Blog | Casa do Saber
Boas vindas ao blog da Casa do Saber, o espaço do conhecimento. Conheça a história de grandes pensadores, entenda suas ideias e reflita sobre o mundo em que vivemos
Novidades
Últimas Postagens
A alquimia no desenvolvimento da psicologia analítica de Carl Jung
Ella Barruzzi
This is some text inside of a div block.
A alquimia no desenvolvimento da psicologia analítica de Carl Jung
Saiba mais sobre a ligação entre psicologia e alquimia, uma das bases para a terapia junguiana de Carl Jung.

No senso comum, quando falamos em alquimia, geralmente, a primeira coisa que nos vem à cabeça é o famoso livro de Paulo Coelho: “O alquimista”, que conta a história de um jovem pastor que parte em busca de seu "tesouro pessoal" após ter um sonho recorrente – o que não se afasta tanto assim do que Carl Jung nos fala sobre o tema.

A alquimia é um processo comentado há muitos séculos pela sua capacidade de transformar metais comuns em ouro, além de alcançar a pedra filosofal. E, para que possamos entender as metáforas e histórias por trás dos símbolos da alquimia e seus significados, a psicologia analítica nos fornece conceitos e elementos estudados e interpretados por Jung, que nos levam ao caminho da transformação interior, ou seja, rumo à individuação.

Imagem estilo chinês, toda em tons de amarelo, que apresenta à esquerda um senhor ajoelhado, oferecendo um cadinho alquímico. Ao centro um cadinho alquímico em tamanho grande, saindo fumaça. À direita, um senhor mostra a figura central para um nobre, com vestimentas elegantes em tons de preto e dourado.

Como Carl Jung alinhou psicologia e alquimia

Em 1928, a alquimia passou a fazer parte da vida de Jung. Isso aconteceu por meio de um texto da alquimia chinesa, que chegou até ele por intermédio de Richard Wilhelm, conhecedor da psicologia analítica e consciente de que o conteúdo estava alinhado às pesquisas de Jung naquela época.

Sem dúvidas, esse foi um dos marcos mais importantes, pois a psicologia junguiana toma a própria alquimia como base para o seu desenvolvimento. Carl Jung recorreu a experiências pessoais e sonhos nesse processo, incluindo também a análise de pacientes que relataram episódios complementares.

Todos os textos eram trabalhados através de linguagem simbólica, em que os símbolos reuniam aspectos da consciência e do inconsciente. Foi então que Jung passou a usá-los não apenas como analogias, mas como forma de compreender e se aprofundar nos processos psíquicos.

As práticas alquímicas, em sua busca pela pedra filosofal – símbolo da iluminação –, refletem o processo pelo qual uma pessoa deve passar para expandir a consciência. Esse processo envolve o desenvolvimento psíquico em direção à individuação, que consiste na integração dos aspectos conscientes e inconscientes da psique.



Também podemos citar que ele enxergava diversos arquétipos nas imagens alquímicas, expressando polaridades como, por exemplo: o sol e a lua, a prima matéria e o ouro, o claro e o escuro. Na psicologia analítica, os arquétipos também estão conectados ao inconsciente coletivo, ou seja, à camada mais profunda da mente humana, compartilhada por todos, sem distinção.

Esse processo alquímico, considerado como uma purificação para a transformação, se refletia no próprio processo de individuação, onde é necessário confrontar a sombra – aspectos reprimidos da psique, os quais não queremos acessar –, para que todos os elementos sejam integrados a fim de alcançar um estado de equilíbrio.

De forma mais simples: no processo de individuação, precisamos ser os próprios alquimistas trabalhando a matéria-prima bruta – sombra –, com o objetivo de transformá-la em ouro – autoconhecimento. Mas nem tudo é tão fácil como parece.

Pintura onde um  senhor de barba branca e vestimentas marrons, segura um frasco de vidro de laboratório, contendo um líquido dourado. Em sua frante, se encontra um segundo recipiente, que brilha como se fosse uma luz solar. Ao fundo, um forno à lenha.

O processo de transmutação para alcançar a pedra filosofal

O Opus Alquímico, também conhecido como a Grande Obra, é o termo utilizado para se referir ao processo de transformação que o alquimista busca alcançar – a transmutação de um estado inferior para um estado superior –, criando assim a pedra filosofal.

Ele é dividido em duas partes: operações – atividades realizadas em laboratório – e teoria – aquilo que pode ser observado, meditado e especulado. Sua fundamentação se dá na filosofia hermética, de Hermes Trismegisto e, ao longo do processo histórico, acabou sendo acrescido de ideias dogmáticas cristãs.

Como dito anteriormente, Jung utiliza desse processo como uma metáfora para a individuação, ou seja, a busca pelo autoconhecimento e a integração das diversas partes da psique, tanto conscientes quanto inconscientes. O Opus Alquímico seria então, um caminho simbólico que reflete as etapas da transformação psicológica, tendo alguns elementos principais e etapas específicas:

FASES DA ALQUIMIA DO QUE SE TRATA O PROCESSO
Prima matéria Ponto de partida para a transformação. Na psicologia analítica, é considerada como o estado inicial da psique – aspectos não reconhecidos, reprimidos ou que estão na sombra.
Nigredo Simboliza o enfrentamento da sombra, das partes mais negligenciadas da psique, daquilo que não se quer acessar e que está reprimido no inconsciente. Na análise, pode ser considerada como o momento de confronto, difícil e doloroso, onde medos e traumas tendem a aparecer para serem transformados.
Albedo É onde há a clareza, a fase em que os aspectos sombrios da psique já foram transformados, equilibrados e trazidos à consciência. Nesta fase, é onde acontece a integração dos opostos, além de uma profunda compreensão de si mesmo.
Rubedo Fase final onde ocorre a unificação de todas as partes da psique. Ela representa a conclusão da transformação e a integração total do inconsciente com a consciência – a criação da pedra filosofal, ou seja, o self integrado. Podemos considerar como exemplos para esta fase Buda e Jesus, pois é aqui que ocorre a iluminação.


Mas não podemos nos ater apenas às fases do Opus Alquímico, visto que para que a prima matéria comece seu processo, precisamos pensar também na ideia de Kairós, que nos traz a necessidade de um tempo – momento – adequado para que o trabalho alquímico seja iniciado.

Na clínica, por exemplo, durante o processo terapêutico, o paciente só conseguirá acessar um trauma – um aspecto de sua sombra – quando já tiver passado, previamente, por outras etapas da análise, ou seja, “é chegado o seu Kairós”.

Também é necessário que exista um processo de introspecção e reflexão profunda, denominado meditatio, onde é preciso manter um diálogo com aspectos internos da psique que, muitas vezes, podem ser representados por imagens arquetípicas de anjos da guarda, guias, mentores, gurus ou outras facetas do si mesmo – permitindo assim um contato com a subjetividade, proporcionando uma maior compreensão de elementos do inconsciente.

A partir disso, pode-se concretizar aspectos psíquicos através da imaginatio, que se expressa de símbolos – linguagem de expressão do inconsciente. Isso faz com que tais aspectos se tornem visíveis, pois foram trazidos à consciência. Para que sejam compreendidos, é necessário que esses símbolos estejam conectados a algo já conhecido, para que possam ser revelados.

O Opus Alquímico também necessita de um local apropriado para a operação, como se o “vaso” onde a alquimia é feita servisse como um útero para a própria gestação da pedra filosofal. Muitas vezes, esse lugar, no caso da terapia junguiana, será o próprio setting terapêutico.

Essa é uma atividade considerada sagrada, pois lida com o sublime, se tratando de uma atuação quase secreta ao próprio alquimista, pois ele conhece apenas uma parte do trabalho, enquanto parte dessa busca é ocultada por ela mesma e jogada no inconsciente.

Pintura com um homem vestido de azul, com cabelos e barbas grisalhos, sentado em uma cadeira, utilizando um fole para aumentar o pequeno fogo que se encontra abaixo de um recipiente. Ao seu lado, no chão, encontram-se alguns livros abertos, além de vidros de laboratório.

O que é alquimia e seu desenvolvimento

Assim como a natureza oferece os metais como matéria prima para que o alquimista a transforme em ouro, o inconsciente – ou a vida em geral – nos oferece potencialidades a serem trabalhadas para a integração dos opostos no processo de individuação, a partir da tomada de consciência.

É importante dizer que um dos conceitos fundamentais da alquimia é de que nada é criado do zero, mas sim existe a transformação de tudo. Como na famosa frase: “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, do químico francês Antoine-Laurent Lavoisier (1743-1794), que corresponde à Lei da Conservação das Massas.

De certa forma, essa é uma frase alquímica, pois todas as potencialidades existentes se encontram em nossa psique desde o momento do nascimento. Até porque, quando falamos que é necessário um “vaso” que se assemelha ao útero para que o processo ocorra, muitas vezes, esse retorno ao útero se faz necessário em terapia, com o objetivo de que certos conteúdos do inconsciente sejam acessados para que haja sua integração.

Nesse contexto, a prima matéria é tudo aquilo que é intrínseco ao ser humano – pensamentos, ações, comportamentos, emoções – e, do ponto de vista psicológico, são esses elementos que irão passar pelas transformações do processo alquímico.



Na psicologia analítica, os primeiros aspectos com necessidade de transmutação e aperfeiçoamento são provenientes da sombra, ou seja, tudo aquilo que é rejeitado e ignorado acaba sendo recalcado ou esquecido no inconsciente. E, para além desse conteúdo, também existe o macro, denominado de inconsciente coletivo, que nos influencia através dos arquétipos, conforme já mencionado.

Pintura com um homem de barbas e cabelos grisalhos, misturando um conteúdo em um mini pote, segurando na mão esquerda um livro. Na mesa, alguns potes e uma ampulheta. Ao chão, perto da mesa, alguns livros abertos, enquanto do lado esquerdo, ao fundo da pintura, uma pessoa de joelhos acende uma espécie de forno, onde encontram-se vários frascos de laboratório.

Psicologia e alquimia, do que fala o elemento

Muitos dos processos alquímicos estão intimamente relacionados aos elementos água, fogo, terra e ar, principalmente devido ao paralelo que é feito com os metais. Por exemplo, uma espada é forjada através do refinamento de um metal específico, exposto ao fogo, seguido de seu resfriamento na água. Da mesma forma, ocorre com o material psíquico, que Jung divide da seguinte forma:

  • Calcinatio: elemento fogo. Tem relação com a Rubedo e representa a purificação das chamas. Também é tido como representação das paixões fulminantes e da raiva. Ou seja, se não for um aspecto devidamente trabalhado, tende a ser destrutivo – para o próprio indivíduo ou pessoas ao redor.
  • Solutio: elemento água. Representa a dissolução de aspectos enrijecidos da psique, comportamentos que acabaram sendo consolidados. Pode ser relacionado com a fragilidade, pois para o líquido não existe certo contorno. Ao se quebrar em partes, a quantidade de energia psíquica liberada pode ampliar outros aspectos, afrouxando o sofrimento da consciência. Muitas vezes, no processo de transferência, o paciente identificado com tal reação alquímica tende a se dissolver no terapeuta em busca desse contorno.
  • Sublimatio: elemento ar. Representa a elevação e a transcendência de conteúdos psíquicos. Esse processo busca libertar o indivíduo de padrões mais densos ou materiais, permitindo que sua consciência alcance níveis mais elevados. A Sublimatio está ligada à capacidade de abstração, insight e compreensão de significados mais profundos.
  • Coagulatio: elemento terra. Simboliza a concretização, a materialização de conteúdos psíquicos antes dispersos ou abstratos. Esse processo corresponde à integração dos aspectos inconscientes na consciência, permitindo que ideias e potencialidades se tornem tangíveis e úteis na vida prática. A Coagulatio é essencial para que o trabalho psíquico realizado encontre um equilíbrio sólido e funcional no dia a dia.

Essas quatro operações nos oferecem uma metáfora para a compreensão da jornada alquímica, pois, eventualmente, elas chegarão para todos. Não podemos considerar um passo a passo ou uma jornada linear, mas um caminho com avanços e regressões, idas e voltas, por muitas vezes longo e sinuoso.

À esquerda, um desenho com a figura de um ouroboros, com um pentagrama ao centro, com símbolos e signos, além de uma escrita em hebreu. Do lado esquerdo um sol, do lado direito uma lua, ao centro um olho. Abaixo, um diabo com asas e um rei. À direita, um homem prepara um líquido em um grande frasco enquanto segura uma ampulheta. Abaixo ainda temos a representação de vários símbolos alquímicos como se fosse uma tabela periódica.

Alquimia e terapia, o paralelo da expansão da consciência

A psicologia junguiana, assim como o processo alquímico, envolve uma interação constante entre o mundo interno e externo, onde a matéria – as experiências vividas – refletem os conteúdos psíquicos.
O analista e o paciente trabalham em conjunto para decifrar esses reflexos, projetados nas situações rotineiras ou em eventos que parecem unicamente externos. Trata-se de um processo sutil, pois lida com feridas psíquicas – a sombra.

Portanto, é necessário que o indivíduo respeite seu próprio tempo – Kairós –, para que o seu Opus Alquímico aconteça. Mas mesmo em momentos de pausa (da terapia), o desenvolvimento psicológico não cessa; ele ocorre de forma orgânica, sendo impulsionado pela força natural de evolução da psique.

Acessar tais elementos, por mais doloroso que possa parecer o confronto com a sombra, gera potencial para a transformação da psique e o processo de individuação. Então, assim como o alquimista transforma metais brutos em ouro, o paciente é capaz de transmutar dores e dificuldades em autoconhecimento, integrando seus opostos e ampliando assim sua consciência.

Para tal, o analista tende a ser visto como um elemento fundamental, também como sendo alquimista que, como descrito na citação abaixo, convoca o paciente a tomar posse de sua própria psique:

“Geber requer do artifex as seguintes qualidades psicológicas e caracterológicas: ele deve ter o espírito extremamente sutil e dispor de conhecimentos suficientes acerca dos metais e dos minerais. Assim pois não pode ser grosseiro de espírito ou rígido, nem pode ser voraz ou cobiçoso, indeciso e inconstante. Não deve ser apressado ou presunçoso. Pelo contrário, deve ter firme propósito, longanimidade, perseverança, paciência, docilidade e moderação.”

(Apud Carl Gustav JUNG, Psicologia e Alquimia, p. 282-3).


Quer saber mais sobre este e outros temas relacionados à psicologia analítica? A Casa do Saber possui uma curadoria que oferece os melhores conteúdos por um valor acessível.

Conheça todos os cursos






Referências bibliográficas:

JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia. Petrópolis: Vozes, 2016.

STEIN, Murray. O mapa da alma. São Paulo: Cultrix, 2006.

VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia e imaginação ativa. São Paulo: Cultrix, 2022.

Interpretação dos sonhos, Jung e o processo de análise
Ella Barruzzi
This is some text inside of a div block.
Interpretação dos sonhos, Jung e o processo de análise
Os sonhos não são meras atividades aleatórias do inconsciente, funcionam como ferramenta de autocompreensão e desenvolvimento psíquico.

Com o que você sonhou hoje? Escrever um diário com os episódios desse “streaming noturno” tem se tornado rotina de muitas pessoas, especialmente aquelas que estão em processo de análise, em busca da interpretação dos sonhos.

Geralmente, o objetivo é que a psicologia junguiana auxilie no entendimento não apenas dos elementos presentes, mas também do simbólico e dos arquétipos que compõem a longa jornada entre as diversas atividades cerebrais e psíquicas do sono. Para Jung, isso sempre era um mistério e, para nós, também costuma ser.




Como a análise dos sonhos se torna possível com a psicologia analítica

Segundo Sidarta Ribeiro, no curso "A arte de sonhar: história, ciência e futuro dos sonhos", a capacidade de sonhar é um reflexo da evolução da espécie. Ao longo desse processo, o cérebro se desenvolve em camadas, passando por modificações que se tornam adaptativas, estabelecendo a base para futuros avanços.

Nesse contexto, os animais mamíferos apresentam uma característica marcante: a necessidade de aprendizado cerebral e o amadurecimento por meio de um repertório de memórias. Assim, o sonho e a brincadeira desempenham papéis importantes, auxiliando nessa dinâmica – em um ambiente seguro e afastado da supervisão parental.

Como sendo expressões do inconsciente, para Jung, os sonhos se dão a partir de uma lógica própria, que está para além da consciência. Dessa forma, o inconsciente se comunica através de conteúdos oníricos, que podem ser compostos por cenários, situações, imagens, sentimentos, memórias e até mesmo emoções.

É importante ressaltar que eles não são fenômenos que se delimitam em interpretações únicas – sem sentidos ambíguos –, mas sim com inúmeras possibilidades de análise e significados. Algumas definições foram trazidas por Carl Jung ao apresentar um método de interpretação dos sonhos, em um dos seminários sobre sonhos de crianças, proferido por ele entre 1936 e 1941. São elas:

  • O sonho reflete a resposta do inconsciente a uma experiência ou situação vivida na consciência, ou seja, o sonho traz conteúdos que, de maneira complementar ou compensatória, refletem a impressão deixada pelas experiências do dia. Ele só acontece porque alguma coisa específica foi vivida no dia anterior e precisa ser trabalhada enquanto dormimos.
  • Ele pode ser visto como uma mistura de duas realidades: a que vivemos acordados – consciência –, e a que vem do nosso inconsciente. Na maioria das vezes, não conseguimos apontar um motivo claro do nosso dia para determinada manifestação, sendo assim, o inconsciente cria algo novo e totalmente diferente, entrando em conflito com o que sabemos e vivemos, dando origem ao sonho.
  • Também é uma forma do nosso inconsciente tentar dar um toque peculiar na maneira como vemos e percebemos as coisas de forma consciente. Às vezes, o que sonhamos é tão forte e estranho que acaba influenciando atitudes e, até mesmo, a forma de pensar – um empurrãozinho para sair da estagnação, de vez em quando, vai bem.
  • Alguns deles são bem diferentes e difíceis de entender, já que se apresentam sem relações diretas com o que está sendo vivenciado durante o dia. Sem pé nem cabeça e com surpresas épicas – ou não –, também oferecem significados profundos e importantes. Podem, inclusive, surgir como revelações ou avisos, deixando uma sensação de clareza e ensinamento adquirido.


Muitas pessoas acabam acreditando que os sonhos se limitam ao mundo interno, porém é importante salientar que, na verdade, eles podem refletir percepções sutis do inconsciente, capazes de influenciar aspectos psicossomáticos da saúde e também da doença. No entanto, diagnósticos e prognósticos baseados em sonhos dificilmente seguem uma lógica categórica como no modelo médico atual, o que os torna inadequados para um tratamento sistemático com rigor técnico-científico.

Pintura surrealista em cores vivas, com uma mesa ao centro e elementos dispostos: árvores em miniatura, moldura de quadro e coreto. Ao fundo, um céu multicolorido, com nuvens cinzas e duas janelas.

Sonhos complexos e seu conteúdo onírico

No mesmo seminário, Jung traz uma estrutura que auxilia no desmembrar de sonhos complexos, facilitando a visualização dos conteúdos oníricos, que podem ser classificados de duas formas: manifestos – como o sonho é lembrado pelo sonhador, através dos elementos que aparecem na consciência ao acordar –; e latentes – associados aos significados ocultos ou inconscientes por trás do sonho (desejos, medos, memórias reprimidas e conflitos internos, por exemplo).

Para a interpretação dos sonhos, pode-se considerar os aspectos apresentados no esquema geral trazido abaixo, pois é uma estrutura típica e, segundo ele, dramática:

PARTES DO SONHO PRINCIPAIS DETALHES
Local ou lugar Espaço onde o sonho ocorre, bem como sua época e “Dramatis Personae” – pessoas que sejam protagonistas, antagonistas e personagens secundários, bem como suas relações, características e papéis desempenhados.
Exposição Como o problema se apresenta.
Peripécia (reviravolta ou mudança súbita) Introdução a uma mudança que, no entanto, também pode resultar em um desfecho catastrófico.
Lýsis (solução ou desfecho) Momento em que os conflitos do sonho são resolvidos, conduzindo ao seu possível término. Desfecho que faz sentido para o sonhador, apresentando a natureza compensatória do enredo do sonho.


Com tal esquema, Jung nos oferece um direcionamento capaz de auxiliar no processo de interpretação dos tipos de sonhos e seus significados, onde direciona para uma espécie de desmembramento de características e elementos, atribuindo funções, símbolos e formas a esse conteúdo onírico, como citado anteriormente.

Para isso, é essencial concentrar-se na imagem inicial, utilizando-a como uma espécie de núcleo central. A observação deve ser direcionada e focada, abandonando a ideia de associação livre – que permite aos pensamentos fluírem sem restrições, muitas vezes distanciando a mente do sonho e de sua imagem principal.

A partir dessa abordagem, as camadas do sonho podem ser exploradas de maneira estruturada, garantindo que a imagem central permaneça como base sólida para as associações que se desenvolvem ao seu redor.

Jung também compartilha algumas perguntas que foram utilizadas em casos de análise de sonhos com seus pacientes, tendo "x" como a imagem central:

  • O que vem à mente em relação a x, o que pensa sobre isso?
  • O que mais vem à mente em relação a x?


Quem está à frente de um sonho analisado é sempre o sonhador, um fator que se alinha com a ideia da psicologia analítica de que a fala do paciente vem antes de qualquer teoria.

Pintura surrealista em cores vivas. Chão de areia, como um deserto, onde, ao fundo, observa-se lagoas que se misturam à areia. Céu em tons de azul e laranja com balões voando. Árvore ao fundo e destaque para um relógio vertical antigo, com maquinário exposto, que marca 11h10.

Sabemos interpretar todos os sonhos?

O psicólogo ou analista não sabe do que se trata o sonho e seu significado, não faz ideia ou tem a mínima noção do modo como a imagem onírica se encontra na mente de cada uma das pessoas; é preciso que os símbolos e arquétipos façam sentido para aquele que traz a mensagem, para que possa ser interpretada à luz dos conceitos junguianos.

Amplificar cada um dos elementos do sonho faz com que eles tomem forma – no sentido de se tornarem visíveis. Sendo assim, anotar todas as ideias e expressões que surgem individualmente, irão auxiliar na compreensão do significado como um todo, chegando ao real sentido do fenômeno.

As imagens precisam ser acompanhadas de um contexto, para que possam ser interpretadas por inteiro, sem contar que essa “estratégia” se dá a partir de uma amplificação pessoal e, claro, não podemos nos esquecer daquilo que é coletivo, das imagens universais. Ou até mesmo da cultura onde estamos inseridos, uma vez que as nossas figuras de linguagem já estão envoltas em diferentes tipos de símbolos. De maneira geral, um brasileiro sonhando com um elefante pode associar a imagem a um zoológico, enquanto, para um indiano, ela pode estar ligada a um festival sagrado.

Para esses sonhos onde imagens coletivas – que temos pouca ou nenhuma associação – se encontram em primeiro plano, acabamos não sabendo qual o contexto daquele conteúdo onírico, demandando muito esforço para que os sentidos sejam revelados e entendidos.

Os estudiosos da psicologia analítica sabem o quanto mitologias são importantes para a construção de um embasamento amplo, onde se possa acessar e coletar informações sobre diferentes símbolos, além dos motivos mitológicos. Não à toa, um dos principais sonhos de Jung o levaram a desenvolver um dos seus principais conceitos: os arquétipos.

Pintura surrealista com um homem com vestes orientais ao cenro, parado em um pequeno monte de pedra e grama, que se estende para um lago que se mistura com o céu. Tons de verde, laranja, rosa e azul compõem o chão; enquanto o céu é laranja degradê para o mais escuro do azul. Ao fundo nuvens e um imenso sol, enquanto, ao lado esquerdo, se apresenta, ao longe, um castelo com uma lua.

Para quê você está sonhando?

A psicologia analítica considera os sonhos como um fenômeno natural, não sendo intencional e contendo um modo muito específico de funcionamento, que não é proveniente de vontades, desejos, intenções ou objetivos da consciência.

Por ser algo tão intangível, tem como característica o esquecimento do sonhador, pois sua qualidade efêmera o desconecta do estado desperto, ou seja, quando acordamos, na maioria das vezes, nossa “memória sonhadora” se apaga.

Para Freud, os sonhos funcionam como uma janela para o inconsciente, desempenhando duas funções principais: realizar desejos reprimidos e proteger o sono.

Quando esses desejos são inaceitáveis ou difíceis de lidar, eles se manifestam de forma camuflada nos sonhos, permitindo que sejam explorados de maneira mais aceitável – mesmo conteúdos perturbadores encontram uma forma simbólica de expressão. Ao mesmo tempo, os sonhos têm um papel protetor, garantindo que o descanso não seja interrompido.

Podemos oferecer a Freud um grande mérito, pois foi ele quem abriu o caminho para que possamos interpretar os sonhos, tendo reconhecido, antes de tudo, que a interpretação de nenhum dos conteúdos oníricos pode se dar sem a colaboração do próprio sonhador – o que também é colocado por Jung.

As palavras que formam o relato de um sonho não possuem um único significado, mas múltiplos. Por exemplo, todos sabem o significado da palavra “elefante”, mas o que compõe o sonho como um todo, é muito mais amplo do que uma simples consulta a um dicionário.

Para a interpretação, é necessário contar com a colaboração do sonhador para restringir a variedade de significados das palavras, guiando a análise até o ponto central, onde não restem mais dúvidas.

Do ponto de vista da psicologia analítica, devemos nos questionar sobre o "para quê" – qual é o propósito – de ter tido um sonho específico, em vez de perguntar "por que" se teve. Essa abordagem, buscando entender o objetivo final, deve guiar a análise dos sonhos, pois, frequentemente, não encontraremos uma explicação imediata para um determinado conteúdo.



Durante o processo de interpretação, diversas hipóteses irão aparecer, isso porque o sonho pode ser tão confuso e denso, que demore a fazer sentido – inclusive, existem pacientes que entendem determinados episódios muitos anos depois.

Segundo Von Franz, é algo que acarreta um grande esforço físico, não apenas mental e ela diz: “O inconsciente, entre outras coisas, é um grande brincalhão, e às vezes ele fala direto – bang! Ao anotar o sonho, você dá uma gargalhada e sabe o que significa. Entretanto, muitos dos nossos sonhos não são assim tão óbvios.”

Ela ainda traz a ideia de que não devemos interpretar nossos próprios sonhos, uma vez que eles tendem a tocar em nosso ponto cego, ou seja, nos mostram aquilo que não sabemos – e que, muitas vezes, não queremos acessar. Nesse caso, a projeção acaba sendo inevitável e se mostrarmos a outra pessoa – um analista – ela poderá encontrar o que não podemos ver.

Entre as manifestações psíquicas, os sonhos talvez sejam aqueles que mais nos apresentam elementos "irracionais". Eles parecem ter pouca ou nenhuma coerência lógica e precisam da hierarquia de valores que definem outros conteúdos da consciência, tornando-os assim mais difíceis de entender – sonhos que possuem uma estrutura lógica, moral e estética são exceções.

Imagem psicodélica de um rosto andrógino, de olhos fechados, virado para cima, em tom de azul claro, com cores e luzes saindo dela.

A investigação dos sonhos é tarefa para uma vida inteira

Há pessoas que, de tempos em tempos, têm os mesmos sonhos repetidamente. Isso é mais comum na juventude, mas esse fenômeno pode continuar ocorrendo por muitos anos.

Isso acontece devido ao fato de precisarem elaborar alguns – ou vários – dos conteúdos oníricos ou até mesmo o contexto geral do sonho. Essas repetições acabam sendo as mais importantes para análise, uma vez que novas percepções podem ser atribuídas em cada sessão, facilitando assim o aprofundamento do entendimento do analisado. Geralmente, quando elaborados, esse tipo de sonho para de acontecer, dando lugar a outras formas do inconsciente se revelar.

Durante o sono, ocorre uma interação entre o mundo consciente, representado pelo ego ou "eu sonhador", e o inconsciente, expresso pelos conteúdos que surgem de maneira aparentemente aleatória no sonho. Para Jung, esse processo é tão significativo que ele o vê como uma tentativa de restaurar o equilíbrio psíquico.

Sidarta ainda nos traz a informação de que a nossa capacidade de sonhar dormindo, provavelmente, explica a nossa capacidade de sonhar despertos, ou seja, se relaciona com a nossa capacidade de imaginar. Mas como o processo acontece?

O sono é composto por diferentes fases que envolvem ondas cerebrais – elas não seguem uma única frequência ou um único padrão, mas sim uma sequência complexa e variada de atividade cerebral:

  • Vigília: quando estamos acordados, nosso cérebro está em atividade alfa, com ondas cerebrais na faixa de 10 Hz e olhos fechados – conscientes e alertas.
  • Teta: é a fase inicial do sono, onde as ondas cerebrais caem para uma faixa entre 5 a 7 Hz – começamos a relaxar e a transitar de um estado de vigília para o sono profundo.
  • Fusos corticais: onde ocorrem oscilações rápidas nas ondas cerebrais, com frequências de 10 a 12 Hz, durando de 1 a 3 segundos – são associados à consolidação da memória e ao descanso físico.
  • Complexos K: surgem ondas isoladas que atuam como um tipo de "apagão" no cérebro, interrompendo a atividade neuronal e promovendo uma desconexão temporária da consciência externa.
  • Ondas lentas: caracterizadas por grandes amplitudes e frequências baixas, geralmente abaixo de 4 Hz – aumentam de intensidade à medida que o sono avança, sinalizando um sono mais profundo e restaurador.
  • Sono REM (Rapid Eye Movement): marcado por uma aceleração das ondas cerebrais e uma dessincronização das mesmas – sono paradoxal, onde o cérebro está ativo, mas o corpo está imobilizado. Durante o REM, os sonhos intensos geralmente acontecem.




A cada noite, o ciclo de sono se repete várias vezes, passando por essas diferentes fases de forma contínua, proporcionando descanso e reparação do corpo e da mente.

Jung, tendo se dedicado às investigações dos encontros com entidades oníricas, tanto dormindo quanto desperto – imaginação ativa, imagos –, diz que o sonho prepara o sonhador para o dia seguinte. Essa porta de entrada para o inconsciente nos permite acessar conteúdos, submergindo em seus significados, com o objetivo de que se tornem presentes na consciência, proporcionando insights sobre nós mesmos.

Os sonhos têm uma função significativa, não são meras atividades aleatórias do inconsciente, desempenham um papel tanto retrospectivo – processando o passado –, bem como prospectivo – influenciando o futuro. A capacidade dos sonhos de moldar o estado emocional e mental consciente demonstra sua importância como ferramenta de autocompreensão e desenvolvimento psíquico.

Quer saber mais sobre este e outros temas relacionados à psicologia analítica? A Casa do Saber possui uma curadoria que oferece os melhores conteúdos por um valor acessível.

Experimente a plataforma gratuitamente por 7 dias






Referências bibliográficas

HALL, James A. Jung e a interpretação dos sonhos: um guia prático e abrangente para a compreensão dos estados oníricos à luz da psicologia analítica. São Paulo: Cultrix, 2021.

JUNG, Carl Gustav. Seminário sobre sonhos de crianças: sobre o método de interpretação dos sonhos – Interpretação psicológica de sonhos de crianças. Petrópolis: Vozes, 2011.

JUNG, Carl Gustav. Sobre sonhos e transformações. Petrópolis: Vozes, 2014.

VON FRANZ, Marie-Louise. O

Cansaço mental: sintomas de ansiedade, fadiga, sono, fraqueza
Xavana Celesnah
This is some text inside of a div block.
Cansaço mental: sintomas de ansiedade, fadiga, sono, fraqueza
Cansaço extremo o que pode ser, estresse, burnout, Sociedade do Cansaço, Byung-Chul Han, fraqueza no corpo, angústia, sistema nervoso.

O livro A Sociedade do Cansaço, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, oferece uma análise perspicaz sobre um fenômeno globalizado que afeta milhões de pessoas: a sensação de cansaço e exaustão. Essa sensação tornou-se onipresente na sociedade tecnológica voltada para o desempenho. Existe, em grande parte, uma valorização implícita das pessoas que experimentam esse cansaço extremo, por ele estar associado a um esforço contínuo pela produtividade no trabalho.

Essa admiração, alimentada pela ideologia neoliberal, sugere que a cultura do estar “sempre ocupado” é sinal de sucesso. Contudo, os efeitos dessa entrega excessiva – seja no trabalho presencial, no home office ou nos estudos – resultam em um fardo diário de esgotamento, que pode levar a condições como ansiedade, burnout e depressão. Neste artigo, exploraremos as possíveis causas da sobrecarga mental e como a filosofia de Byung-Chul Han pode nos oferecer uma compreensão ampla da situação, criando ferramentas para redefinir as formas de ação dentro de uma ideologia que exalta o "empreendedor de si mesmo".



Como as redes sociais influenciam na ansiedade?

As redes sociais têm um papel central na sociedade contemporânea, impactando significativamente a saúde mental da humanidade. De acordo com o filósofo Byung-Chul Han, estamos vivendo um contexto de mudança de paradigma, onde ocorre a transição entre a sociedade disciplinar descrita por Michel Foucault, para a sociedade do desempenho. Nessa nova configuração, os limites entre o eu e o outro desaparecem, pois tudo passa a ser visto a partir da preocupação com a própria existência. Como consequência, tudo se transforma em mero reflexo de si mesmo. Em cada situação, o indivíduo enxerga a prolongação de sua própria identidade, e as pessoas acabam enxergando apenas a si mesmas.

Nesse sentido, as redes sociais são o principal veículo por meio do qual as pessoas constroem e afirmam suas próprias identidades. Cada postagem, foto ou atualização é uma forma de autoafirmação narcisista, que visa mostrar ao mundo o quanto o indivíduo é produtivo, bem-sucedido e realizado. Isso reflete a lógica neoliberal que se baseia na ideia de que o sucesso provém do esforço contínuo e permanente.

Cansados e Conectados: O Preço da Busca pelo Reconhecimento nas Redes Sociais

No entanto, essa busca incessante por validação e autoafirmação nas redes sociais tem um custo significativo. Ao se verem como produtos a serem consumidos pelos outros, os indivíduos se sentem compelidos a manter uma produtividade constante. Essa busca por aprovação torna-se uma forma de "empreendedorismo de si", onde a pessoa precisa sempre "vender" a melhor versão de si mesma.

Esse comportamento acaba por produzir uma exaustão psicológica que, em muitos casos, leva a problemas psíquicos como ansiedade, insônia, burnout e depressão, como apontado pelo filósofo Byung-Chul Han. A produtividade ininterrupta, tanto no trabalho quanto na vida social, surge com aparência de liberdade, já que não existem chefes ou horários impostos. Mas, na prática, é uma “falsa liberdade”, pois as pessoas sentem-se na obrigação de realizar entregas virtuais cada vez mais constantes, comprometendo a capacidade de desfrutar de uma vida plena.

Para obter mais conhecimento sobre como superar a ansiedade na era digital, baixe gratuitamente o ebook abaixo, que explica os impactos das redes sociais na saúde mental e o conceito de Brain Rot, termo usado para se referir aos efeitos negativos da exposição contínua aos conteúdos de baixa qualidade das redes sociais. O ebook contém informações do curso da Casa do Saber intitulado Saúde Mental e Estresse: Uma Visão das Neurociências, ministrado pela doutora em Ciências pela UFRJ, Ana Carolina Souza. Preencha o formulário a seguir e tenha acesso ao ebook instantaneamente no seu e-mail:

Banner ebook 'Ansiedade e redes sociais', da Casa do Saber

As redes sociais: uma dependência patológica

As redes sociais, ao promoverem um modelo de produtividade constante, reduzem a vida humana a uma busca incessante por reconhecimento. Assim, o que antes era um espaço pessoal, como a casa ou a privacidade do pensamento, agora se mistura ao olhar e ao julgamento constante do público. Esse processo de exposição contínua cria uma atmosfera de pressão, onde o indivíduo não pode mais se relacionar com sua própria identidade de maneira autêntica, mas em função de como é percebido pelos outros. Assim, a autoafirmação na era digital se torna dependente da validação externa, medida por curtidas, comentários, seguidores, compartilhamentos.

Esse fenômeno revela um paradoxo de liberdade. Em vez de promover a liberdade individual, as redes sociais, na verdade, encorajam uma forma de escravidão contemporânea. Ao acreditar que estão se autoafirmando e sendo livres, os indivíduos acabam presos a uma lógica de produtividade sem fim. O filósofo Byung-Chul Han explica que, no capitalismo neoliberal, a liberdade é confundida com a obrigação de se afirmar constantemente, o que leva a uma exploração do próprio corpo e mente. O indivíduo, ao tentar se destacar e se afirmar nas redes sociais, está, na realidade, se exaurindo, tornando-se incapaz de desfrutar dos próprios momentos de descanso ou de lazer em conexão com outras pessoas.

Essa incessante procura por autossuperação nas redes sociais reflete o modelo de vida capitalista, onde a produtividade desenfreada gera uma exaustão que compromete a saúde mental e emocional. A pessoa, que inicialmente se vê como livre ao produzir e compartilhar sua identidade, acaba se tornando um "morto-vivo", como descreve o já mencionado pensador sul-coreando, presa a um ciclo de atividade e consumo sem limites. Nesse sentido, as redes sociais não apenas refletem essa lógica, mas também a amplificam, tornando o indivíduo cada vez mais dependente da constante validação externa, e cada vez mais distante de alcançar momentos de plenitude que estejam desprovidos de uma função econômica.

Burnout e Redes Sociais

Quem trabalha com redes sociais, seja como social media para empresas ou como empreendedor de si mesmo no digital, sabe que o esgotamento mental é uma constante nesse ambiente virtual de trabalho. Postagens diárias, seja no Instagram ou no TikTok, precisam ter alcance, curtidas, compartilhamentos, engajamento. Portanto, esse tipo de trabalho opera em uma lógica de produtividade ininterrupta, que acaba sugando as energias dos criadores de conteúdo. Principalmente, quando o produtor de conteúdo digital também é o próprio empreendedor, fato que acontece com frequência na sociedade do desempenho que vivenciamos.

A lista de atividades diárias de quem trabalha como produtor de conteúdo digital nas redes sociais é interminável:

  • Fotos
  • Legendas
  • Carrosséis
  • Arte com conteúdo para feed
  • Vídeos para reels
  • Vídeos para story
  • Vídeo para TikTok
  • Caixinhas de perguntas para story
  • Compartilhamento de conteúdo relevante
  • Texto persuasivo de copywriter para vendas


Além da pressão para estar disponível 24 horas por dia, responder imediatamente a mensagens e estar presente em múltiplas plataformas. Tudo isso gera uma sensação de sobrecarga. Se identificou? Muito provavelmente sim.

Mas, o que você talvez ainda não saiba é que a lógica neoliberal tem propagado uma ideia sedutora de liberdade no ambiente virtual. Apesar da aparência de liberdade que essa lógica sugere, ela resulta, na prática, em uma uniformização das experiências de vida. As pessoas, ao acreditarem que estão tomando decisões autônomas, estão, na realidade, sendo moldadas por uma mesma dinâmica de produtividade e consumo. Todos estão seguindo o mesmo caminho: trabalhar mais, se expor mais, alcançar mais.

Nesse sentido, são incentivadas a se perceberem como responsáveis pelo seu próprio destino e pela sua realização pessoal. Mas, essa promessa de autonomia, no entanto, esconde uma realidade de exploração constante. Trata-se da “uberização do trabalho”, uma dinâmica onde as pessoas se percebem como “donas de seu próprio tempo” e acreditam que assim, são livres. Quando, na verdade, estão sujeitas a uma nova forma de subordinação. Ao se verem como empresários de suas vidas, acabam presas a uma rotina de produtividade incessante, sem descanso e sem a possibilidade de se desconectar das demandas virtuais, sociais e econômicas.

Nesse contexto, o trabalho não é mais uma obrigação imposta de fora, como propôs Foucault com sua sociedade disciplinar, mas tornou-se uma escolha que se transforma em uma necessidade constante de atingir metas. A lógica do "empreendedorismo de si mesmo" faz com que o indivíduo se sinta constantemente pressionado a demonstrar sua capacidade nas redes sociais, em um ciclo de validação permanente.

Essa obsessão por produzir e se autoafirmar em todas as esferas da vida intensifica a carga de trabalho e drena as energias emocionais e psicológicas, levando as pessoas a uma exaustão constante. Daí, o surgimento de quadros de muito sono acumulado, estresse e o aumento significativo dos casos de burnout. Dados da Organização Mundial da Saúde indicam um aumento significativo de diagnósticos relacionados a distúrbios mentais, com o Brasil sendo um dos países com maiores índices de síndrome de burnout, um reflexo claro de uma sociedade que sobrecarrega seus cidadãos em nome do desempenho.

A exaustão provocada por essa lógica é uma das consequências mais devastadoras do neoliberalismo. O constante esforço para manter a imagem de sucesso e capacidade leva ao esgotamento físico e mental. O indivíduo, pressionado a se afirmar a todo momento, perde a capacidade de se conectar consigo mesmo e de aproveitar os momentos de lazer. O paradoxo é claro: ao tentar conquistar sua liberdade através do trabalho e da produtividade, as pessoas se tornam cada vez mais escravizadas por essas mesmas exigências. O “empreendedor de si mesmo” está, na realidade, preso a um ciclo de autossubordinação, onde sua identidade é definida unicamente pela sua capacidade de produzir e de se mostrar ativo. E essa dinâmica leva, inevitavelmente, à exaustão, à perda de autonomia real e ao sofrimento psicológico.

Entenda as ideias de Byung-chul Han no curso

thumb do curso 'A Filosofia de Byung-chul Han', por Lucas Nascimento Machado


Veja agora



Como recuperar a saúde mental na Era Digital?

Alcançar o bem-estar psicológico na era das redes sociais exige um esforço consciente para desacelerar e redefinir o que significa bem-estar. A sociedade atual valoriza a produtividade acima de tudo, mas é preciso saber valorizar também a pausa, o descanso. Até mesmo o tempo de lazer é frequentemente visto como algo secundário, um luxo ou até mesmo um desperdício, especialmente em um cenário onde as redes sociais impõem uma imagem de sucesso ininterrupto e constante.

No entanto, é fundamental entender que o descanso genuíno não é apenas uma pausa física, mas também emocional e psicológica. A recuperação da saúde mental começa quando se reconhece que o descanso não deve ser vivenciado com culpa ou com a mesma lógica da produtividade, considerando que as pessoas muitas vezes ficam querendo compartilhar fotos e vídeos de onde estão nas férias; assistir ao máximo de séries e filmes, ler o máximo de livros, fazer o máximo de viagens possíveis. Ou seja, mesmo nos momentos de descanso, a lógica da produtividade continua a mesma.

Isso resulta em um ciclo vicioso de autocobrança, onde não fazer nada é inaceitável e o sofrimento é invisibilizado. Para quebrar esse ciclo, é essencial que as pessoas questionem a forma como se relacionam com o trabalho e a busca pelo sucesso. O verdadeiro descanso envolve parar, refletir e dar a si mesmo permissão para não estar sempre "fazendo algo". Ao interromper o ciclo de exigências, é possível recuperar uma vida mais equilibrada.



Conclusão

Em uma sociedade que induz as pessoas a acreditarem que o resultado de suas conquistas depende exclusivamente de seu esforço, é preciso redefinir o conceito de produtividade. A ideologia dominante pressiona as pessoas a acreditarem que o sucesso é resultado exclusivo do esforço individual. Portanto, é essencial redefinir o conceito de produtividade. Essa lógica do esforço individual impõe uma opressão psicológica que leva muitos a acreditarem que o valor de sua existência e conquistas depende exclusivamente do seu desempenho. Esse pensamento cria uma cobrança constante, onde o indivíduo se vê em um ciclo exaustivo de autossuperação.

Quando os resultados não correspondem às expectativas, o impacto psicológico é profundo, gerando sentimentos de inadequação, frustração e até angústia. Essa pressão por resultados, combinada com a ideia de que não há limites para o esforço, acaba produzindo uma exaustão física e um sofrimento mental significativo, pois a busca incessante por sucesso é vivida como uma obrigação pessoal, e não como uma escolha saudável.

A produtividade também pode envolver momentos de introspecção, cuidado consigo mesmo e conexão com os outros. Integrar esses momentos na rotina, ao lado do trabalho, cria um espaço para a regeneração mental e emocional. Para que isso aconteça, é necessário estabelecer limites claros entre o trabalho e o lazer, respeitando o tempo de desconexão sem que isso seja visto como uma falha. A recuperação da saúde mental não se resume a diminuir o ritmo, mas a reconfigurar as expectativas sobre o que é produtivo e valioso.

Para lidar com a sobrecarga mental imposta pela era das redes sociais, é importante procurar um profissional de saúde habilitado para realizar um tratamento individualizado. Por mais que atitudes possam ser incluídas na rotina no sentido de minimizar os efeitos negativos provocados pela exposição incessante e diária ao universo virtual, o acompanhamento psicológico continua sendo fundamental no processo de recuperação psíquica.

thumb do curso 'Manual Psicanalítico para Viver Melhor no Século 21', por Marcelo Veras




Referências

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/259/a-filosofia-de-byung-chul-han

Psicanálise
Id, Ego e Superego: Entenda os Conceitos de Freud na Psicanálise
Gabriel Cravo Prado
This is some text inside of a div block.
Id, Ego e Superego: Entenda os Conceitos de Freud na Psicanálise
Descubra a estrutura da mente segundo a teoria de Freud sobre o Id, Ego e Superego. Veja como influenciam o nosso comportamento e personalidade.

Entre os conceitos centrais da teoria psicanalítica destacam-se o "Eu", o "Isso" e o "Supereu", que representam diferentes instâncias do aparelho psíquico formulado por Freud. Neste artigo, exploraremos o significado e a função de cada um desses.

Eu, Isso e Supereu

Antes de começarmos, é importante abordar uma questão de estilo na tradução dos termos freudianos. No original alemão, as palavras "Ich", "Es" e "Über-Ich" correspondem, respectivamente, a "eu", "isso" e "supereu" em português. Embora expressões como "id", "ego" e "superego" apareçam em algumas traduções da América Latina, elas não estão tão alinhadas com a escrita de Freud.

Embora esses termos se refiram às mesmas instâncias do aparelho psíquico, podem gerar pequenas variações na terminologia, mantendo, no entanto, o significado essencial. Neste texto, utilizaremos "Eu", "Isso" e "Supereu", por serem mais consistentes ao postulado freudiano.

banner 'Ebook Guia para Entender o Inconsciente '

Nesse texto veremos:



Primeira e Segunda Tópica Freudiana

Os conceitos de consciente, pré-consciente e inconsciente são essenciais para entender a estrutura do aparelho psíquico na teoria psicanalítica, integrando a primeira tópica freudiana, formulada em 1900. Vale destacar que essas instâncias não correspondem a locais específicos no aparelho psíquico. No período de 1920 a 1923, Freud revisa sua teoria, introduzindo novas compreensões sobre o aparelho psíquico e apresenta os conceitos de Eu, Isso e Supereu. É importante notar que Freud não substitui a primeira tópica pela segunda, mas as articula de maneira complementar. Assim, consciente, inconsciente e pré-consciente continuam presentes na segunda tópica, enriquecendo a compreensão dos conceitos de Eu, Isso e Supereu.

banner curso freud e as fantasias, por Ricardo Salztrager

Inconsciente, Pré-consciente e Consciente

  • Inconsciente - Os conteúdos recalcados localizam-se no inconsciente, onde podem aparecer para o sujeito em momentos bem específicos. Essa instância psíquica possui uma linguagem própria e não se orienta pelo tempo cronológico. O inconsciente se revela por meio de sonhos, atos falhos e sintomas. O termo "inconsciente" diz respeito ao que está além do nosso conhecimento. Quando Freud afirma que possuímos um inconsciente, ele sugere que não temos uma compreensão total de nós mesmos.
  • Consciente - Um estado psíquico que reflete a localização de processos fundamentais do aparelho psíquico, englobando o que estamos conscientes no presente momento. Esse estado opera em conformidade com as regras sociais, levando em consideração o tempo e o espaço. Assim, é através dele que o sujeito estabelece sua relação com o mundo externo.
  • Pré-consciente - Funciona como uma barreira permeável entre o inconsciente e o consciente. O pré-consciente abrange conteúdos que podem ser acessados mais facilmente pela consciência, mas que não permanecem nela de forma permanente.

foto de freud segurando um charuto
Sigmund Freud


Eu, Isso e Supereu

Em 1923, Freud estabeleceu uma nova estrutura para o entendimento do aparelho psíquico. Anteriormente, como já vimos, sua abordagem se baseava na distinção entre inconsciente, consciente e pré-consciente. Com a introdução dessas novas noções, Freud não apenas enriqueceu a compreensão do funcionamento psíquico, mas também promoveu uma dialética entre as diferentes instâncias, evidenciando como elas interagem e se influenciam mutuamente.

Eu Refere-se à instância psíquica que mediatiza as pressões do Isso, as ordens do Supereu e as exigências da realidade externa. O desenvolvimento do Eu ocorre através do processo de identificação do bebê com o mundo exterior, funcionando como um espelho que reflete o que ele é e como deve se comportar. Essa formação é um resultado direto das interações sociais e das representações que os outros têm sobre ele. Ao entrar em contato com a realidade, o Eu se define o resultado dessas identificações.

Freud destaca que o Eu atua como representante da realidade, buscando uma dominação sobre as pulsões, substituindo o princípio de prazer pelo princípio da realidade. Compreende-se, portanto, que o Eu possui tanto uma dimensão consciente quanto inconsciente, e não é uma instância inata, mas sim uma construção que emerge a partir das interações sociais. Essa instância recalcadora introduz, assim, o princípio da realidade na vida psíquica do indivíduo.
Supereu O Supereu, conforme descrito por Freud, é uma instância psíquica que possui tanto uma dimensão consciente quanto uma inconsciente. Ele se caracteriza pelo ideal do eu, que abrange as expectativas de desempenho do sujeito e as ordens morais internalizadas. Essa estrutura é formada por influências da moralidade, dos bons costumes, da religião e dos valores transmitidos pelos cuidadores durante a infância.

Tradicionalmente, o Supereu é visto como o herdeiro do complexo de Édipo, configurando-se a partir da interiorização das exigências e interdições parentais. Essa instância abrange tanto as funções de proibição quanto as de idealização. Embora a renúncia aos desejos edipianos, tanto amorosos quanto hostis, seja fundamental para a formação do Supereu, Freud argumenta que ele é posteriormente enriquecido por influências sociais e culturais, como educação, religião e moralidade.
Isso É uma instância totalmente inconsciente que está presente no sujeito desde o início da vida, não se subordinando à lógica do tempo cronológico. O Isso é considerado o reservatório das pulsões, servindo como a força motriz do psiquismo. Seus conteúdos, que representam a expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, sendo compostos tanto por aspectos hereditários e inatos quanto por elementos recalcados e adquiridos.

Sob uma perspectiva econômica, Freud vê o Isso como o reservatório inicial da energia psíquica; enquanto do ponto de vista dinâmico, ele entra em conflito com o Eu e o Supereu. Assim, o Isso é a sede das paixões humanas, incluindo inveja, ciúmes, vaidade, amor e ódio, consolidando-se como o núcleo pulsional da personalidade.



Como aprender mais sobre psicanálise?

Para aprofundar seus conhecimentos sobre o conceito de Isso, Eu e Supereu na teoria psicanalítica, é fundamental começar pela leitura das obras de Sigmund Freud que tratam desses conceitos, como "A Interpretação dos Sonhos" (1900), onde Freud apresenta pela primeira vez esses elementos do aparelho psíquico, e "O Eu e o Isso" (1923), texto que detalha a dinâmica entre essas instâncias.

Além disso, investir em cursos especializados sobre a teoria psicanalítica pode ser altamente enriquecedor. A Casa do Saber oferece uma série de cursos ministrados por especialistas reconhecidos, que aprofundam a compreensão dos conceitos de id, ego e superego, bem como suas implicações no comportamento humano e nos processos psíquicos.

A seguir, destacamos algumas recomendações de cursos disponíveis na plataforma Casa do Saber + que exploram esses temas com profundidade e relevância.




Referências Bibliográficas:

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Zahar: Rio de Janeiro, 1985.

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

.ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.







Complexo de Édipo: o que é?
Gabriel Cravo Prado
This is some text inside of a div block.
Complexo de Édipo: o que é?
Saiba o que é o Complexo de Édipo, qual a sua relação com a sexualidade e o que pensava Freud sobre a função paterna e a função materna

Neste texto veremos um pouco sobre a teorização de Freud sobre o complexo de édipo. Uma das principais ideias da teoria psicanalítica, sendo revolucionária na maneira de pensar a constituição do sujeito e a sexualidade.



A história de édipo: um resumo

Freud se inspirou na tragédia grega de Sófocles Édipo Rei para teorizar sobre o conjunto das relações que a criança estabelece com as figuras parentais e que constituem uma rede em grande parte inconsciente de representações e de afetos entre os dois polos de suas formas positiva e negativa. (Kaufmann, p.135)

Édipo era filho de Laio e Jocasta, rei e rainha de Tebas e o casal recebeu uma profecia por meio de um oráculo de que Édipo iria matar o próprio pai e se casaria com sua mãe. E assustados com o revelado, o casal pediu para um servo matar a criança, contudo ele apenas abandonou o menino em uma árvore porque não teve coragem de matá-lo e com isso Édipo foi encontrado por um camponês que o criou.

Ao passar dos anos, Édipo reencontra com Laio, seu pai, e o mata, mas sem saber que este era seu próprio pai, e como recompensa por salvar Tebas de uma esfinge, se casa com Jocasta, também sem saber que a rainha era sua mãe. Então, a profecia se cumpriu.

banner 'Ebook Guia para Entender o Inconsciente '

O complexo de édipo para a psicanálise

Pode-se dizer que o complexo de édipo está ligado ao período da constituição do eu, ou seja, atua como um organizador do sujeito. É uma fase do desenvolvimento infantil que a criança passa a ter uma atração pela figura que exerce a função materna, enquanto nutre uma rivalidade com a parte que faz a função paterna.

Freud não tem um texto específico sobre o complexo de édipo, mas no livro inaugural da psicanálise, A Interpretação dos Sonhos, ele já cita o mito do personagem, mas é apenas em 1910 que ele de fato teoriza sobre a questão.

A criança ao nascer necessita ser acolhida por outro ser humano e quem faz essa função materna fica sendo tudo para aquela criança, ou seja, seu primeiro objeto de amor. Com isso, a criança quer a mãe somente para ela e a função paterna entra para fazer essa separação e colocar um certo limite nessa relação mãe-bebê, para estabelecer limites, regras e normas que irão regular futuramente o desejo daquele bebê. Então, pai é visto como a figura que representa a lei e a autoridade, essencial para a formação do supereu, a parte do aparelho psíquico que internaliza os valores sociais e morais.

Na saída do Édipo, irá se constituir a forma que o sujeito irá se vincular com o mundo, com a possibilidade de ser neurótico, psicótico ou perverso, sendo estas as três grandes estruturas clínicas que fundamentam a teoria psicanalítica.

O complexo de édipo em meninos e meninas: características

O Complexo de Édipo apresenta diferenças significativas entre meninos e meninas. Nos meninos, o Édipo e o complexo de castração ocorrem simultaneamente. Já nas meninas, inicialmente se vivencia o pré-Édipo, seguido pelo complexo de castração, e, somente então, elas entram no Complexo de Édipo. Assim, pode-se afirmar que meninos e meninas experienciam o complexo de castração de maneiras distintas: os meninos abandonam o Édipo por medo da castração, enquanto as meninas ingressam no Édipo temendo ser castradas.

O momento crucial da constituição do sujeito situa-se no campo da cena edípica. Dessa forma, o Édipo não é somente o “complexo nuclear” das neuroses, mas também o ponto decisivo da sexualidade humana, ou melhor, do processo de produção da sexuação. Será a partir do Édipo que o sujeito irá estruturar e organizar, sobretudo em torno da diferenciação entre os sexos e de seu posicionamento frente à angústia de castração.

banner curso complexo de edipo e sexualidade, por Fernanda Samico

As fases do desenvolvimento psicossexual

Ao investigar o complexo de Édipo, é fundamental considerar as diferentes fases do desenvolvimento psicossexual da criança, conforme delineado por Freud. Cada etapa — oral, anal e fálica — desempenha um papel crucial na formação da subjetividade

Fase Oral O desenvolvimento infantil inicia-se com uma fase centrada na região oral, que abrange desde o nascimento até cerca de um ano e meio. Nesta etapa, a amamentação se destaca como uma experiência fundamental, proporcionando prazer à criança através da sucção e da satisfação derivada da nutrição. Então, a boca é a principal fonte de prazer. A satisfação vem de atividades como mamar, chupar e explorar objetos com a boca.
Fase anal O prazer se concentra no controle dos esfíncteres. A criança experimenta a satisfação ao controlar a liberação e retenção das fezes. Nessa fase a criança passa a manifestar um interesse exacerbado pela região anal, frequentemente envolvendo-se em atividades relacionadas a suas fezes.
Fase fálica A atenção se volta para os órgãos genitais, e a criança começa a explorar a diferença entre os sexos. É nesta fase que surge o complexo de Édipo. Nessa fase, a criança também começa a explorar as questões de masculinidade e feminilidade.



É importante também observar o período de latência e a fase genital:

Período de latência: aqui acontece um intervalo caracterizado pela repressão de desejos inconscientes. Durante essa etapa, a criança já superou o complexo da fase fálica e, embora os impulsos e desejos sexuais possam persistir, eles se manifestam de maneira assexuada por meio de atividades como amizades, estudos e práticas esportivas, até o início da puberdade.

Período genital: seria o estágio final do desenvolvimento psicossocial, onde o sujeito direciona seus investimentos sexuais - libido - para os órgãos genitais. Esse investimento que vai para além dos seus primeiros cuidadores o leva a se interessar por relações amorosas.

Assim, o complexo de édipo diz respeito de como o sujeito irá se relacionar com o mundo exterior. Então o filho se afeicçoa com o genitor do sexo oposto e rivaliza com o genitor do mesmo sexo. Então pode-se dizer que esse triângulo edípico é o que constitui o humano, tendo em vista que os afetos surgem nesse momento.




Função materna e função paterna

A análise das funções materna e paterna proposta por Lacan revela que não é necessário ter uma mãe ou um pai biológicos para que as dinâmicas do complexo de Édipo se manifestem. Essas funções são simbólicas e podem ser exercidas por outras figuras ou instituições que representem o cuidado, a proteção e a introdução da lei. Dessa forma, a estrutura psíquica e as relações de desejo e rivalidade no contexto do complexo de Édipo são acessíveis a qualquer indivíduo, independentemente de sua configuração familiar, enfatizando a primazia dos significantes sobre as figuras biológicas na constituição da subjetividade.

A função materna transcende a mera figura biológica da mãe, assumindo um papel simbólico que engloba nutrição, cuidado e a introdução da criança no universo dos significantes. Essa função se relaciona à criação de um espaço de amor e proteção, essencial para o desenvolvimento das primeiras relações objetais, pois oferece um ambiente propício à manifestação do desejo. Sua importância se revela na formação do eu e na capacidade de estabelecer vínculos sociais, com a mãe exercendo a função de primeira portadora do desejo, fundamentando, assim, as bases para as relações futuras da criança.

A função paterna não está necessariamente ligada à figura biológica do pai, representando a introdução da lei, da ordem e da castração na vida da criança. Nesse contexto, o pai emerge como o agente responsável por conduzir a criança ao mundo dos limites e normas que são essenciais para a internalização da lei social e para a separação do desejo materno, favorecendo assim a autonomia do indivíduo.

Sua importância se manifesta na formação do supereu, sendo crucial para a capacidade da criança de lidar com a frustração e a ambivalência, permitindo-lhe inserir-se adequadamente na estrutura social e desenvolver uma identidade que não se fundamenta exclusivamente no desejo materno.

banner curso Psicanálise e Mitologia, Uma Introdução, por Ricardo Salztrager

Como aprender mais sobre o complexo de édipo?

O conceito do complexo de Édipo, desenvolvido por Freud, é uma das ideias centrais da psicanálise e merece um estudo aprofundado. Para compreender sua importância, é fundamental analisar as obras de Freud, explorando suas principais obras, como "A Interpretação dos Sonhos" e "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade". Nesses textos, Freud elucida as fases do desenvolvimento psicosexual e a importância da resolução do complexo de Édipo para a formação do eu.

Além disso, a Casa do Saber + e o Programa + Psicanálise oferecem cursos que representam uma oportunidade valiosa para aprofundar a compreensão não apenas do complexo de Édipo, mas também de outros conceitos fundamentais da psicanálise. Esses cursos são elaborados para proporcionar uma análise detalhada e uma discussão enriquecedora, permitindo aos participantes explorar as nuances e as implicações teóricas da psicanálise de maneira mais abrangente.





Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905). São Paulo: Cia das Letras, 2011.

______. A Dissolução do Complexo de Édipo (1924). São Paulo: Cia das Letras, 2016.

LACAN, Jacques. O Seminário 5 - As Formações do Inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.



A melancolia na psicanálise: Freud, Lacan e suas perspectivas
Gabriel Cravo Prado
This is some text inside of a div block.
A melancolia na psicanálise: Freud, Lacan e suas perspectivas
Acompanhe uma breve compreensão sobre o que é a melancolia na teoria psicanalítica, explorando o seu significado e a sua história ao longo do tempo.

O psicanalista Sigmund Freud foi fundamental na redefinição da melancolia no século XX. Em seu trabalho Luto e Melancolia (1917), Freud propôs que a melancolia não era simplesmente uma doença, mas sim uma forma patológica do luto. Em vez de superar a perda de um objeto amado, o sujeito melancólico se identifica com o objeto perdido, o que o impede de seguir em frente e o mantém preso a um sofrimento sem fim.

Freud E A Melancolia

Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, aborda a melancolia em sua obra "Luto e Melancolia" (1917). Para Freud, a melancolia não é apenas um estado de tristeza, mas uma condição psíquica profunda, distinta da depressão comum. Ele identificou que, enquanto o luto é uma reação natural à perda de um objeto significativo, a melancolia está ligada a uma perda interna, mais complexa e inconsciente.

A pessoa melancólica, ao contrário do enlutado, não apenas sofre pela perda do objeto, mas também direciona uma parte significativa de seu sofrimento contra si mesma. Freud propôs que esse processo de autoagressão poderia ser interpretado como uma identificação do eu com o objeto perdido, o que gerava uma intensificação do sofrimento psíquico.

Além disso, Freud destacou a relação entre melancolia e a incapacidade do eu de elaborar e aceitar a perda. Ao contrário do luto, que permite um certo distanciamento emocional do objeto perdido, a melancolia está marcada por um vínculo persistente e patológico com esse objeto. A pessoa melancólica não consegue desvincular-se da perda, o que impede a recuperação emocional e favorece a internalização de sentimentos de culpa e autocensura.

Esse conceito psicanalítico inovador ajudou a entender a melancolia de uma forma mais ampla, não apenas como um distúrbio afetivo, mas como uma dinâmica complexa entre o eu, os desejos inconscientes e a relação com os objetos de amor e perda.

Do Amor e das Trevas: Depressão e Psicanálise

thumb curso 'amor e solidao' de ana suy para casa do saber


CONFIRA O CURSO



Lacan E A Melancolia

Para Lacan, a melancolia está intimamente ligada à relação do sujeito com o objeto "a", que representa o objeto causa do desejo. Ao contrário do processo de luto, onde o sujeito busca substituir o objeto perdido, o melancólico não busca esse reposicionamento, mas mantém uma relação com o objeto "a" de forma radicada e excessiva. O melancólico se vê dominado por esse objeto que o transcende, mas que, ao mesmo tempo, se confunde com o próprio sujeito. A ausência desse objeto, que deveria ser um ponto de referência para a constituição do desejo, se transforma em uma presença opressiva que invade o melancólico, dificultando qualquer tentativa de restabelecer a ligação com o mundo exterior e, consequentemente, com o desejo. Essa relação com o objeto ausente leva a uma imersão profunda no vazio, um estado tão intenso que, em casos extremos, pode conduzir à tentativa de aniquilação do próprio sujeito, como forma de escapar dessa ausência insuportável.

Psicanálise e Medicamentos: Os Efeitos da Medicalização da Existência

thumb curso Psicanálise e Medicamentos: Os Efeitos da Medicalização da Existência, por Kwame Yonatan


ASSISTIR AGORA



A melancolia e a psicopatologia: luto vs. melancolia

Uma das questões mais debatidas na psicanálise é a diferença entre luto e melancolia. Ambas as condições envolvem a perda de algo importante para o sujeito, mas enquanto o luto é um processo de adaptação a essa perda, a melancolia é caracterizada por uma falha nesse processo.

No luto, a pessoa pode se sentir triste, mas a dor da perda é acompanhada de uma progressiva aceitação e uma retomada da vida. Já a melancolia se caracteriza pela incapacidade do sujeito reconhecer o que perdeu ou o que realmente perdeu com a perda. Em "Luto e Melancolia", Freud descreve a melancolia como uma espécie de luto não resolvido, no qual o sujeito se identifica com o objeto perdido a tal ponto que a perda se torna internalizada, como uma parte de si mesmo.

Uma diferença chave entre os dois é que no luto, o objeto da perda é reconhecido conscientemente, enquanto na melancolia, o sujeito pode não saber exatamente o que perdeu, mas sente a ausência de algo fundamental. Essa ambivalência e confusão são centrais na experiência melancólica.

Banner do curso Luto, rejeição e abandono, de Carol Tilkian, disponível na Casa do Saber

A história da melancolia na psiquiatria

Cabe dizer que a melancolia não foi debatida apenas pela psicanálise. Na psiquiatria, o conceito de melancolia tem sido desenvolvido desde o século XIX. Autores como É. Esquirol, H. Dagonet e A. Foville demonstraram grande interesse pela condição, mas também expressaram certo ceticismo em relação ao seu tratamento. Esquirol, por exemplo, preferia o termo "lipemania" (tristeza) para descrever essa condição, relegando a palavra "melancolia" ao domínio dos poetas e moralistas. Esse ceticismo refletia a dificuldade em classificar a melancolia como uma doença orgânica, já que ela se relaciona com a esfera psíquica e emocional.

Por outro lado, a psiquiatria alemã trouxe uma abordagem mais complexa, enfatizando o processo psicológico envolvido na melancolia. Durante o século XIX, psiquiatras alemães começaram a explorar o papel do psiquismo no desenvolvimento de condições como a melancolia, e sua relação com o eu e o inconsciente.

A melancolia é frequentemente confundida com a depressão, mas embora ambas compartilhem sintomas, a melancolia tem características distintas. Ela é definida, na psiquiatria, como uma forma de transtorno afetivo, e pode ser mais intensa e duradoura que a depressão comum. Historicamente, a melancolia foi tratada como uma condição mental separada da psicose maníaco-depressiva (PMD), mas com o tempo os especialistas passaram a revisitar essa categorização.

banner do curso Vocabulario dos Afetos, de Christian Dunker

Para aprender mais sobre psicanálise

Para aqueles que desejam aprofundar seus conhecimentos sobre psicanálise, a Casa do Saber oferece uma excelente oportunidade por meio do programa + Psicanálise. Este programa foi desenvolvido para quem busca entender as complexidades dessa teoria e suas aplicações práticas, seja no campo clínico, acadêmico ou na vida cotidiana.

Com professores renomados e conteúdos que abrangem desde as principais correntes psicanalíticas até as mais recentes abordagens e interpretações, o programa + Psicanálise é ideal para quem deseja uma formação completa e sólida. Além disso, ao participar, os alunos têm acesso a uma rica troca de ideias com especialistas e colegas de diversas áreas, aprofundando ainda mais o entendimento sobre a psicanálise e suas múltiplas dimensões.

Quero conhecer o programa + Psicanálise




Referências Bibliográficas

FREUD, Sigmund. Luto e Melancolia (1917). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

LACAN, Jacques. O Seminário 6 - O Desejo e Sua Interpretação (1958-1959). Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

KAUFMANN, Pierre. Dicionário Enciclopédico de Psicanálise: Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998

Psicologia
 Curso de Psicologia Online EaD: Guia completo e Passo a Passo
Rodrigo Gomes
This is some text inside of a div block.
Curso de Psicologia Online EaD: Guia completo e Passo a Passo
Guia completo sobre o curso de Psicologia EaD. Veja as áreas de atuação, abordagens teóricas, melhores cursos e os custos para estudar à distância.

Entenda as possibilidades de se estudar psicologia através de cursos online, os famosos EAD (educação à distância). A seguir, exploraremos as áreas de atuação e abordagens da psicologia, além de apresentar opções e custos para quem deseja aprofundar os conhecimentos na área de forma remota.

Como estudar Psicologia online?

Se você está procurando opções para cursar a faculdade de psicologia à distância, infelizmente temos uma má notícia para te dar. Até o momento, de acordo com a determinação do Ministério de Educação (MEC), a graduação de psicologia não pode ser oferecida na modalidade EAD. Por outro lado, há muitas possibilidades de se estudar psicologia online por meio de cursos livres, pós-graduação e especializações.

A opção pelo ensino à distância atende tanto a estudantes quanto profissionais da área, onde o aluno pode explorar diferentes abordagens da psicologia com liberdade, seja para aprender sobre conteúdo introdutório ou especializar-se em algum tema de sua preferência. É possível estudar a psicologia analítica, de Carl Jung, a psicanálise, de Freud, e, ao mesmo tempo assistir a cursos sobre a logoterapia para investigar as ideias de Viktor Frankl.

Existe faculdade de Psicologia EaD?

Como já mencionado acima, não existe a possibilidade de realizar a graduação em psicologia EaD . Em julho de 2022, o Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU) chegou a conseguir a autorização do MEC para oferecer o curso à distância, através da portaria MEC 749. Porém, no dia seguinte, o próprio Ministério da Educação a anulou, sob alegação de erro material.

À época, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) e mais de 20 entidades publicaram uma nota de repúdio à Portaria MEC 749, afirmando que a presencialidade é indispensável para a formação de qualidade em Psicologia.

Posteriormente, em setembro de 2023, pela Portaria Nº 1.838, o Ministério da Educação abriu consulta pública para elaboração de proposta de regulamentação de oferta do curso de Psicologia - entre outras graduações - na modalidade de educação à distância.

Desde então, a discussão vem sendo constantemente adiada, sem uma previsão de desfecho à vista. Desta forma, não é possível definir ainda se, no futuro, a modalidade de graduação à distância será ou não viabilizada para o curso de psicologia. Mas, se depender da opinião do conselho dos profissionais de psicologia, a decisão permanecerá em mantê-lo somente no modelo presencial.

Atenção para não confundir:

Embora a graduação em psicologia seja recomendada, algumas abordagens da psicoterapia, como a psicanálise, não exigem formação superior específica no curso de psicologia para o exercício da atividade profissional. Por isso, é possível encontrar algumas instituições oferecendo o curso de formação para psicanalista 100% ead - o que é permitido.

O que é Psicologia e qual o papel do profissional da área?

A psicologia é uma ciência que se dedica a tratar, estudar e analisar o comportamentos dos indivíduos e os processos mentais, como sentimentos, pensamentos e razão. Embora a área de estudo tenha sido elaborada há alguns séculos no campo da filosofia, a psicologia estruturou-se como uma ciência independente somente em meados do século 19. Desde então, surgiram diversas teorias sobre o comportamento humano e novas descobertas científicas - como a chegada das neurociências..

O cenário dinâmico exige estudo constante do profissional da área. O psicólogo deve atuar na promoção da saúde mental, tratamento, intervenção em crises e em desenvolvimento pessoal e profissional. Seu trabalho tem grande importância social e demanda certa sofisticação, pois deve desenvolver habilidades como empatia e comunicação, mas também conhecimento técnico para diagnosticar e tratar problemas de saúde mental de forma eficaz.

Como em diversas outras profissões, há muitas áreas de atuação. No caso da psicologia, além desta segmentação, também encontramos diferentes teorias, técnicas e abordagens para analisar o comportamento humano, como veremos mais adiante.

Sobre o curso de graduação em Psicologia

O curso de psicologia prepara o profissional para atuar em diferentes contextos sociais e profissionais de forma ética, desenvolver o conhecimento científico, analisar criticamente os fenômenos sociais e biológicos e atuar na promoção da saúde. Dados do Sisu 2024 mostram que psicologia foi o 4° curso com maior número de inscrições, no topo da lista das graduações mais procuradas pelos estudantes.

POSIÇÃO CURSO QTDE. INSCRITOS
MEDICINA 298.316
DIREITO 157.364
ADMINISTRAÇÃO 118.883
PSICOLOGIA 103.336
ENFERMAGEM 99.768
PEDAGOGIA 89.702
MEDICINA VETERINÁRIA 65.271
CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO 57.385
EDUCAÇÃO FÍSICA 55.437
10° CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 52.822


Dados extraídos do relatório do Sisu 2024

Qual a duração da faculdade de Psicologia?

A graduação em psicologia tem duração de 5 anos. Segundo as diretrizes curriculares para o curso de psicologia estipuladas pelo MEC, o estágio supervisionado é atividade obrigatória.

“Art. 11. A carga horária referencial dos cursos de Psicologia é de 4.000 (quatro mil) horas com, no mínimo, 20% (vinte por cento) da carga efetiva global para estágios supervisionados básicos e específicos, e duração mínima de 5 (cinco) anos.


Todas as instituições devem oferecer acesso ao núcleo comum do curso de Psicologia ao estudante. No entanto, as instituições podem possuir estruturas curriculares diferentes de acordo com as ênfases curriculares oferecidas. As ênfases curriculares são caminhos possíveis de estudo para aprofundamento de determinadas competências e habilidades necessárias para o exercício da profissão.

Em determinado momento da graduação, o aluno deverá optar pela ênfase que reflita o seu interesse para seguir as disciplinas e estágios correspondentes à sua escolha. Respeitando o projeto pedagógico, cada instituição deve disponibilizar ao menos duas opções de ênfases aos alunos, considerando as demandas sociais contemporâneas ou potenciais, assim como as características da instituição e da região em que se situa.

Isso significa que cada faculdade formulará os próprios eixos que são peculiares aos objetos de estudo e história do curso desenvolvido na instituição. Tenha isto em mente no momento de pesquisar as opções de faculdade de psicologia que deseja ingressar.

Para atuar profissionalmente como psicólogo, é necessário possuir o diploma de bacharelado em Psicologia por uma instituição reconhecida pelo MEC, além de estar inscrito no Conselho Regional de Psicologia (CRP) de sua região.

Quais as áreas da Psicologia?

Apesar de a imagem do psicólogo clínico atendendo o paciente frente a frente em seu consultório ser uma das primeiras a vir à mente, a psicologia tem diferentes áreas de atuação. Cabe ao estudante em formação ou ao profissional identificar qual delas se adequa mais ao seu perfil.

Uma vez com o diploma na mão, o psicólogo está apto a exercer a profissão em qualquer área de atuação da psicologia. A partir da resolução CFP 23/2022, foram reconhecidas 13 especialidades para o exercício da psicologia . Confira as áreas da psicologia na lista abaixo:

  • Psicologia Clínica
  • Psicólogo Organizacional e do Trabalho
  • Psicologia Jurídica
  • Psicologia do Esporte
  • Psicologia Social
  • Psicologia Escolar ou Educacional
  • Psicologia de Tráfego
  • Neuropsicologia
  • Psicomotricidade
  • Psicopedagogia
  • Psicologia Hospitalar
  • Psicologia em Saúde
  • Avaliação Psicológica


Conheça as principais abordagens da Psicologia

Há diversas abordagens da psicologia sendo praticadas na atualidade. Mas por que precisam existir tantas ramificações teóricas? É importante compreender que não há uma definição sobre qual abordagem é a melhor. O que vamos descobrir - e veremos detalhadamente neste tópico - é que elas apresentam diferenças importantes entre si, como objetos de estudo distintos.

A Psicanálise, fundada por Sigmund Freud, por exemplo, dedica-se ao estudo do inconsciente e os processos mentais internos para entender o comportamento humano. Já o Behavorismo, desenvolvido por Skinner, se concentra na observação do comportamento, pautado pela análise e estudo do comportamento a partir de estímulos externos.

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” - Carl Jung
foto de Carl Gustav Jung
Carl G. Jung, fundador da Psicologia Analítica


Veja algumas das abordagens teóricas:

  • Psicanálise
  • Psicologia Analítica
  • Behaviorismo ou Analítico Comportamental
  • Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC)
  • Gestalt


Psicanálise:

Fundada por Sigmund Freud, a psicanálise surgiu no final do séc. 19, quando o médico austríaco revelou ao mundo uma grande descoberta: o inconsciente. Segundo sua teoria, a origem dos sintomas, transtornos mentais e emocionais está guardada neste campo oculto, que só pode ser acessado através da fala. Desta forma, o processo terapêutico para tratamento e cura dos fenômenos de ordem mental se dariam a partir do método de livre associação, onde o paciente pode falar livremente sobre qualquer assunto que lhe vier à mente (por isso, comumente conhecida como “terapia da fala”).

Fundamentada na investigação do inconsciente, o analista pode conduzir o paciente através da interpretação dos sonhos, análise de padrões de comportamento e repetições originadas ainda na infância. A partir da teoria criada pelo “pai da psicanálise”, começaram a ser trabalhados conceitos que hoje são bastante conhecidos, como complexo de édipo , ato falho e recalque.

Além disso, é bem comum que a psicanálise seja associada ao uso do divã, aquele sofá sem encosto em que o paciente se deita, embora ele nem sempre seja utilizado. Inspirados pela obra do médico austríaco, outros pensadores fundaram novas linhas da psicanálise, como a linha lacaniana, do francês Jacques Lacan, a linha kleiniana, da austríaca Melanie Klein e a linha winnicottiana, criada pelo inglês Donald Winnicott.

foto do divã utilizado por Freud  coberto pelo tapete de lã Qashqa'i shekarlu exposto no museu de Freud em Londres
Divã original de Freud, utilizado nas sessões com os seus pacientes (Reprodução: Freud Museum London)


A origem do divã de Freud

O icônico divã utilizado por Freud foi, na verdade, um presente recebido de sua paciente Madame Benvenisti , em 1890. Estima-se que mais de 500 pacientes tenham se deitado neste divã, que está exposto no Museu de Freud em Londres.

Psicologia Analítica Junguiana:

Fundada pelo psiquiatra Carl G. Jung no início do séc. 20, a psicologia analítica foi criada após o médico suíço se deparar com divergências teóricas em relação às ideias de Freud, com quem colaborou por algum tempo. Jung elaborou uma teoria totalmente nova, fundamentada em conceitos importantes como o inconsciente coletivo, individuação e os arquétipos.

Jung coloca que o inconsciente coletivo compõe uma camada universal, herdada pelos indivíduos através de seus ancestrais. Segundo sua teoria, as pessoas nascem com predisposição na forma de pensar e agir, que refletem imagens presentes em todas as culturas, representados pela noção dos arquétipos.

A partir da análise de símbolos, da interpretação de sonhos e mitos, o tratamento proporcionado pela psicologia analítica consegue auxiliar o paciente a encontrar novos caminhos de simbolização, que o conduzem ao autoconhecimento e a uma vida mais equilibrada.

Behaviorismo ou Analítico Comportamental:

O termo behaviorismo foi cunhado pelo psicólogo estadunidense John B. Watson, em 1913. A origem do nome remete ao termo “behavior”, da língua inglesa, que traduzido para o português significa “comportamento”. Na década de 1940, o psicólogo B. F. Skinner deu continuidade às ideias propostas por Watson e formulou novas contribuições à teoria, no que ficou conhecido como “behaviorismo radical”.

O behaviorismo surge em oposição às abordagens focadas nos processos mentais internos e passa a se dedicar ao estudo do comportamento observável, trabalhando observação, influência do ambiente e coleta de dados mensuráveis.

Esta proposta terapêutica propõe-se a compreender padrões comportamentais para tratamento de diversos transtornos, como depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros. A concepção é de que a partir da análise do comportamento, é possível treinar habilidades e modificar padrões comportamentais através de técnicas específicas como reforço e punição, de forma a melhorar o bem-estar do paciente.

Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC):

A Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC) foi criada pelo psiquiatra norte-americano Aaron Beck na década de 1960. Com alguns elementos em comum ao behaviorismo radical, a TCC incorpora elementos cognitivos ao tratamento. Isto significa que este modelo de terapia além de incluir a análise do comportamento influenciado por estímulos do ambiente, leva também em consideração os pensamentos e emoções do paciente como forma de identificar, questionar, modificar e tratar os sintomas.

A partir do tratamento, o psicólogo auxilia o paciente na busca pela identificação de padrões de pensamento distorcidos., bem como a modificação de crenças e hábitos disfuncionais.. Amparada por pesquisas e publicações científicas, a TCC se propõe a utilizar técnicas de intervenção de eficácia comprovada, atendendo às especificidades de cada transtorno mental.

Gestalt-terapia:

A Gestalt-terapia, conhecida como “terapia da forma”, foi criada no início do séc. 20 pelo médico alemão Fritz Perls, inspirada pelas ideias da Psicologia da Gestalt, de Wertheimer, Köhler e Koffka. Este modelo de terapia valoriza a subjetividade e o momento presente ( “aqui e agora”) , onde o paciente é estimulado a se concentrar em seus sentimentos, pensamentos e ações a partir de técnicas específicas utilizadas pelo profissional.

São diversas abordagens utilizadas, como a da cadeira vazia, onde o paciente senta-se de frente para uma cadeira vazia e simula uma conversa consigo mesmo ou com uma pessoa que tenha tido papel relevante em algum evento que tenha impactado a sua vida.

Outra técnica é a dramatização, onde a pessoa pode ser encorajada a interpretar papéis, expressar algum sentimento verbalmente ou em forma de movimento. Estas técnicas tem o objetivo de promover o autoconhecimento. e, consequentemente, a identificação de padrões de pensamentos negativos que podem prejudicar a sua vida.

Psicoterapia Contemporânea: Por uma Integração Transteórica de Diversas Práticas e Teorias
por Luiz Hanns

Em sua história, a psicoterapia ficou marcada pela divisão entre abordagens, cada uma com suas próprias concepções, métodos e indicações clínicas, com diferenças, à primeira vista, irreconciliáveis e muitas vezes dogmáticas.

Neste curso, Luiz Hanns aborda o integracionismo metodológico, que difere do ecletismo selvagem, e que permite uma clínica transteórica em busca da integração das melhores práticas e teorias.

Confira o curso!

Conhecemos agora algumas das abordagens da psicologia. Embora todos os profissionais da área passem, de certa forma, por este processo de definição teórica, a linha seguida por cada um é notada de forma mais perceptível nos tratamentos de psicoterapia, onde o paciente costuma ser acompanhado por períodos mais longos.

Não existe regulação ou exigência formal que obrigue o psicólogo a escolher uma das abordagens disponíveis. Assim como nas áreas de atuação, o psicólogo graduado está apto a praticar qualquer abordagem teórica.

Esta escolha representa um direcionamento pessoal do psicólogo, que não exclui a possibilidade de estudo ou aplicação de técnicas de diferentes linhas teóricas. No fundo, o que todos querem - tanto o psicólogo quanto o paciente - é conseguir encontrar um caminho comum para a melhora da saúde mental. Por isso, a aliança terapêutica - relação entre terapeuta e paciente - tem uma importância muito grande e é fundamental para qualquer modelo psicoterapêutico.

O que é “Aliança Terapêutica”?

É um conceito universal que caracteriza a relação de trabalho e de confiança entre terapeuta e paciente, comum a todas as abordagens teóricas. Tem grande importância para o bom desenvolvimento do processo psicoterapêutico, pois influencia na formação e manutenção do vínculo, permanência, desfecho e encerramento da psicoterapia.

Agora que já conhecemos as áreas e abordagens da psicologia, é provável que você já tenha se interessado por algum tema que gostaria de estudar. A seguir, apresentaremos algumas opções de curso para você começar a sua trajetória na área!

Quais os melhores cursos e quanto custa estudar psicologia online?

Uma boa opção tanto para estudantes como para profissionais já em atuação são os cursos livres de psicologia à distância. A grande vantagem deste modelo é que costumam ter um valor mais acessível, sendo possível encontrar conteúdo de muita qualidade e em constante atualização.

Confira 5 cursos para você dar os primeiros passos na área:

  • A Tal da Felicidade, por Luiz Hanns

    Entenda os argumentos da psicologia para definir felicidade como um sentimento de realização pessoal e individual, mais próximo do bem estar mental pleno do que da prosperidade material.

  • Freud Fundamental: As Ideias e as Obras, por Pedro de Santi

    O curso oferece uma introdução acessível aos principais conceitos de Sigmund Freud e suas obras, transformando a compreensão dos desejos e dilemas humanos. Ideal tanto para iniciantes quanto para aqueles que já possuem contato com a psicanálise, proporcionando novas reflexões.

  • Uma Introdução Guiada e Descomplicada ao Pensamento de Jung, por Lilian Wurzba:

    O curso oferece uma introdução acessível ao pensamento de Carl Gustav Jung, focando no autoconhecimento e na busca por uma vida mais íntegra. Ele esclarece equívocos comuns sobre suas ideias e acompanha o desenvolvimento de sua psicologia.

  • Quatro Livros para Entender Jung, por Tatiana Paranaguá

    O curso explora quatro obras fundamentais de Carl G. Jung, oferecendo uma introdução aos principais aspectos de seu pensamento e à Psicologia Analítica. As aulas funcionam como um guia para iniciar a jornada pelo vasto trabalho do autor

  • O Sentido da Vida, por Contardo Calligaris.

    Ser plenamente feliz é um objetivo muito buscado pela humanidade, e nos tempos atuais este estado parece ser ainda mais desejado. Neste encontro, o psicanalista Contardo Calligaris discute a obrigação da felicidade, o “morrer bem” e o sentido da vida.

Na plataforma de streaming Casa do Saber +, por uma única assinatura, você tem acesso a diversos cursos livres da área de psicologia, ministrados grandes referências da área, como Christian Dunker, Luiz Hanns, Lilian Wurzba, Ana Suy, Alexandre Patrício, Tatiana Paranaguá, entre tantos outros.

A boa notícia é que com apenas uma assinatura você consegue assistir a mais de 300 cursos de diversas áreas do saber e ainda garantir um certificado de conclusão após finalizá-los . Além de conteúdos sobre psicologia e psicanálise, a plataforma oferece cursos de Filosofia, Artes, Literatura, História, entre tantas outras áreas que ajudam a complementar o conhecimento necessário para a prática da psicologia.

Quanto custa:

R$478,80 (Plano anual) , podendo ser dividido em 12x de R$39,90 ou a R$430,92 à vista (desconto de 10%). Também existe a opção de pagamento à vista via pix ou boleto bancário..

Vantagens:

  • Novos cursos lançados periodicamente
  • Acesso a diversos cursos com professores de referêcia por uma única assinatura
  • Cursos de diferentes abordagens teóricas da psicologia, do introdutório ao especializado
  • Certificado de conclusão


Conheça todos os cursos da Casa do Saber

Agora você já entendeu sobre a impossibilidade de realizar a graduação em psicologia no modelo EAD, conheceu as áreas de atuação da psicologia e abordagens teóricas da área.

Na atualidade, informação é o que não falta… E para facilitar o percurso de aprendizagem , nada como uma boa curadoria de conteúdo.

Por isso, se sentir vontade de explorar mais sobre psicologia e tantas outras áreas do saber a partir de uma proposta criteriosa, cuidadosa e de qualidade, conte com a plataforma da Casa do Saber+!

Esperamos que este conteúdo tenha facilitado a sua caminhada em direção ao conhecimento.






Depressão tem cura? Conheça os sinais e tratamentos
Carolina Tosetti
This is some text inside of a div block.
Depressão tem cura? Conheça os sinais e tratamentos
Você sabe quais são os tipos de depressão? Entenda esse transtorno psíquico desde o diagnóstico psiquiátrico até as profundezas da psicanálise.

Quando fala-se sobre depressão hoje, a realidade aponta que este é um transtorno complexo e cada vez mais comum, que não faz distinção de idade ou status social.

Explore as estatísticas alarmantes no Brasil, entenda as classificações psiquiátricas, os manejos psicanalíticos e a importância do diagnóstico profissional na identificação e tratamento da depressão.

O contexto da depressão na atualidade

A depressão é um transtorno mental ou psíquico que pode atingir qualquer um, independentemente da idade, gênero, etnia ou classe social. Apesar da sua gravidade, muitas pessoas não dão a atenção necessária para a doença, o que pode dificultar o diagnóstico e, consequentemente, o seu tratamento.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem a maior taxa de prevalência de depressão da América Latina e a segunda maior nas Américas. A previsão é que, em 2030, a depressão seja a primeira causa específica de incapacidade funcional no mundo.

De maneira geral e simplificada, pela visão psiquiátrica, a depressão é um transtorno biológico que se manifesta em forma de tristeza e angústia. A pessoa deprimida perde o interesse ou prazer em realizar atividades que antes gostava, podendo levar a mudanças bruscas de humor e comportamento, afetando diversas áreas de sua vida.

As alterações repentinas do humor são, inclusive, um dos sintomas mais comuns da doença. Por isso, o acompanhamento profissional se faz essencial para diagnosticar a depressão ou episódios de tristeza prolongados.

imagem de divulgação de masteclass sobre psicopatologias na atualidade com alexandre patrício



A visão da psiquiatria sobre a depressão

Em 1952, a Associação Psiquiátrica Americana (American Psychiatric Association, APA) publicou pela primeira vez o Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, DSM-1), a primeira tentativa de abordar o diagnóstico das doenças mentais por meio de definições e critérios padronizados.

A DSM-5-TR, publicada em 2022, fornece um sistema de classificação que tenta separar as doenças mentais em categorias diagnósticas com base na descrição dos sintomas.

A Classificação Internacional de Doenças, décima-primeira revisão (CID-11), e a mais recente versão publicada pela Organização Mundial da Saúde, utiliza categorias diagnósticas semelhantes às encontradas no DSM-5-TR. Essa semelhança indica que o diagnóstico das doenças mentais específicas está sendo feito de forma mais padronizada em todo o mundo.

A coleta da história clínica, a anamnese e o exame devem observar os critérios da décima primeira versão da Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde (CID), da Organização Mundial da Saúde.

Nenhum sinal ou sintoma representa propriamente uma patologia. A confecção do diagnóstico da depressão deve levar em conta que os critérios da CID apresentam grau de subjetividade, devendo-se evitar a psicopatologização e a medicalização de sentimentos humanos normais.

Sintomas da depressão: a importância do diagnóstico profissional

O diagnóstico da depressão é feito a partir da avaliação clínica de um profissional com base na persistência, abrangência e interferência que os sintomas apresentam na vida do indivíduo. Segundo o DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), os sintomas da depressão incluem:

  • Humor deprimido constante
  • Diminuição do interesse ou prazer em quase todas as atividades
  • Perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta
  • Diminuição ou aumento significativo do apetite
  • Insônia ou sonolência
  • Agitação ou retardo psicomotor
  • Falta de energia, preguiça ou cansaço excessivo
  • Sentimentos de inutilidade, culpa excessiva ou inadequada
  • Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou indecisão
  • Pensamentos de morte ou suicídio


Para que os sintomas tenham uma relevância clínica, é preciso que se note uma mudança nos pensamentos, sentimentos, comportamento ou na fisiologia, devendo esta ser vivenciada por um período significativo de tempo.

Há regras específicas que indicam quantos sintomas de cada categoria devem estar presentes para se fazer o diagnóstico. Essa complexidade é apenas uma das razões pelas quais um profissional deve ser consultado para diagnosticar a depressão.

Quais são os tipos de depressão?

Um indivíduo que sofre de depressão também pode apresentar sintomas de ansiedade, distúrbios do sono e de apetite e podem demonstrar sentimentos de culpa ou baixa auto-estima, falta de concentração.

Um episódio depressivo pode ser leve, moderado ou grave, a depender da intensidade dos sintomas. Durante um episódio depressivo grave, é pouco provável que a pessoa afetada possa continuar com atividades sociais, de trabalho ou cotidianas. Também pode-se fazer uma diferenciação da depressão em pessoas que têm ou não histórico de episódios de mania.

Episódios de mania envolvem humor exaltado ou irritado, excesso de atividades, pressão de fala, auto-estima inflada e uma menor necessidade de sono, além da aceleração do pensamento. Os tipos de depressão podem ser crônicos (isto é, acontecem durante um período prolongado de tempo), com recaídas, especialmente se não forem identificados e tratados, ou pontuais.

Conheça alguns dos principais tipos de depressão e a sua classificação na CID-11:

  • Transtorno depressivo recorrente | CID-11 6A71: esse distúrbio envolve repetidos episódios depressivos. Durante esses episódios, a pessoa experimenta um humor deprimido, perda de interesse e prazer e energia reduzida, levando a uma diminuição das atividades em geral. Este tipo de sofrimento pode ser longo, duradouro e mais difícil de ser diagnosticado.
  • Transtorno bipolar | CID-11 6A6Z: esse tipo de depressão consiste tipicamente na alternância entre episódios de mania e depressivos, separados por períodos de humor regular.
  • Transtorno depressivo de episódio único | CID-11 6A70: é caracterizado pela presença de um episódio depressivo quando não há histórico de episódios depressivos anteriores.
  • Transtorno distímico | CID-11 6A72: o transtorno distímico é caracterizado por um estado depressivo persistente (isto é, com duração de 2 anos ou mais), durante a maior parte do dia, na maior parte dos dias. Durante os primeiros 2 anos do distúrbio, nunca houve um período de 2 semanas durante o qual o número e a duração dos sintomas foram suficientes para satisfazer os requisitos de diagnóstico para um Episódio Depressivo.
  • Transtorno misto de ansiedade e depressão| CID-11 6A73: o transtorno misto de ansiedade e depressão é caracterizado por sintomas de ansiedade e depressão na maior parte dos dias por um período de duas semanas ou mais. Nenhum conjunto de sintomas, considerado separadamente, é suficientemente grave, numeroso ou persistente para justificar o diagnóstico de um episódio depressivo, distimia ou um distúrbio relacionado à ansiedade e ao medo.
  • Transtorno disfórico pré-menstrual |CID-11 GA34.4: um padrão de sintomas de humor (humor deprimido, irritabilidade), sintomas somáticos (letargia, dor nas articulações, excessos alimentares) ou sintomas cognitivos (dificuldades de concentração, esquecimento) que comece vários dias antes do início da menstruação, e comece a melhorar dentro de alguns dias após o início da menstruação e, em seguida, torne-se mínima ou ausente dentro de aproximadamente 1 semana após o início da menstruação, estando presente na maioria dos ciclos menstruais no último ano.
  • Depressão psicótica: o indivíduo em sofrimento geralmente convive com episódios de delírio e alucinação, em que se somam os sintomas de depressão a alguma forma de psicose. Pode ser considerado um tipo de depressão grave.


O que é depressão para a psicanálise?

No contexto da psicanálise, a partir da obra Luto e Melancolia, Freud (1917) inicialmente considerava a depressão como um fenômeno que envolvia a "diminuição do sentimento de auto-estima" e "expectativas ilusórias de punição". Sua visão inicial era de que as crianças, devido à falta de capacidade de auto-estima e de prever o futuro, não poderiam experimentar a depressão.

Acreditava-se que na adolescência o desenvolvimento da personalidade permitia a vivência da depressão, embora até a década de 1970 alguns estudiosos considerassem os sintomas depressivos como parte normal do desenvolvimento adolescente.

Ao longo do século 20, a compreensão da relação entre eventos na infância e o funcionamento da personalidade no futuro começou a ganhar destaque. Freud propôs que a personalidade de uma criança era amplamente desenvolvida até os cinco anos de idade, sendo influenciada pela maneira como ela se ajustava a experiências precoces. A depressão, para Freud, surgia da resolução inadequada dos conflitos entre impulsos primitivos (id) e a aceitação de tabus sociais pelo superego.

mão encostando na própria sombra sob fraca luz

Numa leitura mais recente, o mal-estar contemporâneo, para o psiquiatra Joel Birman, manifesta-se no corpo, na ação e na intensidade como uma dor difícil de ser simbolizada.

Nesse cenário, a depressão destaca-se como uma forma de subjetivação, refletindo um aumento significativo nos diagnósticos e previsões de uma sociedade predominantemente depressiva.

A contemporaneidade revela a psicanálise como um discurso relevante para entender questões sociais e culturais. As mudanças na estrutura familiar, a crise da paternidade e a ascensão do individualismo na vida pós-moderna contribuem para a proliferação da cultura do narcisismo.

A falta de consenso sobre o termo "depressão" na sociedade atual reflete a dificuldade em lidar com as transformações sociais, econômicas e culturais que afetam a evolução da subjetividade.

Por uma perspectiva psicanalítica, a depressão pode ser considerada uma posição subjetiva diante das demandas sociais que enfatizam o individualismo e a cultura do espetáculo.

O sujeito contemporâneo, sob pressão para buscar a satisfação constante, muitas vezes se vê paralisado, afastado de seu desejo, resistindo às exigências sociais. Assim, a depressão pode ser uma resposta à sociedade que não tolera a falta, a dor e o sofrimento.

Neste contexto, enquanto dispositivo de "cura pela palavra" a psicanálise concebe a escuta do "singular" como importante possibilidade de abertura para as manifestações subjetivas, que podem estar relacionadas às múltiplas expressões sintomáticas, inclusive as depressivas.

Em todos os casos, torna-se essencial o diagnóstico precoce para que o tratamento seja bem sucedido, evitando novos episódios. É fato que a depressão pode aparecer em diversas fases da vida, a começar pela infância.

Depressão na Era Digital
por Ana Suy e Alexandre Patrício

No curso Depressão na Era Digital, os psicanalistas e escritores Ana Suy e Alexandre Patricio de Almeida apresentam uma discussão sobre saúde mental, cultura e sociedade a partir da psicanálise, oferecendo uma imersão nas complexidades do adoecimento psíquico na era atual, em especial sobre o fenômeno da depressão.

Confira o curso!



Sintomas e diagnóstico da depressão infantil

Em crianças pré-escolares - de idade até sete anos - a manifestação clínica mais comum é representada pelos sintomas físicos, tais como dores, fadiga e tontura. Ainda segundo o autor, seguem-se além das queixas dos sintomas físicos a presença de ansiedade, fobias, agitação psicomotora ou hiperatividade, irritabilidade, diminuição do apetite com falha em alcançar o peso adequado, e alterações do sono.

Alguns estudiosos citam surgimento de choro excessivo e frequente, comunicação falha, tristeza na fisionomia e um comportamento que apresenta agressividade.

Em crianças escolares - entre seis a doze anos -, o humor depressivo já pode ser verbalizado e é frequentemente relatado como tristeza, irritabilidade ou tédio. As crianças podem apresentar apatia, tristeza, fadiga, isolamento, aparência triste, queda do desempenho escolar, ansiedade diante de uma separação, dentre outros.

Os estudos dedicados à depressão infantil, semelhantes aos adultos, revelam a importância do diagnóstico precoce. A peculiaridade do diagnóstico infantil reside na possibilidade de identificação tardia, agravando a situação.

A depressão infantil pode passar despercebida ou ser confundida com características temperamentais, tornando-se desafiador reconhecê-la. Desde a década de 1970, há consenso de que as crianças apresentam sintomas depressivos semelhantes aos dos adultos, com a irritabilidade assumindo o papel do abatimento no diagnóstico infantil.

15 sinais da depressão infantil

  • Angústia.
  • Pessimismo
  • Agressividade
  • Falta de apetite
  • Falta de prazer em executar atividades
  • Isolamento
  • Apatia
  • Insônia ou sono excessivo que não satisfaz
  • Queixas de dores
  • Sentimentos de desesperança
  • Dificuldade de concentração, atenção memória ou raciocínio
  • Baixa auto-estima e sentimento de inferioridade
  • Sensação frequente de cansaço ou perda de energia
  • Sentimentos de culpa
  • Dificuldade de se afastar da mãe


A depressão em crianças: uma visão da psicanálise

A teoria de Sigmund Freud trouxe uma nova perspectiva sobre as angústias infantis, que se assemelham às vivenciadas na idade adulta. Estudos recentes corroboram a ideia de que, contrariamente a concepções antigas, as crianças experimentam emoções, enfrentam perdas, mudanças e traumas, que podem ter repercussões na vida adulta, tornando-se terrenos férteis para o desenvolvimento da depressão.

Para a psicanálise freudiana, a depressão infantil está relacionada a situações de perdas e luto, impactando diretamente na fase narcísica da criança. A infância, caracterizada pela ainda incompleta constituição psíquica, evidencia a singularidade de como cada criança vivencia e elabora suas perdas, considerando que as histórias de vida são distintas.

banner do curso Melanie Klein e a refundação do eu desenvolvimento psiquico e a teoria das posicoes, do professor Alexandre Patricio, para a Casa do Saber



Psicanálise, psicoterapia e psiquiatria no tratamento da depressão

Pesquisas sobre a depressão de difícil tratamento enfatizam a importância da associação do acompanhamento psiquiátrico ao acompanhamento psicanalítico. Nestes casos graves, nota-se a predominância de derivados de impulsos agressivos nos humores depressivos.

Na clínica psicanalítica destacam-se dois tipos de desprazer: a ansiedade e o afeto depressivo, decorrentes de situações como luto, perdas amorosas ou punições.

Uma leitura psiquiátrica associada ao manejo psicanalítico ressalta que o afeto depressivo desempenha papel equivalente à ansiedade na psicopatologia, sendo uma parte inevitável da vida mental, acionando defesas e conflitos, podendo ser ou não consciente em um dado compromisso.

Aqui os transtornos depressivos são definidos como a "sensação de impotência e desesperança diante da realização de um desejo intenso", colorindo toda a auto-representação com sentimentos de inferioridade, incapacidade e ameaça.

Grandes autores da psicanálise, como Melanie Klein, criaram conceitos e formas de compreensão das manifestações do transtorno depressivo. Aprofunde-se no tema da depressão com a Masterclass do professor e psicanalista Alexandre Patricio de Almeida dedicada às psicopatologias atuais.



Como vencer a depressão?

O acolhimento das pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo depressão e as necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, e seus familiares é fundamental para a identificação das necessidades assistenciais, alívio do sofrimento e planejamento de intervenções medicamentosas e terapêuticas, se e quando necessárias.

No Brasil, além de contar com a disponibilidade de consultórios e clínicas particulares, os indivíduos em situações de crise podem ser atendidos em qualquer serviço da rede pública de saúde.

Os casos de pacientes em situação de emergência devem ser atendidos nos serviços de urgência e emergência e nos serviços da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) é composta por equipamentos variados, em sua maioria guiados por princípios de cuidado comunitário e em liberdade, tais como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência e Cultura e as Unidade de Acolhimento (UAs). As diretrizes da política envolvem o governo federal e os estados e municípios.






Referências:

Birman, J. (2012). O sujeito na contemporaneidade: espaço, dor e desalento na atualidade. Brasil: Civilização Brasileira.

Bleichmar HB. Some subtypes of depression and their implications for psychoanalytic treatment. Int J Psychoanal 1996;77:935-61.

Brenner C. A psychoanalytic perspective on depression. JAPA 1991;39:25-43.

de Almeida, A. P., & Neto, A. N. (2022). Perto das trevas: A depressão em seis perspectivas psicanalíticas. Blucher.

Fonagy, P., & Target, M. (2004). Questões desenvolvimentais na adolescência normal e colapso na adolescência. In R. B., Graña, & A. B. S., Piva (Orgs.), A atualidade da psicanálise de adolescentes - formas do mal-estar na juventude contemporânea (p. 91-106) São Paulo: Casa do Psicólogo.

Fundação Oswaldo Cruz (2024). Recuperado em 10 de setembro de 2024, de https://www.fiocruz.br.

Freud, S. (2006). Luto e Melancolia. In Escritos sobre a psicologia do inconsciente. Obras Psicológicas de Sigmund Freud. (Vol. 2, pp. 99-122). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1917[1915])

Freud, S. (1996f). Sobre a transitoriedade. In Edição Standard das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. (Vol. XIV, pp. 315- 319). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1916a[1915])

Guerra, R. D. C. L. (2008). DEPRESSÃO NA INFÂNCIA: ASPECTOS GERAIS E ABORDAGEM PSICANALÍTICA. Brasília, DF.

Jeammet, P., & Corcos, M. (2005). Novas problemáticas da adolescência: evolução e manejo da dependência. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Kehl, M. R. (2015). O tempo e o cão: a atualidade das depressões. BOITEMPO EDITORIAL.

Klein, Melanie. Inveja e Gratidão e outros trabalhos. 4. ed. Inglesa. Rio de Janeiro, Imago,1991.

Mahler, M. S. (1963). Thoughts about development and individuation. Psychoanal. St. Child, 18, 307-324.

Maximiano, S. I. (2020). Sofrimento e depressão na infância: uma leitura psicanalítica (dissertation). Atibaia.

Mendes, E. D., Viana, T. de, & Bara, O. (2014). Melancolia e Depressão: Um estudo psicanalítico. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 30(4), 423–431. https://doi.org/10.1590/s0102-37722014000400007

Mourão Franco de Sá Barros, C., & Fernandes da Motta, I. (2022). As especificidades da escuta psicanalítica com idosos: esperança em foco: . Natureza Humana - Revista Internacional De Filosofia E Psicanálise, 24(1), 79–92. Recuperado de https://revistas.dwwe.com.br/index.php/NH/article/view/524

Oliveira, L. M., Abrantes, G. G., Ribeiro, G. da, Cunha, N. M., Pontes, M. de, & Vasconcelos, S. C. (2019). Loneliness in senescence and its relationship with depressive symptoms: An integrative review. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 22(6). https://doi.org/10.1590/1981-22562019022.190241

Sobre a depressão pura. Rev. bras. psicanál [online]. 2008, vol.42, n.1, pp. 52-59. ISSN 0486-641X.

OPAS/OMS (2024). Recuperado em 10 de setembro de 2024, de https://www.paho.org/pt/brasil e https://www.who.int/pt/about

Vidal, Manola, & Lowenkron, Theodor. (2008). Sobre a depressão pura. Revista Brasileira de Psicanálise, 42(1), 52-59. Recuperado em 23 de janeiro de 2024, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0486-641X2008000100006&lng=pt&tlng=pt.

Winnicott, D. W. (1967). Los efectos de la enfermedad depresiva en ambos progenitores o en uno de ellos. In W. D. Winnicott, La familia y el desarrollo del individuo(p. 71-83). Buenos Aires: Horm. (Trabalho original publicado em 1958. Titulo original: The family and individual development.)





Ciúmes: Significado, Tipos de ciúme, Retroativo, Relacionamentos
Xavana Celesnah
This is some text inside of a div block.
Ciúmes: Significado, Tipos de ciúme, Retroativo, Relacionamentos
O que é ciúmes, suas causas e tipos, como esse sentimento impacta os relacionamentos românticos e como as redes sociais agravam a insegurança.

O ciúme é um sentimento presente em todo ser humano e é considerado normal até certo ponto. Ele indica que o outro é importante em um relacionamento e que a pessoa que sente ciúmes tem medo de perder aquele relacionamento. Porém, o ciúme se torna um problema quando ele passa a ser uma obsessão. Nesse ponto, a pessoa ciumenta busca controlar a vida do parceiro, prejudicando a qualidade da relação. Neste artigo, vamos abordar o significado dos ciúmes, suas causas, tipos e de que maneira ele impacta os relacionamentos. Além disso, vamos discutir a influência das redes sociais sobre esse sentimento.

O que é Ciúmes?

O ciúme pode ser definido como um sentimento de insegurança emocional que surge quando uma pessoa teme perder o afeto de seu parceiro devido à presença de uma terceira pessoa ou a percepções de diminuição de sua importância. A palavra "ciúmes" tem origem no latim zelumen e no grego zelozus, que significam um desejo ardente, calor ou zelo. Em essência, os ciúmes estão intimamente relacionados ao medo de perder algo ou alguém que consideramos valioso, o que inclui nossos relacionamentos amorosos.

De acordo com o dicionário Aurélio, a palavra ciúme é definida como um “sentimento doloroso que as exigências de um amor inquieto, o desejo de posse da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de sua infidelidade, fazem nascer em alguém; zelos; angústia provocada por sentimento exacerbado de posse”.

Este sentimento pode ser natural e até mesmo saudável em algumas situações. Um certo grau de ciúmes pode sinalizar que a pessoa valoriza o relacionamento e tem medo de perdê-lo. No entanto, o ciúmes se torna problemático quando a insegurança e o medo de perda se transformam em obsessão. Neste ponto, a pessoa ciumenta busca controlar a vida do parceiro, o que pode prejudicar a confiança mútua e a qualidade do relacionamento.

Para entender melhor sobre o tema, assista a seguir a aula gratuita sobre ciúmes com a psicanalista e escritora Ana Suy. A autora dos livros “A gente mira no amor e acerta na solidão” e “Não pise no meu vazio”, Ana Suy esclarece sobre as origens do ciúmes e seu significado.

banner aula gratuita sobre ciumes, de por Ana Suy





Tipos de Ciúmes: Quando o Sentimento Se Torna Prejudicial

Sigmund Freud, o pai da psicanálise, acreditava que o ciúmes seria um estado emocional natural, mas que sua manifestação exacerbada causaria uma patologia. Ele identificou três níveis de ciúmes: o competitivo ou normal, o projetado e o delirante, cada um com suas características e intensidades.

Os ciúmes podem se manifestar de várias formas, desde uma preocupação momentânea até uma obsessão destrutiva. Conhecer os diferentes tipos de ciúmes é essencial para entender como esse sentimento pode afetar um relacionamento, de que forma a dependência emocional pode estar relacionada ao ciúmes e como ele pode ser tratado.

Ciúmes Normal ou Competitivo

Este tipo de ciúmes é o mais comum e natural. Ocorre quando uma pessoa percebe uma ameaça à sua relação, geralmente devido à presença de uma terceira pessoa que disputa a atenção ou o afeto do parceiro. O ciúme competitivo, também definido como normal, é desencadeado por situações reais e específicas, como um parceiro que passa mais tempo com um amigo(a) ou tem interações constantes com um ex-namorado(a).

O ciúme competitivo é, em muitos casos, uma reação à percepção de que outra pessoa pode estar ocupando um espaço importante ou oferecendo algo que a pessoa teme não poder oferecer, como atenção ou carinho. Esse tipo de ciúmes está relacionado a uma insegurança temporária e pode ser agravado pela dependência emocional. Mas, é possível ser superado por meio de diálogos abertos e pelo fortalecimento da confiança mútua.

Ciúmes Projetado

O ciúme projetado ocorre quando a pessoa que sente ciúmes transfere suas próprias inseguranças para o parceiro. Em vez de perceber seus próprios medos e desejos, ela começa a projetar essas emoções no outro. Por exemplo, uma pessoa pode suspeitar que seu parceiro está atraído por alguém, quando, na verdade, ela mesma está experimentando sentimentos de atração por outra pessoa. O ciúme projetado reflete uma desconfiança infundada e pode levar a um comportamento possessivo e controlador, sem base na realidade.

Freud acreditava que esse tipo de ciúmes está relacionado a processos inconscientes, onde a pessoa, ao sentir algo negativo sobre si mesma, começa a "enxergar" esse comportamento no parceiro, mesmo quando não há evidências concretas.

Ciúmes Delirante

O ciúme delirante é o tipo mais extremo e patológico de ciúmes. Nesse caso, o indivíduo sente uma obsessão irracional e sem fundamentos de que está sendo traído, mesmo na ausência de qualquer prova concreta. O ciúme delirante pode levar a distúrbios emocionais graves, como raiva, depressão, paranóia e até comportamentos obsessivos de vigilância, como o monitoramento constante do parceiro.

Nesse caso, a pessoa não apenas sente ciúmes de maneira exagerada, mas acredita de forma delirante e sem fundamento que o parceiro está constantemente sendo infiel. O ciúme delirante pode levar o indivíduo a criar fantasias e acreditar em situações inexistentes, como ter convicções firmes de que o parceiro está escondendo algo, mesmo sem nenhuma evidência concreta.

Esse tipo de ciúmes está frequentemente associado a transtornos psiquiátricos, como o transtorno delirante, em que a pessoa se torna obcecada por uma crença infundada. Muitas vezes, esse comportamento é uma forma de defesa contra sentimentos profundos de insegurança, baixa autoestima ou medo da perda. O ciúmes delirante pode destruir um relacionamento, pois a pessoa afetada vive imersa em fantasias e crenças distorcidas, tornando-se cada vez mais difícil para ela distinguir o que é real do que é imaginário.

banner aula gratuita sobre ciumes com Ana Suy


Como as Redes Sociais Intensificam os Ciúmes nos Relacionamentos

O surgimento das redes sociais tem adicionado uma nova camada de complexidade ao ciúmes nos relacionamentos. Plataformas como Instagram, Facebook e WhatsApp por exemplo, permitem uma exposição constante de nossas interações sociais e de momentos da nossa vida privada, o que pode alimentar a insegurança e a desconfiança no parceiro. Além disso, esses aplicativos surgem como uma fonte inesgotável de mal entendidos e de comparações, especialmente quando um parceiro interage com outras pessoas de forma aberta ou “excessiva” na internet.

A facilidade com que podemos monitorar as atividades online do outro gera o fenômeno conhecido como "stalking digital" ou ou monitoramento das redes sociais. Esse comportamento é cada vez mais comum e envolve desde a análise de fotos e postagens do parceiro até a investigação de mensagens privadas. Em alguns casos, o parceiro começa a criar cenários e conclusões baseadas em interpretações das interações online, o que pode gerar uma espiral de insegurança e desconfiança, prejudicando o fluir do amor.

Para muitas pessoas, esse tipo de comportamento provoca sofrimento emocional e pode até levar ao fim de um relacionamento saudável, já que o foco passa a ser no mal estar e insegurança gerados pelas redes sociais e não nos sentimentos reais entre os parceiros.

Ciúmes e a Psicanálise: A Profundidade das Motivações Inconscientes

Na psicanálise, o ciúme é frequentemente relacionado a uma manifestação de conflitos emocionais inconscientes, muitas vezes, enraizados em experiências passadas e dinâmicas familiares. Assim, a complexidade e os contratempos das relações amorosas teriam origens muito mais profundas. Segundo Freud, o ciúmes pode ser um reflexo de rivalidades internas, como aquelas com pais ou irmãos, ou até mesmo um desejo inconsciente de controle ou possessividade.

A psicanálise e suas diferentes perspectivas, seja através das concepções de Jacques Lacan, pela psicologia analítica de Carl Jung e de Freud, sugere que, para entender profundamente os ciúmes, é necessário examinar as emoções reprimidas e os mecanismos de defesa que as pessoas utilizam para lidar com suas inseguranças. O ciúme excessivo pode, muitas vezes, ser um reflexo de um medo profundo de abandono ou uma sensação de inadequação, que a pessoa projeta no parceiro.

O que é Ciúmes Retroativo?

O ciúme retroativo é um tipo de ciúmes que surge quando uma pessoa sente insegurança ou desconforto em relação ao passado amoroso ou sexual de seu parceiro. Ao contrário do ciúme tradicional, que geralmente está relacionado ao medo de uma ameaça no presente — como uma terceira pessoa que pode estar competindo pela atenção do parceiro — o ciúme retroativo é alimentado por sentimentos de possessividade ou inveja sobre experiências passadas.

Esse tipo de ciúmes pode ser desencadeado por conversas sobre relacionamentos anteriores, a presença de objetos ou recordações do passado (como fotos ou presentes de ex-namorados), ou até mesmo a comparação constante entre o parceiro atual e ex-parceiros. Também é possível surgir a partir de relacionamentos tóxicos com narcisistas, que costumam realizar triangulações com a intenção de desestabilizar o parceiro e causar ciúmes propositalmente. A pessoa com ciúmes retroativo pode sentir que o parceiro ainda tem uma conexão emocional com os ex, o que cria uma sensação de insegurança ou inadequação.

Por que os Ciúmes Retroativos Surgem?

O ciúme retroativo geralmente está ligado a questões de autoestima e insegurança. Quando uma pessoa não consegue se sentir completamente segura ou valorizada no relacionamento amoroso atual, pode começar a projetar suas próprias inseguranças sobre o que o parceiro viveu anteriormente. Esse sentimento é muitas vezes exacerbado por um desejo de "ser a única" pessoa ou a mais importante na vida do parceiro, levando a uma idealização de uma relação sem passado.

Além disso, pessoas com dificuldades em lidar com sentimentos de abandono ou rejeição são mais propensas a desenvolver o ciúmes retroativo, uma vez que se sentem ameaçadas pela ideia de que o parceiro possa ter experimentado um sentimento de amor mais intenso e significativo com outra pessoa no passado.

banner do curso Vocabulario dos Afetos, de Christian Dunker

Como o Ciúmes Retroativo Afeta o Relacionamento?

Quando não tratado, o ciúme retroativo pode causar tensão e desconfiança no relacionamento. Ele pode levar a conflitos frequentes, onde o parceiro ciumento questiona o outro sobre detalhes do passado, exige explicações ou tenta apagar símbolos da história anterior do parceiro, como fotos ou presentes de ex-namorados. Isso cria um ambiente de controle e possessividade, onde o foco não está na construção de um relacionamento saudável, mas em tentar apagar ou substituir o passado.

Além disso, o ciúmes retroativo pode gerar uma sensação de culpabilização no parceiro que tem um passado amoroso. Esse parceiro pode se sentir constantemente acusado ou pressionado a se desvincular de suas experiências anteriores, o que é um comportamento injusto e prejudicial à autoestima e à liberdade individual.

Como Lidar com o Ciúme Retroativo?

Autoconhecimento: Entender a origem do ciúme retroativo é fundamental. Muitas vezes, esse sentimento está relacionado a inseguranças próprias, como o medo de não ser bom o suficiente ou a ideia de que o parceiro teve experiências melhores no passado. Trabalhar esses sentimentos pode ajudar a reduzir o impacto do ciúmes.

Diálogo honesto: É importante que o parceiro que sente ciúmes retroativo converse de forma verdadeira e respeitosa com o outro, explicando suas inseguranças sem acusar ou culpar. O diálogo construtivo pode ajudar a esclarecer mal-entendidos e fortalecer a confiança.

Aceitação do Passado: Todo relacionamento tem um passado, e é saudável aceitar que o parceiro teve experiências antes de estar com você. Tentar apagar ou negar esse passado prejudica a relação. O respeito pelo passado do outro é fundamental para o fortalecimento do vínculo no presente.

Desenvolvimento da Autoestima: Investir em melhorar a autoestima e autoconfiança é essencial para quem sente ciúmes retroativo. O parceiro que se sente inseguro deve focar no seu próprio crescimento e entender que seu valor não depende das comparações com outras pessoas.

Conclusão

O ciúmes é um sentimento humano natural, mas quando se torna uma obsessão leva a comportamentos prejudiciais que afetam profundamente os relacionamentos românticos. Compreender suas origens, seus tipos e os efeitos que ele pode ter nas nossas interações é essencial para lidar com esse sentimento de forma saudável.

Se você se vê constantemente sentindo ciúmes e nota que isso está prejudicando sua vida amorosa e suas relações pessoais, a psicanálise pode ser uma boa ferramenta para entender suas causas mais profundas. Um relacionamento saudável é construído com base na confiança, no respeito mútuo e no amor, não na posse ou controle.




Perguntas Frequentes sobre o Ciúmes

  1. O que causa o ciúmes em um relacionamento?
    O ciúmes é causado por insegurança emocional, medo de perder o parceiro, baixa autoestima, e, em alguns casos, traumas devido à experiências passadas de traição ou rejeição.
  2. Como controlar o ciúmes de maneira saudável?
    Para controlar o ciúmes, é importante desenvolver a autoestima, estabelecer uma comunicação aberta com o parceiro e procurar ajuda psicológica, quando necessário.




Referências:

https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/287/amor-e-solidao-uma-psicanalise-das-conexes-humanas

https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/476/vocabulario-dos-afetos

https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/311/as-relaces-amorosas-e-seus-contratempos-uma-abordagem-interdisciplinar

https://www.filosofiaepsicanalise.org/2013/11/freud-explica-o-ciume.html

Filosofia
Cansaço mental: sintomas de ansiedade, fadiga, sono, fraqueza
Xavana Celesnah
This is some text inside of a div block.
Cansaço mental: sintomas de ansiedade, fadiga, sono, fraqueza
Cansaço extremo o que pode ser, estresse, burnout, Sociedade do Cansaço, Byung-Chul Han, fraqueza no corpo, angústia, sistema nervoso.

O livro A Sociedade do Cansaço, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, oferece uma análise perspicaz sobre um fenômeno globalizado que afeta milhões de pessoas: a sensação de cansaço e exaustão. Essa sensação tornou-se onipresente na sociedade tecnológica voltada para o desempenho. Existe, em grande parte, uma valorização implícita das pessoas que experimentam esse cansaço extremo, por ele estar associado a um esforço contínuo pela produtividade no trabalho.

Essa admiração, alimentada pela ideologia neoliberal, sugere que a cultura do estar “sempre ocupado” é sinal de sucesso. Contudo, os efeitos dessa entrega excessiva – seja no trabalho presencial, no home office ou nos estudos – resultam em um fardo diário de esgotamento, que pode levar a condições como ansiedade, burnout e depressão. Neste artigo, exploraremos as possíveis causas da sobrecarga mental e como a filosofia de Byung-Chul Han pode nos oferecer uma compreensão ampla da situação, criando ferramentas para redefinir as formas de ação dentro de uma ideologia que exalta o "empreendedor de si mesmo".



Como as redes sociais influenciam na ansiedade?

As redes sociais têm um papel central na sociedade contemporânea, impactando significativamente a saúde mental da humanidade. De acordo com o filósofo Byung-Chul Han, estamos vivendo um contexto de mudança de paradigma, onde ocorre a transição entre a sociedade disciplinar descrita por Michel Foucault, para a sociedade do desempenho. Nessa nova configuração, os limites entre o eu e o outro desaparecem, pois tudo passa a ser visto a partir da preocupação com a própria existência. Como consequência, tudo se transforma em mero reflexo de si mesmo. Em cada situação, o indivíduo enxerga a prolongação de sua própria identidade, e as pessoas acabam enxergando apenas a si mesmas.

Nesse sentido, as redes sociais são o principal veículo por meio do qual as pessoas constroem e afirmam suas próprias identidades. Cada postagem, foto ou atualização é uma forma de autoafirmação narcisista, que visa mostrar ao mundo o quanto o indivíduo é produtivo, bem-sucedido e realizado. Isso reflete a lógica neoliberal que se baseia na ideia de que o sucesso provém do esforço contínuo e permanente.

Cansados e Conectados: O Preço da Busca pelo Reconhecimento nas Redes Sociais

No entanto, essa busca incessante por validação e autoafirmação nas redes sociais tem um custo significativo. Ao se verem como produtos a serem consumidos pelos outros, os indivíduos se sentem compelidos a manter uma produtividade constante. Essa busca por aprovação torna-se uma forma de "empreendedorismo de si", onde a pessoa precisa sempre "vender" a melhor versão de si mesma.

Esse comportamento acaba por produzir uma exaustão psicológica que, em muitos casos, leva a problemas psíquicos como ansiedade, insônia, burnout e depressão, como apontado pelo filósofo Byung-Chul Han. A produtividade ininterrupta, tanto no trabalho quanto na vida social, surge com aparência de liberdade, já que não existem chefes ou horários impostos. Mas, na prática, é uma “falsa liberdade”, pois as pessoas sentem-se na obrigação de realizar entregas virtuais cada vez mais constantes, comprometendo a capacidade de desfrutar de uma vida plena.

Para obter mais conhecimento sobre como superar a ansiedade na era digital, baixe gratuitamente o ebook abaixo, que explica os impactos das redes sociais na saúde mental e o conceito de Brain Rot, termo usado para se referir aos efeitos negativos da exposição contínua aos conteúdos de baixa qualidade das redes sociais. O ebook contém informações do curso da Casa do Saber intitulado Saúde Mental e Estresse: Uma Visão das Neurociências, ministrado pela doutora em Ciências pela UFRJ, Ana Carolina Souza. Preencha o formulário a seguir e tenha acesso ao ebook instantaneamente no seu e-mail:

Banner ebook 'Ansiedade e redes sociais', da Casa do Saber

As redes sociais: uma dependência patológica

As redes sociais, ao promoverem um modelo de produtividade constante, reduzem a vida humana a uma busca incessante por reconhecimento. Assim, o que antes era um espaço pessoal, como a casa ou a privacidade do pensamento, agora se mistura ao olhar e ao julgamento constante do público. Esse processo de exposição contínua cria uma atmosfera de pressão, onde o indivíduo não pode mais se relacionar com sua própria identidade de maneira autêntica, mas em função de como é percebido pelos outros. Assim, a autoafirmação na era digital se torna dependente da validação externa, medida por curtidas, comentários, seguidores, compartilhamentos.

Esse fenômeno revela um paradoxo de liberdade. Em vez de promover a liberdade individual, as redes sociais, na verdade, encorajam uma forma de escravidão contemporânea. Ao acreditar que estão se autoafirmando e sendo livres, os indivíduos acabam presos a uma lógica de produtividade sem fim. O filósofo Byung-Chul Han explica que, no capitalismo neoliberal, a liberdade é confundida com a obrigação de se afirmar constantemente, o que leva a uma exploração do próprio corpo e mente. O indivíduo, ao tentar se destacar e se afirmar nas redes sociais, está, na realidade, se exaurindo, tornando-se incapaz de desfrutar dos próprios momentos de descanso ou de lazer em conexão com outras pessoas.

Essa incessante procura por autossuperação nas redes sociais reflete o modelo de vida capitalista, onde a produtividade desenfreada gera uma exaustão que compromete a saúde mental e emocional. A pessoa, que inicialmente se vê como livre ao produzir e compartilhar sua identidade, acaba se tornando um "morto-vivo", como descreve o já mencionado pensador sul-coreando, presa a um ciclo de atividade e consumo sem limites. Nesse sentido, as redes sociais não apenas refletem essa lógica, mas também a amplificam, tornando o indivíduo cada vez mais dependente da constante validação externa, e cada vez mais distante de alcançar momentos de plenitude que estejam desprovidos de uma função econômica.

Burnout e Redes Sociais

Quem trabalha com redes sociais, seja como social media para empresas ou como empreendedor de si mesmo no digital, sabe que o esgotamento mental é uma constante nesse ambiente virtual de trabalho. Postagens diárias, seja no Instagram ou no TikTok, precisam ter alcance, curtidas, compartilhamentos, engajamento. Portanto, esse tipo de trabalho opera em uma lógica de produtividade ininterrupta, que acaba sugando as energias dos criadores de conteúdo. Principalmente, quando o produtor de conteúdo digital também é o próprio empreendedor, fato que acontece com frequência na sociedade do desempenho que vivenciamos.

A lista de atividades diárias de quem trabalha como produtor de conteúdo digital nas redes sociais é interminável:

  • Fotos
  • Legendas
  • Carrosséis
  • Arte com conteúdo para feed
  • Vídeos para reels
  • Vídeos para story
  • Vídeo para TikTok
  • Caixinhas de perguntas para story
  • Compartilhamento de conteúdo relevante
  • Texto persuasivo de copywriter para vendas


Além da pressão para estar disponível 24 horas por dia, responder imediatamente a mensagens e estar presente em múltiplas plataformas. Tudo isso gera uma sensação de sobrecarga. Se identificou? Muito provavelmente sim.

Mas, o que você talvez ainda não saiba é que a lógica neoliberal tem propagado uma ideia sedutora de liberdade no ambiente virtual. Apesar da aparência de liberdade que essa lógica sugere, ela resulta, na prática, em uma uniformização das experiências de vida. As pessoas, ao acreditarem que estão tomando decisões autônomas, estão, na realidade, sendo moldadas por uma mesma dinâmica de produtividade e consumo. Todos estão seguindo o mesmo caminho: trabalhar mais, se expor mais, alcançar mais.

Nesse sentido, são incentivadas a se perceberem como responsáveis pelo seu próprio destino e pela sua realização pessoal. Mas, essa promessa de autonomia, no entanto, esconde uma realidade de exploração constante. Trata-se da “uberização do trabalho”, uma dinâmica onde as pessoas se percebem como “donas de seu próprio tempo” e acreditam que assim, são livres. Quando, na verdade, estão sujeitas a uma nova forma de subordinação. Ao se verem como empresários de suas vidas, acabam presas a uma rotina de produtividade incessante, sem descanso e sem a possibilidade de se desconectar das demandas virtuais, sociais e econômicas.

Nesse contexto, o trabalho não é mais uma obrigação imposta de fora, como propôs Foucault com sua sociedade disciplinar, mas tornou-se uma escolha que se transforma em uma necessidade constante de atingir metas. A lógica do "empreendedorismo de si mesmo" faz com que o indivíduo se sinta constantemente pressionado a demonstrar sua capacidade nas redes sociais, em um ciclo de validação permanente.

Essa obsessão por produzir e se autoafirmar em todas as esferas da vida intensifica a carga de trabalho e drena as energias emocionais e psicológicas, levando as pessoas a uma exaustão constante. Daí, o surgimento de quadros de muito sono acumulado, estresse e o aumento significativo dos casos de burnout. Dados da Organização Mundial da Saúde indicam um aumento significativo de diagnósticos relacionados a distúrbios mentais, com o Brasil sendo um dos países com maiores índices de síndrome de burnout, um reflexo claro de uma sociedade que sobrecarrega seus cidadãos em nome do desempenho.

A exaustão provocada por essa lógica é uma das consequências mais devastadoras do neoliberalismo. O constante esforço para manter a imagem de sucesso e capacidade leva ao esgotamento físico e mental. O indivíduo, pressionado a se afirmar a todo momento, perde a capacidade de se conectar consigo mesmo e de aproveitar os momentos de lazer. O paradoxo é claro: ao tentar conquistar sua liberdade através do trabalho e da produtividade, as pessoas se tornam cada vez mais escravizadas por essas mesmas exigências. O “empreendedor de si mesmo” está, na realidade, preso a um ciclo de autossubordinação, onde sua identidade é definida unicamente pela sua capacidade de produzir e de se mostrar ativo. E essa dinâmica leva, inevitavelmente, à exaustão, à perda de autonomia real e ao sofrimento psicológico.

Entenda as ideias de Byung-chul Han no curso

thumb do curso 'A Filosofia de Byung-chul Han', por Lucas Nascimento Machado


Veja agora



Como recuperar a saúde mental na Era Digital?

Alcançar o bem-estar psicológico na era das redes sociais exige um esforço consciente para desacelerar e redefinir o que significa bem-estar. A sociedade atual valoriza a produtividade acima de tudo, mas é preciso saber valorizar também a pausa, o descanso. Até mesmo o tempo de lazer é frequentemente visto como algo secundário, um luxo ou até mesmo um desperdício, especialmente em um cenário onde as redes sociais impõem uma imagem de sucesso ininterrupto e constante.

No entanto, é fundamental entender que o descanso genuíno não é apenas uma pausa física, mas também emocional e psicológica. A recuperação da saúde mental começa quando se reconhece que o descanso não deve ser vivenciado com culpa ou com a mesma lógica da produtividade, considerando que as pessoas muitas vezes ficam querendo compartilhar fotos e vídeos de onde estão nas férias; assistir ao máximo de séries e filmes, ler o máximo de livros, fazer o máximo de viagens possíveis. Ou seja, mesmo nos momentos de descanso, a lógica da produtividade continua a mesma.

Isso resulta em um ciclo vicioso de autocobrança, onde não fazer nada é inaceitável e o sofrimento é invisibilizado. Para quebrar esse ciclo, é essencial que as pessoas questionem a forma como se relacionam com o trabalho e a busca pelo sucesso. O verdadeiro descanso envolve parar, refletir e dar a si mesmo permissão para não estar sempre "fazendo algo". Ao interromper o ciclo de exigências, é possível recuperar uma vida mais equilibrada.



Conclusão

Em uma sociedade que induz as pessoas a acreditarem que o resultado de suas conquistas depende exclusivamente de seu esforço, é preciso redefinir o conceito de produtividade. A ideologia dominante pressiona as pessoas a acreditarem que o sucesso é resultado exclusivo do esforço individual. Portanto, é essencial redefinir o conceito de produtividade. Essa lógica do esforço individual impõe uma opressão psicológica que leva muitos a acreditarem que o valor de sua existência e conquistas depende exclusivamente do seu desempenho. Esse pensamento cria uma cobrança constante, onde o indivíduo se vê em um ciclo exaustivo de autossuperação.

Quando os resultados não correspondem às expectativas, o impacto psicológico é profundo, gerando sentimentos de inadequação, frustração e até angústia. Essa pressão por resultados, combinada com a ideia de que não há limites para o esforço, acaba produzindo uma exaustão física e um sofrimento mental significativo, pois a busca incessante por sucesso é vivida como uma obrigação pessoal, e não como uma escolha saudável.

A produtividade também pode envolver momentos de introspecção, cuidado consigo mesmo e conexão com os outros. Integrar esses momentos na rotina, ao lado do trabalho, cria um espaço para a regeneração mental e emocional. Para que isso aconteça, é necessário estabelecer limites claros entre o trabalho e o lazer, respeitando o tempo de desconexão sem que isso seja visto como uma falha. A recuperação da saúde mental não se resume a diminuir o ritmo, mas a reconfigurar as expectativas sobre o que é produtivo e valioso.

Para lidar com a sobrecarga mental imposta pela era das redes sociais, é importante procurar um profissional de saúde habilitado para realizar um tratamento individualizado. Por mais que atitudes possam ser incluídas na rotina no sentido de minimizar os efeitos negativos provocados pela exposição incessante e diária ao universo virtual, o acompanhamento psicológico continua sendo fundamental no processo de recuperação psíquica.

thumb do curso 'Manual Psicanalítico para Viver Melhor no Século 21', por Marcelo Veras




Referências

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/259/a-filosofia-de-byung-chul-han

 Curso de Filosofia EaD: Guia Completo para Estudar Online
Rodrigo Gomes
This is some text inside of a div block.
Curso de Filosofia EaD: Guia Completo para Estudar Online
Saiba o que é Filosofia, o que estuda e principais pensadores. Veja a lista de melhores cursos para estudar à distância, do introdutório ao avançado.

Entenda o que é Filosofia, como ela surgiu e sua importância para o mundo. Vamos conhecer os períodos e principais pensadores que marcaram a história da Filosofia, as áreas de estudo, além dos melhores cursos à distância para aprender sobre esta área do conhecimento.



Quais os passos para estudar Filosofia?

É comum as pessoas entenderem que estão filosofando (e de fato o estão) ao se verem introspectivas refletindo sobre qual o sentido da vida, observando as árvores, animais, as estrelas e ao se espantarem diante da grandeza do universo em contraste com a pequenez do homem.

Estruturar o pensamento filosófico, no entanto, está longe de ser uma tarefa simples. É possível acessar um material rico já construído por mentes brilhantes com reflexões e métodos que servem como guia para se construir o saber filosófico.

Por isso, além de explorar uma inquietação filosófica espontânea, aprender filosofia significa essencialmente se debruçar sobre a própria história da filosofia, seus conceitos e métodos.

O que a Filosofia estuda?

Este campo do saber procura investigar as nossas origens, a existência, as transformações observadas na natureza, e as relações e experiências do homem no mundo.

A partir da curiosidade, questionamentos e observações sobre o que está à nossa volta, é possível filosofar sobre tudo o que possa provocar espanto, despertar dúvidas ou admiração. Dentro de seu estudo sistematizado, encontramos diversas áreas de investigação.

Um exemplo é o estudo da Ética, onde a filosofia se propõe a refletir sobre valores morais e as ações humanas, levanta questões sobre a definição do que é o bem e o mal, o certo e o errado ou o conceito de justiça.

Outro ramo é a Estética, em que o interesse está focado na experiência artística, sendo possíveis questionamentos sobre a concepção do que é considerado belo ou a reflexão sobre o papel da arte na sociedade. Estes são apenas alguns exemplos das muitas ramificações possíveis para desenvolver o pensamento filosófico.

pintura escola de atenas, de rafael sanzio
Afresco "A Escola de Atenas", de Rafael Sanzio, que apresenta Platão e Aristóteles ao centro.(Wikimedia Commons)

Quem pode estudar Filosofia?

Pelo seu aspecto livre e universal, a filosofia é acessível a todas as pessoas que desejam se lançar ao estudo da área, abarcando desde a trajetória acadêmica formal ao puro desejo pessoal de estudar a existência e as questões que nos concernem.

Dentro deste espaço de aprendizado, encontramos diferentes ramos de estudo - como moral, ética, política, religião, epistemologia - diversos pensadores e períodos históricos, além de tratar de dilemas ancestrais até questões contemporâneas. Em cada campo mencionado, há um universo inesgotável de possibilidades de investigação e estudo.

A Filosofia não implica em uma posição de posse do saber, mas uma prática do pensar a realidade pela razão. Por isso, seu estudo não se limita apenas ao caminho acadêmico. A Filosofia é para todos aqueles que têm curiosidade de saber, que desejam questionar, se debruçar nas questões levantadas por grandes pensadores e analisar criticamente a realidade, trilhando um caminho próprio em busca da verdade.

Por onde começar a estudar Filosofia?

A construção de aprendizado nesta área do saber é subjetiva e marcada por um exercício constante de elaboração em relação aos mistérios da vida. Para começar os estudos em Filosofia , sabemos que é necessário traçar minimamente um caminho para início da jornada.

Os estudos iniciais geralmente tomam por partida o pensamentos de filósofos ocidentais, como Sócrates, Platão e Aristóteles, através de textos considerados fundamentais, como a obra “O Banquete”, de Platão. Porém, indicar a leitura dos textos pode não ser o suficiente para a devida compreensão do tema.

Por isso, passaremos ponto a ponto pela história da filosofia, grandes pensadores e áreas de estudo para que você consiga entender um pouco mais sobre o percurso e encontrar as melhores opções de cursos de filosofia.

O que é Filosofia e como surgiu?

Traçar uma definição clara e simples da filosofia é uma tarefa desafiadora, pois sua estrutura conceitual é baseada em uma linguagem complexa e necessita de um certo conhecimento prévio na área para compreendê-la em essência. É da natureza da filosofia não contar com respostas imediatas.

A filosofia é um livre saber que se baseia na razão para explicar a realidade a partir do uso de conceitos. A palavra "filosofia" (do grego φιλοσοφία) resulta da união de outras duas palavras:

- "philos” - significa "amizade", "amor fraterno" (não no sentido erótico), desejo intenso por algo e respeito entre os iguais.

- "sophia” - significa "sabedoria", "conhecimento".

Filosofia significa, portanto, amizade ou amor pela sabedoria, amor e respeito pelo saber ou pelo conhecimento. A partir da Filosofia, o homem pode caminhar em direção à autonomia para pensar sobre si mesmo e o mundo e, por isso, carrega um sentido de liberdade. É um exercício do pensar e constante busca pelo saber, uma atitude que não se submete a nenhuma forma de controle ou qualquer outro conhecimento.

A origem da filosofia remonta à Grécia Antiga, no século VI a.C, e marca a transição do pensamento mítico para o da razão. Surge não por uma pergunta teórica ou alguma questão efetiva, mas a partir da admiração diante de fenômenos que ultrapassam o poder do conhecimento e provocam curiosidade, temor e espanto.

À época, fenômenos naturais que não podiam ser explicados, como a noção de finitude marcada pela vida e morte, a mudança das estações ou a transição entre dia e a noite, eram ilustrados por meio de mitos.

Os mitos eram narrativas que pretendiam explicar a origem dos deuses e do universo de forma fantasiosa e sobrenatural, onde eram representados os fenômenos da natureza, os sentimentos humanos e as contradições presentes na sociedade.

Mito de Perséfone: a mudança das estações pela mitologia grega

imagem antiga retratando mito de perséfone e hades exposta no British Museum,em Londres
Representação de Perséfone e Hades - Vulci, c. 440-430 BCE. (British Museum, London)

Segundo conta a mitologia grega, Perséfone era filha de Zeus com Deméter, deusa da colheita e da agricultura. Um dia, ao ver a jovem colhendo flores em uma pradaria, Hades, o deus do submundo, se apaixona por Perséfone e a sequestra.

Enfurecida e entristecida pelo sumiço da filha, Deméter deixa o Olimpo e passa a não cumprir suas funções de colheita, tornando o solo da Terra estéril. Ao notar a devastação causada pela ausência de Deméter, Zeus envia o mensageiro Hermes ao submundo para negociar a libertação de Perséfone. No entanto, sem saber das consequências, a jovem havia ingerido sementes de romã oferecidas por Hades, fato que criou uma ligação eterna com o submundo e que a impediu de deixá-lo permanentemente.

Assim, foi feito um acordo: Perséfone viveria dois terços do ano com Deméter, representado o período de boa colheita, quando Deméter estava contente pela chegada da filha (primavera e verão) e um terço do ano com Hades, representando o período de dificuldade na colheita, pois Deméter estava infeliz por conta do regresso da filha para o submundo (outono e, principalmente, inverno)

.


Por que a Filosofia surgiu na Grécia?

Há diferentes teses sobre esta questão. Uma delas é conhecida como “Milagre Grego”, em que se acreditava que a Filosofia surgiu de maneira única, inesperada e espontânea na Grécia , como defendia o historiador Diógenes Laércio (180-240 d.C).

Outra vertente considera que as transformações vivenciadas pelos gregos se deram por conhecimentos advindos dos povos “orientais”, através de uma herança dos egípcios, caldeus, babilônios e persas, contribuindo para que florescessem conhecimentos como geometria, astrologia e meteorologia.

Por uma visão histórica, é possível constatar que a topografia da região facilitou a construção de portos, viagens marítimas e intercâmbio econômico. Isso levou os gregos ao contato com outras civilizações e seus diferentes mitos, trazendo descrença e busca por explicações mais racionais sobre o mundo.

mapa do mundo grego referente ao período histórico de início da filosofia
Mapa do mundo grego - Reprodução: Livro “Iniciação à História da Filosofia - dos pré-socráticos a Wittgenstein, de Danilo Marcondes


Quais foram os primeiros filósofos?

A estrutura e modelo político desenvolvidos nas polis gregas, propiciaram o surgimento dos primeiros filósofos, conhecidos como pré-socráticos. Eles se concentravam na pergunta e busca pelo arché, que seria o elemento primordial a que todas as outras coisas se derivam, a substância primeira capaz de constituir todo o universo e tudo o quanto existe na realidade.

Tales de Mileto (sec. VII e VI a.C) é considerado o primeiro filósofo da História. Marcou o rompimento em relação ao mito ao questionar racionalmente a natureza, buscando compreender o mundo a partir da investigação e não se satisfazendo com as respostas fantásticas e sobrenaturais colocadas pela mitologia. Ele propôs que a água era a substância fundamental e que compunha todas as coisas que existiam no mundo.

Não à toa os filósofos pioneiros são chamados de pré-socráticos. Esta definição já indica a importância do legado deixado por Sócrates, que contribuiu de forma consistente para o início e desenvolvimento do período conhecido como filosofia clássica, seguido por Platão e Aristóteles. A partir de então, a disciplina se desenvolve com métodos mais sistemáticos e analíticos de investigação, e se expande para áreas como´ética, política, lógica e epistemologia.

Para entendermos melhor essa caminhada, vamos conferir os períodos que marcam a filosofia e um pouquinho da característica de cada um deles.

Imagem de Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo
Imagem de Tales de Mileto, considerado o primeiro filósofo da História. (Wikimedia Commons)


Conheça os períodos e grandes pensadores da Filosofia

Os períodos da Filosofia são marcados por diversas condicionantes, que refletem mudanças estruturais e impactam no modo de vida da sociedade. Acontecimentos históricos, descobertas científicas e tecnológicas, mudanças políticas, entre outros fatores são determinantes para uma mudança de comportamento em relação ao modo de se pensar e se viver no mundo.

As ideias propostas por grandes pensadores, advindas de suas reflexões e expostas em suas obras, contribuem de forma substancial para esta demarcação entre os períodos. Confira a lista dos períodos abaixo:

  • Filosofia Antiga (séc.VI a.C. até sec. V d.C):

    Este período marca o início da Filosofia , que começou na Grécia Antiga e se estendeu até ao mundo romano. Foi iniciada pelos Pré-Socráticos, com as investigações sobre a natureza, ordem e origem do mundo (cosmologia) e seguiu com Sócrates, Platão e Aristóteles, que trouxeram as atenções para o homem (“conhece-te a ti mesmo”) e estabeleceram as bases da ética, epistemologia e metafísica ocidentais. No período helenístico, escolas como o Estoicismo e o Epicurismo focaram na ética prática e na busca pela felicidade.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Antiga:

    Sócrates, Platão, Aristóteles, Epicuro, Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímees, Heráclito, Pitágoras, Parmênides e Zenão.

  • Filosofia Medieval (séc. V d.C até séc XV d.C):

    Este longo período histórico vai do final do helenismo até o Renascimento e o início do pensamento moderno e marca a fusão da filosofia grega com as tradições religiosas, como o cristianismo. Os principais temas incluíam a relação entre fé e razão, a natureza de Deus, a existência da alma e a moralidade.

    A maior parte da produção conhecida como “filosofia medieval”, porém, está concentrada entre os séculos XII e XIV, período do surgimento e desenvolvimento da escolástica. Filósofos como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, buscaram integrar o pensamento racional à fé religiosa. Esse período foi essencial para o desenvolvimento da filosofia e ciência modernas.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Medieval:

    Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Anselmo de Cantuária, Boécio, Duns Scotus, Guilherme de Ockham e Avicena (Ibn Sina).

  • Filosofia Moderna (séc. XVII d.C até XIX d.C):

    A filosofia moderna representa um movimento centrado na ideia de progresso e valorização da subjetividade. Impulsionado pela queda do regime feudal, ascensão burguesa, descobertas científicas e declínio da influência da Igreja Católica, a filosofia passa a operar pela razão e empirismo científico.

    Pensadores como Descartes, Locke, Kant, Spinoza e Hume exploraram o conhecimento, a mente humana e a realidade. Esse período destacou a importância da liberdade, do governo e dos direitos humanos, influenciando a ciência, a política e a ética. O Iluminismo enfatizou a razão e a ciência como caminhos para o progresso, enquanto Hegel e Marx moldaram debates filosóficos e sociais que são relevantes até os dias de hoje.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Moderna:

    René Descartes, Immanuel Kant, John Locke, David Hume, Baruch Spinoza, Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau, Francis Bacon, G.W.F. Hegel, Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche e Karl Marx.

  • Filosofia Contemporânea (séc. XX - atualmente):

    Abarcando o início do século XX até os dias atuais, o período abrange uma ampla gama de temas que refletem as profundas mudanças sociais, políticas e tecnológicas. Pensadores como Sartre, Foucault, Derrida e Deleuze exploraram questões fundamentais como a natureza da existência, o exercício do poder, a linguagem e a construção da identidade.

    Já o movimento analítico, representado por Wittgenstein e Russell, concentrou-se na lógica e na análise da linguagem como instrumentos centrais de investigação filosófica. Temas como ética, direitos humanos, feminismo e desafios contemporâneos relacionados à questões ambientais e tecnológicas são evidenciados neste período. Este cenário apenas comprova a importância do estudo contínuo e relevância da filosofia para pensarmos os dilemas e as complexidades do mundo atual.

    ⭐ Pensadores do período da Filosofia Contemporânea:

    Jean-Paul Sartre, Michel Foucault, Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Martin Heidegger, Ludwig Wittgenstein, Simone de Beauvoir, Hannah Arendt e Jürgen Habermas

Foto da “O pensador”,de Auguste Rodin, escultura de homem com a mão no queixo pensando filosoficamente, exposta no Musée Rodin, em Paris, na França.
Escultura “O Pensador”, obra-prima de Auguste Rodin. Representa a introspecção, contemplação e a intelectualidade. Reprodução: Site Musée Rodin

“O que faz meu Pensador pensar é que ele pensa não só com o cérebro, mas também com suas sobrancelhas tensas, suas narinas distendidas e seus lábios comprimidos. Ele pensa com cada músculo de seus braços e pernas, com seus punhos fechados e com seus artelhos curvados”

- citação de Auguste Rodin sobre a própria obra.



Conheça as áreas de estudo da Filosofia

Entender as ramificações da filosofia é um passo interessante para vislumbrar os passos de investigação na área.

Confira de forma um pouco mais detalhada algumas das principais ramificações da Filosofia abaixo:

  • Metafísica:

    Você já parou para refletir sobre o que é a alma ou mesmo a existência?

    Essas são algumas das perguntas abordadas pelos filósofos nesta área de estudo. A palavra metafísica vem de um vocábulo grego que significa “depois da física” ou “além do físico”, por isso investiga a realidade como um todo e o que está além do mundo físico e da experiência de nossos sentidos.

  • Epistemologia:

    O que é a verdade? Ela é subjetiva ou objetiva? Como definir quais fontes de conhecimento são válidas e por que algumas ideias têm mais espaço do que outras?

    Conhecida como “teoria do conhecimento”, este é um dos campos principais da filosofia, onde se estuda a relação do sujeito com o conhecimento, os tipos de conhecimento e em que investiga-se sua origem, limites e validade.

  • Ética:

    Esta área se debruça sobre questões morais e as ações humanas como uma ciência do bom comportamento para construir uma vida boa para o todo em sociedade.

    Busca refletir sobre bem e mal, bom e ruim e levantar debates sobre condutas de comportamento humano como a definição do que é certo e errado e a noção de justiça.

  • Estética:

    Ao visitar um museu, é possível que você escute alguém questionando a beleza das obras expostas. Afinal como - ou quem - define o que é o belo?

    Conhecida também como “Filosofia da Arte” , a estética se dedica a estudar o conceito do que é belo e do fenômeno artístico, refletindo sobre percepções e sensações para além do gosto pessoal de cada um, mas levando em conta também a natureza da criatividade na arte e aspectos culturais.

  • Filosofia Política:

    Ao longo da história, presenciamos diversos tipos de ideologias e formas de governar. Este ramo da filosofia busca refletir sobre a natureza do poder, da justiça, igualdade, direitos e liberdade.

    Por que um governo precisa existir, o que o torna legítimo e de que forma ele se estabelece? O que é cidadania e qual a sua importância da participação política? A política está presente na vida social de todos e as perguntas feitas pela filosofia são de grande importância para a sociedade.

  • Lógica:

    A lógica é utilizada para construir e validar raciocínios, distinguindo o que é correto e o que é incorreto no intuito de encontrar um resultado verdadeiro.

    A partir de diferentes métodos, como dedução e indução, direciona a linha de pensamento para uma conclusão que seja coerente. Confira abaixo um exemplo de silogismo, modelo dedutivo introduzido por Aristóteles:

    1ª premissa: Todos os homens são mortais

    2ª premissa: Sócrates é homem

    Conclusão: Sócrates é mortal.

Agora que já entendemos um pouco mais sobre a história da filosofia e suas áreas de estudo, vamos conferir uma lista com os melhores cursos de filosofia para você estudar à distância?

Melhores cursos online de Filosofia com certificado

Até aqui aprendemos algumas informações importantes sobre a Filosofia, mas como começar a de fato a estudar os métodos, conceitos e enriquecer a caminhada em busca de respostas às questões filosóficas de forma mais satisfatória e menos “aventureira”? Separamos cursos por alguns recortes que podem auxiliá-lo nesta empreitada em busca de conhecimento.

Indicaremos cursos de filosofia relacionados especificamente a períodos históricos, cursos focados na vida e obra de pensadores, grandes questões da humanidade ou em áreas de estudo da Filosofia. Todos os cursos listados geram certificado de conclusão.

Cursos introdutórios sobre Filosofia

Para todo início, precisamos “começar do começo”. Considere partir por aqui se você está tendo o primeiro contato com Filosofia e gostaria de ser apresentado a ela antes de seguir para caminhos mais profundos na área.

  • Introdução à Filosofia, por Franklin Leopoldo e Silva
    07 aulas | Duração (50 min)

    Este curso é bem interessante para quem está buscando algo bem introdutório. Nele, o professor Franklin Leopoldo e Silva explica sobre o surgimento da Filosofia de maneira leve, clara, sem abordar conceitos complexos e difíceis de assimilar para um iniciante.

    O curso ajuda a entender como o início da Filosofia contribuiu para criar as bases teóricas do conhecimento e que definiram o ponto de partida para a ciência.

  • Assistir ao curso



  • Introdução à Mitologia Grega, por Julia Myara
    02 aulas | (50 min)

    Se a Filosofia surgiu na Grécia Antiga e marcou uma transição do mito para a razão, é interessante conhecer um pouco sobre a mitologia grega.

    Conheça a origem do mito, as primeiras gerações de Deuses e entenda como essa concepção de mundo sustentava a compreensão dos gregos em relação à existência.

  • Assistir ao curso



  • Para Começar a Estudar Filosofia, por Mauricio Pagotto Marsola
    08 aulas | (3h03)

    Este curso traça um bom caminho para efetivamente iniciar os estudos na área.

    Você será apresentado a obras fundamentais que servem como base para o aprendizado da Filosofia, como “O Banquete”, de Platão, e terá um panorama sobre pensadores e ideias que alicerçam o pensamento filosófico.

  • Assistir ao curso



Cursos sobre as áreas de estudo da Filosofia

Vimos anteriormente neste texto, que a Filosofia tem algumas áreas de estudo. Seguem abaixo algumas opções de cursos relacionados às áreas de investigação da disciplina para que você possa se debruçar:

  • Jornada da Filosofia: Ética, por Douglas Rodrigues Barros
    06 aulas | (2h57)

    Como a ética pode contribuir para uma vida boa para o todo na sociedade?

    Reflita sobre público e privado, certo e errado, justo e injusto e desenvolva recursos de pensamento a partir da introdução às ideias de diferentes pensadores a respeito do tema.

  • Assistir ao curso



  • Jornada da Filosofia: O que é Beleza?, por Eduardo Wolf
    06 Aulas | (3h03)

    Como entender a Beleza para além do gosto pessoal? Seja introduzido à história do conceito de beleza ocidental.

    Entenda como os gregos a enxergavam, tenha um panorama sobre o ponto de vista da Filosofia e compreenda a importante relação da beleza com a maneira como lidamos com o mundo e a vida em sociedade.

  • Assistir ao curso



  • Jornada da Filosofia: Saber, por Suze Piza
    07 aulas | (3h56)

    Por que as afirmações e hipóteses de alguns têm mais espaço e aceitação do que outras?

    Debruce-se pela epistemologia, área de estudo da Filosofia que investiga o conhecimento, suas origens e conceitos sobre a verdade e tenha uma perspectiva da filosofia refletida sobre ela mesma e outros saberes.

  • Assistir ao curso


Cursos sobre períodos históricos da Filosofia

Nesta série, o professor Paulo Niccoli Ramizes apresenta o "Guia Essencial da Filosofia", traçando um panorama com os pontos mais importantes, mudanças, grandes pensadores e as questões trabalhadas no período destacado no curso.

Cursos sobre grandes pensadores da Filosofia

Uma boa maneira de estudar Filosofia é compreender a vida, obra e visão de mundo do filósofo em específico. Confira algumas indicações de cursos neste sentido:

  • Os pensadores: Aristóteles, por Franklin Leopoldo e Silva
    04 aulas | (1h51)

    Entenda a importância e legado de Aristóteles para a Filosofia.

    O curso aborda o pensamento aristotélico e mostra que ele entendia a virtude como a melhor maneira de agir nas ocasiões que se apresentam durante a vida, pois depende, em grande parte, do uso da razão.

  • Assistir ao curso



  • Um dia com Spinoza, por Clóvis de Barros Filho
    07 aulas | (2h54)

    Nascido em Amsterdã em uma família de origem portuguesa, Espinosa (1632-1677) é um dos nomes mais importantes da filosofia moderna.

    Neste curso, os conceitos do pensador sobre ética, Deus e paixões são abordados pelo professor Clóvis de Barros Filho.

  • Assistir ao curso



  • Nietzsche: Vida, Obra e Legado, por Scarlett Marton
    08 aulas | (1h35)

    Seja introduzido ao pensamento de um dos filósofos mais conhecidos (e mais controversos) da história: Friedrich Nietzsche.

    Criador do termo "Übermensch" e da concepção filosófica do "Eterno Retorno" , acreditava que o homem precisava superar seus próprios valores para alcançar a evolução.

  • Assistir ao curso


Cursos de Filosofia sobre temas atuais

A Filosofia permanece viva e atual, trazendo uma visão crítica sobre o modo que vivemos, levantando questões importantes sobre a dinâmica neoliberal, feminismo, questões ecológicas, entre outros assuntos. Conheça alguns cursos de filosofias interessantes para se debater os dilemas contemporâneos abaixo:

Esperamos que este texto tenha te ajudado a compreender melhor sobre o que é Filosofia, suas áreas de estudo, períodos e grandes pensadores.

Se você tem sede por conhecimento e deseja aprender mais sobre Filosofia com professores de referência, conte com os cursos da plataforma Casa do Saber +!




É possível praticar o estoicismo hoje? Livros, caminhos e dicas para seguir a filosofia
Tainá Voltas
This is some text inside of a div block.
É possível praticar o estoicismo hoje? Livros, caminhos e dicas para seguir a filosofia
O estoicismo tem reaparecido como uma resposta ao mundo moderno. Mas será realmente possível aplicar a filosofia aos dias atuais? Descubra!

Embora tenha se desenvolvido e aprofundado suas raízes há mais de 2000 anos, o estoicismo tem reaparecido como uma resposta ao complexo e desconfortável mundo moderno, marcado pelo esgotamento coletivo e pelas frustrações geracionais.

Tal filosofia, que é banhada em uma ideia de felicidade resiliente às adversidades e às influências externas, ganha adeptos e curiosos, cuja motivação se dá em direção comum: é realmente possível aplicar a práxis estoica nos dias de hoje?

Neste artigo vamos destacar algumas obras, cursos e dicas que podem oferecer uma resposta certeira ao questionamento, além de mostrar como viver de um modo mais estoico, mesmo em meio a tantas distrações.

Mulher deitada sobre a mesa, aparentando cansaço, com peso de pedras nas costas. Alusão ao estoicismo
O Estoicismo aplicado à modernidade surge como uma alternativa para amenizar os efeitos comuns da experiência humana superestimulada, oferecendo uma nova interpretação possível para a vida, para os desafios e para os problemas do cotidiano. Trata-se de uma filosofia que apresenta ferramentas para aprimorar a resiliência ao inevitável, incentivando a clareza emocional.


Recordação: o que é o estoicismo?

“A felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas coisas estão sob nosso controle, outras não”. A expressão, de autoria um dos maiores filósofos estoicos da antiguidade - Epicteto, define com bastante clareza os pilares que sustentam o estoicismo.

Criada durante o período helenístico, ainda na Grécia Antiga, e tendo como pano de fundo a crença nas leis da natureza, essa vertente filosófica buscou explicar o sentido da vida a partir da racionalização e de uma proposta de aceitação do inevitável.

Na prática, estruturou um entendimento acerca da "felicidade" como um resultado dado àqueles que conseguiam desvencilhar-se das paixões avassaladoras e das emoções exageradas.

Ou seja, para o estoicismo a felicidade se materializava quando as emoções eram racionalizadas, assim como quando os episódios da vida eram entendidos como pertencentes todos à uma teia natural e inevitável de causas e efeitos.

Nessa perspectiva, os esforços e desejos de mudança humanos deveriam ser direcionados para as coisas passíveis de serem controladas e não para aquelas alheias à vontade dos homens, tal qual a morte.

Dessa forma, o estoicismo passou a ser caracterizado como uma filosofia prática, que orientava os indivíduos a viverem em harmonia com a natureza e a razão, buscando a virtude como um bem maior.

Para os estoicos, a vida virtuosa seria aquela baseada no agir lógico, ético e sereno, capaz de enfrentar os desafios com resiliência por entendê-los como pertencentes a uma ordem natural das coisas.

A abordagem, rigorosa e libertadora na mesma medida, faz com que o estoicismo seja uma ferramenta resgatada na modernidade para lidar com os novos desafios e contornos sociais, oportunizando a busca pelo equilíbrio mesmo em cenários turbulentos.


Continue a sua jornada por aqui: baixe gratuitamente o eBook “Estoicismo no Século 21: É Possível Ser Estoico Hoje?” e tenha esse conhecimento sempre à mão!

Banner jornada da filosofia 'É Possível Ser Estoico hoje?'




O que é agir com estoicismo nos dias atuais?

A pergunta "é possível praticar o estoicismo nos dias atuais?" depende essencialmente da compreensão do que é o agir estoico nesse novo contexto.

Em meio à Era da Informação, aos dados gerados em velocidade exponencial, às demandas por performance e resultado e ao excesso de estímulos, o estoicismo apresenta uma bússola mental, que cultiva a clareza e a resiliência emocional como forma de melhor viver e sobreviver a este cenário.

Trata-se de uma aplicação da abordagem que incentiva o foco àquilo que é controlável, como as ações e reações individuais, ao passo que pratica a compreensão serena daquilo que escapa ao domínio pessoal.

Homem segurando um guarda-chuva, virado para parede com metas e planejamentos. Reflete a necessidade de entrega e resultado.
O estoicismo moderno incentiva uma leitura de mundo focada no controle do que se é controlável, ajudando a redefinir prioridades e a encontrar clareza em meio às exigências incessantes por desempenho e resultados.


Assim, no mundo contemporâneo, essas ideias podem se traduzir em práticas, como:

Gerenciar o tempo e a atenção Evitar dispersar energia com distrações ou preocupações improdutivas, dedicando-se ao que realmente importa, bem como ao autocuidado e auto escuta.
Reavaliar o conceito de sucesso Adotar uma perspectiva baseada na virtude e no progresso interno, afastando-se da busca contínua por uma validação externa ou padrões sociais inatingíveis.
Cultivar o autocontrole Responder às adversidades com calma e reflexão, resistindo aos impulsos imediatos ou a emoções exageradas, as quais podem comprometer o senso crítico e a tomada de decisão racional.
Praticar a gratidão e a perspectiva Reconhecer o valor das coisas e aprender a ressignificar os desafios como oportunidades de crescimento pessoal.



No cotidiano moderno, o estoicismo, uma filosofia para tempos de crise, continua emergindo como um consolo e como uma libertação de ilusões. Por isso, oferece uma base sólida para enfrentar crises pessoais ou profissionais, promovendo uma atitude resiliente frente a desafios inevitáveis.

Mauricio Marsola , professor de história e filosofia da Unifesp, contribui para a acepção do conceito, em um material produzido pela Casa do Saber:

“Para o estoicismo o mundo é um grande sistema composto de relações causais necessárias. É uma racionalidade plena, na qual todas as coisas concorrem para uma harmonia maior. A isso os estoicos chamam de logos (o que também pode ser compreendido como physis, ou Deus). Cabe a nós criarmos uma harmonia em nossa alma que reproduza a harmonia do cosmos”

Assista na íntegra:




3 livros para entender o estoicismo

Livros são uma excelente maneira de transportar as ideias filosóficas estoicas da Antiguidade para contemporaneidade, indicando um caminho para a prática da filosofia no cotidiano.

Nesse sentido, as obras selecionadas abaixo repercutem os princípios estoicos em seus diferentes tempos, além de apresentarem aplicações palpáveis do conceito e contextos históricos que ajudam na compreensão do pensamento filosófico em sua totalidade.

1) Diário estoico: 366 lições sobre sabedoria, perseverança e a arte de viver - Ryan Holiday e Stephen Hanselman

Uma das mais populares obras do movimento moderno de resgate ao estoicismo, o Diário Estoico propõe a leitura de 366 meditações baseadas em ensinamentos de grandes filósofos estoicos, como Sêneca, Marco Aurélio e Epicteto.

Seu objetivo é funcionar como um guia prático e acessível para quem deseja introduzir o agir estoico à sua rotina, cultivando a arte de viver bem. Para isso, Ryan Holiday e Stephen Hanselman instigam os leitores a expandir a compreensão do mundo e a experimentar novas maneiras de agir e pensar.

Encontrar o propósito da vida, lidar com perdas irreparáveis e o caminho para a felicidade verdadeira são apenas alguns dos tópicos abordados no texto.

Com os ensinamentos dos antigos estoicos, em uma metodologia meditativa a cada dia do ano, o livro proporciona uma reavaliação das percepções, atitudes e metas de vida.

2) Meditações - Marco Aurélio

Uma das mais influentes obras filosóficas de todos os tempos, Meditações transforma-se em uma janela direta para a mente de Marco Aurélio, o imperador romano conhecido como "imperador filósofo".

Escrito como um diário pessoal, o livro reúne reflexões sobre a busca pela virtude, a compreensão do universo e a arte de viver em harmonia com a natureza, mesmo em cenários inconstantes e desequilibrados.

Mesmo que inicialmente não tenha sido destinado à publicação, o texto se tornou um verdadeiro mantra para a prática estoica, atemporal e requisitada ao longo de várias décadas.

No projeto, Marco Aurélio menciona a necessidade da ponderação em meio às pressões, sobretudo aquelas relacionadas ao poder, assim como destaca os desafios do enfrentamento das incertezas e das dores inevitáveis da existência humana, priorizando a serenidade e o autocontrole.

As lições valiosas apresentadas, como a importância de aceitar o que não se pode controlar, focar no presente e viver de acordo com princípios éticos, têm sido incorporadas neste novo momento do estoicismo, guiando os adeptos a uma forma de praticar a filosofia de forma flexível e adaptada.




3) Sobre a Brevidade da Vida (De Brevitate Vitae) – Sêneca

Escrita por outro grande pensador estoico, esta obra concisa, mas profundamente impactante, aborda um dos temas centrais para o estoicismo: a natureza do tempo e as armadilhas de uma vida perpassada pelo negligenciamento.

Para Sêneca, a duração da vida importa à medida que escolhemos como iremos vivê-la. Ou seja, ele convida o leitor a refletir sobre a urgência do cultivo da totalidade interior, contrastando os valores culturais modernos guiados pela prosperidade material e pela produtividade incessante.

Argumenta ser o tempo o bem mais precioso existente, embora seja frequentemente tratado como infinito. Assim, o filósofo critica, sobretudo, a tendência humana de procrastinar, acumular riquezas sem propósito e buscar validação externa, ao invés de focar no desenvolvimento interno e nas relações significativas.

“A vida que recebemos não é curta, mas a tornamos desse modo; tampouco a temos de sobra, mas a desperdiçamos” - Sêneca


Baixe o ebook “Estoicismo no Século 21: É Possível Ser Estoico Hoje?” e continue essa discussão, com acesso a aspectos ainda mais profundos!

Banner jornada da filosofia 'É Possível Ser Estoico hoje?'



4 cursos para aprender de forma rápida sobre o estoicismo

Os cursos são outra excelente oportunidade para mergulhar mais profundamente nos conceitos do estoicismo, a partir da orientação de especialistas que conectam essa filosofia ao mundo contemporâneo, entendendo como e onde aplicá-la. Veja três cursos recomendados para esse propósito:

  1. Aprender a Viver: Como a Sabedoria Pode Ser o Caminho para uma Vida Melhor

    Este curso explora como a sabedoria filosófica pode transformar o cotidiano. Para isso, oferece uma visão geral sobre as escolas filosóficas, com destaque para os estoicos, mostrando como seus ensinamentos podem ajudar a superar os desafios da vida moderna, como o tédio e a banalidade. “Como a sabedoria pode ser o caminho para uma vida melhor? Como aprender a viver e superar o tédio e a banalidade da vida cotidiana?”, essas são algumas das perguntas que a ementa do texto se dedica a responder.

  2. A Filosofia Como Forma de Vida: Estoicos, Epicuristas e Cínicos

    Focado na relação entre filosofia e prática de vida, este curso apresenta Sócrates e escolas como o Estoicismo, o Epicurismo e o Cinismo, refletindo sobre suas diferentes concepções de mundo e suas consequentes formas de vida. O curso explora, principalmente, como os pensadores dessas escolas propunham exercícios espirituais e uma arte de viver, conceitos que permanecem relevantes nos dias de hoje.

  3. Jornada da Filosofia: Vida e Morte no Ocidente

    Com uma abordagem interdisciplinar, este curso examina como o pensamento ocidental lida com a finitude humana. Ele conecta as raízes filosóficas do estoicismo com questões psicológicas e políticas, oferecendo uma compreensão mais ampla sobre como viver e morrer com significado e serenidade.

  4. Trilha da Filosofia | 2ª Temporada

    Esta série propõe uma jornada que aborda, de maneira introdutória, alguns dos principais pensadores, temas e conceitos da história do pensamento filosófico. Com a orientação dos professores Franklin Leopoldo e Silva e Oswaldo Giacoia Junior, o curso esclarece questões fundamentais para o aprendizado da filosofia. Como é o caso do pensamento de Aristóteles (384-322 a.C.) e Santo Agostinho (354-430), do estoicismo e epicurismo do período helenístico. O curso também inclui temas como a Teoria do Justo Meio, os conceitos de Transcendência e Imanência, e a questão do espírito como a fonte principal de todo conhecimento, assim como Deus como fundamento radical do conhecimento.

Explore essas leituras e cursos para aprofundar seu conhecimento sobre o estoicismo e aprender a como praticar essa filosofia em sua vida cotidiana!

A plataforma Casa do Saber + tem uma categoria de cursos inteiramente dedicada ao estudo da filosofia, desde a antiguidade até os dias atuais. Acesse para assistir a todos os cursos indicados acima e muito mais.

Conclusão:

Ao final da leitura, devemos nos perguntar: é então possível praticar o estoicismo nos dias de hoje ou estamos condicionados a sucumbir às pressões de uma sociedade que prioriza o imediatismo e o materialismo?

Ou ainda, é realmente viável pensar em uma filosofia de práxis individual em meio a um sistema com falhas estruturais?

A resposta depende do ponto de vista a ser abordado, compreendendo que as filosofias apontam não para a solução absoluta de todos os dilemas humanos, mas para caminhos que auxiliam na reflexão, no enfrentamento das adversidades e na busca por uma vida mais alinhada aos próprios valores.

O estoicismo, nesse sentido, se destaca como uma prática acessível e adaptável ao cotidiano moderno, reconhecido por promover a resiliência individual diante das incertezas externas.

Embora seja interessante reconhecermos as limitações impostas pelo contexto social, destaca-se que o estoicismo também desafia o indivíduo a agir com virtude e propósito, independentemente das circunstâncias.

Em última análise, o estoicismo oferece um convite para olharmos mais profundamente para nós mesmos e para as circunstâncias à nossa volta.

Assim, mais do que uma resposta definitiva, essa escola filosófica antiga nos faz refletir sobre como podemos moldar nossas escolhas e atitudes para encontrar significado em meio ao caos.




Gostou de conferir dicas sobre como praticar o estoicismo nos dias atuais? Elas não param por aqui. Baixe gratuitamente o eBook “Estoicismo no Século 21: É Possível Ser Estoico Hoje?” e acompanhe uma discussão ainda mais profunda sobre o tema!








Referências

¹SANTOS, Kleys Jesuvina dos. A influência do estoicismo na filosofia de Foucault. Kinesis, Marília, v. 11, n. 28. 2019. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/kinesis/article/view/9140. Acesso em: 25 set. 2024.


GAZOLLA, Rachel. Representação compreensiva: critério de verdade e virtude no Estoicismo Antigo. Revista da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, v. 19, n. 2, 2006. Disponível em: https://www-periodicos-capes-gov-br.ez40.periodicos.capes.gov.br/index.php/acervo/buscador.html?task=detalhes&source=&id=W1511359753. Acesso em: 25 set. 2024.

Artes, Literatura e História
Expressionismo: Características, obras, O Grito, Van Gogh, artistas
Xavana Celesnah
This is some text inside of a div block.
Expressionismo: Características, obras, O Grito, Van Gogh, artistas
Expressionismo alemão:arte anterior à I Guerra Mundial, principais obras, cinema, expressionismo abstrato, o que é a arte expressionista, artistas.

O expressionismo foi um movimento artístico que surgiu na Alemanha, no ano de 1905, como uma reação à proposta estética do impressionismo, que buscava realizar uma arte baseada em estudos de óptica, retratando a luminosidade e as imagens da maneira como as vemos. Ao contrário do impressionismo, o expressionismo procurava realizar uma arte onde a emoção do artista tivesse mais espaço do que a técnica.

Expressionismo: Obras, Características e 3 Cursos Para Você Entender Tudo sobre a Vanguarda Modernista

A expressão dos pintores, seus sentimentos e sua visão de mundo importavam mais do que o realismo para essa vanguarda modernista. A obra O Grito (1893), do norueguês Edvard Munch, é precursora do expressionismo e traz muitas de suas características, como a deformação das figuras e a temática pessimista. O movimento não ficou restrito à pintura, mas também se manifestou na literatura, no cinema, na arquitetura e na fotografia.

Neste artigo, vamos mostrar como surgiu a arte expressionista, seus principais artistas e cursos para você aprofundar seus conhecimentos na Arte Moderna. O artigo passará pelos seguintes conteúdos:



O que é Expressionismo?

O expressionismo foi um movimento artístico que emergiu no início do século XX, com origem na Alemanha, que valorizava a visão particular de mundo de cada artista, bem como suas emoções íntimas. O movimento refletia um mundo em crise, marcado pela Revolução Industrial, pela urbanização crescente e por tensões sociais e políticas intensas.

Os artistas distorciam formas, cores e perspectivas para expressar sentimentos profundos de angústia, sofrimento e desespero, em vez de retratar a realidade de maneira fiel. Em contraste com estilos artísticos anteriores, como o impressionismo, que se concentrava na representação objetiva e realista do mundo, os expressionistas buscaram transmitir a subjetividade e as turbulências internas do indivíduo.

Grandes nomes do expressionismo, como Edvard Munch e Egon Schiele, usaram essas distorções para capturar as intensas emoções humanas e o impacto psicológico das mudanças da sociedade moderna. O expressionismo é considerado uma das primeiras vanguardas históricas, ao lado do fauvismo francês. As vanguardas europeias da arte modernista foram um conjunto de movimentos artísticos que surgiram entre o início do século XX, antes da Primeira Guerra Mundial até o final da Segunda Guerra Mundial

Esses movimentos desafiavam as convenções estéticas tradicionais e traziam novas formas de expressão, abordando questões psicológicas, existenciais e sociais de maneira inovadora e muitas vezes perturbadora. Surgia uma nova era na arte ocidental com a mudança da mentalidade acerca do que faz um trabalho artístico uma obra de arte.

Como surgiu o Expressionismo?

O expressionismo surgiu em uma Alemanha imersa em uma profunda crise, cujas tensões sociais e políticas acabariam por culminar na eclosão da Primeira Guerra Mundial. As consequências da Revolução Industrial, o crescimento das áreas urbanas e os conflitos políticos criaram um cenário de angústia que se refletiu na arte expressionista.

Os artistas expressionistas reagiram a esse ambiente com uma paleta cromática agressiva, utilizando cores intensas e contrastantes para transmitir suas emoções internas. As temáticas centrais do movimento incluem a solidão, o sofrimento e a miséria, refletindo a crise existencial vivida pela sociedade.

O pintor norueguês Edvard Munch, com obras como O Grito (1893), tornou-se um ícone do expressionismo, retratando o desespero e a incomunicação humanas em um cenário de opressão psicológica. Seu trabalho, marcado por uma forte carga emocional e uma paleta de cores intensas, foi uma das principais inspirações para o movimento.

Além de Munch, outros artistas, como o francês Paul Cézanne, cujas experimentações com a desfragmentação da realidade e os pós-impressionistas Vincent van Gogh e Paul Gauguin, também foram precursores do expressionismo, trazendo à tona uma ênfase na subjetividade, na distorção das formas e na expressão de emoções profundas.

Para expandir seu entendimento sobre a História da Arte, explore o conteúdo da Casa do Saber, que oferece mais de 10 cursos online ministrados pelos principais pensadores do Brasil. Clique abaixo e confira todas as opções:

cursos de artes da casa do saber



O Expressionismo Alemão na Pintura

O movimento expressionista teve início em 1905, com a formação do grupo Die Brücke (A Ponte), fundado em Dresden por artistas como Ernst Ludwig Kirchner, Karl Schmidt-Rottluff e Erich Heckel. Este grupo se propôs a romper com as tradições artísticas acadêmicas e buscar uma expressão mais direta e emocional da realidade. Influenciados por movimentos como o pós-impressionismo e o primitivismo, os membros do Die Brücke usaram cores intensas e distorções nas formas para retratar temas como a angústia e o sofrimento causados pelas transformações sociais e culturais da época. A arte expressionista visava, assim, representar a subjetividade humana e os sentimentos conflitantes do indivíduo. O fazer artístico estava se transformando, bem como o perfil do consumo da arte.

Em 1911, o termo "expressionismo" foi formalmente associado ao movimento pela primeira vez ao ser escrito na revista Der Sturm (A Tempestade), uma das mais importantes publicações da vanguarda alemã. Ao mesmo tempo, o movimento se expandiu com a formação do grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), em Munique, composto por artistas como Wassily Kandinsky e Franz Marc. Embora ambos os grupos compartilhassem a ideia de distorcer a realidade e explorar a subjetividade, o Der Blaue Reiter adotou uma abordagem mais espiritual, buscando expressar realidades metafísicas por meio da arte.

O Nazismo contra o Expressionismo

O regime nazista teve um impacto devastador sobre a arte expressionista, considerando-a "degenerada" e incompatível com seus valores nacionalistas e tradicionais. O movimento de censura do nazismo visava eliminar formas de arte modernas, como o expressionismo, o cubismo e o futurismo, que eram vistas como antinacionais e subversivas. Em 1937, os nazistas organizaram a Exposição de Arte Degenerada em Munique, onde obras de artistas como Ernst Ludwig Kirchner, foram expostas de forma grotesca, sendo ridicularizadas como expressão da loucura e usadas como exemplo do que o regime considerava corrompido. Muitas dessas obras foram retiradas de museus, destruídas ou vendidas a colecionadores estrangeiros, enquanto outras foram armazenadas fora do alcance do público.

O regime nazista tentou eliminar o expressionismo da cena artística alemã e ainda associou esse movimento ao comunismo e o rotulou de imoral e subversivo. Em 1937, cerca de 16.500 obras de arte foram confiscadas, incluindo trabalhos de artistas renomados como Van Gogh, Pablo Picasso e Matisse, muitas das quais foram vendidas em leilões ou destruídas, resultando em um prejuízo irreparável para a arte alemã e mundial.

3 Cursos Para Você Entender tudo sobre Arte Moderna

Para você que deseja entender profundamente o que é a arte, o que é Arte Moderna e, consequentemente, o movimento Expressionista, listamos três cursos essenciais da Casa do Saber que vão te fornecer uma visão mais abrangente sobre esses temas. São eles:

  1. A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock
  2. Introdução à História da Arte
  3. O que é Arte?



A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock

O curso "A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock" oferece uma análise profunda das transformações que ocorreram na arte moderna entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX.

Através das obras e vidas de artistas icônicos como Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, o curso revela como a arte moderna rompeu com as convenções estéticas anteriores e aborda o impacto desse movimento nas instituições, na crítica de arte e no mercado.

O curso é ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador de pós-doutorado no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP), Felipe Martinez. Com vasta experiência acadêmica e profissional, Felipe Martinez é especialista na obra de Van Gogh e tem atuação em instituições renomadas, como o MASP e o MAM de São Paulo. Confira a seguir uma prévia do curso:

Thumb curso 'A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock' com Felipe Martinez


Introdução à História da Arte

O curso "Introdução à História da Arte" oferece uma visão abrangente dos principais marcos e transformações na arte ocidental, desde o Renascimento até a arte moderna e contemporânea. Ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador da USP (MAC-USP), Felipe Martinez, o curso mostra como nossos conceitos de beleza e arte são construídos a partir do contexto histórico.

As aulas cobrem uma vasta gama de movimentos e artistas, como Michelangelo, Caravaggio, Monet, Degas, Van Gogh e Matisse, além de discutir as influências estéticas, técnicas e sociais que formaram cada período. A arte moderna e as vanguardas europeias fazem parte do conteúdo do curso e você pode conferir um pouco das aulas dando play no vídeo abaixo:

Thumb curso 'Introdução à História da Arte' com Felipe Martinez


O que é Arte?

O curso "O Que é Arte?" busca responder a essa pergunta, que permanece relevante e aberta a diversas interpretações. Através de uma abordagem crítica, o pesquisador Felipe Martinez investiga a arte a partir de seus diferentes sentidos, funções e efeitos, analisando como ela se conecta com a sociedade e provoca reflexões. As aulas envolvem obras e autores de períodos clássicos, modernos e contemporâneos, oferecendo novas formas de compreender e questionar o papel da arte em nosso mundo. Assista abaixo um trecho de uma das aulas para se familiarizar com o conhecimento compartilhado:

Thumb curso 'O que é arte?' com Felipe Martinez


Quais são as Características do Expressionismo?

Influenciado pelo gótico alemão, o movimento expressionista é caracterizado pela distorção das formas, uso de cores intensas para refletir emoções, e ênfase no impacto psicológico sobre a realidade objetiva. O expressionismo também se concentra no isolamento urbano, alienação e solidão do indivíduo, além de usar linhas dramáticas e angulares para aumentar a tensão emocional. Embora tenha sido um movimento heterogêneo, com grupos e artistas apresentando grandes diferenças estilísticas e temáticas, sua influência se estendeu por várias décadas, até a Segunda Guerra Mundial, e alcançou outros países além da Alemanha.

Principais características do expressionismo:

  • Distorção das formas para expressar emoções, não a realidade
  • Uso de cores vibrantes e intensificadas
  • Foco nas emoções e tensões interiores, não na objetividade
  • Representação de cenas urbanas e do isolamento
  • Linhas dramáticas e angulares para aumentar a intensidade emocional
  • Impacto psicológico mais importante que a beleza visual
  • Diversidade estilística e temática entre os grupos e artistas



Principais Artistas do Expressionismo

Abaixo, apresentamos uma tabela com alguns dos principais artistas do movimento expressionista, suas características e obras mais representativas. Além disso, incluímos artistas do pós-impressionismo, cujas obras influenciaram diretamente o surgimento e o desenvolvimento do expressionismo. Confira:

PINTORES EXPRESSIONISTAS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS OBRAS
Edvard Munch Conhecido por expressar emoções de angústia e ansiedade, especialmente a solidão humana O Grito (1893)
Egon Schiele Famoso por suas representações distorcidas do corpo humano, explorando temas de desejo e morte Retrato de Wally (1912)
Ernst Ludwig Kirchner Membro do grupo Die Brücke, seus trabalhos eram caracterizados por distorções de figuras e cores vibrantes Autorretrato com Modelos (1910)
Wassily Kandinsky Pioneiro da arte abstrata, ele acreditava que a arte deveria expressar a espiritualidade e a emoção Composição VII (1913)



Pintura Expressionista

Aqui estão algumas das principais obras expressionistas, que exemplificam a distorção da realidade e a ênfase nas emoções, tão características do expressionismo:

O Grito (1893) | Edvard Munch

Quadro 'O Grito' de Edvard Munch, pintado em 1893. Retrata, de forma distorcida, uma pessoa gritando em cima de uma ponte, com expressão de aflição.
O Grito, Edvard Munch. 1893. Têmpera e pastel oleoso sobre cartão, 91 x 73,5 cm. Galeria Nacional de Oslo, Noruega.


O Grito é uma das obras mais icônicas do expressionismo, capturando a angústia e o desespero humano. A distorção da figura e a explosão de cores vibrantes transmitem a sensação de uma crise emocional profunda.

Mulher Sentada com Joelhos Dobrados (1917) | Egon Schiele

Quadro 'Mulher Sentada com Joelhos Dobrados' de Egon Schiele, pintado em 1917. Retrata uma mulher sentada, com as pernas abertas, encostando a cabeça em um dos joelhos dobrados.
Mulher Sentada com Joelhos Dobrados, Egon Schiele, 1917. Guache, aquarela e giz de cera preto sobre papel. Galeria Nacional de Praga, Praga.


Mulher Sentada com Joelhos Dobrados é uma das imagens mais conhecidas de Schiele e revela uma mulher representada de uma maneira que destoava completamente dos padrões convencionais da arte da época. Ele mistura um ângulo nada convencional com uma estética erótica.

Composição VII(1913) | Wassily Kandinsky

Quadro 'Composição VII' de Wassily Kandinsky, pintado em 1913. É uma pintura abstrata, de traços fortes e marcantes, com uso de cores intensas e contrastantes.
Composição VII, Wassily Kandinsky, 1913. Óleo sobre tela, 200,6 cm x 302,2 cm. Galeria Tretyakov , Moscou.


Kandinsky foi um dos primeiros artistas a criar a arte abstrata. "Composição VII" é uma obra caótica, com cores vibrantes. O quadro não faz uma representação figurativa da realidade e traz uma composição complexa que cria novos caminhos e possibilidades para a arte modernista.

O Expressionismo no Brasil

O Expressionismo no Brasil, embora não tenha se consolidado como um movimento dominante, surgiu no início do século XX influenciado pelas inovações da vanguarda europeia e deixou uma marca significativa nas artes, especialmente na pintura. Artistas como Cândido Portinari, Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti e Anita Malfatti buscaram transmitir emoções intensas e subjetivas por meio da distorção das formas, cores fortes e contrastantes, além de uma representação mais psicológica e emocional do ser humano. Obras como Retirantes e Guerra, de Portinari, exemplificam a busca por representar o sofrimento e as tensões sociais, refletindo as angústias de sua época.

Quadro 'Retirantes' de Cândido Portinari, pintado em 1944. Mostra uma família de camponeses em fuga, com rostos expressando sofrimento e fadiga, em uma composição de cores fortes que transmite a dor e a luta das dificuldades sociais.
Retirantes, Cândido Portinari, 1944. Óleo sobre tela, 190 cm x 180 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (SP)


Impacto e Legado do Expressionismo

O expressionismo, embora inicialmente rejeitado, desempenhou um papel fundamental na reconfiguração da arte moderna, abrindo caminho para movimentos como o surrealismo e a arte abstrata. Sua ênfase na distorção das formas e na representação do mundo interior desafiou as convenções estéticas da época e transformou a concepção da arte de uma mera representação da realidade externa para uma expressão profunda das experiências humanas. O legado do expressionismo, com suas inovações e reflexões sobre a condição humana, continua a influenciar as artes visuais e outras formas criativas até os dias de hoje. Além disso, o movimento também deixou uma marca significativa no cinema, especialmente nos gêneros de horror e suspense.

banner curso introdução a historia da arte no brasil da casa do saber


Perguntas Frequentes sobre Expressionismo

O que é o expressionismo?

O expressionismo é um movimento artístico que começou no início do século XX, focado na expressão das emoções do artista através da distorção de formas e do uso intensivo de cores vibrantes.

Quais são as principais características do expressionismo?

As características do expressionismo incluem distorção das formas para expressar emoções, uso de cores intensas e vibrantes, e a exploração de temas como alienação, angústia e a tensão interior do ser humano.

Referências:

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/termos/80046-expressionismo

Impressionismo: Obras, Características, Claude Monet, Pinturas
Xavana Celesnah
This is some text inside of a div block.
Impressionismo: Obras, Características, Claude Monet, Pinturas
Impressionismo: Movimento artístico, obras de Monet, Degas, Renoir, estilo impressionista, pinceladas rápidas e captura de momentos

Impressionismo: O que é, Características, Principais Artistas

O impressionismo foi um divisor de águas na arte do mundo ocidental do final do século XIX. Os artistas que criaram esse movimento na França estavam insatisfeitos com as limitações impostas pela academia, que definia quais deveriam ser os temas das obras de arte, bem como as cores utilizadas e a técnica aplicada. Até mesmo o local onde os artistas produziriam suas telas era imposto: tinha que ser no atelier.

Os impressionistas bateram de frente com esses “dogmas” acadêmicos e foram em busca da liberdade criativa. Nomes como Claude Monet e Pierre-Auguste Renoir estudaram a fundo as cores e a luminosidade, percebendo que os contornos nítidos das pinturas feitas até ali não condiziam com a realidade. Assim, criaram pinturas com pinceladas mais soltas, abandonando a nitidez e criando efeitos visuais inovadores a partir da indefinição dos contornos e do uso de cores variadas, inclusive nas sombras. Inicialmente, o movimento foi depreciado pela crítica, mas logo as pessoas passariam a compreender a proposta impressionista que marcou um ponto de virada na História da Arte.

Como surgiu a Pintura Impressionista?

O impressionismo nasceu na segunda metade do século XIX, na França. O contexto histórico da época foi marcado pelas consequências da Revolução Francesa do final do século XVIII, que tinha promovido uma verdadeira ruptura com a tradição. A quebra de paradigmas sociais abriu espaço para os artistas questionarem também os preceitos das Escolas de Belas Artes.

A primeira metade do século havia sido marcada pela volta ao clássico, com o neoclassicismo. Esse movimento iria conviver com o romantismo, expressão artística que, dentre outras características, se voltou bastante para a natureza, com o desenvolvimento de muitas pinturas de paisagens. É nesse cenário que surge o impressionismo.

Os artistas não estavam mais interessados em pintar temas históricos ou mitológicos. Agora, havia um interesse maior pelas cenas do cotidiano, que não estavam entre os grandes temas acadêmicos. Aliás, chocar a burguesia a partir da escolha de novos temas e do uso de técnicas diferenciadas acabou virando uma espécie de desejo dos jovens artistas da época, que se consideravam uma espécie de classe à parte da sociedade.

É nesse momento que entra em jogo a representação da realidade e os artistas do impressionismo ousaram ao inventar novas soluções criativas que desafiavam as convenções artísticas da época. O maior interesse da pintura impressionista era capturar a luz e o movimento, da maneira como os vemos, com toda a sua fugacidade. Assim, os artistas passaram a pintar ao ar livre e criaram novas imagens, voltadas para temas do cotidiano, onde realizavam seus estudos de cor, luz e movimento. Com suas pinturas, questionam os contornos bem delineados da pintura feita nos ateliês, pois percebem que na natureza, ao ser observada ao ar livre, não existiam essas linhas tão definidas.

As pinceladas desmembradas, a mistura de cores vibrantes e as novas concepções a respeito da representação do mundo fizeram com que o impressionismo influenciasse todas as futuras expressões da arte moderna. A ideia era confiar nos próprios olhos e não mais seguir as receitas prontas dadas pela academia sobre o que é a arte.

banner curso O que é arte?, por Felipe Martinez

A primeira exposição Impressionista

A Academia de Belas Artes, que organizava a curadoria do tradicional Salão Oficial de Paris, no ano de 1874, recusou obras de diversos artistas. Foi assim que aconteceu o Salão dos Recusados. No dia 15 de abril deste mesmo ano, cerca de 30 artistas que não haviam sido selecionados para a mostra oficial, dentre eles Claude Monet, Edgar Degas, Pierre-Auguste Renoir, Édouard Manet, Berthe Morisot e Paul Cézanne resolvem expor no atelier do fotógrafo Félix Nadar.

É quando Monet expõe o seu quadro Impressão: Nascer do Sol que causa bastante polêmica. Era uma pintura rápida, quase um esboço, cujo objetivo era captar as impressões daquele momento. Tornou-se a pintura mais marcante do impressionismo e foi justamente a ela que um crítico de arte se referiu ao desqualificar as obras da exposição. No livro A História da Arte, do historiador Ernst Gombrich, uma crítica ao movimento foi transcrita:

“A Rua Le Peletier é uma sucessão de desastres. Após o incêndio na Ópera, temos agora uma outra catástrofe. Acaba de ser lançada uma exposição na Durand-Ruel que supostamente contém pinturas.

Entro, e meus olhos horrorizados são assombrados por uma visão terrível. Cinco ou seis lunáticos, entre eles uma mulher, reuniram-se para expor suas obras. Vi gente chorando de rir diante das telas, mas meu coração verteu sangue quando as vi. Esses pretensos artistas autointitulam-se revolucionários, “impressionistas”. Pegam um pedaço de tela, tinta e pincel, besutam-na com manchas aleatórias e assinam seu nome. É uma ilusão como se internos de um hospício pegassem algumas pedras na rua e julgassem ter encontrado diamantes.”

(Nota publicada em uma revista humorística semanal em 1876)

Quadro 'Impressão: Sol Nascente' de Claude Monet, pintado em 1872. Retrata uma cena ao amanhecer, com sol laranja brilhante refletindo na água, cercado por barcos e uma névoa suave, utilizando pinceladas soltas e cores vibrantes.
Impressão: Sol Nascente, Claude Monet. 1872. Óleo sobre tela, 48X63 cm. Museu Marmottan, Paris.


Apesar da crítica pejorativa, os artistas acabam adotando o termo para se autodenominarem. E assim como aconteceu com outros movimentos, como o cubismo e o barroco, o impressionismo foi batizado a partir de um comentário negativo.

A pintura impressionista estava interessada no instante, no momento imediato que pode ser captado pelo olhar sensível. Os artistas deste movimento tinham uma percepção fenomenológica da realidade, eles não estavam preocupados com o que pensamos ser a realidade, mas sim em como ela aparece diante dos nossos olhos.

Por isso, eles são considerados revolucionários na arte. Foram os primeiros a perceber a mistura das cores na natureza e a pintá-las. A questão do movimento também foi essencial para os pintores. Eles mostraram o movimento a partir de uma nova perspectiva: focavam em um único acontecimento da cena e o restante aparecia de forma desfocada, como um amontoado de formas indefinidas. Isso tudo demonstra o interesse desses artistas pelo estudo de óptica. Possivelmente, o surgimento da fotografia no início do século XIX contribuiu para as novas concepções desses artistas a respeito da captação da realidade a partir dos nossos olhos.

banner curso Introdução à História da Arte, por Felipe Martinez

Quais são as características do Impressionismo?

O movimento impressionista ficou marcado por suas inovações técnicas e ideológicas. Os artistas do movimento se inspiraram em cenas do dia a dia, observando paisagens, pessoas e atividades sociais, como danças e festividades.

Ao invés de produzir imagens que traziam os tradicionais temas históricos ou mitológicos, as obras impressionistas mostravam momentos efêmeros, como encontros de pessoas em tardes ensolaradas. Dentre as principais características do movimento, destacam-se:

  • A inovação nas pinceladas: os artistas pintam de uma forma diferente, fazendo pinceladas mais curtas e livres na tela. Assim, criam uma sensação de movimento e uma maior dinâmica de cores, que deixam de ser estáticas e frias.
  • Abandono dos Contornos Nítidos: os contornos das obras impressionistas são propositalmente indefinidos, sugerindo as formas, em vez de criar delineados.
  • Uso de cores vibrantes: as cores dos impressionistas se misturam e são aplicadas muitas vezes diretamente na tela. Isso porque os artistas pintavam o efêmero e não tinham mais tempo para realizar uma minuciosa mistura de cores. A ideia agora era captar o instante.
  • Pintura ao ar livre: influenciados por Monet, que era um grande defensor da pintura ao ar livre, os impressionistas saem dos ateliês para observarem as cenas in loco.
  • Estudo da luz: a luz natural estava entre os temas centrais para os impressionistas. Em todas as composições, o elemento da luminosidade era central. A partir do estudo da luz, os artistas criaram obras com uma nova percepção das cores. Isso se refletiria, inclusive, nas sombras que ganharam nuances e deixaram de ser um reflexo amorfo e uniforme.
  • Momentos Efêmeros: o artista agora estava pela primeira vez tendo a liberdade de escolher os seus temas. Não precisava mais fazer uma pintura oficial. Dessa maneira, tudo poderia ser fonte de inspiração, como o nascer do sol ou um passeio de barco.
  • Representação do Movimento: no impressionismo, o movimento ganha um novo brilho. As cenas não parecem estáticas, pois com o uso das novas técnicas, os artistas conseguem capturar o instante de uma maneira mais dinâmica.

Principais Artistas do Impressionismo

Aqui está uma pequena tabela com os principais pintores do movimento impressionista.

Pintores Impressionistas Características Principais Obras
Claude Monet Foi o primeiro grande nome da pintura impressionista. A partir do quadro dele intitulado Impressão: Nascer do Sol, o movimento foi nomeado. Teve influência da arte japonesa e chegou a cultivar um jardim aquático japonês. - Impressão: Nascer do Sol (1872)

- Mulher com sombrinha (1875)
Pierre-Auguste Renoir Conhecido pelo seu estudo da luz, o pintor ficou famoso por pintar pessoas banhadas em uma luminosidade vibrante, preferencialmente em cenas ao ar livre. - O Baile no Moulin de la Galette (1876)

- O Almoço dos Barqueiros (1881)
Edgar Degas Consagrado por suas pinturas de balé clássico, Degas costumava frequentar os teatros para criar suas composições. - Sala de Ensaio do Balé no Teatro da Ópera (1872)

- Bailarinas no Palco (1879)
Edouard Manet Trouxe cenas do cotidiano para a pintura, abordando a nudez de forma crua e não idealizada. Trabalha muito bem o jogo de luz e sombras. - O Almoço na Relva (1863)

- Claude Monet pintando no seu barco-ateliê (1874)
Camille Pissarro Destaca-se pela captura da vida cotidiana e das paisagens, utilizando uma técnica de pinceladas rápidas e uma paleta rica em luz, que transmite os efeitos das mudanças sazonais e da luz natural. - O Boulevard Montmartre em uma Manhã de Inverno (1897)

- Praça do Teatro Francês (1898)
Berthe Morisot Uma das poucas mulheres do movimento, suas obras exploram a vida privada das mulheres, além de uma abordagem intimista e emocional que captura momentos efêmeros do cotidiano. - O Berço (1872)

- Mulher Jovem Tricotando (1885)


Principais Obras Representativas do Impressionismo

Confira a seguir algumas das principais obras impressionistas, além da já citada Impressão: Nascer do Sol, de Monet.

Mulher com Sombrinha (1875) | Claude Monet

Uma mulher elegante, vestida com um vestido claro é vista ao lado de um menino enquanto segura uma sombrinha em um dia ensolarado. Ela está em um campo florido, cercada por uma paisagem verdejante. A luz suave e difusa cria sombras delicadas e destaca os detalhes do vestido, transmitindo uma sensação de movimento e leveza, típica da estética impressionista.
Mulher com Sombrinha, Claude Monet. 1875. Óleo sobre Tela, 100 x 81cm. National Gallery of Art em Washington, Estados Unidos.


O Almoço dos Remadores (1880) | Pierre-Auguste Renoir

Um grupo de pessoas realiza uma celebração da vida social e o pintor capta a alegria e a luz do verão. As figuras estão em poses descontraídas, conversando e rindo, enquanto bebidas e pratos estão sobre a mesa.
O Almoço dos Remadores, Auguste Renoir, 1880. Óleo sobre tela, 130x173cm. The Phillips Collection, Washington, EUA.


Bailarina Balançando (1879) | Edgar Degas

Retrata uma cena das bailarinas dançando durante um espetáculo, destacando o movimento e o figurino.
Bailarina balançando (bailarina verde), Edgar Degas, 1879. Pastel e guache sobre papel, 64x36cm. Museu Nacional Thyssen-Bornemisza, Madrid.


Boulevard Montmartre, Manhã, Tempo Nublado (1897) | Camille Pissarro

Uma cena urbana retrata o Boulevard Montmartre em um dia nublado, com pessoas caminhando nas calçadas e carruagens na rua. Edifícios históricos cercam a área, e a paleta de cores suaves, com tons de cinza e marrom, reflete a atmosfera melancólica do clima. Pissarro utiliza pinceladas soltas para capturar a vida cotidiana e a luz difusa, criando uma sensação de movimento e dinamismo na cena.
Boulevard Montmartre, Manhã, Tempo Nublado, Camille Pissarro, 1897. Óleo sobre tela, 73 x 92 cm. National Gallery of Victoria, NGV. Melbourne , Victoria , Austrália.



O Berço (1872) | Berthe Morisot

Um delicado retrato da maternidade, com uma mulher diante do berço observando um bebê, refletindo um momento cotidiano da vida feminina.
O Berço, Camille Pissarro, 1872. Óleo sobre tela, 46 x 56 cm. Museu de Orsay, Paris, França.


Entenda o que Transforma um Trabalho Artístico em uma Obra de Arte

thumb curso 'Entenda o que transforma um trabalho artistico em uma obra de arte

Quais elementos transformam um trabalho artístico em uma verdadeira obra de arte? O que faz com que o sucesso de uma criação perdure ao longo dos séculos? E, afinal, o que torna uma obra de arte genial?

Descubra no curso



Impacto e Legado do Impressionismo

O movimento impressionista revolucionou a arte do final do século XIX, abrindo espaço para uma nova forma de ver e representar o mundo. O pintor Claude Monet, que foi um dos pioneiros do movimento, mostrou a importância da captura da luz in loco. Além disso, a abordagem inovadora da pintura impressionista teve influência das gravuras japonesas. Foi dessa arte oriental que os artistas beberam para elaborar composições sem uma perspectiva central e com enquadramentos diferentes do habitual. Inclusive, o próprio Monet cultivava um jardim aquático de inspiração japonesa, de onde tirou a inspiração para pintar a série de quadros da sua ponte japonesa.

Quadro 'Ponte sobre um lago de nenúfares' de Claude Monet, pintado em 1899. A obra apresenta uma ponte curva sobre um lago repleto de nenúfares, com reflexos vibrantes na água e uma rica paleta de verdes.
Ponte sobre um lago de nenúfares, 1899, Claude Monet. 1872. Óleo sobre tela, 92,7 x 73,7 cm. Coleção HO Havemeyer, legado da Sra. HO Havemeyer, 1929


Monet e seus contemporâneos perceberam que a natureza não era apenas um objeto a ser retratado, mas uma experiência a ser vivida e transmitida. Ao adotar uma abordagem mais subjetiva, os impressionistas estabeleceram as bases para a Arte Moderna, permitindo que os artistas explorassem novas formas e técnicas que ainda não haviam sido concebidas. O uso de pinceladas curtas e rápidas, que parecem caóticas de perto, revela, ao serem observadas à distância, uma harmonia e vitalidade que desafia a percepção tradicional.

A resistência inicial ao Impressionismo foi significativa, com muitos críticos e o público não compreendendo imediatamente a proposta dos artistas. Era necessário um novo olhar, uma nova maneira de ver a arte. Essa necessidade de distância física para que a obra "ganhasse vida" demonstra a ruptura com as expectativas anteriores. Contudo, com o passar do tempo, o Impressionismo foi ganhando espaço e respeito, e artistas como Monet e Renoir alcançaram fama e reconhecimento em vida, consolidando seu legado em importantes coleções públicas.

Além disso, o Impressionismo preparou o terreno para movimentos subsequentes, como o Pós-Impressionismo e o Modernismo. Artistas como Paul Cézanne e Vincent van Gogh, que foram influenciados pelos impressionistas, continuaram a explorar novas formas de expressão, cada um à sua maneira. O pontilhismo, uma técnica desenvolvida no Pós-Impressionismo, exemplifica a evolução da experiência estética proposta pelos impressionistas.

O Impressionismo iniciou uma nova forma de perceber e representar o mundo, mas continuou querendo representá-lo. As transformações estéticas revolucionaram o fazer artístico, mas os artistas continuavam buscando ilustrar a realidade. A arte impressionista abriu caminhos para a inovação criativa que, posteriormente, iria se manifestar nas vanguardas europeias.

banner curso A arte moderna pelas obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, por Felipe Martinez

Perguntas Frequentes sobre Impressionismo

O que é Impressionismo?
O Impressionismo é um movimento artístico que surgiu no final do século XIX, na França. É caracterizado pela captura da luz e do movimento através de pinceladas soltas e cores vivas.

Quais são as principais características do Impressionismo?
As características do movimento incluem o abandono dos contornos nítidos e o uso de pinceladas aleatórias, o uso de cores puras, a observação da natureza e a captura da luz do instante observado. Além disso, os artistas buscavam representar cenas simples do cotidiano.

Quer se aprofundar na história da arte aprendendo com os melhores professores das maiores universidades do país, de onde você estiver?

A Casa do Saber + tem uma categoria inteira de cursos dedicados às artes visuais, passando pela curadoria, arte moderna, brasileira e contemporânea especialmente preparados para um aprendizado sem fronteiras. Acesse a plataforma para começar agora mesmo.

Comece aqui





Referências:

https://www.marmottan.fr/en/

https://mam.org.br/

https://www.musee-orsay.fr/en

GOMBRICH, E.H. A História da Arte



Iluminismo: o que foi, resumo, conceitos e principais pensadores
Tainá Voltas
This is some text inside of a div block.
Iluminismo: o que foi, resumo, conceitos e principais pensadores
Entenda as diferenças das três tradições do iluminismo e como o movimento transformou paradigmas para além da Europa e da Revolução Francesa.

Marcado por ser um grande transformador de paradigmas, o Iluminismo estabeleceu uma interseção com as propostas antropocêntricas para se firmar como um movimento filosófico, intelectual e cultural que acreditava na valoração da razão e do conhecimento como meios autênticos para a conquista da liberdade, justiça e felicidade.

Desenvolvido no cenário da Europa Ocidental, ao longo dos séculos XVII e XVIII (também conhecido como Século das Luzes), o Iluminismo criticou duramente as concepções de verdade da Idade Média, as quais davam à fé e à religião papeis centrais na compreensão do mundo.

Na época, o teocentrismo (doutrina que colocava Deus no centro e que perdurava desde o século IV) abria espaço para que o antropocentrismo (homem no centro) se fortalecesse e para que os filósofos estruturassem discursos e teorias capazes de colocar a legitimidade dos poderes absolutistas em xeque.

Tratou-se, portanto, de uma verdadeira crise dos valores propagados até então, combinada com uma proposta de revisitação aos pensamentos da Grécia Antiga sobre a necessidade da racionalidade para as tomadas de decisão.

Embora seja muitas vezes tratado como um movimento único, o Iluminismo teve várias vertentes em seus diferentes locais de propagação, agindo, inclusive, sobre as Américas e influenciando o pensamento moderno, suas democracias e o cientificismo.

Conheça todas as especificidades desse marco histórico no Guia Iluminista da Casa do Saber. Você irá encontrar por aqui:



Pintura em tela de uma imagem de Voltaire lendo sua tragédia
A obra de Anicet Charles Gabriel Lemonnier retrata o momento da leitura da tragédia de Voltaire, "O Órfão da China", sendo uma das pinturas sobre o iluminismo mais conhecidas da história da arte. (Fonte: Domínio Público)


O que é o Iluminismo

Como já abordamos anteriormente, o iluminismo é caracterizado como um movimento intelectual dos séculos XVII e XVIII, reconhecido por defender a importância da razão e do conhecimento para a observação e experimentação da vida.

A crença de um mundo regido exclusivamente pelos desígnios de Deus e, sobretudo, pela Igreja Católica era substituída pelas demandas por descentralização de poder e por justificativas racionais para as dinâmicas cotidianas.

Em outras palavras, o iluminismo contrastou a “´fe” e a “razão”, questionando os privilégios do clero e das monarquias, bem como desenvolveu teorias e discursos que colocaram o ser humano como vetor responsável por suas ações, fossem elas culturais, filosóficas, sociais ou históricas.

Na prática, a partir do iluminismo e de seus ideais racionalistas, as sociedades modernas passaram a valorizar a ciência como forma de compreender as questões e de solucionar problemas do dia a dia.

Com isso, o gradativo afastamento das explicações místicas e dogmáticas foi um produto lógico desse novo modelo de pensamento, que mitigou também o controle e a opressão característicos dos períodos inquisitivos da Idade das Trevas.

O movimento iluminista deu origem a transformações profundas em diversas áreas, como nos campos político, econômico e cultural, servindo como base e referencial para diversos eventos históricos significativos.

A Revolução Industrial e a Revolução Francesa (com seu lema “liberdade, igualdade e fraternidade"), os movimentos de independência dos Estados Unidos e do Brasil são apenas alguns exemplos desses grandes marcos.

Além disso, o iluminismo propiciou a criação de constituições baseadas em direitos naturais, impulsionou a defesa de governos representativos e o surgimento das democracias modernas, cujos fundamentos perduram até hoje

Um dos principais expoentes do iluminismo alemão, Immanuel Kant formulou um conceito lógico para o movimento, no texto “Resposta à pergunta: Que é o iluminismo?”:

O iluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado. A menoridade é incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem. Tal menoridade é por culpa própria se a sua causa não reside na falta de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo sem a orientação de outrem. Sapere aude (em português, “ouse saber" ou "atreva-se a conhecer)”. (KANT, 1995 apud WEIMANN, 2015)

Podemos dizer então que o iluminismo foi um movimento complexo, que se desenvolveu nas diversas frentes sociais (política, cultural, econômica, religiosa) através de uma filosofia que dava protagonismo aos seres humanos e não mais às divindades, ao cristianismo e à Igreja Católica.

Articulou a busca pelo conhecimento através da razão como sua principal pauta, priorizando a ciência, o empirismo e as explicações lógicas para fenômenos sociais e da natureza.

Seus principais expoentes, Voltaire, David Hume, Kant, entre outros contribuíram para uma revolução intelectual e para transformação de paradigmas importantes, questionando, sobretudo, as formas de governos absolutistas e os privilégios legados às monarquias e ao clero.

Os reflexos do movimento filosófico iluminista foram tão significativos ao longo do século XVIII, que o período foi reconhecido como Século das Luzes.

Thumb curso 'Cinco Eventos Que Mudaram A História Das Relações Internacionais', de Tanguy Baghdadi



Contexto do Iluminismo: como surge o movimento?

O iluminismo não foi uma ruptura abrupta, mas o ápice de transformações que se desenvolviam há séculos na Europa Ocidental.

Para se ter uma ideia, o pensamento racionalista já estava presente na Grécia Antiga, defendido por nomes importantes como Sócrates, Platão e Aristóteles, os quais enfatizavam a lógica, a ética e a busca pelo conhecimento como instrumentos para a compreensão do mundo.

Os romanos, por sua vez, ao herdarem essas ideias, as adaptaram e exerceram uma influência direta nos sistemas de leis utilizados pelo direito moderno.

Entretanto, com a ascensão do cristianismo no século IV, o teocentrismo ganhou destaque e passou a ser a principal norma das sociedades, colocando a fé e a Igreja Católica no centro da vida social, política e espiritual, especialmente ao longo da era medieval.

Somente a partir dos avanços científicos provocados pelas descobertas que desafiavam o status quo da época (entre os séculos XVI e XVII), como o movimento da Terra - observado por Copérnico e Galileu Galilei, ou pelas leis de Newton e a invenção de equipamentos como o telescópio e o microscópio, é que o teocentrismo passou a ser novamente questionado.

Associadas às Grandes Navegações e ao legado renascentista, essas mudanças retomaram o incentivo da busca pela razão como ferramenta central de investigação.

A colcha de retalho dessas descobertas científicas, com o resgate histórico e as mudanças culturais gradativas, criou as condições ideais para o surgimento do iluminismo e para a sua filosofia de combate aos valores do Antigo Regime.

Facilite a sua compreensão acerca do iluminismo a partir do seguinte resumo comparado:

Resumo do Iluminismo

Idade Média (teocentrismo) Iluminismo (antropocentrismo)
O teocentrismo tinha a religião (Deus) e, posteriormente, a Igreja Católica como bússolas, sendo aspectos que controlavam não só o campo espiritual e ético, como o político.

Através do medo e do misticismo, o modelo de pensamento da época compelia as sociedades a se comportarem de acordo com os interesses das monarquias absolutistas (forma de governo que concentrava o poder nas mãos do rei e da nobreza) e do alto clero.

Desenvolveu-se ao longo dos séculos V ao XV.
Marcou o questionamento das verdades teocêntricas, solidificando o antropocentrismo e o projeto humanista

A razão era o instrumento legítimo para o conhecimento e para a boa aventurança, “iluminando” as explicações outrora associadas às divindades e à natureza.

Caracterizou-se pela crítica ao absolutismo e à sua concentração de poder que resultava nas sociedades estamentais.

Além disso, buscava pela igualdade, autonomia intelectual e direitos naturais, bem como pelo fortalecimento do pensamento crítico e da liberdade de escolha.

Refletiu nos diversos eventos revolucionários da Idade Moderna e foi a principal base das democracias modernas.

Desenvolveu-se durante o século XVII e XVIII - conhecido como Século das Luzes.


Diferenças entre o Iluminismo Francês, Inglês e Americano a partir de seus principais pensadores

O iluminismo foi um movimento bastante complexo, apresentando características específicas alinhadas a cada contexto cultural no qual se estabeleceu.

Dessa forma, refletiu as prioridades e os desafios de cada sociedade, promovendo em todas elas alterações importantes.

Entre as tradições que mais se destacaram nesse sentido, o iluminismo francês, britânico e americano possuem como singularidades os pontos abordados abaixo:

1. Características do iluminismo Francês

Foi profundamente marcado pelo racionalismo e pelo combate às estruturas tradicionais de poder, como a monarquia absolutista e a Igreja Católica.

A razão era a ferramenta para a reconstrução de uma sociedade mergulhada, à época, na insatisfação econômica e social.

Foi a partir dos ideais iluministas que a Revolução Francesa (1789) tomou forma e registrou na História a sua busca por liberdade, igualdade e fraternidade.

A Queda da Bastilha, inclusive, evento caracterizado pelo protesto popular na prisão e fortaleza militar que simbolizava o absolutismo do Antigo Regime francês, assinalou não só o início da própria Revolução Francesa, como a transição da Idade Moderna para a Contemporânea.

Pintura em tela do grande evento iluminista queda da bastilha
Obra "Tomada da Bastilha e prisão do governador M. de Launay", 14 de julho de 1789. (Fonte: Domínio Público)



Seus principais filósofos iluministas foram:

  • René Descartes (1596 – 1650): responsável pelo método de pesquisa cartesiano, cujo objetivo era duvidar de tudo aquilo que era tido como verdade. Um fato deveria ser verificado, sintetizado e iluminado antes de comprovado. Desafiou as certezas dogmáticas, buscando uma nova base lógica para a verdade. "Penso, logo existo"
  • Voltaire (1694 - 1778): criticou os privilégios das aristocracias e dos religiosos, disseminando a liberdade de expressão e o combate à intolerância. Foi perseguido e, por isso, exilou-se na Inglaterra, onde teve contato com John Locke.
  • Montesquieu (1689- 1755): em O Espírito das Leis, o filósofo propôs a separação dos poderes (executivo, legislativo e judiciário) pela primeira vez, argumentando acerca de sua eficácia e prevenção de abusos de autoridade.
  • Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778): teceu a tese do homem natural, sustentando que a sociedade era a perversão desse sujeito, corrompendo-o de sua vocação para o bem e para o convívio harmônico com a natureza. Também foi um crítico da propriedade privada, que, segundo a sua perspectiva, era a responsável pela desigualdade dos homens.


2. Características do Iluminismo Britânico

A busca incessante pela razão não era a principal questão do iluminismo britânico. Parte da "era da benevolência", o iluminismo dessa região voltou-se à ética das virtudes e à moralidade, expandindo o seu foco para além da priorização da racionalidade.

A filosofia política britânica se destacou essencialmente pelos temas do liberalismo e pela defesa dos direitos individuais

Teve como principal pensador iluminista:

  • John Locke (1632 - 1704): considerado o pai do liberalismo, Locke defendeu a ideia de que o conhecimento humano era derivado de uma experiência sensorial. Criticou o governo absolutista e propôs a famosa teoria do contrato social, segundo a qual a sociedade civil seria formada a partir de um pacto entre as pessoas e o Estado. Em condições justas, o filósofo acreditava que as sociedades abriam mão de seus direitos individuais para, de modo consentido, gozar da proteção oferecida pelas instituições estatais.


3. Características do Iluminismo Americano

Enquanto isso, o iluminismo americano encontrou um forte apelo na liberdade política e nos direitos naturais, destacando-se pela busca da independência e pela criação de um novo modelo de governo.

Foi conhecido pela tese da “política da liberdade”, tendo a Independência (declarada no dia 4 de julho de 1776) como seu evento mais importante.

Entre os pensadores iluministas relevantes da época estavam:

  • Thomas Jefferson (1743 - 1826), John Adams (1735 - 1826) e Benjamin Franklin (1706 - 1790): estiveram envolvidos nas questões de liberdade política e nas ideias sobre um governo baseado na razão e nos direitos inalienáveis do homem. Essas ideias se materializaram na Declaração de Independência e ajudaram a moldar os princípios da Constituição dos Estados Unidos.


Além desses nomes, Immanuel Kant e Adam Smith também foram importantes sistematizadores do pensamento iluminista.

O alemão Kant (1724 - 1804), por exemplo, foi fundamental para o desenvolvimento da ética e da epistemologia, além de ser o criador do imperativo categórico, uma medida de princípio universal e racional capaz de sustentar as ações morais.

banner curso 'Os pensadores: Immanuel Kant', por Daniel Omar Perez

Para ele, a percepção da realidade dependia tanto das experiências vividas quanto das individualidades de cada sujeito, o que desafiava diversas abordagens anteriores.

Por sua vez, Adam Smith (1723 - 1790), filósofo escocês, é amplamente reconhecido como pai da economia moderna. Foi na obra A Riqueza das Nações (1776), que o filósofo iluminista introduziu o conceito de economia de mercado livre, posicionando a busca individual pelo lucro, por meio da mão invisível do Estado, como uma ferramenta para o bem-estar coletivo.

Entenda essa diferença de forma prática:

O iluminismo também produziu seus efeitos no Brasil, influenciado a Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana e o artigo 5º da Constituição Federal.

Constituição Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:


Veja também: D. Pedro I, Um Príncipe Dividido - a trajetória do monarca que se identificou e apoiou o desejo dos brasileiros pela Independência, liderando a separação entre os dois Reinos.



Um outro olhar para o iluminismo: a crítica a partir de um referencial colonial.

Embora tenha sido revolucionário em diversos aspectos, o iluminismo esteve imerso em contradições relevantes, especialmente quando observamos as suas bases a partir de um referencial decolonial.

A crítica mais pujante ao movimento reside na contraposição dos seus ideais de liberdade e igualdade ao tratamento dado às populações africanas e indígenas, como aponta o doutor em Filosofia pela UFRJ, Renato Nogueira (vídeo abaixo).

Entre as crenças iluministas, havia uma perspectiva de inferiorização desses povos, responsável por legitimar o seu controle pelas colônias e pelos movimentos escravagistas.

Nesse contexto, Frantz Fanon (1925 -1961) assume um papel fundamental ao propor uma revisão do humanismo tradicional, apontando suas falhas em reconhecer e valorizar as identidades dos povos colonizados e escravizados.

Trata-se de uma abordagem fundamental para compreender os impactos do humanismo e do iluminismo para além do continente europeu.

Gostou de conferir o resumo sobre o iluminismo e seu significado para a Europa, Revolução Francesa e Américas? Continue a sua jornada por aqui com o “Guia Essencial da Filosofia -Pensamento Moderno

banner curso Guia essencial da filosofia: pensamento moderno, por Paulo Niccoli Ramiro





Referências

COSTA, Abraão Lincoln Ferreira. Relações entre o iluminismo alemão e a concepção goethiana de formação. Água Viva, v. 3, n. 1, p. 12184, jan.-jul. 2018. DOI: 10.26512/aguaviva.v3i1.12184.

WEINMAN, Carlos. O conceito de iluminismo em Kant e sua implicação com a moralidade e a política. Unoesc & Ciência - ACHS, Joaçaba, v. 6, n. 2, p. 201-212, jul./dez. 2015.

Autores

John Locke foi um filósofo iluminista do século XVII, conhecido por seus pensamentos acerca dos direitos naturais e sua teoria do conhecimento. Nascido na Inglaterra, John Locke combateu o absolutismo na política e defendeu a criação de um Estado liberal, criado pela humanidade através de leis que garantissem o direito à vida, à liberdade e à propriedade privada.

Locke foi um dos pensadores do contrato social e desenvolveu a ideia de que a mente humana nasce como uma “tábula rasa” e adquire conhecimento a partir das experiências vividas. Foi, portanto, um filósofo empirista e escreveu obras fundamentais como o Ensaio sobre o Entendimento Humano e O Segundo Tratado sobre o Governo Civil. Formulou conceitos que continuam a ser debatidos e aplicados até hoje. Neste artigo, vamos abordar a biografia de John Locke e suas principais ideias.



Quem foi John Locke?

John Locke nasceu em 29 de agosto de 1632, na pequena cidade de Wrington, no condado de Somerset, na Inglaterra. Filho de um advogado puritano dono de uma pequena propriedade de terras, Locke cresceu em uma época de intensas tensões políticas, marcadas pelas Guerras Civis Inglesas, que influenciaram profundamente suas ideias.

A educação de Locke foi privilegiada, ele estudou na Westminster School, uma das melhores escolas da Inglaterra, e, em 1652, ingressou na renomada Christ Church College da Universidade de Oxford. Embora seu pai desejasse que ele seguisse a carreira eclesiástica, Locke se formou em medicina e dedicou-se à filosofia e às ciências naturais. Durante sua formação, teve contato com as ideias filosóficas de René Descartes e com o trabalho científico de Robert Boyle, com quem desenvolveria uma estreita amizade e colaboração.

Em 1667, Locke tornou-se médico particular de Lord Ashley Cooper, futuro conde de Shaftesbury, fato que o aproximou das discussões políticas e lhe permitiu desenvolver suas ideias sobre o liberalismo e o governo. Durante esse período, Locke também se interessou pelo movimento científico da época, tornando-se membro da Royal Society de Londres em 1668 e realizando experimentos em diversas áreas do conhecimento, incluindo meteorologia e física dos gases.

Em 1681 o conde de Shaftesbury foi acusado de conspirar contra o rei Carlos II e John Locke de colaborar com seu mentor. Ambos foram exilados na Holanda. Durante os cinco anos em que permaneceu na Holanda, Locke escreveu grande parte de suas obras mais importantes.

Entre elas, destacam-se Cartas sobre a Tolerância, onde Locke defendeu a separação entre Igreja e Estado e a necessidade de tolerância religiosa, e Tratado Sobre o Governo Civil, onde formulou suas ideias sobre os direitos naturais do ser humano (vida, liberdade e propriedade) e o governo legítimo, baseado no consentimento dos governados. John Locke voltou à Inglaterra após a Revolução Gloriosa de 1688 e começou a publicar suas obras sobre filosofia política.

O pensador também teve um papel significativo na evolução do empirismo, defendendo que o conhecimento humano se origina da experiência sensorial e que a mente, ao nascer, é uma tábula rasa, sem ideias inatas. Essa teoria teve grande influência no desenvolvimento do Iluminismo na modernidade. Suas ideias tiveram consequências em diversas áreas do conhecimento, como filosofia, política e economia.

Locke faleceu em 28 de outubro de 1704, na cidade de High Lavre, na Inglaterra, onde passou seus últimos anos. Seu legado perdura até hoje, e suas ideias continuam a ser fundamentais para a compreensão dos direitos humanos, da liberdade política e das bases da democracia moderna. Os sistemas jurídico e político dos Estados Unidos foram criados a partir das ideias de Locke, feito copiado por diversas outras democracias.

O que John Locke defendia?

John Locke, ao lado de Rousseau e Thomas Hobbes, pertence à linha dos filósofos do jusnaturalismo, ou teóricos dos direitos naturais. Para ele, os seres humanos, ao viverem inicialmente no estado de natureza, possuíam direitos naturais inalienáveis, como a vida, a liberdade e a propriedade privada, sendo este último um direito conquistado por meio do trabalho.

Ao contrário de Hobbes, que via o estado de natureza como um cenário de guerra constante, Locke acreditava que o estado natural da humanidade era originalmente equilibrado, no qual os indivíduos possuíam a capacidade de criar normas, julgar e condenar. Esses direitos e capacidades foram fundamentais para a construção da sociedade civil, que seria formada por meio de um contrato social.

Esse pacto não significava que os direitos naturais eram abandonados, mas passavam a ser reconhecidos e protegidos pela sociedade. Para Locke, o Estado deveria garantir a proteção desses direitos, o que gerou uma visão do governo como um meio de assegurar a liberdade, a segurança e a propriedade de seus cidadãos. Nesse processo, o contrato social não eliminava os direitos naturais dos indivíduos, mas os delegava ao Estado. Isso resultava em uma tensão entre os direitos privados e as funções públicas do Estado, algo que Locke não deixou de considerar em sua teoria.

Além de suas contribuições à teoria política, Locke também é conhecido por sua influência no campo do conhecimento, como um dos primeiros defensores do empirismo na filosofia. Em sua obra Ensaio sobre o Entendimento Humano, ele argumenta que a mente humana é uma tábula rasa ao nascer, sem ideias inatas, e que todo o conhecimento provém da experiência sensorial.

Locke acreditava que, por meio dos sentidos e da reflexão sobre essas experiências, formávamos nossas ideias e, assim, nossa compreensão do mundo. Ele via a razão e a experiência como elementos essenciais para a construção do saber.

No campo político, ele foi um dos primeiros a propor a separação dos poderes, defendendo que os poderes executivo, legislativo e federativo deveriam ser exercidos distintamente. Mas, diferente do que foi proposto na teoria da separação dos poderes de Montesquieu, John Locke estabelece uma relação de subordinação entre os poderes, onde todos estariam submetidos ao poder legislativo.

[inserir em fundo de cor com destaque, thumb do curso e botão abaixo]

Conheça o pensamento de Locke e de autores como Descartes, Locke, Kant e Hegel que representaram a reinvenção das ideias de conhecimento e da própria filosofia no curso da Casa do Saber +:

thumb do curso Guia essencial da filosofia: pensamento moderno, por Paulo Niccoli Ramiro


Assistir agora ao trailer



Principais Livros de John Locke

John Locke escreveu diversas obras que se tornaram fundamentais para a filosofia, abordando temas que vão desde a teoria do conhecimento até a teoria política. Seus escritos influenciaram profundamente a formação do liberalismo e do empirismo, além de terem deixado um legado duradouro no pensamento ocidental. A seguir, listamos alguns de seus principais livros:

  • Ensaio sobre o Entendimento Humano (1689)
  • Primeiro Tratado sobre o Governo Civil (1689)
  • Segundo Tratado sobre o Governo Civil (1689)
  • Carta sobre a Tolerância (1689-92)
  • Alguns Pensamentos sobre a Educação (1693)
  • Razoabilidade do Cristianismo (1695)
  • Da Conduta do Entendimento (1706)



Carta sobre a Tolerância (1689 - 92)

capa do livro Carta Sobre a Tolerância, de John Locke

Carta sobre a Tolerância, de John Locke, foi publicada pela primeira vez em 1689, em um contexto de grande agitação religiosa e política na Inglaterra, onde o medo de um domínio crescente do catolicismo gerava tensões entre protestantes e católicos. Essa obra surge como uma resposta ao problema das disputas religiosas e à crescente interferência da religião nas questões políticas e sociais. Locke defende a ideia de que a autoridade do governo deve ser limitada à proteção da lei civil e que as questões religiosas pertencem à esfera privada do indivíduo. Ele argumenta que a tolerância religiosa é essencial para a convivência pacífica e que o governo não deve impor ou interferir nas crenças religiosas das pessoas. O filósofo também enfatiza que as leis devem ser elaboradas de forma coletiva pelos cidadãos, refletindo uma visão de liberdade e respeito pelas diferenças. A obra teve grande impacto na promoção da liberdade religiosa e influenciou profundamente o pensamento sobre os direitos individuais e a separação entre igreja e Estado.

Ensaio sobre o Entendimento Humano (1689)

capa do livro Ensaio sobre o Entendimento Humano, de John Locke

Ensaio sobre o Entendimento Humano é uma das obras mais importantes de John Locke, fundamental para o desenvolvimento da epistemologia moderna. Publicada em 1689, nesta obra Locke rejeita a ideia platônica de que nascemos com ideias inatas e propõe uma nova concepção sobre o conhecimento humano. Ele argumenta que a mente humana é uma "tábula rasa" (uma folha em branco) ao nascer, ou seja, não possui ideias ou conhecimento pré-existentes. Para Locke, todo conhecimento deriva da experiência, que ocorre de duas formas principais: as sensações, que nos fornecem ideias simples sobre o mundo externo, e a reflexão, que nos permite formar ideias mais complexas a partir dessas experiências sensoriais. Assim, Locke estabelece a base para uma teoria empírica do conhecimento, segundo a qual a experiência é a única fonte confiável de todo saber humano. A obra teve grande impacto no empirismo e influenciou o pensamento filosófico sobre como adquirimos e construímos o conhecimento.

Segundo Tratado sobre o Governo Civil (1689)

capa do livro Segundo Tratado Sobre o Governo Civil, de John Locke

Segundo Tratado sobre o Governo Civil é uma publicação significativa de John Locke e uma das principais fontes do surgimento do liberalismo moderno. Escrito de forma anônima, o livro foi publicado com o objetivo de combater o absolutismo monárquico, que defendia o poder divino dos reis. Locke argumenta que os indivíduos possuem direitos naturais inalienáveis, como a vida, a liberdade e a propriedade, e que a principal função do governo é proteger esses direitos. Ele refuta a ideia de que o governo se origina da vontade divina e propõe que o poder político surge de um contrato social entre os indivíduos. Para Locke, o Estado é formado por homens que se reúnem para garantir a preservação da liberdade, que é assegurada pela inviolabilidade do corpo, pelo respeito às leis e pela proteção do direito à propriedade. Além disso, Locke introduz a ideia de separação dos poderes, propondo que os poderes executivo, legislativo e federativo estejam em “mãos” distintas. O livro defende que o governo deve ser limitado, baseado no consentimento dos governados, e que sua principal função é garantir os direitos naturais.

O que são os Direitos Naturais para John Locke?

Para John Locke, os direitos naturais são direitos fundamentais que todo ser humano possui desde o nascimento, independentemente de qualquer autoridade ou sistema legislativo. Locke identificou três direitos naturais essenciais: o direito à vida, à liberdade e à propriedade privada. Esses direitos são considerados inalienáveis, ou seja, não podem ser retirados de um indivíduo, nem mesmo pelo governo. O filósofo acreditava que a principal função de um governo legítimo era proteger esses direitos, e que qualquer governo que violasse tais direitos perderia sua legitimidade. A proteção desses direitos era a base para a formação de uma sociedade justa e para a preservação da liberdade individual.

O que é a Tábula Rasa de John Locke?

A “tábula rasa” é um conceito central na epistemologia de John Locke, apresentado em sua obra Ensaio sobre o Entendimento Humano (1689), e refere-se à ideia de que, ao nascer, a mente humana é semelhante a uma "folha em branco", sem qualquer conteúdo ou ideias inatas. Locke rejeita, assim, a concepção cartesiana e platônica de que certos conhecimentos ou ideias são inatos, argumentando que todos os conceitos e saberes do ser humano provêm da experiência. Segundo Locke, a mente humana, ao invés de ter ideias pré-existentes, é um receptáculo vazio que vai sendo preenchido ao longo da vida através de duas fontes principais de experiência: as sensações e a reflexão.

As sensações referem-se às percepções que o indivíduo recebe do mundo externo por meio dos sentidos, enquanto a reflexão diz respeito à experiência interna, ou seja, ao processo de pensar sobre as próprias percepções e experiências sensoriais. A partir dessas fontes de experiência, Locke sustenta que as ideias se formam e evoluem, sendo, portanto, adquiridas e não inatas.

A teoria da tábula rasa tem implicações profundas na concepção de conhecimento de Locke. Ela coloca a ênfase na experiência como a única fonte válida de conhecimento, o que é uma pedra angular do empirismo, corrente filosófica da qual Locke é um dos principais expoentes.

Além disso, o conceito de tábula rasa também tem consequências na filosofia política de Locke, especialmente em sua defesa da liberdade e da igualdade natural dos indivíduos. Se as ideias e os comportamentos são moldados pela experiência, então não há uma natureza humana fixa e determinada desde o nascimento, o que justifica a visão de Locke de que a sociedade deve ser construída com base no consentimento e na experiência dos indivíduos, e não em hierarquias ou modelos predeterminados.

Qual a diferença entre o pensamento de Hobbes e Locke?

A principal diferença entre John Locke e Thomas Hobbes reside em suas visões sobre a natureza humana e o papel do governo. Hobbes, em sua obra Leviatã, tem uma visão pessimista da natureza humana, acreditando que, sem a autoridade central de um soberano absoluto, os seres humanos viveriam em uma "guerra de todos contra todos", motivados pelo egoísmo e pela busca de autopreservação. Para ele, o contrato social implicava a entrega total do poder a um governante centralizado, o "Leviatã", cuja autoridade deveria ser absoluta para garantir a paz e a ordem.

Locke, em contraste, tinha uma visão mais otimista sobre a natureza humana. Embora reconhecesse o egoísmo humano, ele acreditava que as pessoas eram racionais e podiam viver em harmonia no estado de natureza, desde que respeitassem os direitos dos outros. Para Locke, o contrato social tinha como objetivo proteger os direitos naturais à vida, liberdade e propriedade, e o governo deveria ser limitado e baseado no consentimento dos governados. Ao contrário de Hobbes, Locke não defendia um governo absoluto, mas sim um sistema de separação dos poderes, onde o governo poderia ser deposto caso violasse os direitos naturais dos cidadãos.

Em relação à propriedade, enquanto Hobbes acreditava que a propriedade só surgiria com a criação do Estado, Locke via a propriedade como um direito natural inalienável, que já existia no estado de natureza e deveria ser protegida pelo governo. Assim, a propriedade era adquirida por meio do trabalho e da utilização dos recursos naturais, e o governo tinha o dever de protegê-la.

Portanto, enquanto Hobbes defendia um governo absoluto e centralizado para evitar o caos, Locke propunha um governo limitado, baseado na proteção dos direitos naturais e no consentimento dos governados. Ambos influenciaram profundamente o pensamento político moderno, com as ideias de Hobbes sendo mais relevantes para o absolutismo e as de Locke para o liberalismo e os direitos humanos.

Locke e os Pensadores Iluministas

John Locke foi uma figura central entre os pensadores do Iluminismo, cujas ideias influenciaram profundamente o desenvolvimento do pensamento moderno. Ele defendeu a importância da razão e da experiência sensorial como fontes do conhecimento, estabelecendo as bases para o empirismo. Sua teoria dos direitos naturais, que inclui os direitos à vida, liberdade e propriedade, teve grande impacto na formação das ideias iluministas sobre os direitos humanos e o papel do governo.

Pensadores iluministas como Voltaire, Montesquieu e Rousseau foram fortemente influenciados por Locke, especialmente em suas críticas ao absolutismo e na defesa da liberdade individual. Immanuel Kant, embora crítico do empirismo de Locke, também reconheceu sua importância. Kant desafiou a visão lockeana ao argumentar que a mente humana não é passiva, mas ativa na organização do conhecimento, introduzindo a ideia de categorias a priori que moldam nossa percepção da realidade. Apesar das divergências, tanto Locke quanto Kant foram fundamentais para a epistemologia.

Entenda as ideias destes e de vários dos maiores pensadores da história no curso de Franklin Leopoldo e Silva e Oswaldo Giacoia Junior




Veja agora o curso



Conclusão

John Locke foi um dos pensadores mais importantes da filosofia iluminista, com suas ideias sobre conhecimento, direitos naturais e governo limitado, influenciando profundamente as teorias políticas e filosóficas subsequentes. Seu legado é especialmente marcante no campo do liberalismo, onde suas ideias sobre a liberdade individual, estado laico e separação dos poderes formaram as bases das sociedades democráticas.

Perguntas Frequentes sobre John Locke

Quais são as principais obras de John Locke e suas contribuições filosóficas?

As principais obras de John Locke incluem “Ensaio sobre o Entendimento Humano”, “Segundo Tratado sobre o Governo Civil” e “Carta sobre a Tolerância”. Locke foi fundamental para o desenvolvimento do empirismo, defendendo que todo o conhecimento deriva da experiência. Na política, suas ideias sobre os direitos naturais e o governo baseado no consentimento dos governados influenciaram profundamente o liberalismo e as democracias modernas.

Como a visão de Locke sobre o governo difere da de Hobbes?

John Locke acreditava que o governo deveria ser limitado e baseado no consentimento dos governados, com o objetivo de proteger os direitos naturais, como a vida, liberdade e propriedade. Em contraste, Thomas Hobbes defendia um governo absoluto e centralizado, acreditando que a humanidade necessitava de um soberano forte para evitar o caos e a guerra de todos contra todos. Locke via o governo como um guardião da liberdade, enquanto Hobbes o via como uma necessidade para garantir a ordem.





Referências

https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-20857/john-locke/

https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke

https://www.britannica.com/biography/John-Locke

Michel Foucault foi um filósofo e psicólogo francês do século XX, que estudou profundamente o conceito de poder na sociedade contemporânea. Desenvolveu a ideia de microfísica do poder, demonstrando que instituições como escolas, hospitais, quarteis e até mesmo grupos de amigos estão permeados por relações de poder, que pretendem docilizar os corpos através da disciplina.

Foucault escreveu obras marcantes como História da Loucura e História da Sexualidade e seu legado é de suma importância não apenas para a Filosofia, mas também para as Ciências Sociais, a Psicologia, a Psiquiatria e a História. Neste artigo, vamos abordar a vida e os principais livros de Michel Foucault, além de conceitos como microfísica do poder, biopoder e panóptico. Confira!



Quem é Michel Foucault?

Paul-Michel Foucault foi um pensador francês que nasceu no dia 15 de outubro de 1926, na cidade de Poitiers, em uma família tradicional de médicos. Ele não atendeu às expectativas de seu pai, Paul Foucault, médico cirurgião e professor de anatomia, que desejava que o filho seguisse a carreira de medicina. Desde jovem, Michel Foucault já revelava um forte interesse por História e Filosofia. Sua mãe, Anna Malapert, ao contrário de seu pai, o apoiou em sua decisão de estudar filosofia.

Em 1945, mudou-se para Paris e no ano seguinte ingressou na Escola Normal Superior de Paris, onde se formou em filosofia. Foi aluno do filósofo Jean Hippolyte, que o introduziu aos trabalhos de Hegel e de Louis Althusser. Foucault se interessou profundamente por psicologia, psiquiatria e psicanálise, além de ter estudado as obras de filósofos como Platão, Hegel, Marx, Nietzsche, Freud e Kant.

Após concluir sua graduação em Filosofia, em 1951, Foucault obteve o diploma em Psicologia no ano seguinte. Aos 28 anos, publicou Doença Mental e Psicologia. Trabalhou alguns anos como diplomata cultural no exterior e, ao retornar à França, publicou o livro A História da Loucura, que o consagraria entre os maiores pensadores contemporâneos. Atuou como psicólogo em hospitais e prisões, além de exercer a docência universitária.

Ao longo de sua trajetória, ministrou palestras em diversas universidades europeias e norte-americanas, incluindo duas passagens pela Universidade de São Paulo (USP), a primeira em 1965 e a segunda em 1975.

Entre 1966 e 1968, Foucault lecionou na Universidade de Túnis, na Tunísia, antes de retornar à França, onde assumiu a direção do departamento de Filosofia na Universidade Paris VIII. Em 1970, foi nomeado professor no Collège de France, onde ocupou a cátedra de História dos Sistemas do Pensamento até sua morte, em 1984.

Sua trajetória intelectual foi marcada por uma incessante busca para compreender as diferentes formas de poder e como elas se manifestam na sociedade. Foucault dedicou-se a investigar como os discursos, instituições e práticas sociais moldam e disciplinam os indivíduos e as sociedades. Sua experiência prática como psicólogo em hospitais e penitenciárias contribuiu para a elaboração de obras como Vigiar e Punir e História da Loucura.

Antes de falecer, ele publicou O Uso dos Prazeres, que analisa a sexualidade na Grécia Antiga, e O Cuidado de Si. Foucault morreu em 25 de junho de 1984, aos 57 anos, em decorrência de complicações relacionadas à AIDS, mas seu legado continua vivo, influenciando as ciências sociais e a filosofia contemporânea.

Se você quiser entender melhor a noção do “cuidado de si” desenvolvida por Foucault, assista às aulas do professor de História da Filosofia Antiga, Mauricio Pagotto Marsola, que abordam a relação entre conhecimento e cuidado de si nos pensamentos de Sócrates, Platão e Foucault. Clique no botão abaixo e veja um trecho da aula gratuitamente:



Quais são as Fases do Pensamento de Foucault?

O trabalho de Foucault pode ser dividido em três fases distintas: a primeira delas é a arqueologia do saber; a segunda, trata do método genealógico, onde ele aborda as formas de poder e a última fase está voltada para suas investigações acerca da sexualidade, com a publicação dos dois últimos volumes da série inacabada História da Sexualidade. Embora frequentemente relacionado ao pós-estruturalismo, Foucault preferia caracterizar seu pensamento como uma investigação crítica da modernidade.

Primeira Fase: A Arqueologia do Saber

Nessa fase, Foucault desenvolve o conceito de arqueologia do conhecimento, focando em como as formas de saber se estruturam ao longo da história e como as ciências humanas surgem e se consolidam. Ele investiga as condições históricas que possibilitam a formação dos saberes, utilizando o seu “método arqueológico”. Também analisou, nesse período, a Filosofia, a Linguística e a Literatura. As principais obras da fase arqueológica são:

  • As Palavras e as Coisas (1966)
  • A Arqueologia do Saber (1969)


Segunda Fase: A Genealogia do Poder

Na segunda fase de sua obra, Foucault passa a entender o poder como algo disseminado por toda a sociedade, em vez de centralizado em uma autoridade estatal, por exemplo. Além disso, ele investiga como as práticas sociais, políticas e morais se formaram a partir de relações de poder, colocando a liberdade em xeque. Influenciado por suas experiências em clínicas e instituições correcionais e pelo método genealógico de Nietzsche, ele examina a evolução das práticas de punição e controle social, além da construção do discurso sobre a sexualidade como forma de controle. Esse período é marcado pela publicação de obras como:

  • Vigiar e Punir (1975)
  • A Vontade de Saber (1976 - primeiro volume de História da Sexualidade)


Terceira Fase: Ética, Moral e Sexualidade

Na terceira fase de sua obra, Foucault se concentra em estudar ética e moralidade, destacando a noção do “cuidado de si", uma prática originada na filosofia grega antiga. Ele investiga como a moralidade e o comportamento sexual foram regulados ao longo da história, vinculando essas questões ao poder e à formação do sujeito ético. Suas principais obras dessa fase incluem:

  • A História da Sexualidade Volume 2: O Uso dos Prazeres (1984)
  • A História da Sexualidade Volume 3: O Cuidado de Si (1984)


Principais Livros de Michel Foucault

Michel Foucault escreveu uma série de obras fundamentais que abordam temas como poder, saber, sexualidade e a formação do sujeito. A seguir, listamos alguns dos principais livros de Michel Foucault:

  • História da Loucura (1961)
  • Doença Mental e Psicologia (1962)
  • O Nascimento da Clínica (1963)
  • As Palavras e as Coisas (1966)
  • A Arqueologia do Saber (1969)
  • Isto Não é um Cachimbo (1973)
  • Vigiar e Punir (1975)
  • História da Sexualidade: Volume 1 - A Vontade de Saber (1976)
  • História da Sexualidade: Volume 2 - O Uso dos Prazeres (1984)
  • História da Sexualidade: Volume 3 - O Cuidado de Si (1984)
  • Microfísica do Poder (1982, coletânea de palestras)
  • A Ordem do Discurso (1971, conferência)
  • Sociedade e Poder (coletânea de palestras de 1977–1978


História da Loucura de Michel Foucault (1961)

capa do livro 'História da Loucura', de Michel Foucault

História da Loucura é considerado o primeiro trabalho significativo de Foucault, no qual ele examina a evolução da concepção de loucura na sociedade ocidental. O filósofo analisa como a loucura foi tratada ao longo da história e como as instituições psiquiátricas desempenharam um papel crucial na marginalização dos indivíduos considerados "loucos".

Banner curso 'Foucault e as Críticas aos Saberes Psi', de Flávia Andrade

Vigiar e Punir (1975)

capa do livro Vigiar e Punir de Michel Foucault

Vigiar e Punir é uma obra que se insere na investigação genealógica de Foucault, que busca entender as origens de certas práticas e discursos, conectando-os com as relações de poder. O filósofo argumenta que as relações de poder geram saberes, e esses saberes, por sua vez, produzem efeitos de poder. No livro, ele analisa a evolução das práticas disciplinares nas sociedades ocidentais, com foco nas prisões, e explora a transição do poder soberano, caracterizado pela violência, para o poder disciplinar, mais sutil e focado na vigilância. O autor revela como esses sistemas de punição passaram a normatizar e controlar os corpos na sociedade moderna.

A Arqueologia do Saber (1969)

capa do livro A Arqueologia do Saber, de Michel Foucault

A Arqueologia do Saber é uma das obras fundamentais de Foucault, onde ele aborda a epistemologia e os métodos utilizados para analisar as disciplinas do conhecimento. O filósofo investiga como as ideias, linguagens e saberes se formam e são legitimados ao longo do tempo dentro das sociedades. O livro se concentra em como as formas de conhecimento são constituídas e como se tornam aceitas e institucionalizadas nas diversas esferas sociais.

História da Sexualidade (1976)

capa do livro História da Sexualidade, de Michel Foucault

Em História da Sexualidade, Foucault analisa como a sexualidade foi moldada como um instrumento de poder nas sociedades ocidentais. No primeiro volume, A Vontade de Saber (1976), argumenta que, em vez de ser silenciada, a sexualidade foi intensamente regulamentada e definida por normas sociais e pelo discurso médico, refletindo relações de poder.

Em 1984, Foucault publicou os volumes O Uso dos Prazeres, que examina a sexualidade na Grécia Antiga, e O Cuidado de Si, que aborda a Roma Antiga. A série de livros sobre a sexualidade permaneceu inacabada, mas os livros que foram publicados analisam a constituição do desejo sexual e como ele foi regulado ao longo do tempo, destacando o papel das instituições sociais nesse processo.

O que é o Biopoder de Michel Foucault?

O conceito de biopoder em Michel Foucault descreve formas de poder que não se manifestam por meio de proibições diretas, mas pelo controle da vida em sociedade. O filósofo introduz o conceito de biopoder no livro História da Sexualidade, relacionando a ideia a uma forma do Estado controlar os indivíduos, através de políticas públicas, coletas de dados e disciplina dos corpos.



A disciplina agiria de forma mais sutil, mas igualmente eficaz na subjugação das pessoas, em comparação com o poder soberano. Foucault descreve assim a microfísica do poder, exercida em instituições como escolas, hospitais, prisões e fábricas, onde técnicas disciplinares adestram os indivíduos. Por outro lado, ele também aborda a macrofísica do poder, controle exercido por uma autoridade central, como um monarca, que usava o medo e punições físicas para dominar a população. Assim, Foucault propõe que o poder não se limita à violência explícita, mas se espalha por formas sutis de controle que influenciam os comportamentos e a subjetividade dos indivíduos.

Mecanismos de Adestramento dos Corpos para Foucault

MECANISMOS DE ADESTRAMENTO RESUMO
Arte da Distribuição Distribuição dos Corpos no Espaço, em Quadriculamentos, em locais como indústrias, hospitais, escolas
Controle das Atividades Controle do Tempo, do horário em que as pessoas entram e saem de determinadas instituições, como escolas, quarteis
Organização das Genesis Como são as técnicas para a evolução da aprendizagem
Composição das Forças Combinações de indivíduos que promovem uma maior docilidade e utilidade. Cada corpo se constitui uma peça numa engrenagem, onde há uma obediência por meio de sinais


O Panóptico e a Vigilância Social em Michel Foucault

Em Vigiar e Punir, Foucault utiliza a metáfora do panóptico – uma estrutura prisional idealizada pelo filósofo Jeremy Bentham – para ilustrar como as instituições modernas utilizam a vigilância constante para disciplinar os corpos e adestrar comportamentos.

O panóptico é uma torre localizada no centro de uma prisão que permite a observação de todos os prisioneiros, criando uma sensação de vigilância permanente. Foucault estende essa metáfora à sociedade contemporânea, sugerindo que estamos constantemente sob observação, com a possibilidade de punição a qualquer momento.

Nesse sistema, cada indivíduo se transforma, potencialmente, em um observador de si mesmo e dos outros. Foucault afirma que a vigilância não se limita a punir, mas também incentiva a auto-monitorização, resultando na internalização das regras e no controle dos comportamentos. Para ele, as prisões não têm o objetivo de reabilitar os indivíduos, mas sim de exercer controle sobre eles. De forma semelhante, instituições como escolas, fábricas, quartéis e hospitais operam como prisões, impondo normas e disciplinando os corpos dos seus membros.

Conclusão

Michel Foucault transformou profundamente a maneira como compreendemos as relações de poder e saber nas sociedades contemporâneas. Sua análise das instituições, da disciplina e da produção do conhecimento continua a ser uma referência essencial para os pensadores atuais. O impacto de suas ideias se reflete na forma como hoje entendemos o controle social, as estruturas de poder e os mecanismos de manipulação social.

Perguntas Frequentes sobre Michel Foucault

O que é a Microfísica do Poder para Foucault?

A microfísica do poder é o conceito de Foucault que descreve o poder como algo disperso e exercido em pequenas interações cotidianas. Ao invés de ser centralizado em um governante ou uma autoridade única, o poder circula por diversos espaços e práticas sociais, como nas escolas, hospitais, fábricas e prisões. Esse poder é mais sutil, mas igualmente eficaz, pois se manifesta em normas e comportamentos que moldam a sociedade.

Qual é a diferença entre o poder soberano e o poder disciplinar segundo Foucault?

Foucault diferencia o poder soberano, caracterizado pela violência direta e pela punição física (como execução e tortura), do poder disciplinar, que age de maneira mais sutil, com o objetivo de normatizar e controlar o comportamento por meio de vigilância e práticas de disciplina. O poder disciplinar, ao contrário do soberano, cria sujeitos "dóceis" por meio de técnicas que regulam os corpos e comportamentos.





Referências

https://colunastortas.com.br/michel-foucault/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_Foucault

Carl Gustav Jung foi um psiquiatra suíço nascido em 1875 que impactou campo da psicologia ao criar a Psicologia Analítica, uma abordagem que enfatiza a importância do inconsciente coletivo e dos arquétipos na formação da psique humana.

As teorias de Jung, envolvem conceitos como os de personalidade extrovertida e introvertida, e o processo de individuação, que continuam a influenciar a psicologia contemporânea e outras áreas do conhecimento, como a filosofia, a literatura e a ciência das religiões.

Com uma visão diferenciada, que integrou aspectos do ocultismo e da filosofia, Jung se destacou por explorar os mitos e símbolos universais, sendo muitas vezes considerado um místico devido ao seu vasto interesse por temas transcendentes. A Casa do Saber se consolidou como referência nacional em cursos sobre Jung e psicologia analítica. Portanto, neste artigo, vamos mostrar o vasto conteúdo disponível acerca do autor, bem como aspectos marcantes de sua vida e obra, destacando alguns dos principais livros que fundamentam sua teoria.



Quem é Carl Jung?

Carl Gustav Jung foi um psiquiatra e psicoterapeuta nascido em 26 de julho de 1875, em Kesswil, na Suíça. Seu pai, Paul Jung, era um pastor protestante que estudava as línguas orientais e sua mãe, Emilie Preiswerk, era uma mulher com forte ligação ao espiritismo.

Aos quatro anos de idade, Jung e sua família se mudaram para Basileia, cidade que já era um centro cultural da Suíça. Embora tenha sido filho único até os nove anos, Jung perdeu três irmãos ainda na infância, o que deixou marcas profundas em sua psique e no seu desenvolvimento emocional. Diante desse cenário complexo, o pequeno Jung formou uma personalidade observadora e reflexiva.

Ele passou a infância no campo, nutrindo um forte interesse pela natureza. Gostava de história, de filosofia e se sentia atraído pelo misticismo. Apesar disso, não desejou seguir a carreira religiosa do pai e foi estudar medicina na Universidade da Basileia, dando continuidade à tradição médica de sua família, já que seu avô e bisavô foram médicos muito respeitados.

Após completar seus estudos em Medicina, Jung mergulhou na psiquiatria, atuando no hospital psiquiátrico de Burghölzli, em Zurique, onde começou a elaborar suas ideias sobre a mente humana. No início de sua carreira, ele foi influenciado pelas ideias de Sigmund Freud, mas com o tempo se distanciou das abordagens psicanalíticas do mestre, desenvolvendo sua própria teoria: a psicologia analítica.

Essa nova perspectiva dava ênfase ao inconsciente coletivo, um conceito revolucionário que sugere que todos os seres humanos compartilham uma camada profunda de experiências e símbolos universais.

Jung se formou em medicina em 1900 e casou em 1903, aos 28 anos, com Emma Rauschenbach. Nessa época, ele já exercia a função de médico assistente em um hospital psiquiátrico. Emma era filha de Johann Rauschenbach, um grande empresário da Suíça, proprietário da renomada fabricante de relógios de luxo IWC Schaffhausen (International Watch Company),

O casamento com Emma proporcionou a Jung uma base financeira sólida, o que lhe permitiu se concentrar ainda mais em suas pesquisas e na elaboração de suas teorias inovadoras sobre a psique humana.

Inserir o parágrafo abaixo em recurso visual de cor sólida e incluir thumb com link para o curso abaixo, seguida de um botão

A obra de Jung não se limitou à psicologia; ele também se dedicou ao estudo da religião, da mitologia, da alquimia e da filosofia. Para compreender o legado do psiquiatra, você pode ter acesso a uma introdução guiada e descomplicada ao pensamento de Jung, que vai te conduzir de uma forma simples aos principais conceitos e reflexões do criador da psicologia analítica.

thumb curso uma introducao guiada ao pensamento de jung, de lilian wurzba


Assistir ao curso



Entre as inúmeras inovações de Jung, o processo de individuação se destaca como um dos pilares centrais de sua teoria. Este processo é entendido como uma jornada profunda de autodescoberta, que visa a integração dos aspectos conscientes e inconscientes da psique. Essencial para o pleno desenvolvimento do ser humano, a individuação se tornaria um conceito fundamental e duradouro no legado de Jung.

Carl Jung faleceu aos 85 anos de idade, no dia 6 de junho de 1961, em sua casa, nas margens do lago de Zurique, após uma embolia e um acidente vascular cerebral.

Principais Livros de Carl Jung

Carl Jung deixou uma vasta obra, com mais de trinta livros que trazem suas ideias e conceitos sobre a psique humana. Os livros de Jung continuam a ser leitura essencial para aqueles que desejam entender profundamente a natureza humana e a dinâmica da mente.

A seguir listamos alguns dos principais livros do psiquiatra e pensador:

O Homem e Seus Símbolos (1964)

capa do livro 'O Homem e Seus Símbolos, de Carl Jung

Este foi o último livro escrito por Jung e tinha o objetivo de tornar suas ideias mais acessíveis ao leitor não especializado na área. Na obra, ele explica a importância dos símbolos e dos sonhos para o autoconhecimento.

O Eu e O Inconsciente (1928)

capa do livro O Eu e O Inconsciente, de Carl Jung

Nesta obra, Jung investiga a dinâmica entre a parte consciente da psique, representada pelo “eu”, e as profundezas do inconsciente, que incluem o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. O livro foi escrito durante a Primeira Guerra Mundial e as consequências psicológicas do conflito na psique coletiva motivaram a produção desta obra.

Memórias, Sonhos, Reflexões (1961)

capa do livro Memórias, Sonhos, Reflexões, de Carl Jung

É uma autobiografia de Carl Jung, organizada e editada por Aniela Jaffé, que oferece insights profundos sobre sua própria jornada de individuação e os eventos que influenciaram a elaboração de suas teorias.

Psicologia e Alquimia (1944)

capa do livro Psicologia e Alquimia, de Carl Jung

Aqui, Jung faz uma interpretação psicológica da alquimia medieval, mostrando a relação entre a simbologia alquímica e o desenvolvimento da personalidade.

Passo a Passo para entender a obra de Jung com Tatiana Paranaguá

A psicóloga e diretora do Centro Junguiando Clínica e Estudo de Psicologia Analítica, Tatiana Paranaguá, disponibiliza diversos cursos sobre o pensamento de Jung, na plataforma on demand da Casa do Saber.

Nos cursos, ela traz para a atualidade muitos conceitos desenvolvidos por Jung, através de temas como a imaturidade e os vínculos fantasmas, as escolhas amorosas, os predadores emocionais, a busca de sentido para a vida, dentre outros.

A seguir, você encontra uma sequência de cursos específicos para entender a obra de Jung através da visão de Tatiana Paranaguá, profissional de referência nos estudos junguianos, que já atuou como comentarista nos programas “Encontro com Fátima Bernardes" e "Mais Você", ambos da Rede Globo. Confira abaixo os cursos dela na plataforma:

  • Quatro Livros para Entender Jung
  • Em Busca do Sentido da Vida: Jung e o Processo de Individuação
  • As Escolhas Amorosas segundo Jung
  • Imaturidade e Vínculo Fantasma: Um Sintoma Atual
  • Predadores Amorosos: Uma Visão Junguiana Sobre Relações Corrosivas
  • Os Papéis da Vida: Entre as Projeções Pessoais e Profissionais
  • O Sagrado Segundo Jung


Para acessar os cursos de Tatiana Paranaguá sobre Jung, clique no botão abaixo e tenha uma visão completa das aulas online, com o resumo de todos os conteúdos disponibilizados na Casa do Saber.

Acesse os cursos de Tatiana Paranaguá



Quatro Livros para Entender Jung

Neste curso, a psicóloga Tatiana Paranaguá analisa a importância de quatro livros essenciais de Carl Jung para compreender a psicologia analítica. Os livros são:

  1. Memórias, Sonhos, Reflexões (1961)
  2. O Homem e Seus Símbolos (1964)
  3. Seminários sobre Psicologia Analítica (1925)
  4. A Natureza da Psique (1947)


Através de sua abordagem, Tatiana oferece uma visão clara sobre os principais conceitos e teorias junguianas. Confira a seguir o trailer do curso Quatro Livros para Entender Jung:

thumb do curso 'Quatro Livros para entender Jung'

Assistir trailer do curso



Jung e a Psicologia Analítica

A psicologia junguiana é conhecida por sua visão profunda da psique humana. Diferentemente da psicanálise freudiana, que atribui a origem dos conflitos psíquicos à traumas sexuais, Jung acreditava que existem outras causas para essas questões. Nesse sentido, ele elaborou o processo de cura e integração por meio da individuação, um caminho psicológico e espiritual pelo qual uma pessoa se torna o que ela realmente é, integrando as diferentes partes da sua psique e alcançando a realização pessoal e um sentido mais profundo para a vida.

Para Jung, a psicologia analítica não estava destinada apenas a tratar doenças mentais, mas também seria uma ferramenta para o autoconhecimento e o crescimento espiritual. Ele acreditava que, ao reconhecer e integrar os arquétipos junguianos e os conteúdos do inconsciente coletivo, as pessoas poderiam alcançar um estado de equilíbrio interno.

O Inconsciente Coletivo

O conceito de inconsciente coletivo é fundamental na teoria junguiana. Diferente do conceito de inconsciente, desenvolvido por Freud, que seria único e individual, o inconsciente coletivo refere-se a um depósito de imagens, símbolos e experiências compartilhadas por toda a humanidade. Esses conteúdos são universais e aparecem em manifestações culturais, como fábulas, mitos e lendas coletivas, independente do período histórico. Jung nomeou esses símbolos universais do inconsciente coletivo de arquétipos. Seriam representações de elementos primordiais e fundamentais que influenciam a psique humana.

Segundo Jung, o reconhecimento desses arquétipos, tanto na psique individual quanto nas culturas, é essencial para a compreensão do comportamento humano e dos processos psíquicos. Ele aprofundou os estudos sobre o inconsciente coletivo nas obras “Os arquétipos e o inconsciente coletivo” e “O Eu e o Inconsciente”.

Arquétipos Junguianos: O que São e Como Funcionam?

Os arquétipos junguianos são padrões universais de pensamento, emoção e comportamento que existem no inconsciente coletivo da humanidade. Esses arquétipos representam elementos fundamentais da experiência humana e se manifestam de maneiras semelhantes em todas as culturas e épocas, sendo reconhecíveis em mitos, sonhos, religiões e contos populares.

Jung acreditava que o inconsciente coletivo, ao contrário do inconsciente pessoal, é uma camada compartilhada de experiências e representações, herdada ao longo da evolução humana. Os arquétipos são, portanto, formas primordiais de energia psíquica que influenciam nossos comportamentos, pensamentos e emoções de maneiras profundas e instintivas, muitas vezes fora da nossa consciência direta. Nesse sentido, até mesmo as escolhas amorosas seriam influenciadas inconscientemente pelos arquétipos.

Entre os arquétipos junguianos mais conhecidos estão:

ARQUÉTIPOS JUNGUIANOS RESUMO
O Herói Representa a parte de nós que busca enfrentar desafios, superando obstáculos e buscando crescimento. O herói é muitas vezes associado à jornada de transformação, superação e descoberta, como vemos em histórias mitológicas.
A Sombra Refere-se aos aspectos da personalidade que são reprimidos ou negados pela consciência, como os sentimentos, desejos e comportamentos indesejáveis. Para Jung, assumir a sombra é essencial no processo de individuação.
A Grande Mãe É o arquétipo da nutrição, cuidado e proteção, mas também pode ter um aspecto destrutivo e devorador, que pode se manifestar em formas de controle excessivo, rejeição ou dependência. Está associada tanto à maternidade quanto à figura da terra ou natureza.
A Persona Representa a máscara ou fachada que mostramos ao mundo, a identidade social que adotamos para nos adaptar às expectativas da sociedade. A persona pode ser uma fonte de conflito quando a pessoa se identifica excessivamente com essa fachada, negligenciando seu verdadeiro eu.


O Processo de Individuação segundo Jung

O processo de individuação é uma jornada que Jung desenvolveu com o objetivo de ajudar as pessoas a alcançarem a saúde através da manifestação da sua essência. Ele acreditava que cada pessoa tem o potencial de se tornar um indivíduo único e autêntico ao integrar os aspectos conscientes e inconscientes da psique. Esse processo envolve o confronto com a sombra, o reconhecimento dos arquétipos junguianos e a aceitação das diversas facetas do eu.

Jung acreditava que esse caminho de autodescoberta é muitas vezes árduo, mas é essencial para alcançar a realização pessoal. Ao longo do processo, o indivíduo transcende as limitações de sua personalidade egóica e alcança um estado de maior equilíbrio e autenticidade.

Carl Jung compreendia a individuação como o caminho para se tornar um ser verdadeiramente único, atingindo uma singularidade profunda ao integrar o “si mesmo”. Segundo ele, esse processo de autodescoberta e realização pessoal geralmente ocorre na segunda metade da vida, quando o indivíduo, após construir suas relações externas e consolidar seu papel na sociedade, volta-se para dentro, em busca de aspectos reprimidos ou esquecidos de sua psique.

Esse processo de individuação não é fácil, e envolve um constante confronto com os próprios medos, desejos e projeções. Mas é, segundo Jung, o caminho para alcançar uma vida plena e verdadeira, livre das amarras da inconsciência e da imaturidade emocional.

O Sagrado na Psicologia Junguiana

Jung dedicou uma parte significativa de sua obra ao estudo da espiritualidade e do sagrado, considerando-os expressões essenciais do inconsciente coletivo. Em suas análises, ele explorou a relação entre os indivíduos e as imagens e símbolos do sagrado, frequentemente herdados de suas culturas ou experiências passadas.

À medida que Jung aprofundava seus estudos sobre o inconsciente coletivo e os arquétipos, ele ampliava também sua visão sobre o sagrado. Para ele, o sagrado não se restringe a práticas religiosas ou a uma experiência espiritual formal, mas se revela nas manifestações simbólicas da psique humana.

Assim, Jung reconhece que a busca pelo sagrado seria uma jornada de autoconhecimento e não uma fuga da realidade. Nesse sentido, a religiosidade, em sua forma mais profunda, seria uma resposta da alma humana à necessidade de compreender e integrar as forças interiores e exteriores que influenciam a existência.

Frases de Jung

Carl Jung é conhecido por suas frases profundas sobre a psique humana, a espiritualidade e o autoconhecimento. Algumas de suas frases mais célebres incluem:

  • “Só aquilo que somos realmente tem o poder de nos curar.”
  • "Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro acorda."
  • "O encontro de duas personalidades é como o contato de duas substâncias químicas: se houver uma reação, ambas se transformam."
  • "O que negamos em nós mesmos, torna-se o nosso destino."
  • "A sua visão se tornará mais clara apenas quando você olhar para o seu coração."
  • “Tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a uma melhor compreensão de nós mesmos.”


Perguntas Frequentes sobre Carl Jung

Quem foi Carl Jung?

Carl Gustav Jung foi um psiquiatra e psicoterapeuta suíço, o fundador da psicologia analítica, que revolucionou a compreensão do inconsciente humano, introduzindo conceitos como inconsciente coletivo, arquétipos junguianos e individuação.

Quais são as principais ideias de Jung?

As principais ideias de Jung incluem a teoria do inconsciente coletivo, os arquétipos junguianos, o processo de individuação e a relação entre a psicologia e a espiritualidade.

Conclusão

O trabalho de Carl Jung oferece reflexões profundas sobre a psique humana. Seus conceitos de inconsciente coletivo, arquétipos e individuação continuam a ser de grande relevância para psicólogos e terapeutas. Jung propôs a integração dos aspectos sombrios e luminosos da nossa psique, no sentido de alcançar a saúde mental, o autoconhecimento e a realização pessoal.

Aprofunde-se na teoria de Jung assistindo aos cursos da Casa do Saber +:

Acesse agora





Referências:

https://super.abril.com.br/historia/carl-gustav-jung-conheca-o-fundador-da-psicologia-analitica#:~:text=fundador%20da%20psicologia%20anal%C3%ADtica%2C%20tamb%C3%A9m,sobre%20a%20natureza%20do%20inconsciente.

https://jungnapratica.com.br/vida-de-jung/

https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/105/jung-vida-e-obra

Descubra seu Arquétipo Junguiano

Descubra seu Arquétipo Junguiano

Embarque em uma jornada de autoconhecimento através deste quiz baseado na Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung.

O Sábio

O Inocente

O Explorador

O Governante

O Criador

O Cuidador

O Amante

O Herói

O Comediante

O Homem Comum

O Mago

O Rebelde

Estamos quase lá!

Preencha seus dados para descobrir seu arquétipo:

Obrigado por participar!

O resultado chegou no seu e-mail, confira a caixa de entrada!

Continue sua jornada de autoconhecimento!

Explore mais sobre a fascinante psicologia analítica de Jung e aprofunde seu autoconhecimento.

Conheça os cursos sobre Jung na Casa do Saber
Fique por dentro de tudo o que acontece na Casa do Saber!
Insira o seu e-mail para ampliar o seu conhecimento sobre o mundo e ficar por dentro de todas as novas postagens e novidades da Casa do Saber!
Obrigado! Sua submissão foi recebida!
Ops! Algo deu errado ao enviar o formulário.

Aprenda com os melhores do país

Além de serem as principais referências em suas áreas, eles são experts em tornar temas complexos acessíveis e fáceis de entender