Psicanálise

O Que é Angústia? Como a psicanálise ajuda a entender e lidar com o sentimento

O Que é Angústia? Como a psicanálise ajuda a entender e lidar com o sentimento
O Que é Angústia? Como a psicanálise ajuda a entender e lidar com o sentimento
Gabriel Cravo Prado
Tempo de leitura
This is some text inside of a div block.

A angústia ocupa um lugar de destaque na psicanálise, tanto para Sigmund Freud quanto para Jacques Lacan. Enquanto Freud vê a angústia como uma resposta a um conflito psíquico, especialmente em relação ao medo de algo reprimido, Lacan oferece uma leitura mais estrutural, focando na angústia como uma experiência ligada à linguagem e à falta.

Neste texto, vamos explorar as concepções de angústia em Freud e Lacan, destacando as semelhanças e diferenças, e a relevância desses conceitos para a psicanálise contemporânea.



A angústia em Freud: medo e conflito psíquico

Para Sigmund Freud, a angústia é um afeto que surge como uma resposta a um conflito psíquico. Em seus primeiros escritos, Freud descreve a angústia como um sinal de uma ameaça iminente que o Eu não pode controlar ou evitar. Essa ameaça pode se originar de diferentes fontes, como desejos reprimidos, traumas ou fantasias inconscientes que emergem à superfície.

No texto "Além do Princípio do Prazer" (1920), Freud expande sua compreensão da angústia, associando-a ao princípio do prazer e à pulsão. A angústia, nesse contexto, é vista como uma reação do sujeito à percepção de uma ameaça ao equilíbrio psíquico, algo que poderia estar relacionado ao desejo de retornar a um estado de prazer ou à repressão de impulsos conflitantes.

A angústia não é apenas uma reação ao medo de algo concreto, mas uma resposta ao desconhecido e ao incontrolável, muitas vezes surgindo como uma consequência da repressão de desejos ou do medo de uma perda ou separação.



Freud também relaciona a angústia com o conceito de castração, que está ligado ao medo da perda do poder ou da autoridade, ou ainda à ausência de um objeto desejado. Esse medo é frequentemente projetado em símbolos e manifestações inconscientes, levando o sujeito a vivenciar uma sensação de impotência e vulnerabilidade. A angústia, então, surge como um mecanismo de defesa do eu, sinalizando que algo precisa ser simbolizado para aquele sujeito.

banner aula gratuita sobre ciumes, de por Ana Suy


A angústia em Lacan: a falta e a linguagem

Jacques Lacan, psicanalista francês que fez um profundo retorno à obra de Freud, oferece uma nova perspectiva sobre a angústia. Para Lacan, a angústia não é apenas uma resposta a um trauma, medo, ameaça ou a um desejo reprimido, mas um fenômeno estruturante do sujeito. Ele propõe que a angústia está intrinsecamente ligada à linguagem e à estrutura simbólica.

Lacan descreve a angústia como a experiência da falta ou da ausência fundamental, algo que está no cerne da constituição do sujeito. Para ele, o sujeito é moldado pela linguagem e pela entrada no campo do simbólico, onde o desejo e a identidade são estruturados.

Em sua obra, como o seminário "A Angústia" (1962-1963), Lacan afirma que a angústia não é um medo de algo específico, mas uma reação ao que está além do simbolizável, ao que não pode ser representado pela linguagem. A angústia, para Lacan, é o sinal de que o sujeito está diante da "falta", ou seja, diante de uma ausência estrutural que não pode ser preenchida ou resolvida. Essa falta é constitutiva do sujeito humano, e a angústia é a forma como essa falta se manifesta no campo psíquico.

Além disso, Lacan enfatiza que a angústia não é algo que possa ser completamente eliminado ou resolvido. A angústia é, portanto, uma parte da experiência humana, uma condição que aponta para a estrutura de nossa subjetividade e nossa relação com o desejo e a linguagem.

Semelhanças e diferenças: Freud e Lacan

Embora Freud e Lacan compartilhem algumas semelhanças em relação à compreensão da angústia, existem algumas diferenças na elaboração de tal ideia para ambos . A primeira grande diferença está na forma como os dois psicanalistas concebem a origem e a função da angústia.

Para Freud, a angústia é um afeto que atua como resposta a um conflito psíquico. Ela está relacionada ao medo de perder o controle, ao retorno de desejos recalcados ou ao medo de uma ameaça externa (como a castração). A angústia tem uma função defensiva, alertando o sujeito como um sinal de que o Eu está em risco.

Por outro lado, Lacan vê a angústia como um fenômeno estruturante do sujeito, intimamente ligada à linguagem e à falta. Para Lacan, a angústia não é um reflexo de uma ameaça específica, mas uma resposta à estrutura do desejo humano, que é sempre marcado pela ausência. A angústia aparece como o sinal de que o sujeito está diante da impossibilidade de simbolizar seu desejo ou de alcançar a satisfação plena.

Angústia para Freud Angústia para Lacan
Resposta a um conflito psíquico, revelando desejos ou medos Resposta à estrutura do desejo, revelando uma falta
Função defensiva Função estruturante



A relevância da angústia na psicanálise

A teoria da angústia, tanto em Freud quanto em Lacan, é de extrema importância para a psicanálise. No contexto atual, a angústia é frequentemente ligada a transtornos psíquicos, como a ansiedade generalizada, crises existenciais e outros diagnósticos. Muitas vezes, esses quadros não refletem algo específico sobre o sujeito, mas são tratados como condições que podem ser encaixadas em categorias rígidas, com uma medicação pronta para ser prescrita.

A abordagem de Freud sobre a angústia ainda é amplamente utilizada para compreender como os traumas e os conflitos internos se manifestam em sintomas que causam sofrimento. Já a concepção lacaniana da angústia, centrada na falta e na linguagem, continua a influenciar a psicanálise, particularmente em análises sobre a relação entre o sujeito e o desejo, e na compreensão dos fenômenos de subjetividade no mundo moderno.

Em resumo, a angústia em Freud e Lacan oferece duas perspectivas complementares sobre o sofrimento psíquico. Enquanto Freud foca na angústia como uma resposta a conflitos e medos internos, Lacan a vê como uma experiência estruturante do sujeito, ligada à linguagem e à falta. Ambas as concepções continuam a ser de grande importância para a psicanálise, tendo em vista que ela fornece um caminho para direção do tratamento.

banner aula gratuita sobre ciumes com Ana Suy


Como aprender mais sobre a angústia

Para entender esse conceito de forma mais aprofundada, é importante explorar os textos fundamentais de Freud, como "O Mal-estar na Civilização" e "A Interpretação dos Sonhos", que ajudam a esclarecer o papel da angústia na formação do sujeito. Freud descreve a angústia como uma resposta à percepção de uma ameaça ao ego, sendo um sinal da repressão de desejos ou do enfrentamento da castração, que desencadeia uma sensação de impotência e vulnerabilidade.

Para quem busca aprofundar o entendimento lacaniano sobre a angústia, é fundamental estudar os escritos de Lacan, especialmente os seminários em que ele aborda o desejo, o gozo e a subjetividade, como no Seminário 10: A Angústia. O estudo da teoria lacaniana permite compreender a angústia não como uma emoção a ser evitada, mas como um fenômeno central para a estrutura psíquica e o entendimento da subjetividade.

Além disso, a Casa do Saber e o programa + Psicanálise oferecem cursos com especialistas no tema. Aqui vão algumas indicações:

banner do curso Vocabulario dos Afetos, de Christian Dunker

Banner do curso Luto, rejeição e abandono, de Carol Tilkian, disponível na Casa do Saber

banner do curso Jacques Lacan, de Christian Dunker, para a Casa do Saber

banner curso freud e as fantasias, por Ricardo Salztrager


Referências Bibliográficas

FREUD, S. Inibição, sintoma e angústia (1926). In: ______. “Inibição, sintoma e angústia”, “O futuro de uma ilusão” e outros textos (1926-1929). Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 13-123. (Obras completas, 17).

LACAN, J. O seminário, livro 10: a angústia (1962-1963). Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. (Campo Freudiano no Brasil).





Tags relacionadas