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Expressionismo: Características, obras, O Grito, Van Gogh, artistas
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Expressionismo: Características, obras, O Grito, Van Gogh, artistas
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O expressionismo foi um movimento artístico que surgiu na Alemanha, no ano de 1905, como uma reação à proposta estética do impressionismo, que buscava realizar uma arte baseada em estudos de óptica, retratando a luminosidade e as imagens da maneira como as vemos. Ao contrário do impressionismo, o expressionismo procurava realizar uma arte onde a emoção do artista tivesse mais espaço do que a técnica.

Expressionismo: Obras, Características e 3 Cursos Para Você Entender Tudo sobre a Vanguarda Modernista

A expressão dos pintores, seus sentimentos e sua visão de mundo importavam mais do que o realismo para essa vanguarda modernista. A obra O Grito (1893), do norueguês Edvard Munch, é precursora do expressionismo e traz muitas de suas características, como a deformação das figuras e a temática pessimista. O movimento não ficou restrito à pintura, mas também se manifestou na literatura, no cinema, na arquitetura e na fotografia.

Neste artigo, vamos mostrar como surgiu a arte expressionista, seus principais artistas e cursos para você aprofundar seus conhecimentos na Arte Moderna. O artigo passará pelos seguintes conteúdos:



O que é Expressionismo?

O expressionismo foi um movimento artístico que emergiu no início do século XX, com origem na Alemanha, que valorizava a visão particular de mundo de cada artista, bem como suas emoções íntimas. O movimento refletia um mundo em crise, marcado pela Revolução Industrial, pela urbanização crescente e por tensões sociais e políticas intensas.

Os artistas distorciam formas, cores e perspectivas para expressar sentimentos profundos de angústia, sofrimento e desespero, em vez de retratar a realidade de maneira fiel. Em contraste com estilos artísticos anteriores, como o impressionismo, que se concentrava na representação objetiva e realista do mundo, os expressionistas buscaram transmitir a subjetividade e as turbulências internas do indivíduo.

Grandes nomes do expressionismo, como Edvard Munch e Egon Schiele, usaram essas distorções para capturar as intensas emoções humanas e o impacto psicológico das mudanças da sociedade moderna. O expressionismo é considerado uma das primeiras vanguardas históricas, ao lado do fauvismo francês. As vanguardas europeias da arte modernista foram um conjunto de movimentos artísticos que surgiram entre o início do século XX, antes da Primeira Guerra Mundial até o final da Segunda Guerra Mundial

Esses movimentos desafiavam as convenções estéticas tradicionais e traziam novas formas de expressão, abordando questões psicológicas, existenciais e sociais de maneira inovadora e muitas vezes perturbadora. Surgia uma nova era na arte ocidental com a mudança da mentalidade acerca do que faz um trabalho artístico uma obra de arte.

Como surgiu o Expressionismo?

O expressionismo surgiu em uma Alemanha imersa em uma profunda crise, cujas tensões sociais e políticas acabariam por culminar na eclosão da Primeira Guerra Mundial. As consequências da Revolução Industrial, o crescimento das áreas urbanas e os conflitos políticos criaram um cenário de angústia que se refletiu na arte expressionista.

Os artistas expressionistas reagiram a esse ambiente com uma paleta cromática agressiva, utilizando cores intensas e contrastantes para transmitir suas emoções internas. As temáticas centrais do movimento incluem a solidão, o sofrimento e a miséria, refletindo a crise existencial vivida pela sociedade.

O pintor norueguês Edvard Munch, com obras como O Grito (1893), tornou-se um ícone do expressionismo, retratando o desespero e a incomunicação humanas em um cenário de opressão psicológica. Seu trabalho, marcado por uma forte carga emocional e uma paleta de cores intensas, foi uma das principais inspirações para o movimento.

Além de Munch, outros artistas, como o francês Paul Cézanne, cujas experimentações com a desfragmentação da realidade e os pós-impressionistas Vincent van Gogh e Paul Gauguin, também foram precursores do expressionismo, trazendo à tona uma ênfase na subjetividade, na distorção das formas e na expressão de emoções profundas.

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O Expressionismo Alemão na Pintura

O movimento expressionista teve início em 1905, com a formação do grupo Die Brücke (A Ponte), fundado em Dresden por artistas como Ernst Ludwig Kirchner, Karl Schmidt-Rottluff e Erich Heckel. Este grupo se propôs a romper com as tradições artísticas acadêmicas e buscar uma expressão mais direta e emocional da realidade. Influenciados por movimentos como o pós-impressionismo e o primitivismo, os membros do Die Brücke usaram cores intensas e distorções nas formas para retratar temas como a angústia e o sofrimento causados pelas transformações sociais e culturais da época. A arte expressionista visava, assim, representar a subjetividade humana e os sentimentos conflitantes do indivíduo. O fazer artístico estava se transformando, bem como o perfil do consumo da arte.

Em 1911, o termo "expressionismo" foi formalmente associado ao movimento pela primeira vez ao ser escrito na revista Der Sturm (A Tempestade), uma das mais importantes publicações da vanguarda alemã. Ao mesmo tempo, o movimento se expandiu com a formação do grupo Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), em Munique, composto por artistas como Wassily Kandinsky e Franz Marc. Embora ambos os grupos compartilhassem a ideia de distorcer a realidade e explorar a subjetividade, o Der Blaue Reiter adotou uma abordagem mais espiritual, buscando expressar realidades metafísicas por meio da arte.

O Nazismo contra o Expressionismo

O regime nazista teve um impacto devastador sobre a arte expressionista, considerando-a "degenerada" e incompatível com seus valores nacionalistas e tradicionais. O movimento de censura do nazismo visava eliminar formas de arte modernas, como o expressionismo, o cubismo e o futurismo, que eram vistas como antinacionais e subversivas. Em 1937, os nazistas organizaram a Exposição de Arte Degenerada em Munique, onde obras de artistas como Ernst Ludwig Kirchner, foram expostas de forma grotesca, sendo ridicularizadas como expressão da loucura e usadas como exemplo do que o regime considerava corrompido. Muitas dessas obras foram retiradas de museus, destruídas ou vendidas a colecionadores estrangeiros, enquanto outras foram armazenadas fora do alcance do público.

O regime nazista tentou eliminar o expressionismo da cena artística alemã e ainda associou esse movimento ao comunismo e o rotulou de imoral e subversivo. Em 1937, cerca de 16.500 obras de arte foram confiscadas, incluindo trabalhos de artistas renomados como Van Gogh, Pablo Picasso e Matisse, muitas das quais foram vendidas em leilões ou destruídas, resultando em um prejuízo irreparável para a arte alemã e mundial.

3 Cursos Para Você Entender tudo sobre Arte Moderna

Para você que deseja entender profundamente o que é a arte, o que é Arte Moderna e, consequentemente, o movimento Expressionista, listamos três cursos essenciais da Casa do Saber que vão te fornecer uma visão mais abrangente sobre esses temas. São eles:

  1. A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock
  2. Introdução à História da Arte
  3. O que é Arte?



A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock

O curso "A Arte Moderna Pelas Obras de Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock" oferece uma análise profunda das transformações que ocorreram na arte moderna entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX.

Através das obras e vidas de artistas icônicos como Van Gogh, Picasso, Duchamp e Pollock, o curso revela como a arte moderna rompeu com as convenções estéticas anteriores e aborda o impacto desse movimento nas instituições, na crítica de arte e no mercado.

O curso é ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador de pós-doutorado no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP), Felipe Martinez. Com vasta experiência acadêmica e profissional, Felipe Martinez é especialista na obra de Van Gogh e tem atuação em instituições renomadas, como o MASP e o MAM de São Paulo. Confira a seguir uma prévia do curso:

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Introdução à História da Arte

O curso "Introdução à História da Arte" oferece uma visão abrangente dos principais marcos e transformações na arte ocidental, desde o Renascimento até a arte moderna e contemporânea. Ministrado pelo doutor em História da Arte pela Unicamp e pesquisador da USP (MAC-USP), Felipe Martinez, o curso mostra como nossos conceitos de beleza e arte são construídos a partir do contexto histórico.

As aulas cobrem uma vasta gama de movimentos e artistas, como Michelangelo, Caravaggio, Monet, Degas, Van Gogh e Matisse, além de discutir as influências estéticas, técnicas e sociais que formaram cada período. A arte moderna e as vanguardas europeias fazem parte do conteúdo do curso e você pode conferir um pouco das aulas dando play no vídeo abaixo:

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O que é Arte?

O curso "O Que é Arte?" busca responder a essa pergunta, que permanece relevante e aberta a diversas interpretações. Através de uma abordagem crítica, o pesquisador Felipe Martinez investiga a arte a partir de seus diferentes sentidos, funções e efeitos, analisando como ela se conecta com a sociedade e provoca reflexões. As aulas envolvem obras e autores de períodos clássicos, modernos e contemporâneos, oferecendo novas formas de compreender e questionar o papel da arte em nosso mundo. Assista abaixo um trecho de uma das aulas para se familiarizar com o conhecimento compartilhado:

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Quais são as Características do Expressionismo?

Influenciado pelo gótico alemão, o movimento expressionista é caracterizado pela distorção das formas, uso de cores intensas para refletir emoções, e ênfase no impacto psicológico sobre a realidade objetiva. O expressionismo também se concentra no isolamento urbano, alienação e solidão do indivíduo, além de usar linhas dramáticas e angulares para aumentar a tensão emocional. Embora tenha sido um movimento heterogêneo, com grupos e artistas apresentando grandes diferenças estilísticas e temáticas, sua influência se estendeu por várias décadas, até a Segunda Guerra Mundial, e alcançou outros países além da Alemanha.

Principais características do expressionismo:

  • Distorção das formas para expressar emoções, não a realidade
  • Uso de cores vibrantes e intensificadas
  • Foco nas emoções e tensões interiores, não na objetividade
  • Representação de cenas urbanas e do isolamento
  • Linhas dramáticas e angulares para aumentar a intensidade emocional
  • Impacto psicológico mais importante que a beleza visual
  • Diversidade estilística e temática entre os grupos e artistas



Principais Artistas do Expressionismo

Abaixo, apresentamos uma tabela com alguns dos principais artistas do movimento expressionista, suas características e obras mais representativas. Além disso, incluímos artistas do pós-impressionismo, cujas obras influenciaram diretamente o surgimento e o desenvolvimento do expressionismo. Confira:

PINTORES EXPRESSIONISTAS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS OBRAS
Edvard Munch Conhecido por expressar emoções de angústia e ansiedade, especialmente a solidão humana O Grito (1893)
Egon Schiele Famoso por suas representações distorcidas do corpo humano, explorando temas de desejo e morte Retrato de Wally (1912)
Ernst Ludwig Kirchner Membro do grupo Die Brücke, seus trabalhos eram caracterizados por distorções de figuras e cores vibrantes Autorretrato com Modelos (1910)
Wassily Kandinsky Pioneiro da arte abstrata, ele acreditava que a arte deveria expressar a espiritualidade e a emoção Composição VII (1913)



Pintura Expressionista

Aqui estão algumas das principais obras expressionistas, que exemplificam a distorção da realidade e a ênfase nas emoções, tão características do expressionismo:

O Grito (1893) | Edvard Munch

Quadro 'O Grito' de Edvard Munch, pintado em 1893. Retrata, de forma distorcida, uma pessoa gritando em cima de uma ponte, com expressão de aflição.
O Grito, Edvard Munch. 1893. Têmpera e pastel oleoso sobre cartão, 91 x 73,5 cm. Galeria Nacional de Oslo, Noruega.


O Grito é uma das obras mais icônicas do expressionismo, capturando a angústia e o desespero humano. A distorção da figura e a explosão de cores vibrantes transmitem a sensação de uma crise emocional profunda.

Mulher Sentada com Joelhos Dobrados (1917) | Egon Schiele

Quadro 'Mulher Sentada com Joelhos Dobrados' de Egon Schiele, pintado em 1917. Retrata uma mulher sentada, com as pernas abertas, encostando a cabeça em um dos joelhos dobrados.
Mulher Sentada com Joelhos Dobrados, Egon Schiele, 1917. Guache, aquarela e giz de cera preto sobre papel. Galeria Nacional de Praga, Praga.


Mulher Sentada com Joelhos Dobrados é uma das imagens mais conhecidas de Schiele e revela uma mulher representada de uma maneira que destoava completamente dos padrões convencionais da arte da época. Ele mistura um ângulo nada convencional com uma estética erótica.

Composição VII(1913) | Wassily Kandinsky

Quadro 'Composição VII' de Wassily Kandinsky, pintado em 1913. É uma pintura abstrata, de traços fortes e marcantes, com uso de cores intensas e contrastantes.
Composição VII, Wassily Kandinsky, 1913. Óleo sobre tela, 200,6 cm x 302,2 cm. Galeria Tretyakov , Moscou.


Kandinsky foi um dos primeiros artistas a criar a arte abstrata. "Composição VII" é uma obra caótica, com cores vibrantes. O quadro não faz uma representação figurativa da realidade e traz uma composição complexa que cria novos caminhos e possibilidades para a arte modernista.

O Expressionismo no Brasil

O Expressionismo no Brasil, embora não tenha se consolidado como um movimento dominante, surgiu no início do século XX influenciado pelas inovações da vanguarda europeia e deixou uma marca significativa nas artes, especialmente na pintura. Artistas como Cândido Portinari, Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti e Anita Malfatti buscaram transmitir emoções intensas e subjetivas por meio da distorção das formas, cores fortes e contrastantes, além de uma representação mais psicológica e emocional do ser humano. Obras como Retirantes e Guerra, de Portinari, exemplificam a busca por representar o sofrimento e as tensões sociais, refletindo as angústias de sua época.

Quadro 'Retirantes' de Cândido Portinari, pintado em 1944. Mostra uma família de camponeses em fuga, com rostos expressando sofrimento e fadiga, em uma composição de cores fortes que transmite a dor e a luta das dificuldades sociais.
Retirantes, Cândido Portinari, 1944. Óleo sobre tela, 190 cm x 180 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (SP)


Impacto e Legado do Expressionismo

O expressionismo, embora inicialmente rejeitado, desempenhou um papel fundamental na reconfiguração da arte moderna, abrindo caminho para movimentos como o surrealismo e a arte abstrata. Sua ênfase na distorção das formas e na representação do mundo interior desafiou as convenções estéticas da época e transformou a concepção da arte de uma mera representação da realidade externa para uma expressão profunda das experiências humanas. O legado do expressionismo, com suas inovações e reflexões sobre a condição humana, continua a influenciar as artes visuais e outras formas criativas até os dias de hoje. Além disso, o movimento também deixou uma marca significativa no cinema, especialmente nos gêneros de horror e suspense.

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Perguntas Frequentes sobre Expressionismo

O que é o expressionismo?

O expressionismo é um movimento artístico que começou no início do século XX, focado na expressão das emoções do artista através da distorção de formas e do uso intensivo de cores vibrantes.

Quais são as principais características do expressionismo?

As características do expressionismo incluem distorção das formas para expressar emoções, uso de cores intensas e vibrantes, e a exploração de temas como alienação, angústia e a tensão interior do ser humano.

Referências:

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/termos/80046-expressionismo

Impressionismo: Obras, Características, Claude Monet, Pinturas
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Impressionismo: Obras, Características, Claude Monet, Pinturas
Impressionismo: Movimento artístico, obras de Monet, Degas, Renoir, estilo impressionista, pinceladas rápidas e captura de momentos

Impressionismo: O que é, Características, Principais Artistas

O impressionismo foi um divisor de águas na arte do mundo ocidental do final do século XIX. Os artistas que criaram esse movimento na França estavam insatisfeitos com as limitações impostas pela academia, que definia quais deveriam ser os temas das obras de arte, bem como as cores utilizadas e a técnica aplicada. Até mesmo o local onde os artistas produziriam suas telas era imposto: tinha que ser no atelier.

Os impressionistas bateram de frente com esses “dogmas” acadêmicos e foram em busca da liberdade criativa. Nomes como Claude Monet e Pierre-Auguste Renoir estudaram a fundo as cores e a luminosidade, percebendo que os contornos nítidos das pinturas feitas até ali não condiziam com a realidade. Assim, criaram pinturas com pinceladas mais soltas, abandonando a nitidez e criando efeitos visuais inovadores a partir da indefinição dos contornos e do uso de cores variadas, inclusive nas sombras. Inicialmente, o movimento foi depreciado pela crítica, mas logo as pessoas passariam a compreender a proposta impressionista que marcou um ponto de virada na História da Arte.

Como surgiu a Pintura Impressionista?

O impressionismo nasceu na segunda metade do século XIX, na França. O contexto histórico da época foi marcado pelas consequências da Revolução Francesa do final do século XVIII, que tinha promovido uma verdadeira ruptura com a tradição. A quebra de paradigmas sociais abriu espaço para os artistas questionarem também os preceitos das Escolas de Belas Artes.

A primeira metade do século havia sido marcada pela volta ao clássico, com o neoclassicismo. Esse movimento iria conviver com o romantismo, expressão artística que, dentre outras características, se voltou bastante para a natureza, com o desenvolvimento de muitas pinturas de paisagens. É nesse cenário que surge o impressionismo.

Os artistas não estavam mais interessados em pintar temas históricos ou mitológicos. Agora, havia um interesse maior pelas cenas do cotidiano, que não estavam entre os grandes temas acadêmicos. Aliás, chocar a burguesia a partir da escolha de novos temas e do uso de técnicas diferenciadas acabou virando uma espécie de desejo dos jovens artistas da época, que se consideravam uma espécie de classe à parte da sociedade.

É nesse momento que entra em jogo a representação da realidade e os artistas do impressionismo ousaram ao inventar novas soluções criativas que desafiavam as convenções artísticas da época. O maior interesse da pintura impressionista era capturar a luz e o movimento, da maneira como os vemos, com toda a sua fugacidade. Assim, os artistas passaram a pintar ao ar livre e criaram novas imagens, voltadas para temas do cotidiano, onde realizavam seus estudos de cor, luz e movimento. Com suas pinturas, questionam os contornos bem delineados da pintura feita nos ateliês, pois percebem que na natureza, ao ser observada ao ar livre, não existiam essas linhas tão definidas.

As pinceladas desmembradas, a mistura de cores vibrantes e as novas concepções a respeito da representação do mundo fizeram com que o impressionismo influenciasse todas as futuras expressões da arte moderna. A ideia era confiar nos próprios olhos e não mais seguir as receitas prontas dadas pela academia sobre o que é a arte.

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A primeira exposição Impressionista

A Academia de Belas Artes, que organizava a curadoria do tradicional Salão Oficial de Paris, no ano de 1874, recusou obras de diversos artistas. Foi assim que aconteceu o Salão dos Recusados. No dia 15 de abril deste mesmo ano, cerca de 30 artistas que não haviam sido selecionados para a mostra oficial, dentre eles Claude Monet, Edgar Degas, Pierre-Auguste Renoir, Édouard Manet, Berthe Morisot e Paul Cézanne resolvem expor no atelier do fotógrafo Félix Nadar.

É quando Monet expõe o seu quadro Impressão: Nascer do Sol que causa bastante polêmica. Era uma pintura rápida, quase um esboço, cujo objetivo era captar as impressões daquele momento. Tornou-se a pintura mais marcante do impressionismo e foi justamente a ela que um crítico de arte se referiu ao desqualificar as obras da exposição. No livro A História da Arte, do historiador Ernst Gombrich, uma crítica ao movimento foi transcrita:

“A Rua Le Peletier é uma sucessão de desastres. Após o incêndio na Ópera, temos agora uma outra catástrofe. Acaba de ser lançada uma exposição na Durand-Ruel que supostamente contém pinturas.

Entro, e meus olhos horrorizados são assombrados por uma visão terrível. Cinco ou seis lunáticos, entre eles uma mulher, reuniram-se para expor suas obras. Vi gente chorando de rir diante das telas, mas meu coração verteu sangue quando as vi. Esses pretensos artistas autointitulam-se revolucionários, “impressionistas”. Pegam um pedaço de tela, tinta e pincel, besutam-na com manchas aleatórias e assinam seu nome. É uma ilusão como se internos de um hospício pegassem algumas pedras na rua e julgassem ter encontrado diamantes.”

(Nota publicada em uma revista humorística semanal em 1876)

Quadro 'Impressão: Sol Nascente' de Claude Monet, pintado em 1872. Retrata uma cena ao amanhecer, com sol laranja brilhante refletindo na água, cercado por barcos e uma névoa suave, utilizando pinceladas soltas e cores vibrantes.
Impressão: Sol Nascente, Claude Monet. 1872. Óleo sobre tela, 48X63 cm. Museu Marmottan, Paris.


Apesar da crítica pejorativa, os artistas acabam adotando o termo para se autodenominarem. E assim como aconteceu com outros movimentos, como o cubismo e o barroco, o impressionismo foi batizado a partir de um comentário negativo.

A pintura impressionista estava interessada no instante, no momento imediato que pode ser captado pelo olhar sensível. Os artistas deste movimento tinham uma percepção fenomenológica da realidade, eles não estavam preocupados com o que pensamos ser a realidade, mas sim em como ela aparece diante dos nossos olhos.

Por isso, eles são considerados revolucionários na arte. Foram os primeiros a perceber a mistura das cores na natureza e a pintá-las. A questão do movimento também foi essencial para os pintores. Eles mostraram o movimento a partir de uma nova perspectiva: focavam em um único acontecimento da cena e o restante aparecia de forma desfocada, como um amontoado de formas indefinidas. Isso tudo demonstra o interesse desses artistas pelo estudo de óptica. Possivelmente, o surgimento da fotografia no início do século XIX contribuiu para as novas concepções desses artistas a respeito da captação da realidade a partir dos nossos olhos.

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Quais são as características do Impressionismo?

O movimento impressionista ficou marcado por suas inovações técnicas e ideológicas. Os artistas do movimento se inspiraram em cenas do dia a dia, observando paisagens, pessoas e atividades sociais, como danças e festividades.

Ao invés de produzir imagens que traziam os tradicionais temas históricos ou mitológicos, as obras impressionistas mostravam momentos efêmeros, como encontros de pessoas em tardes ensolaradas. Dentre as principais características do movimento, destacam-se:

  • A inovação nas pinceladas: os artistas pintam de uma forma diferente, fazendo pinceladas mais curtas e livres na tela. Assim, criam uma sensação de movimento e uma maior dinâmica de cores, que deixam de ser estáticas e frias.
  • Abandono dos Contornos Nítidos: os contornos das obras impressionistas são propositalmente indefinidos, sugerindo as formas, em vez de criar delineados.
  • Uso de cores vibrantes: as cores dos impressionistas se misturam e são aplicadas muitas vezes diretamente na tela. Isso porque os artistas pintavam o efêmero e não tinham mais tempo para realizar uma minuciosa mistura de cores. A ideia agora era captar o instante.
  • Pintura ao ar livre: influenciados por Monet, que era um grande defensor da pintura ao ar livre, os impressionistas saem dos ateliês para observarem as cenas in loco.
  • Estudo da luz: a luz natural estava entre os temas centrais para os impressionistas. Em todas as composições, o elemento da luminosidade era central. A partir do estudo da luz, os artistas criaram obras com uma nova percepção das cores. Isso se refletiria, inclusive, nas sombras que ganharam nuances e deixaram de ser um reflexo amorfo e uniforme.
  • Momentos Efêmeros: o artista agora estava pela primeira vez tendo a liberdade de escolher os seus temas. Não precisava mais fazer uma pintura oficial. Dessa maneira, tudo poderia ser fonte de inspiração, como o nascer do sol ou um passeio de barco.
  • Representação do Movimento: no impressionismo, o movimento ganha um novo brilho. As cenas não parecem estáticas, pois com o uso das novas técnicas, os artistas conseguem capturar o instante de uma maneira mais dinâmica.

Principais Artistas do Impressionismo

Aqui está uma pequena tabela com os principais pintores do movimento impressionista.

Pintores Impressionistas Características Principais Obras
Claude Monet Foi o primeiro grande nome da pintura impressionista. A partir do quadro dele intitulado Impressão: Nascer do Sol, o movimento foi nomeado. Teve influência da arte japonesa e chegou a cultivar um jardim aquático japonês. - Impressão: Nascer do Sol (1872)

- Mulher com sombrinha (1875)
Pierre-Auguste Renoir Conhecido pelo seu estudo da luz, o pintor ficou famoso por pintar pessoas banhadas em uma luminosidade vibrante, preferencialmente em cenas ao ar livre. - O Baile no Moulin de la Galette (1876)

- O Almoço dos Barqueiros (1881)
Edgar Degas Consagrado por suas pinturas de balé clássico, Degas costumava frequentar os teatros para criar suas composições. - Sala de Ensaio do Balé no Teatro da Ópera (1872)

- Bailarinas no Palco (1879)
Edouard Manet Trouxe cenas do cotidiano para a pintura, abordando a nudez de forma crua e não idealizada. Trabalha muito bem o jogo de luz e sombras. - O Almoço na Relva (1863)

- Claude Monet pintando no seu barco-ateliê (1874)
Camille Pissarro Destaca-se pela captura da vida cotidiana e das paisagens, utilizando uma técnica de pinceladas rápidas e uma paleta rica em luz, que transmite os efeitos das mudanças sazonais e da luz natural. - O Boulevard Montmartre em uma Manhã de Inverno (1897)

- Praça do Teatro Francês (1898)
Berthe Morisot Uma das poucas mulheres do movimento, suas obras exploram a vida privada das mulheres, além de uma abordagem intimista e emocional que captura momentos efêmeros do cotidiano. - O Berço (1872)

- Mulher Jovem Tricotando (1885)


Principais Obras Representativas do Impressionismo

Confira a seguir algumas das principais obras impressionistas, além da já citada Impressão: Nascer do Sol, de Monet.

Mulher com Sombrinha (1875) | Claude Monet

Uma mulher elegante, vestida com um vestido claro é vista ao lado de um menino enquanto segura uma sombrinha em um dia ensolarado. Ela está em um campo florido, cercada por uma paisagem verdejante. A luz suave e difusa cria sombras delicadas e destaca os detalhes do vestido, transmitindo uma sensação de movimento e leveza, típica da estética impressionista.
Mulher com Sombrinha, Claude Monet. 1875. Óleo sobre Tela, 100 x 81cm. National Gallery of Art em Washington, Estados Unidos.


O Almoço dos Remadores (1880) | Pierre-Auguste Renoir

Um grupo de pessoas realiza uma celebração da vida social e o pintor capta a alegria e a luz do verão. As figuras estão em poses descontraídas, conversando e rindo, enquanto bebidas e pratos estão sobre a mesa.
O Almoço dos Remadores, Auguste Renoir, 1880. Óleo sobre tela, 130x173cm. The Phillips Collection, Washington, EUA.


Bailarina Balançando (1879) | Edgar Degas

Retrata uma cena das bailarinas dançando durante um espetáculo, destacando o movimento e o figurino.
Bailarina balançando (bailarina verde), Edgar Degas, 1879. Pastel e guache sobre papel, 64x36cm. Museu Nacional Thyssen-Bornemisza, Madrid.


Boulevard Montmartre, Manhã, Tempo Nublado (1897) | Camille Pissarro

Uma cena urbana retrata o Boulevard Montmartre em um dia nublado, com pessoas caminhando nas calçadas e carruagens na rua. Edifícios históricos cercam a área, e a paleta de cores suaves, com tons de cinza e marrom, reflete a atmosfera melancólica do clima. Pissarro utiliza pinceladas soltas para capturar a vida cotidiana e a luz difusa, criando uma sensação de movimento e dinamismo na cena.
Boulevard Montmartre, Manhã, Tempo Nublado, Camille Pissarro, 1897. Óleo sobre tela, 73 x 92 cm. National Gallery of Victoria, NGV. Melbourne , Victoria , Austrália.



O Berço (1872) | Berthe Morisot

Um delicado retrato da maternidade, com uma mulher diante do berço observando um bebê, refletindo um momento cotidiano da vida feminina.
O Berço, Camille Pissarro, 1872. Óleo sobre tela, 46 x 56 cm. Museu de Orsay, Paris, França.


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Impacto e Legado do Impressionismo

O movimento impressionista revolucionou a arte do final do século XIX, abrindo espaço para uma nova forma de ver e representar o mundo. O pintor Claude Monet, que foi um dos pioneiros do movimento, mostrou a importância da captura da luz in loco. Além disso, a abordagem inovadora da pintura impressionista teve influência das gravuras japonesas. Foi dessa arte oriental que os artistas beberam para elaborar composições sem uma perspectiva central e com enquadramentos diferentes do habitual. Inclusive, o próprio Monet cultivava um jardim aquático de inspiração japonesa, de onde tirou a inspiração para pintar a série de quadros da sua ponte japonesa.

Quadro 'Ponte sobre um lago de nenúfares' de Claude Monet, pintado em 1899. A obra apresenta uma ponte curva sobre um lago repleto de nenúfares, com reflexos vibrantes na água e uma rica paleta de verdes.
Ponte sobre um lago de nenúfares, 1899, Claude Monet. 1872. Óleo sobre tela, 92,7 x 73,7 cm. Coleção HO Havemeyer, legado da Sra. HO Havemeyer, 1929


Monet e seus contemporâneos perceberam que a natureza não era apenas um objeto a ser retratado, mas uma experiência a ser vivida e transmitida. Ao adotar uma abordagem mais subjetiva, os impressionistas estabeleceram as bases para a Arte Moderna, permitindo que os artistas explorassem novas formas e técnicas que ainda não haviam sido concebidas. O uso de pinceladas curtas e rápidas, que parecem caóticas de perto, revela, ao serem observadas à distância, uma harmonia e vitalidade que desafia a percepção tradicional.

A resistência inicial ao Impressionismo foi significativa, com muitos críticos e o público não compreendendo imediatamente a proposta dos artistas. Era necessário um novo olhar, uma nova maneira de ver a arte. Essa necessidade de distância física para que a obra "ganhasse vida" demonstra a ruptura com as expectativas anteriores. Contudo, com o passar do tempo, o Impressionismo foi ganhando espaço e respeito, e artistas como Monet e Renoir alcançaram fama e reconhecimento em vida, consolidando seu legado em importantes coleções públicas.

Além disso, o Impressionismo preparou o terreno para movimentos subsequentes, como o Pós-Impressionismo e o Modernismo. Artistas como Paul Cézanne e Vincent van Gogh, que foram influenciados pelos impressionistas, continuaram a explorar novas formas de expressão, cada um à sua maneira. O pontilhismo, uma técnica desenvolvida no Pós-Impressionismo, exemplifica a evolução da experiência estética proposta pelos impressionistas.

O Impressionismo iniciou uma nova forma de perceber e representar o mundo, mas continuou querendo representá-lo. As transformações estéticas revolucionaram o fazer artístico, mas os artistas continuavam buscando ilustrar a realidade. A arte impressionista abriu caminhos para a inovação criativa que, posteriormente, iria se manifestar nas vanguardas europeias.

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Perguntas Frequentes sobre Impressionismo

O que é Impressionismo?
O Impressionismo é um movimento artístico que surgiu no final do século XIX, na França. É caracterizado pela captura da luz e do movimento através de pinceladas soltas e cores vivas.

Quais são as principais características do Impressionismo?
As características do movimento incluem o abandono dos contornos nítidos e o uso de pinceladas aleatórias, o uso de cores puras, a observação da natureza e a captura da luz do instante observado. Além disso, os artistas buscavam representar cenas simples do cotidiano.

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Referências:

https://www.marmottan.fr/en/

https://mam.org.br/

https://www.musee-orsay.fr/en

GOMBRICH, E.H. A História da Arte



Iluminismo: o que foi, resumo, conceitos e principais pensadores
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Iluminismo: o que foi, resumo, conceitos e principais pensadores
Entenda as diferenças das três tradições do iluminismo e como o movimento transformou paradigmas para além da Europa e da Revolução Francesa.

Marcado por ser um grande transformador de paradigmas, o Iluminismo estabeleceu uma interseção com as propostas antropocêntricas para se firmar como um movimento filosófico, intelectual e cultural que acreditava na valoração da razão e do conhecimento como meios autênticos para a conquista da liberdade, justiça e felicidade.

Desenvolvido no cenário da Europa Ocidental, ao longo dos séculos XVII e XVIII (também conhecido como Século das Luzes), o Iluminismo criticou duramente as concepções de verdade da Idade Média, as quais davam à fé e à religião papeis centrais na compreensão do mundo.

Na época, o teocentrismo (doutrina que colocava Deus no centro e que perdurava desde o século IV) abria espaço para que o antropocentrismo (homem no centro) se fortalecesse e para que os filósofos estruturassem discursos e teorias capazes de colocar a legitimidade dos poderes absolutistas em xeque.

Tratou-se, portanto, de uma verdadeira crise dos valores propagados até então, combinada com uma proposta de revisitação aos pensamentos da Grécia Antiga sobre a necessidade da racionalidade para as tomadas de decisão.

Embora seja muitas vezes tratado como um movimento único, o Iluminismo teve várias vertentes em seus diferentes locais de propagação, agindo, inclusive, sobre as Américas e influenciando o pensamento moderno, suas democracias e o cientificismo.

Conheça todas as especificidades desse marco histórico no Guia Iluminista da Casa do Saber. Você irá encontrar por aqui:



Pintura em tela de uma imagem de Voltaire lendo sua tragédia
A obra de Anicet Charles Gabriel Lemonnier retrata o momento da leitura da tragédia de Voltaire, "O Órfão da China", sendo uma das pinturas sobre o iluminismo mais conhecidas da história da arte. (Fonte: Domínio Público)


O que é o Iluminismo

Como já abordamos anteriormente, o iluminismo é caracterizado como um movimento intelectual dos séculos XVII e XVIII, reconhecido por defender a importância da razão e do conhecimento para a observação e experimentação da vida.

A crença de um mundo regido exclusivamente pelos desígnios de Deus e, sobretudo, pela Igreja Católica era substituída pelas demandas por descentralização de poder e por justificativas racionais para as dinâmicas cotidianas.

Em outras palavras, o iluminismo contrastou a “´fe” e a “razão”, questionando os privilégios do clero e das monarquias, bem como desenvolveu teorias e discursos que colocaram o ser humano como vetor responsável por suas ações, fossem elas culturais, filosóficas, sociais ou históricas.

Na prática, a partir do iluminismo e de seus ideais racionalistas, as sociedades modernas passaram a valorizar a ciência como forma de compreender as questões e de solucionar problemas do dia a dia.

Com isso, o gradativo afastamento das explicações místicas e dogmáticas foi um produto lógico desse novo modelo de pensamento, que mitigou também o controle e a opressão característicos dos períodos inquisitivos da Idade das Trevas.

O movimento iluminista deu origem a transformações profundas em diversas áreas, como nos campos político, econômico e cultural, servindo como base e referencial para diversos eventos históricos significativos.

A Revolução Industrial e a Revolução Francesa (com seu lema “liberdade, igualdade e fraternidade"), os movimentos de independência dos Estados Unidos e do Brasil são apenas alguns exemplos desses grandes marcos.

Além disso, o iluminismo propiciou a criação de constituições baseadas em direitos naturais, impulsionou a defesa de governos representativos e o surgimento das democracias modernas, cujos fundamentos perduram até hoje

Um dos principais expoentes do iluminismo alemão, Immanuel Kant formulou um conceito lógico para o movimento, no texto “Resposta à pergunta: Que é o iluminismo?”:

O iluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado. A menoridade é incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem. Tal menoridade é por culpa própria se a sua causa não reside na falta de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo sem a orientação de outrem. Sapere aude (em português, “ouse saber" ou "atreva-se a conhecer)”. (KANT, 1995 apud WEIMANN, 2015)

Podemos dizer então que o iluminismo foi um movimento complexo, que se desenvolveu nas diversas frentes sociais (política, cultural, econômica, religiosa) através de uma filosofia que dava protagonismo aos seres humanos e não mais às divindades, ao cristianismo e à Igreja Católica.

Articulou a busca pelo conhecimento através da razão como sua principal pauta, priorizando a ciência, o empirismo e as explicações lógicas para fenômenos sociais e da natureza.

Seus principais expoentes, Voltaire, David Hume, Kant, entre outros contribuíram para uma revolução intelectual e para transformação de paradigmas importantes, questionando, sobretudo, as formas de governos absolutistas e os privilégios legados às monarquias e ao clero.

Os reflexos do movimento filosófico iluminista foram tão significativos ao longo do século XVIII, que o período foi reconhecido como Século das Luzes.

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Contexto do Iluminismo: como surge o movimento?

O iluminismo não foi uma ruptura abrupta, mas o ápice de transformações que se desenvolviam há séculos na Europa Ocidental.

Para se ter uma ideia, o pensamento racionalista já estava presente na Grécia Antiga, defendido por nomes importantes como Sócrates, Platão e Aristóteles, os quais enfatizavam a lógica, a ética e a busca pelo conhecimento como instrumentos para a compreensão do mundo.

Os romanos, por sua vez, ao herdarem essas ideias, as adaptaram e exerceram uma influência direta nos sistemas de leis utilizados pelo direito moderno.

Entretanto, com a ascensão do cristianismo no século IV, o teocentrismo ganhou destaque e passou a ser a principal norma das sociedades, colocando a fé e a Igreja Católica no centro da vida social, política e espiritual, especialmente ao longo da era medieval.

Somente a partir dos avanços científicos provocados pelas descobertas que desafiavam o status quo da época (entre os séculos XVI e XVII), como o movimento da Terra - observado por Copérnico e Galileu Galilei, ou pelas leis de Newton e a invenção de equipamentos como o telescópio e o microscópio, é que o teocentrismo passou a ser novamente questionado.

Associadas às Grandes Navegações e ao legado renascentista, essas mudanças retomaram o incentivo da busca pela razão como ferramenta central de investigação.

A colcha de retalho dessas descobertas científicas, com o resgate histórico e as mudanças culturais gradativas, criou as condições ideais para o surgimento do iluminismo e para a sua filosofia de combate aos valores do Antigo Regime.

Facilite a sua compreensão acerca do iluminismo a partir do seguinte resumo comparado:

Resumo do Iluminismo

Idade Média (teocentrismo) Iluminismo (antropocentrismo)
O teocentrismo tinha a religião (Deus) e, posteriormente, a Igreja Católica como bússolas, sendo aspectos que controlavam não só o campo espiritual e ético, como o político.

Através do medo e do misticismo, o modelo de pensamento da época compelia as sociedades a se comportarem de acordo com os interesses das monarquias absolutistas (forma de governo que concentrava o poder nas mãos do rei e da nobreza) e do alto clero.

Desenvolveu-se ao longo dos séculos V ao XV.
Marcou o questionamento das verdades teocêntricas, solidificando o antropocentrismo e o projeto humanista

A razão era o instrumento legítimo para o conhecimento e para a boa aventurança, “iluminando” as explicações outrora associadas às divindades e à natureza.

Caracterizou-se pela crítica ao absolutismo e à sua concentração de poder que resultava nas sociedades estamentais.

Além disso, buscava pela igualdade, autonomia intelectual e direitos naturais, bem como pelo fortalecimento do pensamento crítico e da liberdade de escolha.

Refletiu nos diversos eventos revolucionários da Idade Moderna e foi a principal base das democracias modernas.

Desenvolveu-se durante o século XVII e XVIII - conhecido como Século das Luzes.


Diferenças entre o Iluminismo Francês, Inglês e Americano a partir de seus principais pensadores

O iluminismo foi um movimento bastante complexo, apresentando características específicas alinhadas a cada contexto cultural no qual se estabeleceu.

Dessa forma, refletiu as prioridades e os desafios de cada sociedade, promovendo em todas elas alterações importantes.

Entre as tradições que mais se destacaram nesse sentido, o iluminismo francês, britânico e americano possuem como singularidades os pontos abordados abaixo:

1. Características do iluminismo Francês

Foi profundamente marcado pelo racionalismo e pelo combate às estruturas tradicionais de poder, como a monarquia absolutista e a Igreja Católica.

A razão era a ferramenta para a reconstrução de uma sociedade mergulhada, à época, na insatisfação econômica e social.

Foi a partir dos ideais iluministas que a Revolução Francesa (1789) tomou forma e registrou na História a sua busca por liberdade, igualdade e fraternidade.

A Queda da Bastilha, inclusive, evento caracterizado pelo protesto popular na prisão e fortaleza militar que simbolizava o absolutismo do Antigo Regime francês, assinalou não só o início da própria Revolução Francesa, como a transição da Idade Moderna para a Contemporânea.

Pintura em tela do grande evento iluminista queda da bastilha
Obra "Tomada da Bastilha e prisão do governador M. de Launay", 14 de julho de 1789. (Fonte: Domínio Público)



Seus principais filósofos iluministas foram:

  • René Descartes (1596 – 1650): responsável pelo método de pesquisa cartesiano, cujo objetivo era duvidar de tudo aquilo que era tido como verdade. Um fato deveria ser verificado, sintetizado e iluminado antes de comprovado. Desafiou as certezas dogmáticas, buscando uma nova base lógica para a verdade. "Penso, logo existo"
  • Voltaire (1694 - 1778): criticou os privilégios das aristocracias e dos religiosos, disseminando a liberdade de expressão e o combate à intolerância. Foi perseguido e, por isso, exilou-se na Inglaterra, onde teve contato com John Locke.
  • Montesquieu (1689- 1755): em O Espírito das Leis, o filósofo propôs a separação dos poderes (executivo, legislativo e judiciário) pela primeira vez, argumentando acerca de sua eficácia e prevenção de abusos de autoridade.
  • Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778): teceu a tese do homem natural, sustentando que a sociedade era a perversão desse sujeito, corrompendo-o de sua vocação para o bem e para o convívio harmônico com a natureza. Também foi um crítico da propriedade privada, que, segundo a sua perspectiva, era a responsável pela desigualdade dos homens.


2. Características do Iluminismo Britânico

A busca incessante pela razão não era a principal questão do iluminismo britânico. Parte da "era da benevolência", o iluminismo dessa região voltou-se à ética das virtudes e à moralidade, expandindo o seu foco para além da priorização da racionalidade.

A filosofia política britânica se destacou essencialmente pelos temas do liberalismo e pela defesa dos direitos individuais

Teve como principal pensador iluminista:

  • John Locke (1632 - 1704): considerado o pai do liberalismo, Locke defendeu a ideia de que o conhecimento humano era derivado de uma experiência sensorial. Criticou o governo absolutista e propôs a famosa teoria do contrato social, segundo a qual a sociedade civil seria formada a partir de um pacto entre as pessoas e o Estado. Em condições justas, o filósofo acreditava que as sociedades abriam mão de seus direitos individuais para, de modo consentido, gozar da proteção oferecida pelas instituições estatais.


3. Características do Iluminismo Americano

Enquanto isso, o iluminismo americano encontrou um forte apelo na liberdade política e nos direitos naturais, destacando-se pela busca da independência e pela criação de um novo modelo de governo.

Foi conhecido pela tese da “política da liberdade”, tendo a Independência (declarada no dia 4 de julho de 1776) como seu evento mais importante.

Entre os pensadores iluministas relevantes da época estavam:

  • Thomas Jefferson (1743 - 1826), John Adams (1735 - 1826) e Benjamin Franklin (1706 - 1790): estiveram envolvidos nas questões de liberdade política e nas ideias sobre um governo baseado na razão e nos direitos inalienáveis do homem. Essas ideias se materializaram na Declaração de Independência e ajudaram a moldar os princípios da Constituição dos Estados Unidos.


Além desses nomes, Immanuel Kant e Adam Smith também foram importantes sistematizadores do pensamento iluminista.

O alemão Kant (1724 - 1804), por exemplo, foi fundamental para o desenvolvimento da ética e da epistemologia, além de ser o criador do imperativo categórico, uma medida de princípio universal e racional capaz de sustentar as ações morais.

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Para ele, a percepção da realidade dependia tanto das experiências vividas quanto das individualidades de cada sujeito, o que desafiava diversas abordagens anteriores.

Por sua vez, Adam Smith (1723 - 1790), filósofo escocês, é amplamente reconhecido como pai da economia moderna. Foi na obra A Riqueza das Nações (1776), que o filósofo iluminista introduziu o conceito de economia de mercado livre, posicionando a busca individual pelo lucro, por meio da mão invisível do Estado, como uma ferramenta para o bem-estar coletivo.

Entenda essa diferença de forma prática:

O iluminismo também produziu seus efeitos no Brasil, influenciado a Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana e o artigo 5º da Constituição Federal.

Constituição Federal:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:


Veja também: D. Pedro I, Um Príncipe Dividido - a trajetória do monarca que se identificou e apoiou o desejo dos brasileiros pela Independência, liderando a separação entre os dois Reinos.



Um outro olhar para o iluminismo: a crítica a partir de um referencial colonial.

Embora tenha sido revolucionário em diversos aspectos, o iluminismo esteve imerso em contradições relevantes, especialmente quando observamos as suas bases a partir de um referencial decolonial.

A crítica mais pujante ao movimento reside na contraposição dos seus ideais de liberdade e igualdade ao tratamento dado às populações africanas e indígenas, como aponta o doutor em Filosofia pela UFRJ, Renato Nogueira (vídeo abaixo).

Entre as crenças iluministas, havia uma perspectiva de inferiorização desses povos, responsável por legitimar o seu controle pelas colônias e pelos movimentos escravagistas.

Nesse contexto, Frantz Fanon (1925 -1961) assume um papel fundamental ao propor uma revisão do humanismo tradicional, apontando suas falhas em reconhecer e valorizar as identidades dos povos colonizados e escravizados.

Trata-se de uma abordagem fundamental para compreender os impactos do humanismo e do iluminismo para além do continente europeu.

Gostou de conferir o resumo sobre o iluminismo e seu significado para a Europa, Revolução Francesa e Américas? Continue a sua jornada por aqui com o “Guia Essencial da Filosofia -Pensamento Moderno

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Referências

COSTA, Abraão Lincoln Ferreira. Relações entre o iluminismo alemão e a concepção goethiana de formação. Água Viva, v. 3, n. 1, p. 12184, jan.-jul. 2018. DOI: 10.26512/aguaviva.v3i1.12184.

WEINMAN, Carlos. O conceito de iluminismo em Kant e sua implicação com a moralidade e a política. Unoesc & Ciência - ACHS, Joaçaba, v. 6, n. 2, p. 201-212, jul./dez. 2015.

Cubismo: Obras, Características, Pablo Picasso, Fase Sintética
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Cubismo: Obras, Características, Pablo Picasso, Fase Sintética
Cubismo: Pinturas, Desenho, Arte Moderna, Picasso, Formas cubistas, cubismo sintético, cubismo analítico e colagem, comportamento e personalidade.

O que é Cubismo? Entenda as características desta vanguarda europeia que marcou a Arte Moderna

Nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial, estava acontecendo uma grande transformação no meio artístico europeu. Os artistas visuais da época passaram a questionar a relevância de retratar a realidade tal como ela é. Nesse sentido, começaram a criar inovações técnicas, iniciadas com o Impressionismo do final do século XIX, que trazia pinturas feitas com contornos imprecisos.

Essa nova perspectiva de elaboração das imagens culminou nas vanguardas artísticas do início do século XX, dentre as quais o Cubismo foi uma das mais significativas. Nascido em Paris, o movimento cubista bebeu nas ideias do expressionismo, outra vanguarda que buscava representar a expressão de sentimentos por meio das cores e linhas, sem dar importância à perspectiva e ao jogo de luz e sombras. Mas, o Cubismo, diferente do expressionismo, trazia uma inovação: os artistas passaram a transformar a representação dos objetos, através de sua fragmentação em formas. Dessa maneira, o movimento fomentou uma nova concepção do que é a arte e iniciou uma mudança radical em relação a toda a tradição da pintura feita no ocidente.

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Arte Cubista: História e Principais Obras

O Cubismo nasceu de uma conexão de artistas no início do século XX. O principal nome deste movimento é o pintor espanhol Pablo Picasso, que era filho de um desenhista e havia estudado desde criança na Escola de Arte de Barcelona. Aos 19 anos, ele foi morar em Paris. Ali, entrou em contato com diversos outros artistas e as ideias do pintor francês Paul Cézanne o influenciaram a mudar a maneira como vinha pintando até então.

Em 1906, um ano após a morte de Cézanne, houve em Paris uma grande exposição retrospectiva com suas obras. Nesse momento, Picasso é impactado pelas ideias de Cézanne, que recomendava a observação da natureza a partir de sólidos geométricos, como cilindros, esferas e cones.

Daí em diante, Picasso começa a “brincar” de desmembrar os objetos e realizar pinturas que os mostravam a partir de suas principais formas geométricas. Em 1907, já imerso nessa nova concepção criativa, ele pinta o quadro Les Demoiselles d'Avignon, um trabalho pré-cubista, mas que, didaticamente, é considerado o marco inicial do cubismo.

A obra traz um grupo de mulheres nuas e deixa claras as intenções do artista ao inovar na técnica: ele criou corpos humanos a partir de formas geométricas, característica que se tornaria uma marca do desenho cubista. Além disso, nessa obra, Picasso também revela a influência da arte africana em seu imaginário, ao incluir duas máscaras africanas na composição. A pintura causou grande impacto ao ser exposta. Para alguns, foi percebida como uma obra prima, mas muitos setores mais conservadores da sociedade a tomaram como obscena e imoral.

Em Les Demoiselles d'Avignon, Picasso rompe com as convenções de perspectiva linear e representação realista que dominaram a pintura ocidental desde o Renascimento. Ele fragmenta as figuras e planos, sugerindo várias perspectivas ao mesmo tempo, o que se tornaria uma característica essencial do cubismo.

Pintura Cubista de Pablo Picasso intitulada Les Desmoiselles D’Avignon. A tela retrata cinco mulheres nuas com corpos e rostos angulosos e distorcidos. As figuras são representadas com características faciais que lembram máscaras africanas. O quadro rompe com a tradição artística ocidental, modificando a representação naturalista da figura humana.
Les Desmoiselles D’Avignon, 1907. Pablo Picasso. Óleo sobre Tela, 244 X 234 cm. O quadro está exposto no MoMa, em Nova York.


O Cubismo é considerado um divisor de águas na arte ocidental, por recusar fazer uma arte que imitasse a natureza. O movimento tornou-se um dos marcos iniciais da Arte Moderna e dava liberdade total à imaginação, sem criar limites acadêmicos para a criação artística.

Quem nomeou o movimento cubista foi o crítico de arte Louis Vauxcelles (1870-1943), após referir-se às composições de outro pintor expoente da nova corrente artística: George Braque. Em 1908, no jornal Gil Blas, o crítico se refere às obras dele como uma realidade construída com cubos. Uma das imagens que representa bem a inovação trazida pelo cubismo é o quadro a seguir, Casas em L´Estaque, de George Braque, feito em 1908.

A pintura Maisons à l'Estaque (1908) de Georges Braque é uma obra cubista que apresenta um grupo de casas em uma colina na vila de L'Estaque, França. As construções são representadas de forma geométrica e angulosa, com planos simplificados e sobrepostos, criando uma sensação de fragmentação espacial. A paleta de cores é dominada por tons terrosos, como verdes, marrons e ocres, que reforçam a atmosfera natural da paisagem. A obra exemplifica a abordagem inovadora de Braque ao cubismo, desafiando a perspectiva tradicional e transformando o espaço em uma composição dinâmica e abstrata.
Georges Braque | Maisons à l'Estaque (Casas em L'Estaque), 1908. Óleo sobre tela, 73×59,5 cm, Kunst Museum Bern.


O cubismo emergiu em um contexto de grandes mudanças, impulsionado pela Segunda Revolução Industrial, que trouxe inovações tecnológicas e transformou a vida urbana na Europa. As cidades estavam crescendo rapidamente e uma nova era chegava com a popularização da eletricidade, do automóvel e da fotografia, sendo esta última de grande impacto para o mundo da arte.

Os pintores cubistas, na sua empreitada de elaborar um novo método de construção de imagens, optaram por motivos familiares. Instrumentos musicais, garrafas, pessoas estão entre os temas escolhidos para o novo jogo estético criado por eles: transmitir a imagem de um objeto palpável a partir de fragmentos geométricos planos na tela.

Além disso, o movimento incorporou o imaginário urbano industrial em suas obras, refletindo as mudanças sociais e culturais da época. Em contraste com os movimentos anteriores, o cubismo optou por uma representação da realidade que priorizava a geometrização das formas e a multiplicidade de perspectivas.

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Cubismo | Características

A ideologia que permeava os artistas do Cubismo era a da não aceitação das técnicas formais acadêmicas. Isso significa que a construção de composições imagéticas com a perspectiva clássica, a proporção realista, o sombreamento e a figuração naturalista estavam sendo destituídas como pilares da pintura. Outras características importantes do cubismo que podemos destacar são:

  • Geometrismo: ênfase na representação da realidade por meio de formas geométricas, como cubos, cilindros e esferas
  • Fundo abstrato: as imagens trazem um fundo sem perspectiva linear, sem profundidade e sem que haja uma identificação do local onde acontece a cena
  • Ruptura com a perspectiva tradicional: abandono das noções convencionais de perspectiva e proporção, criando uma representação plana e escultórica dos objetos
  • Múltiplos pontos de vista: apresentação de um objeto sob várias perspectivas ao mesmo tempo, exibindo suas diferentes dimensões em uma única composição bidimensional
  • Abstração: simplificação da natureza, priorizando formas geométricas e abstraindo detalhes estéticos tradicionais.
  • Temas urbanos e industriais: forte inspiração na vida urbana e nos cenários industriais do início do século XX
  • Paleta de cores sóbrias: predomínio de cores opacas e escuras, como branco, preto, cinza, verde escuro, castanho, ocre, laranja escuro e vermelho escuro
  • Uso de colagem: incorporação de materiais do cotidiano, como recortes de jornal, madeira, vidro e outros objetos, para criar cenas e composições inovadoras
  • Rompimento com conceitos de harmonia e beleza tradicionais: a estética cubista desafiou convenções, criando formas inovadoras que não se encaixavam no conceito tradicional de beleza
  • Representação não convencional de objetos e pessoas: não comprometimento com uma representação exata, priorizando a dissociação das partes de um mesmo objeto e explorando sua totalidade em uma superfície plana, bidimensional



Fases do Cubismo

O cubismo, movimento artístico revolucionário do início do século XX, é frequentemente dividido em três fases principais: a fase cezannista, o cubismo analítico e o cubismo sintético. Cada uma dessas etapas apresenta características distintas que refletem a transformação dos experimentos visuais dos artistas envolvidos, principalmente Pablo Picasso e Georges Braque. Confira a seguir as principais características de cada uma dessas fases:

FASES DO CUBISMO CARACTERÍSTICAS PERÍODO
Fase Cezannista A fase cezannista é marcada pela influência direta do pintor francês Paul Cézanne, que buscou simplificar as formas e a representação da realidade. Os cubistas, inspirados nele, iniciaram uma experimentação que permitia sobrepor diversos ângulos e perspectivas de um objeto em um único plano pictórico. Essa abordagem não apenas inovou a forma como os objetos eram representados, mas também questionou a noção tradicional de espaço e profundidade na pintura. (1907-1909)
Cubismo Analítico
Nesta fase, Picasso e Braque exploram a fragmentação das formas de maneira ainda mais intensa e utilizam uma paleta de cores moderadas, predominantemente composta por tons de marrom, cinza e ocre. As figuras tornam-se cada vez mais difíceis de reconhecer, refletindo um movimento em direção à abstração. A fragmentação dos temas e o foco no plano das figuras caracterizam essa fase, onde as representações visuais se tornam complexas e enigmáticas. (1910-1912)
Cubismo Sintético Na fase sintética, as figuras tornam-se mais reconhecíveis, mas sem retornar ao realismo tradicional. A paleta de cores se torna mais vibrante e diversificada, com tons mais fortes e vivos. Um aspecto inovador dessa fase é o uso da colagem, onde elementos heterogêneos, como recortes de jornais, pedaços de madeira e objetos do cotidiano, são agregados à superfície das obras. (1913-1914)


Veja abaixo obras que representam cada uma das três etapas do cubismo:

Obra da Fase Cezannista (1907-1909)

Fábrica no Horto de Ebro é uma pintura a óleo de 1909 por Pablo Picasso, criada durante sua visita a Horta de Sant Joan, na Catalunha. A obra retrata uma paisagem industrial com uma fábrica e palmeiras, apresentadas em um estilo geométrico simplificado. Considerada uma obra proto cubista, pertence ao Período Cezzanista de Picasso e faz parte da coleção do Museu Estatal Hermitage em São Petersburgo.
Fábrica no Horto de Ebro, 1909, Pablo Picasso. Óleo sobre tela, 50,7 cm × 60,2 cm. Museu Estatal Hermitage , São Petersburgo , Rússia.


Obra da Fase Analítica (1910-1912)

A Guitarra, de Georges Braque, 1911. A obra apresenta uma composição cubista em tons de marrom e cinza, com formas geométricas que representam uma guitarra de forma fragmentada. As partes da guitarra são decompostas em planos sobrepostos e angulares, refletindo a técnica cubista de desdobrar a realidade em múltiplas perspectivas, criando uma sensação de profundidade e movimento. O fundo é abstrato, permitindo que a guitarra seja o foco principal da pintura
A Guitarra, Georges Braque, 1909-10. Tate Modern, Londres, Inglaterra.


Obra da Fase Sintética (1913-1914)

A Mesa do Músico, de Juan Gris, é uma pintura cubista que combina colagem e pintura, retratando instrumentos musicais e objetos cotidianos em um estilo geométrico. Criada em 1914, a obra destaca a sobreposição de formas e perspectivas, incorpora elementos como partituras e uma guitarra, refletindo a estética inovadora de Gris
A Mesa do Músico, Juan Gris, 1914. Colagem feita com lápis de cera conté, lápis de cera, guache, papel de parede impresso recortado e colado, papéis vergê azuis e brancos, papel transparente, jornal e papel de embrulho marrom; envernizado seletivamente sobre tela. The Metropolitan Museum of Art, Nova York.


O Cubismo no Brasil

O cubismo chegou ao Brasil principalmente após a Semana de Arte Moderna de 1922, que inaugurou uma nova fase do modernismo no país. Artistas como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cândido Portinari e Lasar Segall adotaram elementos cubistas, mas também buscaram integrar referências nacionais e uma estética mais autoral, bem típica da filosofia antropofágica.

As obras influenciadas pelo movimento causaram polêmica na Semana de Arte Moderna de 1922 e contribuíram para a abertura de novos horizontes na arte brasileira.

Nu Cubista, de Anita Malfatti, retrata uma mulher nua com formas difusas e sobrepostas, onde figura e fundo se fundem em tons similares. A pintura reflete a influência do cubismo, mas é reinterpretada com a visão única de Malfatti, que mistura fragmentação e suavidade em sua representação da figura feminina
Nu Cubista Nº 1, Anita Malfatti, 1915. Óleo sobre tela, 51 cm x 39 cm


Impacto e Legado do Cubismo

O cubismo estabeleceu novas bases para a análise da arte, permitindo que futuras gerações de artistas experimentassem criar a partir de formas e conceitos inovadores. O movimento revolucionou a pintura, mas também influenciou a escultura, a arquitetura e o design gráfico, expandindo o seu legado na cultura visual. Além disso, também repercutiu na poesia e na música, a exemplo da escrita de Guillaume Apollinaire e das composições de Stravinsky.

Museus Dedicados ao Cubismo

Existem vários museus e instituições que celebram o cubismo e suas obras. Um dos mais notáveis é o Museu Picasso em Paris, que abriga uma vasta coleção de obras de Pablo Picasso, incluindo muitos exemplos do cubismo. No Brasil, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), frequentemente realiza exposições dedicadas ao cubismo e seus desdobramentos.

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Perguntas Frequentes sobre Cubismo

O que é cubismo?

O cubismo é um movimento artístico que começou no início do século XX, caracterizado pela fragmentação das formas e pela apresentação de múltiplas perspectivas em uma tela plana.

Quais são as características do cubismo?

As características do cubismo incluem a decomposição de formas em planos geométricos, a utilização de um fundo abstrato e a exploração de novas formas de representação visual.

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Referências:

https://www.pablopicasso.org/

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/

https://www.metmuseum.org/




Revolução Francesa: Resumo, Fases da Revolução, Iluminismo
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Revolução Francesa: Resumo, Fases da Revolução, Iluminismo
O que foi a Revolução Francesa, formação do Estado Nacional da França, Iluminismo e Kant, causas da revolução francesa, consequências, Napoleão.

A Revolução Francesa foi um dos eventos históricos mais significativos da humanidade. Gerou impactos políticos e ideológicos em todo o ocidente. É tanto que o ano que marcou o seu início, 1789, foi utilizado pelos historiadores para estabelecer o início da Idade Contemporânea.

Ideais como liberdade, igualdade e fraternidade foram disseminados pela revolução, que resultou no esfacelamento da monarquia absolutista na França e na ascensão de princípios republicanos. Uma das maiores conquistas da Revolução Francesa foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que consolidou os direitos sociais e as liberdades individuais, sem distinção de classe social. Esse documento serviu de base para muitas constituições e declarações de direitos em diversos países, incluindo o Brasil.

Neste artigo, vamos mostrar como a Revolução Francesa, inspirada pelo pensamento moderno dos filósofos iluministas, abriu caminhos para a democracia representativa.

O que foi a Revolução Francesa?

A Revolução Francesa foi um movimento político que transformou a França de uma monarquia absolutista em uma república. Impulsionada por profundas desigualdades sociais, por uma crise financeira sem precedentes e pela influência dos ideais iluministas, a revolução culminou com o desmantelamento do sistema feudal que ainda prevalecia na França, bem como com a queda do absolutismo.

O processo revolucionário teve início quando o rei Luís XVI convocou os Estados Gerais no intuito de solucionar a crise que o país estava enfrentando. Na década de 1780, a população da França era dividida em estamentos: o Primeiro Estado, o Segundo Estado e o Terceiro Estado. Mas, apenas o Terceiro Estado pagava impostos. Formado por uma massa heterogênea de burgueses, camponeses e população urbana proletária, o Terceiro Estado representava mais de 90% dos cidadãos franceses. Insatisfeitos com a desigualdade social e com os privilégios concedidos ao clero e à nobreza, os representantes do Terceiro Estado vão desencadear a revolução.

O movimento durou cerca de 10 anos, período marcado por importantes momentos, como a Queda da Bastilha; a execução do rei Luís XVI e da rainha Maria Antonieta; a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e a morte de alguns dos principais líderes revolucionários, como Georges Danton e Maximilien Robespierre.

A Revolução Francesa, portanto, não foi um movimento homogêneo e linear, mas cheio de conflitos internos e internacionais, que culminaram com a ascensão de Napoleão Bonaparte. Está entre os principais eventos que mudaram a história das Relações Internacionais.

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Revolução Francesa Resumo

A Revolução Francesa foi um movimento radical que aconteceu na França, no final do século XVIII, marcado pelo fim da monarquia absolutista como modelo governamental do país. Durou 10 anos, que foram divididos em três fases: Monarquia Constitucional (1789-1792), Convenção Nacional (1792-1795) e Diretório (1795-1799).

No primeiro momento, houve a Tomada da Bastilha pelos revolucionários. A Bastilha era uma prisão política onde ficavam detentos os que se rebelavam contra a monarquia. Ainda na primeira fase, foi instituída a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e a Constituição de 1791.

A segunda fase é marcada pela abolição da monarquia e pela proclamação da República. É neste momento que o rei Luís XVI é decapitado e acontece o período do Terror, com execuções em massa.

Já no terceiro momento da revolução, a burguesia assume o poder e precisa lidar com as ameaças externas ao país. É quando acontece o golpe do 18 de Brumário e Napoleão Bonaparte assume o poder.

Causas da Revolução Francesa

A Revolução Francesa foi o ápice de um longo processo de mudanças políticas, sociais e econômicas que já vinham acontecendo há mais de um século na França. O país estava sob o reinado de Luís XVI, que possuía todo o poder e não conseguia administrar adequadamente as finanças públicas.

A alta nobreza e o clero, que detinham enormes privilégios, como a isenção de impostos, contribuíam para a falência do Estado, enquanto as classes populares, especialmente os camponeses e a crescente burguesia, suportavam a maior carga tributária. Esse sistema injusto gerava grande descontentamento, especialmente entre os mais pobres, que viviam em péssimas condições.

No cenário internacional, a França atrasada e feudal observava o exemplo da Inglaterra, que já estava vivendo a Revolução Industrial e dos Estados Unidos, que tinha se tornado independente da Inglaterra. Inclusive, a própria França havia enviado soldados para lutar ao lado dos colonos americanos pela independência.

Internamente, a população francesa enfrentava péssimas colheitas, invernos rigorosos e secas que estavam a levando à miséria. Esse caos financeiro e social culminou na convocação dos Estados Gerais em 1789, uma reunião extraordinária convocada por Luís XVI para tentar resolver a crise fiscal do país.

Contudo, o sistema de votação nos Estados Gerais, em que cada um dos três estados (clero, nobreza e o Terceiro Estado, formado pela burguesia, camponeses e outros grupos) tinha direito a um voto, mostrava-se extremamente desigual.

O Juramento do Jogo da Péla, de Jacques-Louis David (1791)
No dia 20 de junho de 1789, aconteceu o Juramento do Jogo da Péla, quando os membros do terceiro estado decidiram permanecer reunidos até a criação de uma Constituição para a França.


Embora o Terceiro Estado representasse mais de 90% da população, ele estava sempre em desvantagem, já que o clero e a nobreza, unidos, conseguiam derrubar suas propostas. Esse cenário gerou um sentimento de injustiça entre os representantes do Terceiro Estado, que, em resposta, proclamaram a Assembleia Nacional, afirmando que eram os verdadeiros representantes do povo francês. A partir deste momento, o movimento revolucionário começou a ganhar força. A situação se tornou ainda mais explosiva com a tomada da Bastilha, um símbolo do poder absoluto do rei, em 14 de julho de 1789, marcando o início da Revolução Francesa.

Esse processo de revolta contra a monarquia absoluta se deu em um contexto de crescente reflexão sobre os ideais iluministas, que defendiam a liberdade individual, a igualdade perante a lei e o governo baseado na soberania popular.

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Fases da Revolução Francesa

A Revolução Francesa pode ser dividida em três fases principais, cada uma marcada por transformações significativas no governo e na sociedade francesa.

FASES DA REVOLUÇÃO FRANCESA PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS
1ª Fase: Monarquia Constitucional (1789-1792) Formação da Assembleia Nacional e Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

Tomada da Bastilha (14/07/1789)

Aprovação da Constituição de 1791: monarquia constitucional e voto censitário
2ª Fase: Convenção Nacional (1792-1795) Proclamação da República e execução de Luís XVI (1793) Adoção do governo radical dos jacobinos, liderado por Robespierre

Período do Terror e medidas radicais (voto universal masculino, fim da escravidão, congelamento de preços)

Queda de Robespierre (1794)
3ª Fase: Diretório (1795-1799) Governo dos girondinos e revogação das medidas jacobinas

Crises internas e ameaças externas (Império Austríaco e Inglaterra)

Ascensão de Napoleão Bonaparte e Golpe do 18 de Brumário (1799)




Iluminismo: A Influência dos Pensadores

Quadro A Morte de Marat (1793), de Jacques-Louis David
A pintura mostra o revolucionário jacobino Jean-Paul Marat, assassinado em casa em 13 de julho de 1793, por Charlotte Corday


O Iluminismo foi uma corrente filosófica que floresceu no século XVIII na Europa, cujas ideias se expandiram por todo o Ocidente. O Iluminismo, também conhecido como Ilustração ou Esclarecimento, propunha uma nova maneira de interpretar o mundo, com ênfase na razão, no conhecimento científico, no antropocentrismo e nos direitos individuais.

As ideias do movimento desafiavam as tradições dogmáticas da Igreja Católica e os poderes absolutistas da monarquia. Portanto, os preceitos iluministas tiveram impacto direto na Revolução Francesa, fornecendo as bases ideológicas para as transformações políticas e sociais que iriam acontecer na França.

Entre os filósofos iluministas, nomes como Jean-Jacques Rousseau, Voltaire e Montesquieu destacaram-se por suas ideias a respeito de igualdade, liberdade e fraternidade, que mais tarde se tornaram o lema da Revolução Francesa.

Rousseau, em sua obra O Contrato Social, argumentou que a soberania deveria residir no povo e não em uma monarquia absoluta. Ele defendia a ideia de um contrato social, onde os cidadãos, ao se unirem, criariam uma vontade geral que deveria guiar a sociedade. Suas ideias sobre liberdade e igualdade social tiveram um grande impacto nas revoltas contra os privilégios da nobreza e do clero.

Montesquieu, em O Espírito das Leis, propôs a separação dos poderes em executivo, legislativo e judiciário, uma ideia que permanece viva até hoje nas repúblicas democráticas.

Já Voltaire criticava a intolerância religiosa e o absolutismo monárquico, defendendo a liberdade de expressão e a separação entre Igreja e Estado. Seus escritos ajudaram a incitar um espírito de questionamento da autoridade, que se refletiu na oposição popular ao regime monárquico francês.

Immanuel Kant e o Iluminismo

Um dos principais pensadores iluministas foi Immanuel Kant, filósofo alemão que teve um papel decisivo no desenvolvimento da filosofia moderna.

Em O Que é o Esclarecimento? (1784), um dos textos fundamentais para compreender o Iluminismo, Kant responde à pergunta que dá título à obra, explicando o conceito de "esclarecimento" e sua importância para a humanidade. Esse trabalho reflete e sintetiza muitos dos princípios centrais do movimento iluminista.

No texto, Kant define o esclarecimento como o processo de libertação da humanidade da "auto-imposta tutela", ou seja, da incapacidade de pensar por si mesma. Ele escreve que “o esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele mesmo é culpado.”

Essa menoridade seria a condição de dependência intelectual, onde os indivíduos aceitam dogmas, tradições e autoridades sem questionamento. A tutela é imposta pela falta de coragem para usar a própria razão de forma independente, muitas vezes devido ao medo ou à preguiça.

Kant acreditava que o Iluminismo era a saída da humanidade de sua "menoridade", ou seja, a superação do estado de dependência intelectual e política. Ele afirmava que as pessoas deveriam usar sua razão para questionar a autoridade e a tradição, defendendo a autonomia e a liberdade de pensamento.

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Consequências da Revolução Francesa

Os ideais da Revolução Francesa tiveram um impacto duradouro, não apenas na França, mas em todo o mundo. Os princípios que floresceram durante o processo revolucionário marcaram o fim de séculos de monarquia absoluta e feudalismo. A revolução alterou a estrutura política e social da França e inspirou movimentos revolucionários e de independência em várias partes do mundo, especialmente na Europa e nas Américas. A ascensão do capitalismo, a queda do absolutismo e a introdução de direitos humanos fundamentais são apenas algumas das consequências que ecoam até os dias de hoje.

Principais Consequências da Revolução Francesa:

  • Disseminação dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade
  • Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, afirmando os direitos individuais
  • Abolição dos privilégios da nobreza e do clero
  • Fortalecimento do conceito de direitos humanos e cidadania
  • Fim do absolutismo e início da consolidação de regimes republicanos
  • Fim do feudalismo e fortalecimento do capitalismo
  • Inspiração para movimentos de independência nas Américas
  • Separação entre os poderes executivo, legislativo e judiciário
  • Propagação do conceito de nacionalismo, com bandeiras nacionais, hino, idioma oficial



A Influência da Revolução Francesa na Independência do Brasil

No início do século XIX, as ideias republicanas ganharam força no Brasil, influenciadas pela Revolução Francesa e pelas transformações políticas na Europa e nas colônias americanas. A Revolução Francesa serviu como modelo para aqueles que desejavam uma sociedade sem a monarquia absolutista, como a que existia sob Dom Pedro I. Em 1822, Dom Pedro I proclamou a independência do Brasil, tornando-se imperador. No entanto, a insatisfação com o governo imperial cresceu ao longo das décadas, e, em 1889, movimentos republicanos culminaram na Proclamação da República, com a deposição de Dom Pedro II e o fim da monarquia, dando início a um novo regime republicano baseado nos valores de liberdade e igualdade.

Conclusão

A Revolução Francesa foi um marco decisivo na história mundial, cujas transformações políticas, sociais e ideológicas impactaram profundamente a França e reverberaram por todo o Ocidente. Introduziu novos ideais, que foram fundamentais para a construção de sociedades democráticas. Portanto, compreender o passado nos ajuda a saber o que somos e o que podemos nos tornar. Entender as consequências amplas da Revolução Francesa nos permite reconhecer as lutas e conquistas que formaram as bases das sociedades democráticas atuais.

Filmes para Entender a Revolução Francesa

A Revolução Francesa é tema de diversos filmes que abordam suas complexidades e impactos históricos. Alguns exemplos incluem:

  1. Danton - O Processo da Revolução (1983)
  2. Cartaz filme 'Danton - Processo da Revolução, de Andrzej Wajda

    Dirigido por Andrzej Wajda, o filme retrata o retorno do revolucionário Georges Danton (Gérard Depardieu) a Paris em 1794, no auge do clima de terror liderado por Robespierre. Danton, que inicialmente lutou pela revolução, agora se vê perseguido pelas mesmas forças que ajudou a instaurar.

  3. A Revolução em Paris (2018)
  4. Cartaz do filme 'A Revolução em Paris', de Pierre Schoeller

    Dirigido por Pierre Schoeller, o filme se passa em 1789, mostrando a crescente insatisfação popular contra a monarquia de Luís XVI. A história acompanha personagens comuns e figuras históricas, destacando a luta por justiça e igualdade.

  5. Maria Antonieta (2006)
  6. Cartaz do filme 'Maria Antonieta', de Sofia Coppola

    Dirigido por Sofia Coppola e estrelado por Kirsten Dunst, o filme narra a história da princesa austríaca Maria Antonieta, que, ao chegar à corte de Versalhes para casar com Luís XVI, busca escapar das rígidas regras da monarquia, enquanto a Revolução Francesa se aproxima e ameaça o futuro da monarquia.

Perguntas Frequentes sobre a Revolução Francesa

O que foi a Revolução Francesa?

A Revolução Francesa foi um movimento social e político iniciado em 1789, que derrubou a monarquia absolutista na França, estabeleceu a República e promoveu ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.

Quais foram os principais resultados da Revolução Francesa?

A Revolução Francesa resultou na queda da monarquia, na implementação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, e na criação de um novo regime republicano, que inspirou outras revoluções ao redor do mundo.




Referências:

https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/473/cinco-eventos-que-mudaram-a-historia-das-relaces-internacionais

https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2024/09/qual-foi-a-origem-da-revolucao-francesa