Se você busca um resumo sobre o antropocentrismo, seus conceitos, ideias, além de um aporte sobre qual visão essa corrente defende, está no lugar certo. Ao longo desse artigo, vamos destrinchar o tema a partir do seguinte guia:
De forma geral, podemos definir o antropocentrismo como um conceito filosófico que acredita na importância e preponderância do potencial humano, principalmente em comparação às demais coisas que compõem o universo.
Ou seja, tem como objeto de estudo o ser humano, compreendendo-o como um ser dotado de inteligência e que, por isso, é capaz de usar a razão para explicar o cosmos, a vida e os elementos que estão ao seu redor.
Trata-se de uma visão de mundo que usa o “homem” como principal referencial, ou que interpreta a realidade sob uma perspectiva dos valores, feitos e experiências humanas.
Qual o conceito de antropocentrismo e como ele influenciou a Filosofia Moderna?
Para compreender o que é o antropocentrismo é necessário, primeiro, saber sobre quais bases essa filosofia foi desenvolvida.
A visão antropocêntrica está associada diretamente à queda da Idade Média, da acepção medieval de mundo e do referencial predominante à época - o teocentrismo. Enquanto este acreditava em uma realidade totalmente orientada por e para Deus, advindo daí o termo "teo (Deus) + centrismo (centro)", o antropocentrismo propunha uma crítica direta a tal modelo.
Dessa forma, utilizava o "homem" como seu ponto de partida para a compreensão do universo, explicando os fenômenos cosmológicos e naturais não mais pela lógica da fé, mas sim pela racionalidade.
Assim, podemos definir o antropocentrismo como uma visão de mundo racionalista e científica, que tem o ser humano como figura central, priorizando a experimentação como seu método oficial de checagem dos fatos.
Quando surgiu o antropocentrismo?
O antropocentrismo foi estruturado em meados do século XV e XVI, enquanto a Europa passava por grandes transformações, tais quais as navegações, a reforma protestante, o surgimento da burguesia, entre outros marcos históricos que indicavam a ruptura do sistema feudal com a passagem para a dinâmica mercantil/capitalista.
Na prática, o conceito filosófico fez parte do movimento humanista renascentista, que buscava incentivar a reflexão a partir da cientificidade, afastando-se diametralmente da crença de uma realidade condicionada às vontades de uma divindade.
Por fazer tal crítica ao teocentrismo e por estabelecer novos caminhos para a filosofia moderna em geral, o antropocentrismo influenciou significativamente o desenvolvimento de diversas áreas do conhecimento, como as ciências naturais, a política e a arte.
Esse pensamento voltado ao ser humano foi essencial para a consolidação do racionalismo, abrindo espaço, inclusive, para que outras escolas filosóficas importantes prosperassem, como o empirismo e o iluminismo. Ambas valorizavam a razão e a experiência humana como fontes de conhecimento, adequando suas pautas aos ideais antropocêntricos.
Assim, a partir da sistematização do antropocentrismo, a sociedade ocidental passou a se organizar de modo a objetivar o progresso humano, o desenvolvimento tecnológico e a exploração dos recursos naturais para benefício da humanidade e do seu avanço.
Nesse contexto, a subordinação a uma ordem divina foi abdicada, ao passo que outras fontes de verdade, que não aquelas dispostas nas liturgias religiosas, passaram a ser consideradas legítimas.
Ainda que a fé continuasse como parte constitutiva da realidade da época, não sendo deixada de lado, o antropocentrismo possibilitou que a realidade também fosse confrontada com a racionalização.
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Diferença entre teocentrismo e antropocentrismo
Tanto o antropocentrismo quanto o teocentrismo desempenharam papeis fundamentais na formação do pensamento ocidental ao longo dos séculos, mas diferem-se essencialmente em seu ponto de partida para interpretar a realidade.
No teocentrismo, Deus é o centro absoluto e ocupa uma posição de superioridade hierárquica em relação a todas as outras coisas no universo, sendo a divindade a única fonte legítima para explicar o mundo natural e a vida humana. Essa visão teocêntrica foi amplamente promovida pela Igreja Católica durante a Idade Média, reforçando sua autoridade e influência sobre a sociedade.
Com o surgimento do antropocentrismo, porém, a centralidade foi transferida do divino para o ser humano, destacando a racionalidade e a experimentação científica como as principais formas de interpretar a realidade.
Aspectos | Teocentrismo | Antropocentrismo |
---|---|---|
Conceito | Visão de mundo que coloca Deus como o centro de tudo, sendo a divindade a fonte de explicação do universo e da vida humana. | Perspectiva filosófica que coloca o ser humano como o centro do universo, explicando a realidade a partir da racionalidade e da experiência humana. |
Período | Predominou durante a Idade Média (séculos V-XV). | Surgiu no Renascimento (séculos XV-XVI), com forte influência nas eras subsequentes. |
Fundamentos | Explicação dos fenômenos a partir da fé e das escrituras sagradas. | Busca pela explicação científica, racional e metodológica dos fenômenos. |
Figura central | Deus e as divindades. | O ser humano, com ênfase em sua capacidade de raciocínio. |
Relação com a ciência | A ciência subordinada à teologia e aos dogmas religiosos. | A ciência desvinculada da religião, centrada na observação, experimentação e raciocínio lógico. |
Expoentes | Santo Agostinho (354-430), Tomás de Aquino (1225-1274). | Leonardo da Vinci (1452-1519), Nicolau Copérnico (1473-1543), René Descartes (1596-1650). |
O filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804 - 1872), em sua crítica às religiões e ao teocentrismo, sugeria que ambos os paradigmas não seriam necessariamente opostos, mas sim duas faces de uma mesma moeda.
Para ele, as religiões teriam sido criadas para atender às necessidades humanas, funcionando como uma projeção dos anseios e fragilidades do ser humano.
Nesse sentido, mesmo o teocentrismo, que colocava Deus no centro, serviria indiretamente ao homem oferecendo consolo e explicações que ajudassem a minimizar suas angústias existenciais.
Contudo, a maioria dos estudiosos e a visão comum tendem a interpretar o antropocentrismo e o teocentrismo como entendimentos contrastantes, alicerçados nas diferenças evidenciadas na tabela acima.
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Resumo do Antropocentrismo em 10 tópicos
Para sistematizarmos o conhecimento, vamos compreender o que é o antropocentrismo por meio de um resumo do que apresentamos até aqui.
Dizemos, assim, que o antropocentrismo refere-se à uma visão e a um conjunto de ideias que tem o ser humano como seu referencial de compreensão de mundo.
É uma das principais críticas ao teocentrismo, tendo como objetivo a observação das relações humanas, sociais e naturais a partir da racionalidade, da cientificidade e da experimentação.
Ao promover essa ruptura com a perspectiva teocêntrica, o antropocentrismo se tornou um pilar fundamental do pensamento moderno, moldando disciplinas como a ciência, a política, a filosofia e a ética.
Antropo (homem) + centrismo (centro).
Assim:
- É estruturado em meio à queda da Idade Média, do sistema feudal e da crise do teocentrismo (séculos XV e XVI);
- Faz parte do humanismo renascentista e tem na figura de Nicolau Copérnico um de seus marcos criadores;
- Prioriza o ser humano como figura central;
- Distancia-se da visão de mundo subordinada às vontades de uma divindade e das escrituras religiosas (teocentrismo);
- Difunde o pensamento científico, tecnicista e metodológico;
- Propõe uma perspectiva na qual o ser humano é o ponto central.
- Marca o início da Idade Moderna e também do sistema econômico mercantil (capitalista).
- Impactou as artes e as culturas, refletindo em uma produção artística que se preocupava com a representação do corpo humano, das perspectivas geométricas e do indivíduo como centro das obras.
- Influenciou um novo olhar para a ética e a moral, assim como a filosofia moderna, afastando esses conceitos dos preceitos religiosos de bom e ruim, bem e mal.
- Foi abordado por diversas áreas para além da filosofia, utilizado, inclusive, como discurso de justificação para a exploração dos recursos naturais e do meio ambiente.
Dicionário Michaelis
antropocentrismo
an·tro·po·cen·tris·mo
sm
Filos, Rel Sistema filosófico ou crença religiosa que considera o homem como o fato central ou mais significativo do Universo ou, ainda, como objetivo último de toda a realidade.
Qual a principal ideia do antropocentrismo?
A principal ideia do antropocentrismo é a valorização do ser humano como o centro de todas as coisas.
O homem deixa de ser um espectador passivo dos desígnios divinos, tornando-se um agente ativo da busca pelo conhecimento e da transformação da realidade.
Para isso, utiliza a inteligência e a razão, desenvolvendo condições ideias para que as diversas hipóteses acerca do que ocorre à nossa volta sejam empiricamente testadas e validadas.
Além disso, estabelece uma crítica robusta ao teocentrismo e aos ideais da Igreja Católica, assim como é um dos grandes marcos da filosofia moderna, das ciências, artes, cultura, entre outros campos.
Qual é a visão antropocêntrica?
A visão antropocêntrica é fundamentada na crença de que o ser humano ocupa uma posição privilegiada no universo, dotado de inteligência e racionalidade para moldar e transformar seu ambiente.
Nessa perspectiva, a humanidade não é mais subjugada por forças místicas ou divinas, mas, sim, torna-se o centro da reflexão filosófica, científica e moral.
Críticas modernas e as controvérsias do antropocentrismo
Ainda que o modelo antropocêntrico tenha guiado significativamente a filosofia ocidental, a necessidade de uma nova relação entre a humanidade e a natureza, na qual não há mais a sobreposição da primeira à segunda, propicia o debate acerca da sua falibilidade.
Na prática, o crescimento da consciência ecológica moderna, as urgências climáticas constantes e as questões ambientais refletem também na reavaliação das bases antropocêntricas e na proposição de outros paradigmas, tais quais o biocentrismo - uma visão mais holística e inclusiva, que reconhece a importância de todos os seres vivos e da natureza como um todo.
O biocentrismo questiona a centralidade do ser humano e defende que a natureza e o meio ambiente possuam acesso à dignidade e proteção, sendo sujeitos de direitos em sua própria essência.
Tal mudança de referencial é exemplificada, por exemplo, na Constituição do Equador de 2008 - a primeira do mundo a reconhecer a natureza como sujeito de direitos, equiparando-a à dignidade humana.
Além disso, as críticas contemporâneas ao antropocentrismo não se limitam apenas à sua visão restrita sobre a natureza, como também apontam para a sua origem e implicações sociais.
Em muitos de seus desdobramentos, o antropocentrismo é frequentemente associado a uma perspectiva eurocêntrica, que privilegia a experiência e a visão de mundo do "homem europeu", deslegitimando outras culturas, etnias, gêneros e formas de vida.
Por isso, as perspectivas que têm emergido nos últimos anos representam um convite à construção de novos modelos e conceitos que priorizam a sustentabilidade, a justiça social e o respeito mútuo.
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Referências:
DAITX, Vanessa Vitcoski. O ensino de ciências e a visão antropocêntrica. 2010. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Biociências, Comissão de Graduação do Curso de Ciências Biológicas, Porto Alegre, 2010. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/35277#:~:text=O%20antropocentrismo%20consiste%20na%20vis%C3%A3o,n%C3%A3o%20sustent%C3%A1vel%20dos%20recursos%20naturais Acesso em: 20 out. 2024.