“O que você quer ser quando crescer?” Durante a nossa infância e grande parte da juventude, ouvimos essa frase e, por pelo menos alguns minutos, pensamos nela com certa profundidade.
Mesmo que não saibamos o real sentido do que essa pergunta nos traz tão cedo, quando ainda nem temos o córtex pré-frontal – grande tomador de decisões – totalmente formado, ela nos remete ao que podemos chamar de potencialidades e, dentro do humanismo, é exatamente disso que estamos falando.
Todos nós, como seres humanos, nascemos com potencialidades a serem desenvolvidas e, dentro da perspectiva da psicologia humanista, a forma como buscamos pelo sentido da vida e a autoatualização – como o indivíduo desenvolve todas as suas possibilidades de crescimento – é encarada com grande ênfase.
Características do humanismo e seu surgimento
A psicologia humanista surgiu entre as décadas de 1940 e 1950 como uma resposta às abordagens dominantes da época, como o behaviorismo – que priorizava os comportamentos observáveis – e a psicanálise – que enfatizava os aspectos inconscientes e patológicos da psique.
Em contraste, a abordagem humanista foca no potencial humano, nas experiências subjetivas e no desenvolvimento saudável do indivíduo.
Caracterizada por uma visão otimista da natureza humana, parte do princípio de que as pessoas possuem capacidade de crescimento, transformação e autorrealização – seu nome reflete esse foco centrado no ser humano e nas suas experiências.
Diferente das correntes anteriores, essa abordagem busca compreender o indivíduo de maneira integral e holística, considerando também seus pensamentos, sentimentos, necessidades e desejos.
O termo humanista está relacionado a uma filosofia que enfatiza o valor e a dignidade do ser humano, sustentando que cada pessoa possui um potencial inato para o crescimento e a autotransformação. Dessa forma, não se limita a tratar patologias, mas se dedica a promover um estado de bem-estar, autenticidade e realização pessoal.
Podemos dizer que está profundamente alinhada com diversas correntes filosóficas, pois compartilham de uma visão positiva e otimista sobre a natureza humana, o desenvolvimento pessoal e a busca por um sentido existencial, como mencionado. Essa relação com a filosofia é especialmente evidente em sua ênfase no autoconhecimento, na liberdade de escolha e na busca por autenticidade.
Os principais teóricos da psicologia humanista, seus conceitos e objetivos
Para o desenvolvimento de qualquer teoria, geralmente, temos como base a participação de muitos nomes, dando continuidade ao que está sendo trabalhado na época em questão ou aperfeiçoando alguns – ou muitos – pontos.
Com a psicologia humanista não poderia ser diferente, por isso, fizemos um apanhado com os principais teóricos que contribuíram significativamente para o campo, influenciando terapias centradas no indivíduo, abordagens existenciais e a psicologia positiva.

Abraham Maslow
É fato que você já ouviu falar de Maslow pelo menos uma vez na sua vida, visto que ele está presente na maioria dos cursos superiores, seja no marketing, na administração ou na psicologia.
Famoso por sua teoria da hierarquia das necessidades – a tal da pirâmide –, sugeriu que os seres humanos têm uma sequência de necessidades que precisam ser atendidas para que possam atingir o seu pleno potencial e ela se divide em cinco níveis:
- Necessidades fisiológicas – básicas e fundamentais para a sobrevivência: água, sono, alimentação.
- Necessidade de segurança – proteção e estabilidade: segurança física, financeira, emprego, saúde.
- Necessidades sociais – relacionamentos interpessoais, amor e pertencimento: amigos, família, intimidade, grupos sociais.
- Necessidade de estima – autoestima e reconhecimento externo: independência, confiança, competência, status, respeito, reconhecimento de terceiros.
- Necessidade de autorrealização – realização do propósito de vida, crescimento pessoal, desenvolvimento do máximo potencial.
Ou seja, no topo dessa hierarquia está a autoatualização, o processo de realização do potencial máximo do indivíduo, como busca trabalhar a psicologia humanista. Porém, muito se engana aquele que acha que existe uma certa rigidez, pois nada acontece de forma linear ou programada – cada pessoa vai ter um tipo de prioridade.
Depois de mais alguns – muitos – anos de estudo, Maslow acrescentou um sexto nível, de acordo com alguns pesquisadores, chamado de “metanecessidades” – ou transcendência.

Carl Rogers
Esse é um dos teóricos que muitos estudantes e profissionais, que se dedicam à psicologia humanista existencial, querem guardar num potinho.
Rogers desenvolveu a Terapia Centrada na Pessoa, colocando o indivíduo no centro do processo terapêutico, pois acreditava que a saúde mental resulta de um ambiente acolhedor, com empatia e aceitação – criando um espaço seguro para o desenvolvimento pessoal.
Também formulou o conceito de autoatualização, defendendo que os seres humanos possuem uma tendência natural de buscar seu pleno desenvolvimento. No entanto, esse crescimento só ocorre quando há um ambiente favorável e apoio emocional, como mencionado.
Outro ponto fundamental em sua teoria é a relação entre o self real e o self ideal. Segundo Rogers, o bem-estar psicológico depende da congruência entre quem a pessoa realmente é e quem gostaria de ser – quanto maior a discrepância entre esses dois aspectos, maior o sofrimento emocional.
Além disso, enfatizava a importância da experiência e da subjetividade, acreditando que cada indivíduo interpreta o mundo de maneira única e que essa visão pessoal deve ser respeitada.
O que Rogers nos deixou como ensinamento e teoria, vai além da psicoterapia. Seu foco na escuta ativa e na empatia continua sendo um dos pilares para relações interpessoais saudáveis e eficazes, tornando suas contribuições extremamente relevantes até os dias atuais.

Rollo May
May foi amplamente influenciado pela filosofia existencialista de grandes nomes – Søren Kierkegaard, Friedrich Nietzsche e Jean-Paul Sartre –, abordando questões como ansiedade, liberdade, responsabilidade e autenticidade.
Ele acreditava que o ser humano deve enfrentar os desafios existenciais para alcançar autenticidade, pois isso pode impulsionar o crescimento – desde que não se torne paralisante.
Um dos conceitos centrais apresentados por ele em sua teoria é a ansiedade existencial – parte natural da vida e do desenvolvimento humano –, que ele diferenciava da ansiedade neurótica – que paralisa e impede a ação.
De modo geral, acreditava que a ansiedade acaba surgindo a partir do confronto com a necessidade de escolher e assumir a responsabilidade por nossas próprias vidas e, dentro do seu conceito, é essencial aceitar e aprender a lidar de maneira construtiva.
Isso também está bastante alinhado com outro dos seus temas: a liberdade, que, para ele, não significa apenas poder fazer escolhas, mas sim assumir responsabilidades por elas – um compromisso com a existência.
May ainda busca explicar a autenticidade, quando traz notícias a respeito do alinhamento entre ações e valores profundos, sem conformismo com expectativas advindas do exterior. Uma característica que podemos ver diariamente em nossas próprias vidas, onde a maioria das pessoas busca se adaptar ao meio, a fim de seguir papéis sociais, crenças e regras impostas, se afastando cada vez mais de quem se é – o que pode acarretar na falta de sentido da vida.
Também podemos citar sua teoria da “coragem de ser”, onde deve-se aceitar a dor e as dificuldades da vida sem fuga, com coragem e desenvolvendo resiliência diante das adversidades – claro que falando assim parece fácil, mas não se iluda.
Um dos seus livros mais citados é Love and Will, onde May explora a relação entre amor e vontade, argumentando que o verdadeiro amor exige esforço, comprometimento e uma compreensão profunda do outro.
No livro, ele critica a visão superficial do amor na sociedade moderna e enfatiza que o amor genuíno só pode existir quando há um equilíbrio entre paixão e responsabilidade.

Viktor Frankl
Criador da logoterapia, Frankl focava na busca de sentido da vida, mesmo em situações extremas, principalmente com base em sua história pessoal.
Sua teoria está relacionada com a ideia de que a motivação humana mais profunda é a busca por significado, indo contra a relação com o prazer – sugerida por Sigmund Freud –, por exemplo.
Para ele, o significado não é algo imposto externamente, mas algo que cada indivíduo precisa descobrir por si mesmo. Esse significado pode ser encontrado em diferentes tipos de fontes: trabalho, relacionamentos, atividades criativas ou até mesmo na forma como enfrentamos o sofrimento inevitável.
Frankl nos oferece o conceito de vontade de sentido, descrevendo que o ser humano tem um desejo inato de encontrar um propósito. Quando essa busca não é atendida ou quando alguém se vê perdido em um vácuo existencial, surge a frustração, que pode levar a um sentimento de vazio e desespero.
Atualmente, estamos enfrentando um movimento de grande dificuldade nessa busca de sentido claro e significados profundos, com o boom de diagnósticos psicológicos – como depressão e ansiedade – percebemos sintomas dessa frustração.

Fritz Perls
Perls é co-criador da Gestalt-terapia, tendo enfatizado a importância de viver no presente e de experimentar o "aqui e agora", ajudando os indivíduos a tomar consciência de seus pensamentos, sentimentos e comportamentos.
Inspirou-se em correntes filosóficas como o existencialismo e a fenomenologia, bem como pelo estudo da percepção humana na psicologia da Gestalt, desenvolvendo assim uma metodologia que convida o indivíduo a tomar consciência de seus pensamentos, emoções e comportamentos no momento presente, promovendo um maior autoconhecimento e autenticidade.
A palavra Gestalt significa "forma" ou "configuração" e vem da Psicologia da Gestalt, que estudava como os seres humanos organizam e interpretam suas experiências.
Perls aplicou essa visão ao campo da psicoterapia, argumentando que as pessoas devem ser vistas como um todo integrado – mente, corpo e emoções – e não apenas como uma soma de partes isoladas. Assim, suas teorias e aplicações buscam restaurar essa totalidade, ajudando os indivíduos a reconhecer e integrar aspectos fragmentados de sua experiência.
Sua abordagem continua extremamente atual, sendo amplamente utilizada em diversas áreas da psicoterapia e do desenvolvimento pessoal.

Quais são as 3 bases da psicologia humanista?
Ao longo do texto, trouxemos os principais teóricos da abordagem humanista, agora, para que possamos analisar suas bases, separamos em um esquema que facilitará a leitura:
Base da psicologia humanista | Como ela atua |
---|---|
Autenticidade e experiência subjetiva | A valorização da experiência única de cada indivíduo, considerando suas percepções, emoções e vivências como essenciais para o desenvolvimento pessoal. |
Autonomia e autorrealização | A crença de que todos têm um potencial inato para o crescimento e a busca da autorrealização, conceito amplamente explorado por Maslow em sua hierarquia das necessidades. |
Relacionamento e empatia | Mostra a real importância das relações humanas baseadas na empatia, aceitação incondicional e compreensão genuína, princípios defendidos por Carl Rogers em sua abordagem centrada na pessoa. |
Então, dentro desses conceitos, quais seriam então as influências exercidas nos dias atuais?
Não é difícil abordar um tema como esse alinhado ao que estamos vivendo atualmente, pois a sociedade em geral está amplamente marcada pelo estresse, a ansiedade e a depressão. Assim, a psicologia humanista tem se tornado cada vez mais essencial visto que oferece um olhar positivo e holístico sobre o ser humano, ao invés de alimentar o amplo número de diagnósticos de sintomas e doenças – buscando melhorar a qualidade de vida, com equilíbrio emocional, suporte genuíno e empatia.
E ainda bem que quando olhamos para uma grande porcentagem da população, vemos pessoas dispostas a romper com os padrões impostos socialmente, desenvolvendo e valorizando o autocuidado em prol do desenvolvimento pessoal.
Dessa forma, o papel do humanismo vem sendo cada vez mais forte, incentivando o autoconhecimento, a autoaceitação e a busca por um propósito, muitas vezes perdido na “sociedade do cansaço”.
Em um mundo onde o sucesso é frequentemente medido por conquistas materiais e status, esse tipo de abordagem ajuda as pessoas a se reconectarem com seus valores internos e a encontrarem seu próprio caminho, não apenas em resposta às demandas externas, mas em sintonia com sua verdadeira essência – propõe uma alternativa ao paradigma da performance, proporcionando um caminho sólido para quem busca autoconhecimento, realização e propósito de vida.
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Referências bibliográficas
FRICK, Willard B. Psicologia humanista: entrevistas com Maslow, Murphy e Rogers. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
PERLS, Frederick Salomon. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997.
ROGERS, Carl R. Tornar-se pessoa. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2017.