Psicanálise

O que é Fantasia na Psicanálise? O conceito por Freud e Lacan

O que é Fantasia na Psicanálise? O conceito por Freud e Lacan
O que é Fantasia na Psicanálise? O conceito por Freud e Lacan
Gabriel Cravo Prado
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A fantasia é um dos conceitos fundamentais da teoria psicanalítica e desempenha um papel fundamental na psicanálise. Ela não é apenas uma forma de evasão da realidade, mas um meio pelo qual o sujeito lida com suas frustrações e cria representações simbólicas de seus desejos mais profundos.



Freud e a Fantasia

As fantasias se tornaram um tema fundamental na obra de Freud desde os anos de 1897 e 1898, muito antes de ele publicar A Interpretação dos Sonhos em 1900, obra que marcou o início da psicanálise.

Elas passaram a ganhar destaque à medida que Freud aprofundava suas primeiras experiências clínicas com as histéricas, mulheres que apresentavam sintomas corporais inexplicáveis, sem justificativa fisiológica. Freud escutava suas pacientes, mas muitas vezes não conseguia entender completamente a origem desses sintomas. Foi nesse contexto que, em 1896, ele formulou a teoria da sedução sexual, explicando que os sintomas histéricos eram o resultado de cenas de sedução ocorridas na infância, onde as pacientes teriam sido seduzidas por um adulto ou até mesmo por uma criança mais velha.

Ao longo dos anos, Freud desenvolveu ainda mais essa ideia, em textos como Escritores Criativos e o Devaneio (1908) e Fantasia Histérica e Suas Relações com a Bissexualidade (também de 1908), entre outros, sempre com o intuito de entender como as fantasias influenciavam o comportamento e os sintomas das histéricas.

Inicialmente, ele se baseava em relatos de suas pacientes, que, sob hipnose, narravam cenas de sedução envolvendo adultos, incluindo os pais. Porém, com o tempo, Freud se deparou com um desafio: muitas mulheres não relatavam tais cenas de sedução. Esse fato, junto à crescente incidência de histeria na Europa, levou Freud a abandonar a teoria da sedução sexual e a introduzir uma nova compreensão sobre o papel das fantasias na psique humana.

Em uma carta de 1897 para seu amigo Fliess, Freud expressa que abandonou a teoria da sedução e passou a defender a teoria da fantasia, pois essa seria a chave para entender os sintomas histéricos. A fantasia, nesse novo contexto, passou a ser vista como uma construção psíquica capaz de gerar os mesmos efeitos devastadores de uma experiência real, já que, para o sujeito, sua fantasia é muitas vezes vivida como uma realidade verdadeira. Foi nesse momento que Freud introduziu o conceito de realidade psíquica, a realidade das nossas fantasias, que, para ele, tem o poder de moldar nossa percepção do mundo.

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Por que as pessoas fantasiam?

Freud responde que as fantasias surgem como uma forma de dar conta de uma realidade que muitas vezes é insatisfatória. Elas oferecem uma certa satisfação às frustrações da vida e ajudam a compensar desejos que, na realidade, raramente são atendidos. As fantasias, portanto, têm uma função de adaptação, permitindo que se suporte o mundo que não corresponde completamente aos desejos dos sujeitos.

Ao mesmo tempo, Freud diferencia as fantasias dos delírios, que são marcados pela ausência de qualquer dúvida, ao contrário das fantasias, que sempre carregam uma margem de incerteza. É essa flexibilidade que torna as fantasias algo comum e natural, enquanto os delírios são sintoma de distúrbios psíquicos mais graves.

É importante frisar que a fantasia, na psicanálise, se torna eficaz porque o sujeito a aceita como verdadeira, acreditando nela de forma plena. É importante destacar que esse processo de construção da realidade psíquica, esse mecanismo fantasioso, ocorre de maneira inconsciente. Ou seja, assim como muitos aspectos da vida subjetiva, o sujeito não tem plena consciência de que está criando essas fantasias nem de que elas não correspondem à realidade. Todo esse processo subjetivo, em sua essência, acontece fora da percepção consciente do indivíduo.

Nessa temática, entre os textos mais importantes de Freud, destacam-se:

  1. Delírios e Sonhos na Gradiva de Jansen (1908)
  2. Escritores Criativos e Devaneio (1908)


Em essência, Freud busca explorar as relações entre a fantasia e o desejo, analisando como essas dimensões estão ligadas na constituição do sujeito. Esses textos também mostram a ideia de Freud sobre o insuportável da realidade e como a fantasia entra justamente nesse lugar na tentativa de suavizar e compensar essa insatisfação existencial.

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O que é fantasia para Lacan?

Para Jacques Lacan, a fantasia é um conceito central em sua teoria psicanalítica, e ela desempenha um papel crucial na estruturação do desejo e na constituição do sujeito. Diferente da concepção de Freud, que via a fantasia principalmente como uma forma de expressão dos desejos reprimidos e inconscientes, Lacan a entende como um mecanismo estrutural que organiza o desejo e o sujeito em relação ao outro.

Em Lacan, a fantasia está intimamente ligada à ideia de falta — a noção de que o sujeito é fundamentalmente marcado pela ausência ou pela falta de algo, que nunca pode ser plenamente satisfeita. A fantasia, então, é a cena ou o cenário através do qual o sujeito tenta dar forma a essa falta. Ela não é uma simples representação de desejos reprimidos, mas uma construção simbólica que organiza a forma do desejo em relação ao objeto do desejo, que Lacan chama de objet petit a (o objeto a).

A fantasia, para Lacan, é uma estrutura que serve para "tapar" a falta, fornecendo uma espécie de "cenário" onde o sujeito pode experimentar a relação com o objeto a, ou seja, com o que ele imagina que possa preencher essa falta. Em outras palavras, a fantasia é uma tela que projeta os desejos do sujeito e ao mesmo tempo mantém a falta e o desejo vivos, sem que o sujeito nunca possa alcançar uma satisfação plena.

Além disso, Lacan vê a fantasia como algo fundamental para o funcionamento do inconsciente, pois é através dela que o sujeito se coloca no campo simbólico, se identificando com determinadas imagens e cenários que estruturam sua relação com o desejo e com o Outro (representado, por exemplo, pelo grande Outro, ou seja, a linguagem, as normas sociais e a figura do pai).

Portanto, para Lacan, a fantasia não é apenas um mecanismo de defesa ou uma expressão do inconsciente, mas uma estrutura psíquica que organiza o desejo e a posição do sujeito dentro da ordem simbólica, sempre em relação à falta que define sua subjetividade. Ela funciona como um modo de "dar sentido" à experiência do desejo, sem jamais permitir uma satisfação definitiva.

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Como aprender mais sobre o conceito de fantasia na psicanálise?

O conceito de fantasia é central tanto na psicanálise e seu estudo exige uma dedicação cuidadosa para compreender sua complexidade. Para se aprofundar na teoria da fantasia, a plataforma da Casa do Saber oferece cursos sobre a teoria psicanalítica, ministrados por renomados especialistas, e pode ser uma excelente forma de aprofundar o entendimento sobre a fantasia, além de proporcionar uma experiência de aprendizado rica e diversificada.

Adicionalmente, há uma vasta gama de literatura complementar que ajuda a contextualizar as ideias de Freud e Lacan no panorama maior da psicanálise, oferecendo novas perspectivas sobre o papel das fantasias na construção da subjetividade.






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