemas emocionais e existenciais que as atormentam.
A Vida Mentirosa dos Adultos (2019) Giovanna, uma adolescente, começa a descobrir segredos sobre sua família e a sociedade em que vive, desafiando as suas próprias percepções de amor e lealdade. O livro explora a transição da adolescência para a vida adulta, revelando as mentiras e contradições da vida dos adultos ao seu redor.
A Invenção Ocasional (2019) Uma narrativa de ficção que examina como a identidade e a criação literária podem ser um jogo de invenção e imaginação, com a autora abordando a relação entre ficção e realidade.
As Margens e o Ditado (2021) O livro é baseado em seminários que Elena Ferrante escreveu para uma atriz realizar a leitura durante a Aula Magna da Universidade de Bolonha, na Itália.


Por onde começar a ler Elena Ferrante?

Se você está se perguntando por onde começar a ler Elena Ferrante, a resposta mais comum seria começar com A Amiga Genial. Esse livro é o mais famoso da autora e apresenta os principais temas trabalhados por Ferrante em sua obra – amizade feminina, identidade e os desafios da vida. A Amiga Genial é o primeiro livro da tetralogia napolitana, série que oferece uma imersão ainda maior nas vidas e nas relações das personagens.

Mas, se você deseja ter um conhecimento ainda maior sobre a escritora, conheça o curso As Mulheres na Obra de Elena Ferrante, ministrado pela doutora em História da Filosofia Antiga pela Puc-Rio, Julia Myara. O curso analisa a obra da autora, a partir das personagens femininas que marcam suas narrativas. São abordadas questões relacionadas à maternidade, liberdade, abandono e competição no universo feminino.





Além do curso, você também pode participar do Clube do Livro Histórias que nos Ensinam a Amar,conduzido pela psicanalista Carol Tilkian. O clube vai te motivar na leitura de livros escritos por mulheres, além de ser um espaço aberto para reflexão e debate das obras, a partir dos encontros online. A maioria dos encontros contará, ainda, com a presença das autoras das obras que serão comentadas.

O livro Dias de Abandono, de Elena Ferrante, é uma das publicações que serão debatidas pelo Clube, em um encontro que vai tratar da Literatura como Reflexão sobre Relacionamentos. Saiba mais sobre este Clube do Livro inédito clicando no botão a seguir.

Quero participar do Clube do Livro "Histórias que nos ensinam a amar"






Elena Ferrante: A Amiga Genial e a adaptação para a Netflix

O sucesso de A Amiga Genial foi tão grande que a obra foi adaptada para a TV pela HBO, e mais tarde, foi lançada uma adaptação da minissérie na Netflix. A série segue a trajetória de Lila e Linù, explorando as complexidades da amizade e dos dilemas existenciais dessas personagens de maneira visualmente arrebatadora.

Para quem já leu o livro, a adaptação traz uma nova camada de emoção à história, tornando a experiência ainda mais imersiva. A produção foi tão bem recebida que se tornou uma das mais comentadas e aclamadas da plataforma.

Veja a seguir as obras de Elena Ferrante que ganharam adaptações cinematográficas e de TV :

  • A Amiga Genial (HBO) – A famosa Tetralogia Napolitana foi adaptada para a TV pela HBO. A série, que acompanha a amizade de Lila e Elena, está disponível na plataforma Max, com a quarta e última temporada chegando em breve. A adaptação captura com precisão a essência dos livros, retratando a complexa relação entre as protagonistas e o cenário social e político de Nápoles ao longo das décadas.
  • A Filha Perdida (Netflix) – Adaptado do livro de 2006, A Filha Perdida segue a personagem Leda, interpretada por Olivia Colman, enquanto ela reflete sobre a maternidade e os dilemas familiares durante suas férias em uma cidade costeira na Itália. O filme é uma exploração emocionalmente complexa dos relacionamentos e das escolhas que moldam a vida de Leda.
  • A Vida Mentirosa dos Adultos (Netflix) – A minissérie baseada no romance de Elena Ferrante de 2019 segue Giovanna, uma adolescente que começa a descobrir um lado diferente de Nápoles, longe da proteção de sua família. A série explora o despertar da juventude, os conflitos familiares e a busca por identidade.
  • Um Amor Incômodo (2002) – O primeiro livro de Elena Ferrante a ser adaptado para o cinema foi Um Amor Incômodo, publicado originalmente em 1992. A história acompanha Delia, uma mulher de 45 anos que retorna a Nápoles, sua cidade natal, após a morte misteriosa de sua mãe. O retorno de Delia à cidade traz à tona lembranças de sua infância e uma série de descobertas perturbadoras sobre a vida e os segredos de sua mãe. A adaptação cinematográfica de 2002 capturou a tensão emocional da obra e a complexidade das relações familiares.
  • Dias de Abandono (2005) – Publicado em 2002, Dias de Abandono narra a história de Olga, uma mulher que enfrenta uma crise emocional após seu marido pedir o divórcio. A narrativa segue a jornada intensa de Olga, que se vê imersa em um turbilhão de inseguranças e emoções enquanto tenta se reconstruir. O filme, lançado em 2005, foi dirigido por Roberto Faenza e retratou brilhantemente o processo de autodescoberta e sofrimento da protagonista.


A Polêmica do jornalista que tentou desvendar a identidade de Elena Ferrante

A revelação da identidade de Elena Ferrante, uma das autoras mais enigmáticas da literatura contemporânea, gerou grande polêmica e acusações de invasão de privacidade. Ferrante sempre manteve o anonimato, recusando-se a fornecer qualquer foto ou informação sobre sua identidade. A dúvida pairava sobre sua identidade: seria Ferrante um homem ou uma mulher? Nenhuma resposta oficial havia sido dada.

print da matéria 'Elena Ferrante: An Answer?', de Claudio Gatti
Reportagem de Claudio Gatti veiculada na New York Review of Books


Em 2016, o jornalista italiano Claudio Gatti publicou uma reportagem na New York Review of Books, intitulada "Elena Ferrante: Uma Resposta?" , que causou grande repercussão. Gatti alegava, com base em uma análise forense de textos e informações públicas, que por trás do pseudônimo de Elena Ferrante estava Anita Raja, uma tradutora italiana. A matéria foi amplamente divulgada no mundo e indicava Raja como a autora da aclamada Série Napolitana.

No entanto, essa alegação foi imediatamente negada pelos envolvidos. Tanto Anita Raja quanto seu marido, o escritor italiano Domenico Sartore, repudiaram as informações de Gatti. Além disso, Elena Ferrante também se manifestou, por escrito, negando as alegações. Em sua declaração, Ferrante reafirmou seu compromisso com o anonimato e ressaltou que a identidade do autor não deveria ser o foco, mas sim a obra.

A publicação causou reações intensas, muitos leitores e críticos consideraram a abordagem de Gatti uma invasão de privacidade. Para esses, a identidade de Ferrante deveria ser irrelevante diante da profundidade de suas obras. O anonimato da autora, assim, faria parte de sua identidade literária. A polêmica em torno da sua identidade continua a provocar debates sobre os limites da privacidade na literatura e sobre como o anonimato pode, na verdade, enriquecer a experiência de leitura. Para muitos, o mistério de Elena Ferrante se tornou uma parte essencial do fascínio que ela exerce sobre seus leitores.

Conclusão

Elena Ferrante é, sem dúvida, uma das escritoras mais relevantes da literatura contemporânea. Seus livros, especialmente a Tetralogia Elena Ferrante, se destacam pela maneira como abordam temas universais de amizade, amor e identidade.

Perguntas Frequentes sobre Elena Ferrante

  1. Quem é Elena Ferrante?

    Elena Ferrante é o pseudônimo de uma autora italiana cuja verdadeira identidade permanece desconhecida. Sua obra é marcada por um olhar sensível e profundo sobre a amizade, a identidade e as relações humanas, especialmente as experiências femininas.
  2. Por onde começar a ler Elena Ferrante?

    Se você quer começar a explorar a obra de Elena Ferrante, A Amiga Genial é a melhor introdução. A partir dela, você pode seguir com os outros volumes da Tetralogia Napolitana, que examinam a complexidade da amizade e das relações em Nápoles.


Referências:

https://revistacult.uol.com.br/home/por-que-gostamos-de-elena-ferrante/

https://www.estadao.com.br/cultura/literatura/elena-ferrante-entenda-misterio-da-autora-de-a-amiga-genial-eleito-o-melhor-livro-do-seculo-21-nprec/?srsltid=AfmBOoqvb7i3OwQ2DilsrsHOzUs8E4icWpOfu5Q5uemoZAvRizJ6azJm

https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/03/cultura/1475489430_113758.html

https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/quem-e-elena-ferrante-autora-misteriosa-tem-livro-eleito-melhor-do-seculo/

https://www.youtube.com/watch?v=4uTWHThuJoY





Expressionismo: Características, obras, O Grito, Van Gogh, artistas
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Expressionismo: Características, obras, O Grito, Van Gogh, artistas
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O expressionismo foi um movimento artístico que surgiu na Alemanha, no ano de 1905, como uma reação à proposta estética do impressionismo, que buscava realizar uma arte baseada em estudos de óptica, retratando a luminosidade e as imagens da maneira como as vemos. Ao contrário do impressionismo, o expressionismo procurava realizar uma arte onde a emoção do artista tivesse mais espaço do que a técnica.

Expressionismo: Obras, Características e 3 Cursos Para Você Entender Tudo sobre a Vanguarda Modernista

A expressão dos pintores, seus sentimentos e sua visão de mundo importavam mais do que o realismo para essa vanguarda modernista. A obra O Grito (1893), do norueguês Edvard Munch, é precursora do expressionismo e traz muitas de suas características, como a deformação das figuras e a temática pessimista. O movimento não ficou restrito à pintura, mas também se manifestou na literatura, no cinema, na arquitetura e na fotografia.

Neste artigo, vamos mostrar como surgiu a arte expressionista, seus principais artistas e cursos para você aprofundar seus conhecimentos na Arte Moderna. O artigo passará pelos seguintes conteúdos:



O que é Expressionismo?

O expressionismo foi um movimento artístico que emergiu no início do século XX, com origem na Alemanha, que valorizava a visão particular de mundo de cada artista, bem como suas emoções íntimas. O movimento refletia um mundo em crise, marcado pela Revolução Industrial, pela urbanização crescente e por tensões sociais e políticas intensas.

Os artistas distorciam formas, cores e perspectivas para expressar sentimentos profundos de angústia, sofrimento e desespero, em vez de retratar a realidade de maneira fiel. Em contraste com estilos artísticos anteriores, como o impressionismo, que se concentrava na representação objetiva e realista do mundo, os expressionistas buscaram transmitir a subjetividade e as turbulências internas do indivíduo.

Grandes nomes do expressionismo, como Edvard Munch e Egon Schiele, usaram essas distorções para capturar as intensas emoções humanas e o impacto psicológico das mudanças da sociedade moderna. O expressionismo é considerado uma das primeiras vanguardas históricas, ao lado do fauvismo francês. As vanguardas europeias da arte modernista foram um conjunto de movimentos artísticos que surgiram entre o início do século XX, antes da Primeira Guerra Mundial até o final da Segunda Guerra Mundial

Esses movimentos desafiavam as convenções estéticas tradicionais e traziam novas formas de expressão, abordando questões psicológicas, existenciais e sociais de maneira inovadora e muitas vezes perturbadora. Surgia uma nova era na arte ocidental com a mudança da mentalidade acerca do que faz um trabalho artístico uma obra de arte.

Como surgiu o Expressionismo?

O expressionismo surgiu em uma Alemanha imersa em uma profunda crise, cujas tensões sociais e políticas acabariam por culminar na eclosão da Primeira Guerra Mundial. As consequências da Revolução Industrial, o crescimento das áreas urbanas e os conflitos políticos criaram um cenário de angústia que se refletiu na arte expressionista.

Os artistas expressionistas reagiram a esse ambiente com uma paleta cromática agressiva, utilizando cores intensas e contrastantes para transmitir suas emoções internas. As temáticas centrais do movimento incluem a solidão, o sofrimento e a miséria, refletindo a crise existencial vivida pela sociedade.

O pintor norueguês Edvard Munch, com obras como O Grito (1893), tornou-se um ícone do expressionismo, retratando o desespero e a incomunicação humanas em um cenário de opressão psicológica. Seu trabalho, marcado por uma forte carga emocional e uma paleta de cores intensas, foi uma das principais inspirações para o movimento.

Além de Munch, outros artistas, como o francês Paul Cézanne, cujas experimentações com a desfragmentação da realidade e os pós-impressionistas Vincent van Gogh e Paul Gauguin, também foram precursores do expressionismo, trazendo à tona uma ênfase na subjetividade, na distorção das formas e na expressão de emoções profundas.

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O Expressionismo Alemão na Pintura

O movimento expressionista teve início em 1905, com a formação do grupo Die Brücke (A Ponte), fundado em Dresden por artistas como Ernst Ludwig Kirchner, Karl Schmidt-Rottluff e Erich Heckel. Este grupo se propôs a romper com as tradições artísticas acadêmicas e buscar uma expressão mais direta e emocional da realidade. Influenciados por movimentos como o pós-impressionismo e o primitivismo, os membros do Die Brücke usaram cores intensas e distorções nas formas para retratar temas como a angústia e o sofrimento causados pelas transformações sociais e culturais da época. A arte expressionista visava, assim, representar a subjetividade humana e os sentimentos conflitantes do indivíduo. O fazer artístico estava se transformando, bem como o perfil do consumo da arte.

Em 1911, o termo "expressionismo" foi formalmente associado ao movimento pela primeira vez ao ser escrito na revista Der Sturm (A Tempestade), uma das mais importantes publicações da vanguarda alemã. Ao mesmo tempo, o movimento se expandiu com a formação do grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), em Munique, composto por artistas como Wassily Kandinsky e Franz Marc. Embora ambos os grupos compartilhassem a ideia de distorcer a realidade e explorar a subjetividade, o Der Blaue Reiter adotou uma abordagem mais espiritual, buscando expressar realidades metafísicas por meio da arte.

O Nazismo contra o Expressionismo

O regime nazista teve um impacto devastador sobre a arte expressionista, considerando-a "degenerada" e incompatível com seus valores nacionalistas e tradicionais. O movimento de censura do nazismo visava eliminar formas de arte modernas, como o expressionismo, o cubismo e o futurismo, que eram vistas como antinacionais e subversivas. Em 1937, os nazistas organizaram a Exposição de Arte Degenerada em Munique, onde obras de artistas como Ernst Ludwig Kirchner, foram expostas de forma grotesca, sendo ridicularizadas como expressão da loucura e usadas como exemplo do que o regime considerava corrompido. Muitas dessas obras foram retiradas de museus, destruídas ou vendidas a colecionadores estrangeiros, enquanto outras foram armazenadas fora do alcance do público.

O regime nazista tentou eliminar o expressionismo da cena artística alemã e ainda associou esse movimento ao comunismo e o rotulou de imoral e subversivo. Em 1937, cerca de 16.500 obras de arte foram confiscadas, incluindo trabalhos de artistas renomados como Van Gogh, Pablo Picasso e Matisse, muitas das quais foram vendidas em leilões ou destruídas, resultando em um prejuízo irreparável para a arte alemã e mundial.

3 Cursos Para Você Entender tudo sobre Arte Moderna

Para você que deseja entender profundamente o que é a arte, o que é Arte Moderna e, consequentemente, o movimento Expressionista, listamos três cursos essenciais da Casa do Saber que vão te fornecer uma visão mais abrangente sobre esses temas. São eles:

  1. A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock
  2. Introdução à História da Arte
  3. O que é Arte?



A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock

O curso "A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock" oferece uma análise profunda das transformações que ocorreram na arte moderna entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX.

Através das obras e vidas de artistas icônicos como Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, o curso revela como a arte moderna rompeu com as convenções estéticas anteriores e aborda o impacto desse movimento nas instituições, na crítica de arte e no mercado.

O curso é ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador de pós-doutorado no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP), Felipe Martinez. Com vasta experiência acadêmica e profissional, Felipe Martinez é especialista na obra de Van Gogh e tem atuação em instituições renomadas, como o MASP e o MAM de São Paulo. Confira a seguir uma prévia do curso:

Thumb curso 'A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock' com Felipe Martinez


Introdução à História da Arte

O curso "Introdução à História da Arte" oferece uma visão abrangente dos principais marcos e transformações na arte ocidental, desde o Renascimento até a arte moderna e contemporânea. Ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador da USP (MAC-USP), Felipe Martinez, o curso mostra como nossos conceitos de beleza e arte são construídos a partir do contexto histórico.

As aulas cobrem uma vasta gama de movimentos e artistas, como Michelangelo, Caravaggio, Monet, Degas, Van Gogh e Matisse, além de discutir as influências estéticas, técnicas e sociais que formaram cada período. A arte moderna e as vanguardas europeias fazem parte do conteúdo do curso e você pode conferir um pouco das aulas dando play no vídeo abaixo:

Thumb curso 'Introdução à História da Arte' com Felipe Martinez


O que é Arte?

O curso "O Que é Arte?" busca responder a essa pergunta, que permanece relevante e aberta a diversas interpretações. Através de uma abordagem crítica, o pesquisador Felipe Martinez investiga a arte a partir de seus diferentes sentidos, funções e efeitos, analisando como ela se conecta com a sociedade e provoca reflexões. As aulas envolvem obras e autores de períodos clássicos, modernos e contemporâneos, oferecendo novas formas de compreender e questionar o papel da arte em nosso mundo. Assista abaixo um trecho de uma das aulas para se familiarizar com o conhecimento compartilhado:

Thumb curso 'O que é arte?' com Felipe Martinez


Quais são as Características do Expressionismo?

Influenciado pelo gótico alemão, o movimento expressionista é caracterizado pela distorção das formas, uso de cores intensas para refletir emoções, e ênfase no impacto psicológico sobre a realidade objetiva. O expressionismo também se concentra no isolamento urbano, alienação e solidão do indivíduo, além de usar linhas dramáticas e angulares para aumentar a tensão emocional. Embora tenha sido um movimento heterogêneo, com grupos e artistas apresentando grandes diferenças estilísticas e temáticas, sua influência se estendeu por várias décadas, até a Segunda Guerra Mundial, e alcançou outros países além da Alemanha.

Principais características do expressionismo:

  • Distorção das formas para expressar emoções, não a realidade
  • Uso de cores vibrantes e intensificadas
  • Foco nas emoções e tensões interiores, não na objetividade
  • Representação de cenas urbanas e do isolamento
  • Linhas dramáticas e angulares para aumentar a intensidade emocional
  • Impacto psicológico mais importante que a beleza visual
  • Diversidade estilística e temática entre os grupos e artistas



Principais Artistas do Expressionismo

Abaixo, apresentamos uma tabela com alguns dos principais artistas do movimento expressionista, suas características e obras mais representativas. Além disso, incluímos artistas do pós-impressionismo, cujas obras influenciaram diretamente o surgimento e o desenvolvimento do expressionismo. Confira:

PINTORES EXPRESSIONISTAS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS OBRAS
Edvard Munch Conhecido por expressar emoções de angústia e ansiedade, especialmente a solidão humana O Grito (1893)
Egon Schiele Famoso por suas representações distorcidas do corpo humano, explorando temas de desejo e morte Retrato de Wally (1912)
Ernst Ludwig Kirchner Membro do grupo Die Brücke, seus trabalhos eram caracterizados por distorções de figuras e cores vibrantes Autorretrato com Modelos (1910)
Wassily Kandinsky Pioneiro da arte abstrata, ele acreditava que a arte deveria expressar a espiritualidade e a emoção Composição VII (1913)



Pintura Expressionista

Aqui estão algumas das principais obras expressionistas, que exemplificam a distorção da realidade e a ênfase nas emoções, tão características do expressionismo:

O Grito (1893) | Edvard Munch

Quadro 'O Grito' de Edvard Munch, pintado em 1893. Retrata, de forma distorcida, uma pessoa gritando em cima de uma ponte, com expressão de aflição.
O Grito, Edvard Munch. 1893. Têmpera e pastel oleoso sobre cartão, 91 x 73,5 cm. Galeria Nacional de Oslo, Noruega.


O Grito é uma das obras mais icônicas do expressionismo, capturando a angústia e o desespero humano. A distorção da figura e a explosão de cores vibrantes transmitem a sensação de uma crise emocional profunda.

Mulher Sentada com Joelhos Dobrados (1917) | Egon Schiele

Quadro 'Mulher Sentada com Joelhos Dobrados' de Egon Schiele, pintado em 1917. Retrata uma mulher sentada, com as pernas abertas, encostando a cabeça em um dos joelhos dobrados.
Mulher Sentada com Joelhos Dobrados, Egon Schiele, 1917. Guache, aquarela e giz de cera preto sobre papel. Galeria Nacional de Praga, Praga.


Mulher Sentada com Joelhos Dobrados é uma das imagens mais conhecidas de Schiele e revela uma mulher representada de uma maneira que destoava completamente dos padrões convencionais da arte da época. Ele mistura um ângulo nada convencional com uma estética erótica.

Composição VII(1913) | Wassily Kandinsky

Quadro 'Composição VII' de Wassily Kandinsky, pintado em 1913. É uma pintura abstrata, de traços fortes e marcantes, com uso de cores intensas e contrastantes.
Composição VII, Wassily Kandinsky, 1913. Óleo sobre tela, 200,6 cm x 302,2 cm. Galeria Tretyakov , Moscou.


Kandinsky foi um dos primeiros artistas a criar a arte abstrata. "Composição VII" é uma obra caótica, com cores vibrantes. O quadro não faz uma representação figurativa da realidade e traz uma composição complexa que cria novos caminhos e possibilidades para a arte modernista.

O Expressionismo no Brasil

O Expressionismo no Brasil, embora não tenha se consolidado como um movimento dominante, surgiu no início do século XX influenciado pelas inovações da vanguarda europeia e deixou uma marca significativa nas artes, especialmente na pintura. Artistas como Cândido Portinari, Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti e Anita Malfatti buscaram transmitir emoções intensas e subjetivas por meio da distorção das formas, cores fortes e contrastantes, além de uma representação mais psicológica e emocional do ser humano. Obras como Retirantes e Guerra, de Portinari, exemplificam a busca por representar o sofrimento e as tensões sociais, refletindo as angústias de sua época.

Quadro 'Retirantes' de Cândido Portinari, pintado em 1944. Mostra uma família de camponeses em fuga, com rostos expressando sofrimento e fadiga, em uma composição de cores fortes que transmite a dor e a luta das dificuldades sociais.
Retirantes, Cândido Portinari, 1944. Óleo sobre tela, 190 cm x 180 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (SP)


Impacto e Legado do Expressionismo

O expressionismo, embora inicialmente rejeitado, desempenhou um papel fundamental na reconfiguração da arte moderna, abrindo caminho para movimentos como o surrealismo e a arte abstrata. Sua ênfase na distorção das formas e na representação do mundo interior desafiou as convenções estéticas da época e transformou a concepção da arte de uma mera representação da realidade externa para uma expressão profunda das experiências humanas. O legado do expressionismo, com suas inovações e reflexões sobre a condição humana, continua a influenciar as artes visuais e outras formas criativas até os dias de hoje. Além disso, o movimento também deixou uma marca significativa no cinema, especialmente nos gêneros de horror e suspense.

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Perguntas Frequentes sobre Expressionismo

O que é o expressionismo?

O expressionismo é um movimento artístico que começou no início do século XX, focado na expressão das emoções do artista através da distorção de formas e do uso intensivo de cores vibrantes.

Quais são as principais características do expressionismo?

As características do expressionismo incluem distorção das formas para expressar emoções, uso de cores intensas e vibrantes, e a exploração de temas como alienação, angústia e a tensão interior do ser humano.

Referências:

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/termos/80046-expressionismo

Impressionismo: Obras, Características, Claude Monet, Pinturas
Xavana Celesnah
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Impressionismo: Obras, Características, Claude Monet, Pinturas
Impressionismo: Movimento artístico, obras de Monet, Degas, Renoir, estilo impressionista, pinceladas rápidas e captura de momentos

Impressionismo: O que é, Características, Principais Artistas

O impressionismo foi um divisor de águas na arte do mundo ocidental do final do século XIX. Os artistas que criaram esse movimento na França estavam insatisfeitos com as limitações impostas pela academia, que definia quais deveriam ser os temas das obras de arte, bem como as cores utilizadas e a técnica aplicada. Até mesmo o local onde os artistas produziriam suas telas era imposto: tinha que ser no atelier.

Os impressionistas bateram de frente com esses “dogmas” acadêmicos e foram em busca da liberdade criativa. Nomes como Claude Monet e Pierre-Auguste Renoir estudaram a fundo as cores e a luminosidade, percebendo que os contornos nítidos das pinturas feitas até ali não condiziam com a realidade. Assim, criaram pinturas com pinceladas mais soltas, abandonando a nitidez e criando efeitos visuais inovadores a partir da indefinição dos contornos e do uso de cores variadas, inclusive nas sombras. Inicialmente, o movimento foi depreciado pela crítica, mas logo as pessoas passariam a compreender a proposta impressionista que marcou um ponto de virada na História da Arte.

Como surgiu a Pintura Impressionista?

O impressionismo nasceu na segunda metade do século XIX, na França. O contexto histórico da época foi marcado pelas consequências da Revolução Francesa do final do século XVIII, que tinha promovido uma verdadeira ruptura com a tradição. A quebra de paradigmas sociais abriu espaço para os artistas questionarem também os preceitos das Escolas de Belas Artes.

A primeira metade do século havia sido marcada pela volta ao clássico, com o neoclassicismo. Esse movimento iria conviver com o romantismo, expressão artística que, dentre outras características, se voltou bastante para a natureza, com o desenvolvimento de muitas pinturas de paisagens. É nesse cenário que surge o impressionismo.

Os artistas não estavam mais interessados em pintar temas históricos ou mitológicos. Agora, havia um interesse maior pelas cenas do cotidiano, que não estavam entre os grandes temas acadêmicos. Aliás, chocar a burguesia a partir da escolha de novos temas e do uso de técnicas diferenciadas acabou virando uma espécie de desejo dos jovens artistas da época, que se consideravam uma espécie de classe à parte da sociedade.

É nesse momento que entra em jogo a representação da realidade e os artistas do impressionismo ousaram ao inventar novas soluções criativas que desafiavam as convenções artísticas da época. O maior interesse da pintura impressionista era capturar a luz e o movimento, da maneira como os vemos, com toda a sua fugacidade. Assim, os artistas passaram a pintar ao ar livre e criaram novas imagens, voltadas para temas do cotidiano, onde realizavam seus estudos de cor, luz e movimento. Com suas pinturas, questionam os contornos bem delineados da pintura feita nos ateliês, pois percebem que na natureza, ao ser observada ao ar livre, não existiam essas linhas tão definidas.

As pinceladas desmembradas, a mistura de cores vibrantes e as novas concepções a respeito da representação do mundo fizeram com que o impressionismo influenciasse todas as futuras expressões da arte moderna. A ideia era confiar nos próprios olhos e não mais seguir as receitas prontas dadas pela academia sobre o que é a arte.

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A primeira exposição Impressionista

A Academia de Belas Artes, que organizava a curadoria do tradicional Salão Oficial de Paris, no ano de 1874, recusou obras de diversos artistas. Foi assim que aconteceu o Salão dos Recusados. No dia 15 de abril deste mesmo ano, cerca de 30 artistas que não haviam sido selecionados para a mostra oficial, dentre eles Claude Monet, Edgar Degas, Pierre-Auguste Renoir, Édouard Manet, Berthe Morisot e Paul Cézanne resolvem expor no atelier do fotógrafo Félix Nadar.

É quando Monet expõe o seu quadro Impressão: Nascer do Sol que causa bastante polêmica. Era uma pintura rápida, quase um esboço, cujo objetivo era captar as impressões daquele momento. Tornou-se a pintura mais marcante do impressionismo e foi justamente a ela que um crítico de arte se referiu ao desqualificar as obras da exposição. No livro A História da Arte, do historiador Ernst Gombrich, uma crítica ao movimento foi transcrita:

“A Rua Le Peletier é uma sucessão de desastres. Após o incêndio na Ópera, temos agora uma outra catástrofe. Acaba de ser lançada uma exposição na Durand-Ruel que supostamente contém pinturas.

Entro, e meus olhos horrorizados são assombrados por uma visão terrível. Cinco ou seis lunáticos, entre eles uma mulher, reuniram-se para expor suas obras. Vi gente chorando de rir diante das telas, mas meu coração verteu sangue quando as vi. Esses pretensos artistas autointitulam-se revolucionários, “impressionistas”. Pegam um pedaço de tela, tinta e pincel, besutam-na com manchas aleatórias e assinam seu nome. É uma ilusão como se internos de um hospício pegassem algumas pedras na rua e julgassem ter encontrado diamantes.”

(Nota publicada em uma revista humorística semanal em 1876)

Quadro 'Impressão: Sol Nascente' de Claude Monet, pintado em 1872. Retrata uma cena ao amanhecer, com sol laranja brilhante refletindo na água, cercado por barcos e uma névoa suave, utilizando pinceladas soltas e cores vibrantes.
Impressão: Sol Nascente, Claude Monet. 1872. Óleo sobre tela, 48X63 cm. Museu Marmottan, Paris.


Apesar da crítica pejorativa, os artistas acabam adotando o termo para se autodenominarem. E assim como aconteceu com outros movimentos, como o cubismo e o barroco, o impressionismo foi batizado a partir de um comentário negativo.

A pintura impressionista estava interessada no instante, no momento imediato que pode ser captado pelo olhar sensível. Os artistas deste movimento tinham uma percepção fenomenológica da realidade, eles não estavam preocupados com o que pensamos ser a realidade, mas sim em como ela aparece diante dos nossos olhos.

Por isso, eles são considerados revolucionários na arte. Foram os primeiros a perceber a mistura das cores na natureza e a pintá-las. A questão do movimento também foi essencial para os pintores. Eles mostraram o movimento a partir de uma nova perspectiva: focavam em um único acontecimento da cena e o restante aparecia de forma desfocada, como um amontoado de formas indefinidas. Isso tudo demonstra o interesse desses artistas pelo estudo de óptica. Possivelmente, o surgimento da fotografia no início do século XIX contribuiu para as novas concepções desses artistas a respeito da captação da realidade a partir dos nossos olhos.

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Quais são as características do Impressionismo?

O movimento impressionista ficou marcado por suas inovações técnicas e ideológicas. Os artistas do movimento se inspiraram em cenas do dia a dia, observando paisagens, pessoas e atividades sociais, como danças e festividades.

Ao invés de produzir imagens que traziam os tradicionais temas históricos ou mitológicos, as obras impressionistas mostravam momentos efêmeros, como encontros de pessoas em tardes ensolaradas. Dentre as principais características do movimento, destacam-se:

  • A inovação nas pinceladas: os artistas pintam de uma forma diferente, fazendo pinceladas mais curtas e livres na tela. Assim, criam uma sensação de movimento e uma maior dinâmica de cores, que deixam de ser estáticas e frias.
  • Abandono dos Contornos Nítidos: os contornos das obras impressionistas são propositalmente indefinidos, sugerindo as formas, em vez de criar delineados.
  • Uso de cores vibrantes: as cores dos impressionistas se misturam e são aplicadas muitas vezes diretamente na tela. Isso porque os artistas pintavam o efêmero e não tinham mais tempo para realizar uma minuciosa mistura de cores. A ideia agora era captar o instante.
  • Pintura ao ar livre: influenciados por Monet, que era um grande defensor da pintura ao ar livre, os impressionistas saem dos ateliês para observarem as cenas in loco.
  • Estudo da luz: a luz natural estava entre os temas centrais para os impressionistas. Em todas as composições, o elemento da luminosidade era central. A partir do estudo da luz, os artistas criaram obras com uma nova percepção das cores. Isso se refletiria, inclusive, nas sombras que ganharam nuances e deixaram de ser um reflexo amorfo e uniforme.
  • Momentos Efêmeros: o artista agora estava pela primeira vez tendo a liberdade de escolher os seus temas. Não precisava mais fazer uma pintura oficial. Dessa maneira, tudo poderia ser fonte de inspiração, como o nascer do sol ou um passeio de barco.
  • Representação do Movimento: no impressionismo, o movimento ganha um novo brilho. As cenas não parecem estáticas, pois com o uso das novas técnicas, os artistas conseguem capturar o instante de uma maneira mais dinâmica.

Principais Artistas do Impressionismo

Aqui está uma pequena tabela com os principais pintores do movimento impressionista.

Pintores Impressionistas Características Principais Obras
Claude Monet Foi o primeiro grande nome da pintura impressionista. A partir do quadro dele intitulado Impressão: Nascer do Sol, o movimento foi nomeado. Teve influência da arte japonesa e chegou a cultivar um jardim aquático japonês. - Impressão: Nascer do Sol (1872)

- Mulher com sombrinha (1875)
Pierre-Auguste Renoir Conhecido pelo seu estudo da luz, o pintor ficou famoso por pintar pessoas banhadas em uma luminosidade vibrante, preferencialmente em cenas ao ar livre. - O Baile no Moulin de la Galette (1876)

- O Almoço dos Barqueiros (1881)
Edgar Degas Consagrado por suas pinturas de balé clássico, Degas costumava frequentar os teatros para criar suas composições. - Sala de Ensaio do Balé no Teatro da Ópera (1872)

- Bailarinas no Palco (1879)
Edouard Manet Trouxe cenas do cotidiano para a pintura, abordando a nudez de forma crua e não idealizada. Trabalha muito bem o jogo de luz e sombras. - O Almoço na Relva (1863)

- Claude Monet pintando no seu barco-ateliê (1874)
Camille Pissarro Destaca-se pela captura da vida cotidiana e das paisagens, utilizando uma técnica de pinceladas rápidas e uma paleta rica em luz, que transmite os efeitos das mudanças sazonais e da luz natural. - O Boulevard Montmartre em uma Manhã de Inverno (1897)

- Praça do Teatro Francês (1898)
Berthe Morisot Uma das poucas mulheres do movimento, suas obras exploram a vida privada das mulheres, além de uma abordagem intimista e emocional que captura momentos efêmeros do cotidiano. - O Berço (1872)

- Mulher Jovem Tricotando (1885)


Principais Obras Representativas do Impressionismo

Confira a seguir algumas das principais obras impressionistas, além da já citada Impressão: Nascer do Sol, de Monet.

Mulher com Sombrinha (1875) | Claude Monet

Uma mulher elegante, vestida com um vestido claro é vista ao lado de um menino enquanto segura uma sombrinha em um dia ensolarado. Ela está em um campo florido, cercada por uma paisagem verdejante. A luz suave e difusa cria sombras delicadas e destaca os detalhes do vestido, transmitindo uma sensação de movimento e leveza, típica da estética impressionista.
Mulher com Sombrinha, Claude Monet. 1875. Óleo sobre Tela, 100 x 81cm. National Gallery of Art em Washington, Estados Unidos.


O Almoço dos Remadores (1880) | Pierre-Auguste Renoir

Um grupo de pessoas realiza uma celebração da vida social e o pintor capta a alegria e a luz do verão. As figuras estão em poses descontraídas, conversando e rindo, enquanto bebidas e pratos estão sobre a mesa.
O Almoço dos Remadores, Auguste Renoir, 1880. Óleo sobre tela, 130x173cm. The Phillips Collection, Washington, EUA.


Bailarina Balançando (1879) | Edgar Degas

Retrata uma cena das bailarinas dançando durante um espetáculo, destacando o movimento e o figurino.
Bailarina balançando (bailarina verde), Edgar Degas, 1879. Pastel e guache sobre papel, 64x36cm. Museu Nacional Thyssen-Bornemisza, Madrid.


Boulevard Montmartre, Manhã, Tempo Nublado (1897) | Camille Pissarro

Uma cena urbana retrata o Boulevard Montmartre em um dia nublado, com pessoas caminhando nas calçadas e carruagens na rua. Edifícios históricos cercam a área, e a paleta de cores suaves, com tons de cinza e marrom, reflete a atmosfera melancólica do clima. Pissarro utiliza pinceladas soltas para capturar a vida cotidiana e a luz difusa, criando uma sensação de movimento e dinamismo na cena.
Boulevard Montmartre, Manhã, Tempo Nublado, Camille Pissarro, 1897. Óleo sobre tela, 73 x 92 cm. National Gallery of Victoria, NGV. Melbourne , Victoria , Austrália.



O Berço (1872) | Berthe Morisot

Um delicado retrato da maternidade, com uma mulher diante do berço observando um bebê, refletindo um momento cotidiano da vida feminina.
O Berço, Camille Pissarro, 1872. Óleo sobre tela, 46 x 56 cm. Museu de Orsay, Paris, França.


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Impacto e Legado do Impressionismo

O movimento impressionista revolucionou a arte do final do século XIX, abrindo espaço para uma nova forma de ver e representar o mundo. O pintor Claude Monet, que foi um dos pioneiros do movimento, mostrou a importância da captura da luz in loco. Além disso, a abordagem inovadora da pintura impressionista teve influência das gravuras japonesas. Foi dessa arte oriental que os artistas beberam para elaborar composições sem uma perspectiva central e com enquadramentos diferentes do habitual. Inclusive, o próprio Monet cultivava um jardim aquático de inspiração japonesa, de onde tirou a inspiração para pintar a série de quadros da sua ponte japonesa.

Quadro 'Ponte sobre um lago de nenúfares' de Claude Monet, pintado em 1899. A obra apresenta uma ponte curva sobre um lago repleto de nenúfares, com reflexos vibrantes na água e uma rica paleta de verdes.
Ponte sobre um lago de nenúfares, 1899, Claude Monet. 1872. Óleo sobre tela, 92,7 x 73,7 cm. Coleção HO Havemeyer, legado da Sra. HO Havemeyer, 1929


Monet e seus contemporâneos perceberam que a natureza não era apenas um objeto a ser retratado, mas uma experiência a ser vivida e transmitida. Ao adotar uma abordagem mais subjetiva, os impressionistas estabeleceram as bases para a Arte Moderna, permitindo que os artistas explorassem novas formas e técnicas que ainda não haviam sido concebidas. O uso de pinceladas curtas e rápidas, que parecem caóticas de perto, revela, ao serem observadas à distância, uma harmonia e vitalidade que desafia a percepção tradicional.

A resistência inicial ao Impressionismo foi significativa, com muitos críticos e o público não compreendendo imediatamente a proposta dos artistas. Era necessário um novo olhar, uma nova maneira de ver a arte. Essa necessidade de distância física para que a obra "ganhasse vida" demonstra a ruptura com as expectativas anteriores. Contudo, com o passar do tempo, o Impressionismo foi ganhando espaço e respeito, e artistas como Monet e Renoir alcançaram fama e reconhecimento em vida, consolidando seu legado em importantes coleções públicas.

Além disso, o Impressionismo preparou o terreno para movimentos subsequentes, como o Pós-Impressionismo e o Modernismo. Artistas como Paul Cézanne e Vincent van Gogh, que foram influenciados pelos impressionistas, continuaram a explorar novas formas de expressão, cada um à sua maneira. O pontilhismo, uma técnica desenvolvida no Pós-Impressionismo, exemplifica a evolução da experiência estética proposta pelos impressionistas.

O Impressionismo iniciou uma nova forma de perceber e representar o mundo, mas continuou querendo representá-lo. As transformações estéticas revolucionaram o fazer artístico, mas os artistas continuavam buscando ilustrar a realidade. A arte impressionista abriu caminhos para a inovação criativa que, posteriormente, iria se manifestar nas vanguardas europeias.

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Perguntas Frequentes sobre Impressionismo

O que é Impressionismo?
O Impressionismo é um movimento artístico que surgiu no final do século XIX, na França. É caracterizado pela captura da luz e do movimento através de pinceladas soltas e cores vivas.

Quais são as principais características do Impressionismo?
As características do movimento incluem o abandono dos contornos nítidos e o uso de pinceladas aleatórias, o uso de cores puras, a observação da natureza e a captura da luz do instante observado. Além disso, os artistas buscavam representar cenas simples do cotidiano.

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Referências:

https://www.marmottan.fr/en/

https://mam.org.br/

https://www.musee-orsay.fr/en

GOMBRICH, E.H. A História da Arte



Autores

John Locke foi um filósofo iluminista do século XVII, conhecido por seus pensamentos acerca dos direitos naturais e sua teoria do conhecimento. Nascido na Inglaterra, John Locke combateu o absolutismo na política e defendeu a criação de um Estado liberal, criado pela humanidade através de leis que garantissem o direito à vida, à liberdade e à propriedade privada.

Locke foi um dos pensadores do contrato social e desenvolveu a ideia de que a mente humana nasce como uma “tábula rasa” e adquire conhecimento a partir das experiências vividas. Foi, portanto, um filósofo empirista e escreveu obras fundamentais como o Ensaio sobre o Entendimento Humano e O Segundo Tratado sobre o Governo Civil. Formulou conceitos que continuam a ser debatidos e aplicados até hoje. Neste artigo, vamos abordar a biografia de John Locke e suas principais ideias.



Quem foi John Locke?

John Locke nasceu em 29 de agosto de 1632, na pequena cidade de Wrington, no condado de Somerset, na Inglaterra. Filho de um advogado puritano dono de uma pequena propriedade de terras, Locke cresceu em uma época de intensas tensões políticas, marcadas pelas Guerras Civis Inglesas, que influenciaram profundamente suas ideias.

A educação de Locke foi privilegiada, ele estudou na Westminster School, uma das melhores escolas da Inglaterra, e, em 1652, ingressou na renomada Christ Church College da Universidade de Oxford. Embora seu pai desejasse que ele seguisse a carreira eclesiástica, Locke se formou em medicina e dedicou-se à filosofia e às ciências naturais. Durante sua formação, teve contato com as ideias filosóficas de René Descartes e com o trabalho científico de Robert Boyle, com quem desenvolveria uma estreita amizade e colaboração.

Em 1667, Locke tornou-se médico particular de Lord Ashley Cooper, futuro conde de Shaftesbury, fato que o aproximou das discussões políticas e lhe permitiu desenvolver suas ideias sobre o liberalismo e o governo. Durante esse período, Locke também se interessou pelo movimento científico da época, tornando-se membro da Royal Society de Londres em 1668 e realizando experimentos em diversas áreas do conhecimento, incluindo meteorologia e física dos gases.

Em 1681 o conde de Shaftesbury foi acusado de conspirar contra o rei Carlos II e John Locke de colaborar com seu mentor. Ambos foram exilados na Holanda. Durante os cinco anos em que permaneceu na Holanda, Locke escreveu grande parte de suas obras mais importantes.

Entre elas, destacam-se Cartas sobre a Tolerância, onde Locke defendeu a separação entre Igreja e Estado e a necessidade de tolerância religiosa, e Tratado Sobre o Governo Civil, onde formulou suas ideias sobre os direitos naturais do ser humano (vida, liberdade e propriedade) e o governo legítimo, baseado no consentimento dos governados. John Locke voltou à Inglaterra após a Revolução Gloriosa de 1688 e começou a publicar suas obras sobre filosofia política.

O pensador também teve um papel significativo na evolução do empirismo, defendendo que o conhecimento humano se origina da experiência sensorial e que a mente, ao nascer, é uma tábula rasa, sem ideias inatas. Essa teoria teve grande influência no desenvolvimento do Iluminismo na modernidade. Suas ideias tiveram consequências em diversas áreas do conhecimento, como filosofia, política e economia.

Locke faleceu em 28 de outubro de 1704, na cidade de High Lavre, na Inglaterra, onde passou seus últimos anos. Seu legado perdura até hoje, e suas ideias continuam a ser fundamentais para a compreensão dos direitos humanos, da liberdade política e das bases da democracia moderna. Os sistemas jurídico e político dos Estados Unidos foram criados a partir das ideias de Locke, feito copiado por diversas outras democracias.

O que John Locke defendia?

John Locke, ao lado de Rousseau e Thomas Hobbes, pertence à linha dos filósofos do jusnaturalismo, ou teóricos dos direitos naturais. Para ele, os seres humanos, ao viverem inicialmente no estado de natureza, possuíam direitos naturais inalienáveis, como a vida, a liberdade e a propriedade privada, sendo este último um direito conquistado por meio do trabalho.

Ao contrário de Hobbes, que via o estado de natureza como um cenário de guerra constante, Locke acreditava que o estado natural da humanidade era originalmente equilibrado, no qual os indivíduos possuíam a capacidade de criar normas, julgar e condenar. Esses direitos e capacidades foram fundamentais para a construção da sociedade civil, que seria formada por meio de um contrato social.

Esse pacto não significava que os direitos naturais eram abandonados, mas passavam a ser reconhecidos e protegidos pela sociedade. Para Locke, o Estado deveria garantir a proteção desses direitos, o que gerou uma visão do governo como um meio de assegurar a liberdade, a segurança e a propriedade de seus cidadãos. Nesse processo, o contrato social não eliminava os direitos naturais dos indivíduos, mas os delegava ao Estado. Isso resultava em uma tensão entre os direitos privados e as funções públicas do Estado, algo que Locke não deixou de considerar em sua teoria.

Além de suas contribuições à teoria política, Locke também é conhecido por sua influência no campo do conhecimento, como um dos primeiros defensores do empirismo na filosofia. Em sua obra Ensaio sobre o Entendimento Humano, ele argumenta que a mente humana é uma tábula rasa ao nascer, sem ideias inatas, e que todo o conhecimento provém da experiência sensorial.

Locke acreditava que, por meio dos sentidos e da reflexão sobre essas experiências, formávamos nossas ideias e, assim, nossa compreensão do mundo. Ele via a razão e a experiência como elementos essenciais para a construção do saber.

No campo político, ele foi um dos primeiros a propor a separação dos poderes, defendendo que os poderes executivo, legislativo e federativo deveriam ser exercidos distintamente. Mas, diferente do que foi proposto na teoria da separação dos poderes de Montesquieu, John Locke estabelece uma relação de subordinação entre os poderes, onde todos estariam submetidos ao poder legislativo.

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Principais Livros de John Locke

John Locke escreveu diversas obras que se tornaram fundamentais para a filosofia, abordando temas que vão desde a teoria do conhecimento até a teoria política. Seus escritos influenciaram profundamente a formação do liberalismo e do empirismo, além de terem deixado um legado duradouro no pensamento ocidental. A seguir, listamos alguns de seus principais livros:

  • Ensaio sobre o Entendimento Humano (1689)
  • Primeiro Tratado sobre o Governo Civil (1689)
  • Segundo Tratado sobre o Governo Civil (1689)
  • Carta sobre a Tolerância (1689-92)
  • Alguns Pensamentos sobre a Educação (1693)
  • Razoabilidade do Cristianismo (1695)
  • Da Conduta do Entendimento (1706)



Carta sobre a Tolerância (1689 - 92)

capa do livro Carta Sobre a Tolerância, de John Locke

Carta sobre a Tolerância, de John Locke, foi publicada pela primeira vez em 1689, em um contexto de grande agitação religiosa e política na Inglaterra, onde o medo de um domínio crescente do catolicismo gerava tensões entre protestantes e católicos. Essa obra surge como uma resposta ao problema das disputas religiosas e à crescente interferência da religião nas questões políticas e sociais. Locke defende a ideia de que a autoridade do governo deve ser limitada à proteção da lei civil e que as questões religiosas pertencem à esfera privada do indivíduo. Ele argumenta que a tolerância religiosa é essencial para a convivência pacífica e que o governo não deve impor ou interferir nas crenças religiosas das pessoas. O filósofo também enfatiza que as leis devem ser elaboradas de forma coletiva pelos cidadãos, refletindo uma visão de liberdade e respeito pelas diferenças. A obra teve grande impacto na promoção da liberdade religiosa e influenciou profundamente o pensamento sobre os direitos individuais e a separação entre igreja e Estado.

Ensaio sobre o Entendimento Humano (1689)

capa do livro Ensaio sobre o Entendimento Humano, de John Locke

Ensaio sobre o Entendimento Humano é uma das obras mais importantes de John Locke, fundamental para o desenvolvimento da epistemologia moderna. Publicada em 1689, nesta obra Locke rejeita a ideia platônica de que nascemos com ideias inatas e propõe uma nova concepção sobre o conhecimento humano. Ele argumenta que a mente humana é uma "tábula rasa" (uma folha em branco) ao nascer, ou seja, não possui ideias ou conhecimento pré-existentes. Para Locke, todo conhecimento deriva da experiência, que ocorre de duas formas principais: as sensações, que nos fornecem ideias simples sobre o mundo externo, e a reflexão, que nos permite formar ideias mais complexas a partir dessas experiências sensoriais. Assim, Locke estabelece a base para uma teoria empírica do conhecimento, segundo a qual a experiência é a única fonte confiável de todo saber humano. A obra teve grande impacto no empirismo e influenciou o pensamento filosófico sobre como adquirimos e construímos o conhecimento.

Segundo Tratado sobre o Governo Civil (1689)

capa do livro Segundo Tratado Sobre o Governo Civil, de John Locke

Segundo Tratado sobre o Governo Civil é uma publicação significativa de John Locke e uma das principais fontes do surgimento do liberalismo moderno. Escrito de forma anônima, o livro foi publicado com o objetivo de combater o absolutismo monárquico, que defendia o poder divino dos reis. Locke argumenta que os indivíduos possuem direitos naturais inalienáveis, como a vida, a liberdade e a propriedade, e que a principal função do governo é proteger esses direitos. Ele refuta a ideia de que o governo se origina da vontade divina e propõe que o poder político surge de um contrato social entre os indivíduos. Para Locke, o Estado é formado por homens que se reúnem para garantir a preservação da liberdade, que é assegurada pela inviolabilidade do corpo, pelo respeito às leis e pela proteção do direito à propriedade. Além disso, Locke introduz a ideia de separação dos poderes, propondo que os poderes executivo, legislativo e federativo estejam em “mãos” distintas. O livro defende que o governo deve ser limitado, baseado no consentimento dos governados, e que sua principal função é garantir os direitos naturais.

O que são os Direitos Naturais para John Locke?

Para John Locke, os direitos naturais são direitos fundamentais que todo ser humano possui desde o nascimento, independentemente de qualquer autoridade ou sistema legislativo. Locke identificou três direitos naturais essenciais: o direito à vida, à liberdade e à propriedade privada. Esses direitos são considerados inalienáveis, ou seja, não podem ser retirados de um indivíduo, nem mesmo pelo governo. O filósofo acreditava que a principal função de um governo legítimo era proteger esses direitos, e que qualquer governo que violasse tais direitos perderia sua legitimidade. A proteção desses direitos era a base para a formação de uma sociedade justa e para a preservação da liberdade individual.

O que é a Tábula Rasa de John Locke?

A “tábula rasa” é um conceito central na epistemologia de John Locke, apresentado em sua obra Ensaio sobre o Entendimento Humano (1689), e refere-se à ideia de que, ao nascer, a mente humana é semelhante a uma "folha em branco", sem qualquer conteúdo ou ideias inatas. Locke rejeita, assim, a concepção cartesiana e platônica de que certos conhecimentos ou ideias são inatos, argumentando que todos os conceitos e saberes do ser humano provêm da experiência. Segundo Locke, a mente humana, ao invés de ter ideias pré-existentes, é um receptáculo vazio que vai sendo preenchido ao longo da vida através de duas fontes principais de experiência: as sensações e a reflexão.

As sensações referem-se às percepções que o indivíduo recebe do mundo externo por meio dos sentidos, enquanto a reflexão diz respeito à experiência interna, ou seja, ao processo de pensar sobre as próprias percepções e experiências sensoriais. A partir dessas fontes de experiência, Locke sustenta que as ideias se formam e evoluem, sendo, portanto, adquiridas e não inatas.

A teoria da tábula rasa tem implicações profundas na concepção de conhecimento de Locke. Ela coloca a ênfase na experiência como a única fonte válida de conhecimento, o que é uma pedra angular do empirismo, corrente filosófica da qual Locke é um dos principais expoentes.

Além disso, o conceito de tábula rasa também tem consequências na filosofia política de Locke, especialmente em sua defesa da liberdade e da igualdade natural dos indivíduos. Se as ideias e os comportamentos são moldados pela experiência, então não há uma natureza humana fixa e determinada desde o nascimento, o que justifica a visão de Locke de que a sociedade deve ser construída com base no consentimento e na experiência dos indivíduos, e não em hierarquias ou modelos predeterminados.

Qual a diferença entre o pensamento de Hobbes e Locke?

A principal diferença entre John Locke e Thomas Hobbes reside em suas visões sobre a natureza humana e o papel do governo. Hobbes, em sua obra Leviatã, tem uma visão pessimista da natureza humana, acreditando que, sem a autoridade central de um soberano absoluto, os seres humanos viveriam em uma "guerra de todos contra todos", motivados pelo egoísmo e pela busca de autopreservação. Para ele, o contrato social implicava a entrega total do poder a um governante centralizado, o "Leviatã", cuja autoridade deveria ser absoluta para garantir a paz e a ordem.

Locke, em contraste, tinha uma visão mais otimista sobre a natureza humana. Embora reconhecesse o egoísmo humano, ele acreditava que as pessoas eram racionais e podiam viver em harmonia no estado de natureza, desde que respeitassem os direitos dos outros. Para Locke, o contrato social tinha como objetivo proteger os direitos naturais à vida, liberdade e propriedade, e o governo deveria ser limitado e baseado no consentimento dos governados. Ao contrário de Hobbes, Locke não defendia um governo absoluto, mas sim um sistema de separação dos poderes, onde o governo poderia ser deposto caso violasse os direitos naturais dos cidadãos.

Em relação à propriedade, enquanto Hobbes acreditava que a propriedade só surgiria com a criação do Estado, Locke via a propriedade como um direito natural inalienável, que já existia no estado de natureza e deveria ser protegida pelo governo. Assim, a propriedade era adquirida por meio do trabalho e da utilização dos recursos naturais, e o governo tinha o dever de protegê-la.

Portanto, enquanto Hobbes defendia um governo absoluto e centralizado para evitar o caos, Locke propunha um governo limitado, baseado na proteção dos direitos naturais e no consentimento dos governados. Ambos influenciaram profundamente o pensamento político moderno, com as ideias de Hobbes sendo mais relevantes para o absolutismo e as de Locke para o liberalismo e os direitos humanos.

Locke e os Pensadores Iluministas

John Locke foi uma figura central entre os pensadores do Iluminismo, cujas ideias influenciaram profundamente o desenvolvimento do pensamento moderno. Ele defendeu a importância da razão e da experiência sensorial como fontes do conhecimento, estabelecendo as bases para o empirismo. Sua teoria dos direitos naturais, que inclui os direitos à vida, liberdade e propriedade, teve grande impacto na formação das ideias iluministas sobre os direitos humanos e o papel do governo.

Pensadores iluministas como Voltaire, Montesquieu e Rousseau foram fortemente influenciados por Locke, especialmente em suas críticas ao absolutismo e na defesa da liberdade individual. Immanuel Kant, embora crítico do empirismo de Locke, também reconheceu sua importância. Kant desafiou a visão lockeana ao argumentar que a mente humana não é passiva, mas ativa na organização do conhecimento, introduzindo a ideia de categorias a priori que moldam nossa percepção da realidade. Apesar das divergências, tanto Locke quanto Kant foram fundamentais para a epistemologia.

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Conclusão

John Locke foi um dos pensadores mais importantes da filosofia iluminista, com suas ideias sobre conhecimento, direitos naturais e governo limitado, influenciando profundamente as teorias políticas e filosóficas subsequentes. Seu legado é especialmente marcante no campo do liberalismo, onde suas ideias sobre a liberdade individual, estado laico e separação dos poderes formaram as bases das sociedades democráticas.

Perguntas Frequentes sobre John Locke

Quais são as principais obras de John Locke e suas contribuições filosóficas?

As principais obras de John Locke incluem “Ensaio sobre o Entendimento Humano”, “Segundo Tratado sobre o Governo Civil” e “Carta sobre a Tolerância”. Locke foi fundamental para o desenvolvimento do empirismo, defendendo que todo o conhecimento deriva da experiência. Na política, suas ideias sobre os direitos naturais e o governo baseado no consentimento dos governados influenciaram profundamente o liberalismo e as democracias modernas.

Como a visão de Locke sobre o governo difere da de Hobbes?

John Locke acreditava que o governo deveria ser limitado e baseado no consentimento dos governados, com o objetivo de proteger os direitos naturais, como a vida, liberdade e propriedade. Em contraste, Thomas Hobbes defendia um governo absoluto e centralizado, acreditando que a humanidade necessitava de um soberano forte para evitar o caos e a guerra de todos contra todos. Locke via o governo como um guardião da liberdade, enquanto Hobbes o via como uma necessidade para garantir a ordem.





Referências

https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-20857/john-locke/

https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke

https://www.britannica.com/biography/John-Locke

Michel Foucault foi um filósofo e psicólogo francês do século XX, que estudou profundamente o conceito de poder na sociedade contemporânea. Desenvolveu a ideia de microfísica do poder, demonstrando que instituições como escolas, hospitais, quarteis e até mesmo grupos de amigos estão permeados por relações de poder, que pretendem docilizar os corpos através da disciplina.

Foucault escreveu obras marcantes como História da Loucura e História da Sexualidade e seu legado é de suma importância não apenas para a Filosofia, mas também para as Ciências Sociais, a Psicologia, a Psiquiatria e a História. Neste artigo, vamos abordar a vida e os principais livros de Michel Foucault, além de conceitos como microfísica do poder, biopoder e panóptico. Confira!



Quem é Michel Foucault?

Paul-Michel Foucault foi um pensador francês que nasceu no dia 15 de outubro de 1926, na cidade de Poitiers, em uma família tradicional de médicos. Ele não atendeu às expectativas de seu pai, Paul Foucault, médico cirurgião e professor de anatomia, que desejava que o filho seguisse a carreira de medicina. Desde jovem, Michel Foucault já revelava um forte interesse por História e Filosofia. Sua mãe, Anna Malapert, ao contrário de seu pai, o apoiou em sua decisão de estudar filosofia.

Em 1945, mudou-se para Paris e no ano seguinte ingressou na Escola Normal Superior de Paris, onde se formou em filosofia. Foi aluno do filósofo Jean Hippolyte, que o introduziu aos trabalhos de Hegel e de Louis Althusser. Foucault se interessou profundamente por psicologia, psiquiatria e psicanálise, além de ter estudado as obras de filósofos como Platão, Hegel, Marx, Nietzsche, Freud e Kant.

Após concluir sua graduação em Filosofia, em 1951, Foucault obteve o diploma em Psicologia no ano seguinte. Aos 28 anos, publicou Doença Mental e Psicologia. Trabalhou alguns anos como diplomata cultural no exterior e, ao retornar à França, publicou o livro A História da Loucura, que o consagraria entre os maiores pensadores contemporâneos. Atuou como psicólogo em hospitais e prisões, além de exercer a docência universitária.

Ao longo de sua trajetória, ministrou palestras em diversas universidades europeias e norte-americanas, incluindo duas passagens pela Universidade de São Paulo (USP), a primeira em 1965 e a segunda em 1975.

Entre 1966 e 1968, Foucault lecionou na Universidade de Túnis, na Tunísia, antes de retornar à França, onde assumiu a direção do departamento de Filosofia na Universidade Paris VIII. Em 1970, foi nomeado professor no Collège de France, onde ocupou a cátedra de História dos Sistemas do Pensamento até sua morte, em 1984.

Sua trajetória intelectual foi marcada por uma incessante busca para compreender as diferentes formas de poder e como elas se manifestam na sociedade. Foucault dedicou-se a investigar como os discursos, instituições e práticas sociais moldam e disciplinam os indivíduos e as sociedades. Sua experiência prática como psicólogo em hospitais e penitenciárias contribuiu para a elaboração de obras como Vigiar e Punir e História da Loucura.

Antes de falecer, ele publicou O Uso dos Prazeres, que analisa a sexualidade na Grécia Antiga, e O Cuidado de Si. Foucault morreu em 25 de junho de 1984, aos 57 anos, em decorrência de complicações relacionadas à AIDS, mas seu legado continua vivo, influenciando as ciências sociais e a filosofia contemporânea.

Se você quiser entender melhor a noção do “cuidado de si” desenvolvida por Foucault, assista às aulas do professor de História da Filosofia Antiga, Mauricio Pagotto Marsola, que abordam a relação entre conhecimento e cuidado de si nos pensamentos de Sócrates, Platão e Foucault. Clique no botão abaixo e veja um trecho da aula gratuitamente:



Quais são as Fases do Pensamento de Foucault?

O trabalho de Foucault pode ser dividido em três fases distintas: a primeira delas é a arqueologia do saber; a segunda, trata do método genealógico, onde ele aborda as formas de poder e a última fase está voltada para suas investigações acerca da sexualidade, com a publicação dos dois últimos volumes da série inacabada História da Sexualidade. Embora frequentemente relacionado ao pós-estruturalismo, Foucault preferia caracterizar seu pensamento como uma investigação crítica da modernidade.

Primeira Fase: A Arqueologia do Saber

Nessa fase, Foucault desenvolve o conceito de arqueologia do conhecimento, focando em como as formas de saber se estruturam ao longo da história e como as ciências humanas surgem e se consolidam. Ele investiga as condições históricas que possibilitam a formação dos saberes, utilizando o seu “método arqueológico”. Também analisou, nesse período, a Filosofia, a Linguística e a Literatura. As principais obras da fase arqueológica são:

  • As Palavras e as Coisas (1966)
  • A Arqueologia do Saber (1969)


Segunda Fase: A Genealogia do Poder

Na segunda fase de sua obra, Foucault passa a entender o poder como algo disseminado por toda a sociedade, em vez de centralizado em uma autoridade estatal, por exemplo. Além disso, ele investiga como as práticas sociais, políticas e morais se formaram a partir de relações de poder, colocando a liberdade em xeque. Influenciado por suas experiências em clínicas e instituições correcionais e pelo método genealógico de Nietzsche, ele examina a evolução das práticas de punição e controle social, além da construção do discurso sobre a sexualidade como forma de controle. Esse período é marcado pela publicação de obras como:

  • Vigiar e Punir (1975)
  • A Vontade de Saber (1976 - primeiro volume de História da Sexualidade)


Terceira Fase: Ética, Moral e Sexualidade

Na terceira fase de sua obra, Foucault se concentra em estudar ética e moralidade, destacando a noção do “cuidado de si", uma prática originada na filosofia grega antiga. Ele investiga como a moralidade e o comportamento sexual foram regulados ao longo da história, vinculando essas questões ao poder e à formação do sujeito ético. Suas principais obras dessa fase incluem:

  • A História da Sexualidade Volume 2: O Uso dos Prazeres (1984)
  • A História da Sexualidade Volume 3: O Cuidado de Si (1984)


Principais Livros de Michel Foucault

Michel Foucault escreveu uma série de obras fundamentais que abordam temas como poder, saber, sexualidade e a formação do sujeito. A seguir, listamos alguns dos principais livros de Michel Foucault:

  • História da Loucura (1961)
  • Doença Mental e Psicologia (1962)
  • O Nascimento da Clínica (1963)
  • As Palavras e as Coisas (1966)
  • A Arqueologia do Saber (1969)
  • Isto Não é um Cachimbo (1973)
  • Vigiar e Punir (1975)
  • História da Sexualidade: Volume 1 - A Vontade de Saber (1976)
  • História da Sexualidade: Volume 2 - O Uso dos Prazeres (1984)
  • História da Sexualidade: Volume 3 - O Cuidado de Si (1984)
  • Microfísica do Poder (1982, coletânea de palestras)
  • A Ordem do Discurso (1971, conferência)
  • Sociedade e Poder (coletânea de palestras de 1977–1978


História da Loucura de Michel Foucault (1961)

capa do livro 'História da Loucura', de Michel Foucault

História da Loucura é considerado o primeiro trabalho significativo de Foucault, no qual ele examina a evolução da concepção de loucura na sociedade ocidental. O filósofo analisa como a loucura foi tratada ao longo da história e como as instituições psiquiátricas desempenharam um papel crucial na marginalização dos indivíduos considerados "loucos".

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Vigiar e Punir (1975)

capa do livro Vigiar e Punir de Michel Foucault

Vigiar e Punir é uma obra que se insere na investigação genealógica de Foucault, que busca entender as origens de certas práticas e discursos, conectando-os com as relações de poder. O filósofo argumenta que as relações de poder geram saberes, e esses saberes, por sua vez, produzem efeitos de poder. No livro, ele analisa a evolução das práticas disciplinares nas sociedades ocidentais, com foco nas prisões, e explora a transição do poder soberano, caracterizado pela violência, para o poder disciplinar, mais sutil e focado na vigilância. O autor revela como esses sistemas de punição passaram a normatizar e controlar os corpos na sociedade moderna.

A Arqueologia do Saber (1969)

capa do livro A Arqueologia do Saber, de Michel Foucault

A Arqueologia do Saber é uma das obras fundamentais de Foucault, onde ele aborda a epistemologia e os métodos utilizados para analisar as disciplinas do conhecimento. O filósofo investiga como as ideias, linguagens e saberes se formam e são legitimados ao longo do tempo dentro das sociedades. O livro se concentra em como as formas de conhecimento são constituídas e como se tornam aceitas e institucionalizadas nas diversas esferas sociais.

História da Sexualidade (1976)

capa do livro História da Sexualidade, de Michel Foucault

Em História da Sexualidade, Foucault analisa como a sexualidade foi moldada como um instrumento de poder nas sociedades ocidentais. No primeiro volume, A Vontade de Saber (1976), argumenta que, em vez de ser silenciada, a sexualidade foi intensamente regulamentada e definida por normas sociais e pelo discurso médico, refletindo relações de poder.

Em 1984, Foucault publicou os volumes O Uso dos Prazeres, que examina a sexualidade na Grécia Antiga, e O Cuidado de Si, que aborda a Roma Antiga. A série de livros sobre a sexualidade permaneceu inacabada, mas os livros que foram publicados analisam a constituição do desejo sexual e como ele foi regulado ao longo do tempo, destacando o papel das instituições sociais nesse processo.

O que é o Biopoder de Michel Foucault?

O conceito de biopoder em Michel Foucault descreve formas de poder que não se manifestam por meio de proibições diretas, mas pelo controle da vida em sociedade. O filósofo introduz o conceito de biopoder no livro História da Sexualidade, relacionando a ideia a uma forma do Estado controlar os indivíduos, através de políticas públicas, coletas de dados e disciplina dos corpos.



A disciplina agiria de forma mais sutil, mas igualmente eficaz na subjugação das pessoas, em comparação com o poder soberano. Foucault descreve assim a microfísica do poder, exercida em instituições como escolas, hospitais, prisões e fábricas, onde técnicas disciplinares adestram os indivíduos. Por outro lado, ele também aborda a macrofísica do poder, controle exercido por uma autoridade central, como um monarca, que usava o medo e punições físicas para dominar a população. Assim, Foucault propõe que o poder não se limita à violência explícita, mas se espalha por formas sutis de controle que influenciam os comportamentos e a subjetividade dos indivíduos.

Mecanismos de Adestramento dos Corpos para Foucault

MECANISMOS DE ADESTRAMENTO RESUMO
Arte da Distribuição Distribuição dos Corpos no Espaço, em Quadriculamentos, em locais como indústrias, hospitais, escolas
Controle das Atividades Controle do Tempo, do horário em que as pessoas entram e saem de determinadas instituições, como escolas, quarteis
Organização das Genesis Como são as técnicas para a evolução da aprendizagem
Composição das Forças Combinações de indivíduos que promovem uma maior docilidade e utilidade. Cada corpo se constitui uma peça numa engrenagem, onde há uma obediência por meio de sinais


O Panóptico e a Vigilância Social em Michel Foucault

Em Vigiar e Punir, Foucault utiliza a metáfora do panóptico – uma estrutura prisional idealizada pelo filósofo Jeremy Bentham – para ilustrar como as instituições modernas utilizam a vigilância constante para disciplinar os corpos e adestrar comportamentos.

O panóptico é uma torre localizada no centro de uma prisão que permite a observação de todos os prisioneiros, criando uma sensação de vigilância permanente. Foucault estende essa metáfora à sociedade contemporânea, sugerindo que estamos constantemente sob observação, com a possibilidade de punição a qualquer momento.

Nesse sistema, cada indivíduo se transforma, potencialmente, em um observador de si mesmo e dos outros. Foucault afirma que a vigilância não se limita a punir, mas também incentiva a auto-monitorização, resultando na internalização das regras e no controle dos comportamentos. Para ele, as prisões não têm o objetivo de reabilitar os indivíduos, mas sim de exercer controle sobre eles. De forma semelhante, instituições como escolas, fábricas, quartéis e hospitais operam como prisões, impondo normas e disciplinando os corpos dos seus membros.

Conclusão

Michel Foucault transformou profundamente a maneira como compreendemos as relações de poder e saber nas sociedades contemporâneas. Sua análise das instituições, da disciplina e da produção do conhecimento continua a ser uma referência essencial para os pensadores atuais. O impacto de suas ideias se reflete na forma como hoje entendemos o controle social, as estruturas de poder e os mecanismos de manipulação social.

Perguntas Frequentes sobre Michel Foucault

O que é a Microfísica do Poder para Foucault?

A microfísica do poder é o conceito de Foucault que descreve o poder como algo disperso e exercido em pequenas interações cotidianas. Ao invés de ser centralizado em um governante ou uma autoridade única, o poder circula por diversos espaços e práticas sociais, como nas escolas, hospitais, fábricas e prisões. Esse poder é mais sutil, mas igualmente eficaz, pois se manifesta em normas e comportamentos que moldam a sociedade.

Qual é a diferença entre o poder soberano e o poder disciplinar segundo Foucault?

Foucault diferencia o poder soberano, caracterizado pela violência direta e pela punição física (como execução e tortura), do poder disciplinar, que age de maneira mais sutil, com o objetivo de normatizar e controlar o comportamento por meio de vigilância e práticas de disciplina. O poder disciplinar, ao contrário do soberano, cria sujeitos "dóceis" por meio de técnicas que regulam os corpos e comportamentos.





Referências

https://colunastortas.com.br/michel-foucault/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_Foucault

Carl Gustav Jung foi um psiquiatra suíço nascido em 1875 que impactou campo da psicologia ao criar a Psicologia Analítica, uma abordagem que enfatiza a importância do inconsciente coletivo e dos arquétipos na formação da psique humana.

As teorias de Jung, envolvem conceitos como os de personalidade extrovertida e introvertida, e o processo de individuação, que continuam a influenciar a psicologia contemporânea e outras áreas do conhecimento, como a filosofia, a literatura e a ciência das religiões.

Com uma visão diferenciada, que integrou aspectos do ocultismo e da filosofia, Jung se destacou por explorar os mitos e símbolos universais, sendo muitas vezes considerado um místico devido ao seu vasto interesse por temas transcendentes. A Casa do Saber se consolidou como referência nacional em cursos sobre Jung e psicologia analítica. Portanto, neste artigo, vamos mostrar o vasto conteúdo disponível acerca do autor, bem como aspectos marcantes de sua vida e obra, destacando alguns dos principais livros que fundamentam sua teoria.



Quem é Carl Jung?

Carl Gustav Jung foi um psiquiatra e psicoterapeuta nascido em 26 de julho de 1875, em Kesswil, na Suíça. Seu pai, Paul Jung, era um pastor protestante que estudava as línguas orientais e sua mãe, Emilie Preiswerk, era uma mulher com forte ligação ao espiritismo.

Aos quatro anos de idade, Jung e sua família se mudaram para Basileia, cidade que já era um centro cultural da Suíça. Embora tenha sido filho único até os nove anos, Jung perdeu três irmãos ainda na infância, o que deixou marcas profundas em sua psique e no seu desenvolvimento emocional. Diante desse cenário complexo, o pequeno Jung formou uma personalidade observadora e reflexiva.

Ele passou a infância no campo, nutrindo um forte interesse pela natureza. Gostava de história, de filosofia e se sentia atraído pelo misticismo. Apesar disso, não desejou seguir a carreira religiosa do pai e foi estudar medicina na Universidade da Basileia, dando continuidade à tradição médica de sua família, já que seu avô e bisavô foram médicos muito respeitados.

Após completar seus estudos em Medicina, Jung mergulhou na psiquiatria, atuando no hospital psiquiátrico de Burghölzli, em Zurique, onde começou a elaborar suas ideias sobre a mente humana. No início de sua carreira, ele foi influenciado pelas ideias de Sigmund Freud, mas com o tempo se distanciou das abordagens psicanalíticas do mestre, desenvolvendo sua própria teoria: a psicologia analítica.

Essa nova perspectiva dava ênfase ao inconsciente coletivo, um conceito revolucionário que sugere que todos os seres humanos compartilham uma camada profunda de experiências e símbolos universais.

Jung se formou em medicina em 1900 e casou em 1903, aos 28 anos, com Emma Rauschenbach. Nessa época, ele já exercia a função de médico assistente em um hospital psiquiátrico. Emma era filha de Johann Rauschenbach, um grande empresário da Suíça, proprietário da renomada fabricante de relógios de luxo IWC Schaffhausen (International Watch Company),

O casamento com Emma proporcionou a Jung uma base financeira sólida, o que lhe permitiu se concentrar ainda mais em suas pesquisas e na elaboração de suas teorias inovadoras sobre a psique humana.

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A obra de Jung não se limitou à psicologia; ele também se dedicou ao estudo da religião, da mitologia, da alquimia e da filosofia. Para compreender o legado do psiquiatra, você pode ter acesso a uma introdução guiada e descomplicada ao pensamento de Jung, que vai te conduzir de uma forma simples aos principais conceitos e reflexões do criador da psicologia analítica.

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Entre as inúmeras inovações de Jung, o processo de individuação se destaca como um dos pilares centrais de sua teoria. Este processo é entendido como uma jornada profunda de autodescoberta, que visa a integração dos aspectos conscientes e inconscientes da psique. Essencial para o pleno desenvolvimento do ser humano, a individuação se tornaria um conceito fundamental e duradouro no legado de Jung.

Carl Jung faleceu aos 85 anos de idade, no dia 6 de junho de 1961, em sua casa, nas margens do lago de Zurique, após uma embolia e um acidente vascular cerebral.

Principais Livros de Carl Jung

Carl Jung deixou uma vasta obra, com mais de trinta livros que trazem suas ideias e conceitos sobre a psique humana. Os livros de Jung continuam a ser leitura essencial para aqueles que desejam entender profundamente a natureza humana e a dinâmica da mente.

A seguir listamos alguns dos principais livros do psiquiatra e pensador:

O Homem e Seus Símbolos (1964)

capa do livro 'O Homem e Seus Símbolos, de Carl Jung

Este foi o último livro escrito por Jung e tinha o objetivo de tornar suas ideias mais acessíveis ao leitor não especializado na área. Na obra, ele explica a importância dos símbolos e dos sonhos para o autoconhecimento.

O Eu e O Inconsciente (1928)

capa do livro O Eu e O Inconsciente, de Carl Jung

Nesta obra, Jung investiga a dinâmica entre a parte consciente da psique, representada pelo “eu”, e as profundezas do inconsciente, que incluem o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. O livro foi escrito durante a Primeira Guerra Mundial e as consequências psicológicas do conflito na psique coletiva motivaram a produção desta obra.

Memórias, Sonhos, Reflexões (1961)

capa do livro Memórias, Sonhos, Reflexões, de Carl Jung

É uma autobiografia de Carl Jung, organizada e editada por Aniela Jaffé, que oferece insights profundos sobre sua própria jornada de individuação e os eventos que influenciaram a elaboração de suas teorias.

Psicologia e Alquimia (1944)

capa do livro Psicologia e Alquimia, de Carl Jung

Aqui, Jung faz uma interpretação psicológica da alquimia medieval, mostrando a relação entre a simbologia alquímica e o desenvolvimento da personalidade.

Passo a Passo para entender a obra de Jung com Tatiana Paranaguá

A psicóloga e diretora do Centro Junguiando Clínica e Estudo de Psicologia Analítica, Tatiana Paranaguá, disponibiliza diversos cursos sobre o pensamento de Jung, na plataforma on demand da Casa do Saber.

Nos cursos, ela traz para a atualidade muitos conceitos desenvolvidos por Jung, através de temas como a imaturidade e os vínculos fantasmas, as escolhas amorosas, os predadores emocionais, a busca de sentido para a vida, dentre outros.

A seguir, você encontra uma sequência de cursos específicos para entender a obra de Jung através da visão de Tatiana Paranaguá, profissional de referência nos estudos junguianos, que já atuou como comentarista nos programas “Encontro com Fátima Bernardes" e "Mais Você", ambos da Rede Globo. Confira abaixo os cursos dela na plataforma:

  • Quatro Livros para Entender Jung
  • Em Busca do Sentido da Vida: Jung e o Processo de Individuação
  • As Escolhas Amorosas segundo Jung
  • Imaturidade e Vínculo Fantasma: Um Sintoma Atual
  • Predadores Amorosos: Uma Visão Junguiana Sobre Relações Corrosivas
  • Os Papéis da Vida: Entre as Projeções Pessoais e Profissionais
  • O Sagrado Segundo Jung


Para acessar os cursos de Tatiana Paranaguá sobre Jung, clique no botão abaixo e tenha uma visão completa das aulas online, com o resumo de todos os conteúdos disponibilizados na Casa do Saber.

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Quatro Livros para Entender Jung

Neste curso, a psicóloga Tatiana Paranaguá analisa a importância de quatro livros essenciais de Carl Jung para compreender a psicologia analítica. Os livros são:

  1. Memórias, Sonhos, Reflexões (1961)
  2. O Homem e Seus Símbolos (1964)
  3. Seminários sobre Psicologia Analítica (1925)
  4. A Natureza da Psique (1947)


Através de sua abordagem, Tatiana oferece uma visão clara sobre os principais conceitos e teorias junguianas. Confira a seguir o trailer do curso Quatro Livros para Entender Jung:

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Jung e a Psicologia Analítica

A psicologia junguiana é conhecida por sua visão profunda da psique humana. Diferentemente da psicanálise freudiana, que atribui a origem dos conflitos psíquicos à traumas sexuais, Jung acreditava que existem outras causas para essas questões. Nesse sentido, ele elaborou o processo de cura e integração por meio da individuação, um caminho psicológico e espiritual pelo qual uma pessoa se torna o que ela realmente é, integrando as diferentes partes da sua psique e alcançando a realização pessoal e um sentido mais profundo para a vida.

Para Jung, a psicologia analítica não estava destinada apenas a tratar doenças mentais, mas também seria uma ferramenta para o autoconhecimento e o crescimento espiritual. Ele acreditava que, ao reconhecer e integrar os arquétipos junguianos e os conteúdos do inconsciente coletivo, as pessoas poderiam alcançar um estado de equilíbrio interno.

O Inconsciente Coletivo

O conceito de inconsciente coletivo é fundamental na teoria junguiana. Diferente do conceito de inconsciente, desenvolvido por Freud, que seria único e individual, o inconsciente coletivo refere-se a um depósito de imagens, símbolos e experiências compartilhadas por toda a humanidade. Esses conteúdos são universais e aparecem em manifestações culturais, como fábulas, mitos e lendas coletivas, independente do período histórico. Jung nomeou esses símbolos universais do inconsciente coletivo de arquétipos. Seriam representações de elementos primordiais e fundamentais que influenciam a psique humana.

Segundo Jung, o reconhecimento desses arquétipos, tanto na psique individual quanto nas culturas, é essencial para a compreensão do comportamento humano e dos processos psíquicos. Ele aprofundou os estudos sobre o inconsciente coletivo nas obras “Os arquétipos e o inconsciente coletivo” e “O Eu e o Inconsciente”.

Arquétipos Junguianos: O que São e Como Funcionam?

Os arquétipos junguianos são padrões universais de pensamento, emoção e comportamento que existem no inconsciente coletivo da humanidade. Esses arquétipos representam elementos fundamentais da experiência humana e se manifestam de maneiras semelhantes em todas as culturas e épocas, sendo reconhecíveis em mitos, sonhos, religiões e contos populares.

Jung acreditava que o inconsciente coletivo, ao contrário do inconsciente pessoal, é uma camada compartilhada de experiências e representações, herdada ao longo da evolução humana. Os arquétipos são, portanto, formas primordiais de energia psíquica que influenciam nossos comportamentos, pensamentos e emoções de maneiras profundas e instintivas, muitas vezes fora da nossa consciência direta. Nesse sentido, até mesmo as escolhas amorosas seriam influenciadas inconscientemente pelos arquétipos.

Entre os arquétipos junguianos mais conhecidos estão:

ARQUÉTIPOS JUNGUIANOS RESUMO
O Herói Representa a parte de nós que busca enfrentar desafios, superando obstáculos e buscando crescimento. O herói é muitas vezes associado à jornada de transformação, superação e descoberta, como vemos em histórias mitológicas.
A Sombra Refere-se aos aspectos da personalidade que são reprimidos ou negados pela consciência, como os sentimentos, desejos e comportamentos indesejáveis. Para Jung, assumir a sombra é essencial no processo de individuação.
A Grande Mãe É o arquétipo da nutrição, cuidado e proteção, mas também pode ter um aspecto destrutivo e devorador, que pode se manifestar em formas de controle excessivo, rejeição ou dependência. Está associada tanto à maternidade quanto à figura da terra ou natureza.
A Persona Representa a máscara ou fachada que mostramos ao mundo, a identidade social que adotamos para nos adaptar às expectativas da sociedade. A persona pode ser uma fonte de conflito quando a pessoa se identifica excessivamente com essa fachada, negligenciando seu verdadeiro eu.


O Processo de Individuação segundo Jung

O processo de individuação é uma jornada que Jung desenvolveu com o objetivo de ajudar as pessoas a alcançarem a saúde através da manifestação da sua essência. Ele acreditava que cada pessoa tem o potencial de se tornar um indivíduo único e autêntico ao integrar os aspectos conscientes e inconscientes da psique. Esse processo envolve o confronto com a sombra, o reconhecimento dos arquétipos junguianos e a aceitação das diversas facetas do eu.

Jung acreditava que esse caminho de autodescoberta é muitas vezes árduo, mas é essencial para alcançar a realização pessoal. Ao longo do processo, o indivíduo transcende as limitações de sua personalidade egóica e alcança um estado de maior equilíbrio e autenticidade.

Carl Jung compreendia a individuação como o caminho para se tornar um ser verdadeiramente único, atingindo uma singularidade profunda ao integrar o “si mesmo”. Segundo ele, esse processo de autodescoberta e realização pessoal geralmente ocorre na segunda metade da vida, quando o indivíduo, após construir suas relações externas e consolidar seu papel na sociedade, volta-se para dentro, em busca de aspectos reprimidos ou esquecidos de sua psique.

Esse processo de individuação não é fácil, e envolve um constante confronto com os próprios medos, desejos e projeções. Mas é, segundo Jung, o caminho para alcançar uma vida plena e verdadeira, livre das amarras da inconsciência e da imaturidade emocional.

O Sagrado na Psicologia Junguiana

Jung dedicou uma parte significativa de sua obra ao estudo da espiritualidade e do sagrado, considerando-os expressões essenciais do inconsciente coletivo. Em suas análises, ele explorou a relação entre os indivíduos e as imagens e símbolos do sagrado, frequentemente herdados de suas culturas ou experiências passadas.

À medida que Jung aprofundava seus estudos sobre o inconsciente coletivo e os arquétipos, ele ampliava também sua visão sobre o sagrado. Para ele, o sagrado não se restringe a práticas religiosas ou a uma experiência espiritual formal, mas se revela nas manifestações simbólicas da psique humana.

Assim, Jung reconhece que a busca pelo sagrado seria uma jornada de autoconhecimento e não uma fuga da realidade. Nesse sentido, a religiosidade, em sua forma mais profunda, seria uma resposta da alma humana à necessidade de compreender e integrar as forças interiores e exteriores que influenciam a existência.

Frases de Jung

Carl Jung é conhecido por suas frases profundas sobre a psique humana, a espiritualidade e o autoconhecimento. Algumas de suas frases mais célebres incluem:

  • “Só aquilo que somos realmente tem o poder de nos curar.”
  • "Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro acorda."
  • "O encontro de duas personalidades é como o contato de duas substâncias químicas: se houver uma reação, ambas se transformam."
  • "O que negamos em nós mesmos, torna-se o nosso destino."
  • "A sua visão se tornará mais clara apenas quando você olhar para o seu coração."
  • “Tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a uma melhor compreensão de nós mesmos.”


Perguntas Frequentes sobre Carl Jung

Quem foi Carl Jung?

Carl Gustav Jung foi um psiquiatra e psicoterapeuta suíço, o fundador da psicologia analítica, que revolucionou a compreensão do inconsciente humano, introduzindo conceitos como inconsciente coletivo, arquétipos junguianos e individuação.

Quais são as principais ideias de Jung?

As principais ideias de Jung incluem a teoria do inconsciente coletivo, os arquétipos junguianos, o processo de individuação e a relação entre a psicologia e a espiritualidade.

Conclusão

O trabalho de Carl Jung oferece reflexões profundas sobre a psique humana. Seus conceitos de inconsciente coletivo, arquétipos e individuação continuam a ser de grande relevância para psicólogos e terapeutas. Jung propôs a integração dos aspectos sombrios e luminosos da nossa psique, no sentido de alcançar a saúde mental, o autoconhecimento e a realização pessoal.

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Referências:

https://super.abril.com.br/historia/carl-gustav-jung-conheca-o-fundador-da-psicologia-analitica#:~:text=fundador%20da%20psicologia%20anal%C3%ADtica%2C%20tamb%C3%A9m,sobre%20a%20natureza%20do%20inconsciente.

https://jungnapratica.com.br/vida-de-jung/

https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/105/jung-vida-e-obra

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