Depois daqueles dois anos que ficamos trancados dentro de nossas casas, impossibilitados de sair, interagir e exercer nossos papéis sociais – você deve se lembrar do que estamos falando –, a psicologia começou a ser vista com outros olhos, ganhando maior importância na vida da maioria das pessoas, abrindo assim a oportunidade de acesso a diversos tipos de terapia.
Mas suas tantas vertentes não tiveram início nesse tempo sombrio que tentamos – a duras penas – apagar de nossas mentes, elas vem se desenvolvendo e evoluindo à medida que as necessidades humanas surgem e se modificam. É o famoso Zeitgeist – termo alemão que significa "espírito do tempo".
Dentro desse contexto, você já deve ter ouvido a famosa frase: “todo mundo precisa de terapia”, mas será que estamos conseguindo acessar o que, de fato, nos coloca nesse lugar?
Não à toa, a psicoterapia contemporânea bebe de diversas fontes, sendo um conglomerado de teorias e conceitos que compartilham de ideias, muitas vezes, semelhantes – ou que se complementam.
%20(1).webp)
Conseguimos explicar o que é psicologia?
Quando nos deparamos com as tantas nomenclaturas que as linhas da psicologia abrangem, acabamos gerando certa confusão de qual direção tomar, qual curso fazer ou qual caminho se deve seguir.
E é exatamente isso que Luiz Hanns aborda em seu curso “Psicoterapia contemporânea: por uma integração transteórica de diversas práticas e teorias”, em que nos convoca a pensar nas tantas psicologias existentes como sendo conectadas umas com as outras, ampliando olhares e conhecimentos a fim de extrair bases fundamentais para o atendimento clínico.
Vale ressaltar que um psicólogo generalista tende a não se aprofundar em transtornos complexos, como borderline e anorexia, pois esses quadros exigem um alto grau de especialização, além de longas horas de estudo, supervisão e prática clínica específica. Nesses casos, é essencial que o paciente receba não apenas acolhimento e orientação adequados, mas também um direcionamento claro para profissionais ou abordagens com maior experiência na área.
Existem diversas teorias psicológicas que frequentemente divergem entre si, muitas vezes gerando rivalidades e debates contínuos. Além disso, algumas abordagens são tão distintas em seus princípios e métodos que não deveriam ser enquadradas no mesmo sistema de comparação ou avaliação, pois operam a partir de fundamentos epistemológicos completamente diferentes.
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.webp)
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Os debates entre as linhas da psicologia
Podemos citar algumas “comparações” como Sigmund Freud e Carl Jung, uma vez que se fala muito sobre a separação de ambos. No debate, a psicanálise é considerada por vários países como sendo uma modalidade de psicoterapia, que analisa os sintomas e tem como uma das bases a teoria da libido.
Enquanto outros dizem que a psicologia analítica consegue ir mais profundo, através do inconsciente coletivo e dos arquétipos – claro que estamos trazendo aqui uma mínima pincelada.
Ao longo de sua trajetória, o psicólogo pode ou não se identificar com uma abordagem específica. É igualmente importante considerar como, no meio acadêmico e profissional, se estabelece quais abordagens prevalecem, quais podem coexistir e quais acabam sendo gradualmente rejeitadas ou caindo em desuso.
Segundo Hanns, para que uma ou mais teorias avancem e alcancem maior aceitação acadêmica e social, é necessário compreender a dinâmica da retórica científica e acadêmica.
Esse processo não se baseia em quem grita mais alto, em disputas agressivas ou em ataques pessoais, mas sim em um conjunto de parâmetros que, embora não garantam que uma teoria seja intrinsecamente mais científica do que outra, fornecem argumentos mais sólidos dentro do debate.
Esses argumentos podem aumentar a aceitação de uma teoria sobre outra ou, em alguns casos, permitir que duas teorias dominem o campo, mesmo que sejam antagônicas entre si – por isso, é essencial reconhecer a evolução das abordagens dentro da psicoterapia.
%20(1)%20(1).webp)
Conhecendo algumas linhas da psicologia
É fundamental manter a coerência de uma teoria não apenas internamente, mas também em diálogo com áreas afins. As diferentes disciplinas – quando em formação – estão em constante interação, e a psicoterapia não pode se isolar como um campo independente que ignora outros saberes – mesmo que algumas abordagens tentem sustentar essa ideia. O ideal é que apresentem congruência com outras áreas do conhecimento, garantindo um embasamento sólido e interdisciplinar.
A psicologia é uma área bastante ampla e diversa, oferecendo cuidado à saúde mental, bem como proporcionando bem-estar àqueles que se dedicam ao seu processo como clientes, analisados ou pacientes – cada abordagem trata de uma maneira distinta.
Neste texto, focamos na psicologia clínica, um dos principais ramos da psicologia, voltado para a avaliação, diagnóstico, tratamento e prevenção de transtornos mentais, emocionais e comportamentais. Seu objetivo é promover o bem-estar psicológico e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, ajudando-os a lidar com desafios internos e externos de maneira mais saudável.
O psicólogo clínico trabalha diretamente com indivíduos, casais, famílias ou grupos, utilizando diferentes abordagens para compreender e tratar problemas emocionais e comportamentais.
Esse processo, muitas vezes, começa com uma avaliação psicológica, que pode envolver entrevistas, testes e a análise do histórico do paciente para compreender melhor quais são as suas dificuldades e necessidades.
A psicologia clínica não se limita a uma única linha teórica. Existem diversas abordagens, cada uma com sua visão sobre a psique humana, o desenvolvimento dos transtornos e os métodos de intervenção. Algumas das principais são:
LINHA TEÓRICA | ABORDAGEM |
---|---|
Psicanálise e Psicodinâmica | Tem como base as teorias de Freud, Winnicott, Lacan, dentre outros – costumam ser mais longas e consideradas profundas, investigando processos inconscientes e sintomas que afetam a vida do paciente. |
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) | Enfatiza a relação entre pensamentos, emoções e comportamentos, ajudando o paciente a identificar e modificar padrões disfuncionais. Baseada em evidências e amplamente utilizada no tratamento de transtornos como ansiedade, depressão, TOC e fobias. |
Humanista e Existencial | Foca na experiência subjetiva do paciente, na busca por significado e na autorrealização. Abordagens como a Terapia Centrada na Pessoa (Carl Rogers) e a Logoterapia (Viktor Frankl) valorizam o crescimento pessoal e a autodeterminação. |
Gestalt-terapia | Trabalha a consciência do momento presente e a responsabilidade do indivíduo sobre suas emoções e comportamentos. Incentiva a integração de diferentes aspectos da experiência do paciente para promover o autoconhecimento. |
Terapias de Terceira Onda | São abordagens mais recentes dentro da TCC, incorporando elementos de aceitação, mindfulness e valores pessoais. Exemplos incluem a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e a Terapia Comportamental Dialética (DBT) – eficaz para transtorno de personalidade borderline. |
Psicologia Analítica (Junguiana) | Criada por Carl Jung, enfatiza o inconsciente coletivo, os arquétipos e o processo de individuação como chave para o desenvolvimento pessoal. Utiliza a análise de sonhos, mitos e símbolos para auxiliar na compreensão dos conflitos internos. |
Atualmente, a psicologia clínica tem se expandido e integrado novas tecnologias, incluindo terapias online e abordagens interdisciplinares envolvendo neurociência e psiquiatria. O campo continua a evoluir, buscando sempre formas mais eficazes e acessíveis de promover a saúde mental e o bem-estar.
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Afinal, qual a diferença entre analista, terapeuta e psicólogo?
Fazer comparações não é o nosso objetivo aqui, mas sim esclarecer os papéis e as formas de atuação dos profissionais ligados à saúde mental de milhares de pessoas.
A diferença principal entre analista, terapeuta e psicólogo está no nível de formação, no tipo de atuação e na abordagem utilizada no atendimento clínico.
- Psicólogo: graduação em psicologia + CRP – Atua com psicoterapia, avaliação psicológica e intervenções terapêuticas. Pode diagnosticar pacientes.
- Terapeuta: formação variada (pode ou não ser psicólogo) – Trabalha com diferentes formas de terapia (psicológicas ou holísticas). A possibilidade de poder ou não diagnosticar irá depender da formação.
- Analista: formação em psicanálise (pode ou não ser psicólogo) ou psicologia analítica – Atua com psicanálise (Freud, Lacan) ou análise junguiana (Jung).
O psicólogo é um profissional formado em psicologia, com curso superior de quatro a cinco anos, podendo atuar em diversas áreas, como clínica, organizacional, educacional, esportiva, hospitalar e social.
Para atuar, é necessário ter registro no Conselho Regional de Psicologia (CRP) e escolher uma abordagem para conduzir seus atendimentos, podendo realizar avaliações psicológicas, testes, diagnósticos e intervenções terapêuticas.
O terapeuta, por outro lado, é um termo mais amplo e não exige necessariamente formação em psicologia. Ele pode atuar no campo da saúde mental, emocional e comportamental sem precisar ser psicólogo ou possuir CRP.
Um terapeuta pode ser um psicoterapeuta, caso tenha formação em uma abordagem psicológica específica ou atuar em áreas complementares – sua atuação depende das regulamentações locais e do campo de especialização. Vale ressaltar – e colocar em letras garrafais – que para escolher um terapeuta os pacientes devem se aprofundar em suas pesquisas, visto que existem muitas abordagens sendo trabalhadas sem bases científicas ou comprovações teóricas.
O analista pode seguir diferentes formações dependendo da abordagem adotada. No caso da psicanálise – Freud, Lacan –, a formação pode ser realizada em instituições psicanalíticas sem a necessidade de um diploma em psicologia, mas necessitando de uma formação acadêmica e de bases sólidas no estudo de psicanálise, permitindo até mesmo que profissionais de outras áreas da saúde atuem como psicanalistas. Alguns psicanalistas contemporâneos de renome, como Ana Suy, reforçam que a formação em psicologia atrelada à atuação em psicanálise é extremamente proveitosa ao profissional.
Já a psicologia analítica – Jung – exige formação superior em psicologia para que o profissional possa atuar como analista junguiano. Esse requisito se deve ao fato de que essa abordagem faz parte do campo da psicologia e exige uma base acadêmica formal para aplicação clínica.
Na prática, o analista trabalha com métodos específicos de sua abordagem, como associação livre, interpretação de sonhos, inconsciente coletivo e arquétipos, dependendo da linha teórica adotada.
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Referências bibliográficas
HANNS, Luiz. Psicoterapia contemporânea: por uma integração transteórica de diversas práticas e teorias. Casa do Saber.
SANTI, Pedro Luiz Ribeiro; FIGUEIREDO, Luís Cláudio. Psicologia: uma (nova) introdução. São Paulo: Educ, 2008.