Psicanálise

Confira artigos, dicas de leituras e reflexões sobre Psicanálise. Fique à vontade, a Casa é sua!
O que é narcisismo? Entenda a partir da teoria de Freud
This is some text inside of a div block.
O que é narcisismo? Entenda a partir da teoria de Freud
Você é uma pessoa narcisista? Entenda o que é narcisismo, suas características e conheça o Mito de Narciso através da psicanálise e da obra de Freud.

Vamos percorrer neste texto algumas ideias de Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, que fez contribuições fundamentais para a compreensão do narcisismo.

Freud explorou como o narcisismo se relaciona ao desenvolvimento do eu e à formação da identidade, discutindo a transição entre o amor próprio e o amor aos outros. Suas reflexões sobre a libido e as fases do desenvolvimento infantil estão intrinsecamente ligadas à constituição do sujeito. Através de conceitos como o "narcisismo primário", "narcisismo secundário" e "libido", Freud lançou as bases para o entendimento contemporâneo desse fenômeno.



O que é o mito de Narciso?

O mito de Narciso, oriundo da mitologia grega, narra a trágica trajetória de um jovem de beleza ímpar, filho da ninfa Liríope e do deus do rio Céfiso. Segundo a narrativa, Narciso, ao se inclinar para beber água, se depara com sua própria imagem refletida e, em um ato de deslumbramento, se vê tragicamente consumido por uma obsessão por sua beleza.

Depois desse apaixonamento pela sua imagem, ele se torna surdo à Eco, uma ninfa que estava apaixonada por ele, e não corresponde essa paixão. Narciso então é tragado pela sua própria imagem refletida no lago e morre afogado. E é a partir do mito de narciso que Freud propõe um modelo para entender o que seria a origem do Eu.

banner 'Ebook Guia para Entender o Inconsciente '

O que é narcisismo para a psicanálise?

O conceito de narcisismo possui características que divergem significativamente do que é geralmente discutido no senso comum, conforme descreveu Freud no artigo de 1914 Introdução ao Narcisismo:

"O narcisismo não seria uma perversão, mas o complemento libidinal do egoísmo do instinto de autoconservação, do qual justificadamente atribuímos uma porção a cada ser vivo" (FREUD, 2010/1914, p. 15)

Para Freud, o narcisismo é uma etapa crucial no desenvolvimento do eu, representando a transição do autoerotismo — onde o prazer é centrado no próprio corpo — para a escolha de outro ser como objeto de amor. Neste estágio, o indivíduo ainda não se distingue plenamente das demais pessoas e do mundo ao seu redor, refletindo uma fase em que a identificação com o eu é predominante.

Investimento libidinal e objeto

É importante observar que na teoria psicanalítica:

  • Investimento libidinal: refere-se à canalização da energia psíquica, ou libido, para objetos ou aspectos da realidade, como pessoas, ideias ou o próprio eu.
  • Objeto: é empregado para designar pessoas ou coisas do ambiente externo, do mesmo modo, a relação de objeto consiste na maneira que o sujeito lida com o mundo exterior.


Narcisimo Primário e Narcisismo Secundário

Assim, para a psicanálise, narcisismo é compreendido como um investimento libidinal no próprio eu, essencial para a formação dele. Esses investimentos necessitam ser direcionados para outros objetos, para o mundo exterior, ou seja, o sujeito precisa fazer investimentos que vão para além de si. Como diz Freud “ É preciso amar para não adoecer" (FREUD, 2010/1014, p. 29) .

A teoria freudiana divide o narcisismo em duas partes, sendo narcisismo primário e narcisismo secundário.

Narcisismo primário Seria o estado precoce em que a criança investe toda a sua libido em si mesma. Essa é a fase do desenvolvimento que a libido está dirigida ao próprio eu. Pode-se dizer que é o reservatório da libido, para onde ela faz o seu retorno, trabalhando no autoerotismo.
Narcisismo secundário Aqui é quando a libido não está somente no eu, ela passa a ir em direção aos objetos externos, porém, acontece o fracasso da pulsão ao tentar obter satisfação por meio de objetos externos, levando o sujeito a novamente redirecionar essa energia para o próprio eu. É quando acontece um recolhimento dos investimentos objetais.


A escolha objetal para Freud

Ainda no mesmo texto, Freud descreve um breve sumário dos caminhos para a escolha de objeto, onde diz que uma pessoa pode amar (FREUD, 2010/1914: p. 36):

Conforme o tipo narcísico:

  • o que ela mesma é (a si mesma),
  • o que ela mesma foi,
  • o que ela mesma gostaria de ser,
  • a pessoa que foi parte dela mesma.

Em contrapartida, ao tipo de escolha narcísica, a escolha anaclítica pode recair sobre:

Conforme o tipo “de apoio”:

  • a mulher nutriz,
  • o homem protetor


A escolha anaclítica é vista como uma forma de projetar necessidades afetivas em outras pessoas que pode caracterizar esse tipo de amor. Essa escolha se contrasta com o amor narcísico, onde a própria pessoa é tomada como modelo e a escolha é segundo a sua imagem e semelhança. Cabe dizer que os dois tipos de escolha estão, ao mesmo tempo, presentes no sujeito.

Retrato de Freud feito por Salvador Dali
Sigmund Freud (1938) | Salvador Dali
Retrato de Freud feito por Salvador Dali



O que é uma pessoa narcisista?

O narcisismo é uma fase necessária da evolução da libido, antes que o sujeito se volte para um objeto sexual externo. É o que estrutura da subjetividade, é um aspecto da condição humana, assim, de algum modo, todos são narcisistas, pois todo sujeito possui uma porção de libido que pode ser investida em si mesmo e para outros objetos. Ela é investida parcialmente nos objetos e parcialmente no eu.


Em suma, pode-se dizer que todos possuem narcisismo, tendo em vista que ele atua como uma forma de organização para o sujeito, garantindo a própria preservação dele. Com isso pode-se afastar a ideia de estigmas associados a comportamentos considerados excessivamente egocêntricos ou vaidosos, pois o narcisismo é um investimento do sujeito em si mesmo.

Assim o narcisismo é importante para a psicanálise tendo em vista que nos estágios iniciais da vida, não se percebe os objetos como algo externo, gradativamente ao longo dos primeiros meses é que o infante aprende a se distinguir de outros objetos. Até aqui pode-se perceber que uma pessoa sem narcisismo seria uma pessoa com uma grave questão, tendo em vista que ela não teria empatia e não conseguiria se identificar com os objetos externos.




Como se aprofundar nos estudos sobre narcisismo?

O conceito de narcisismo é fundamental na psicanálise e, além disso, requer uma análise cuidadosa. Para aprofundar-se, é fundamental investigar a obra de Freud, que estabelece as bases teóricas do narcisismo e suas implicações no desenvolvimento do eu.

É recomendada a leitura de textos clássicos, como Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905), Introdução ao Narcisismo (1914), Luto e Melancolia (1917 [1915]). Jacques Lacan também teorizou sobre o tema no O Seminário 1 - Os Escritos Técnicos de Freud - Jacques Lacan e no escrito O Estádio do Espelho como Formador da Função do Eu.

Assistir aos cursos de psicanálise da plataforma da Casa do Saber é extremamente importante, também para se aprofundar no conceito de narcisismo.

Aqui vão 2 cursos essenciais para entender a teoria do narcisismo:





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, Sigmund. Introdução ao Narcisismo (1914). Companhia das Letras: São Paulo, 2010.

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Zahar: Rio de Janeiro, 1985.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.







Neurose, psicose e perversão: qual a diferença?
This is some text inside of a div block.
Neurose, psicose e perversão: qual a diferença?
Saiba diferenciar as estruturas psíquicas neurose, psicose e perversão e identifique os seus sintomas pela teoria de Freud sobre as origens inconscien

A compreensão de neurose, psicose e perversão é fundamental para entender os conceitos centrais da teoria psicanalítica. Essas estruturas clínicas descrevem diferentes maneiras pelas quais o sujeito se relaciona com o mundo externo. Neste artigo, vamos explorar as principais diferenças entre neurose, psicose e perversão, suas origens e nas manifestações clínicas.

banner 'Ebook Guia para Entender o Inconsciente '

Neurose: conflito e recalque

É uma estrutura clínica que os sintomas manifestados funcionam como uma expressão simbólica de um conflito psíquico subjacente, cujas raízes podem ser rastreadas na história infantil do indivíduo. Esse conflito origina-se de um compromisso entre os desejos inconscientes e os mecanismos de defesa, os quais buscam mitigar o impacto do desejo reprimido ou não realizado. Esse fenômeno é muitas vezes interpretado como um reflexo de tensões internas não resolvidas, que emergem na forma de distúrbios psicológicos ou somáticos.

Na estrutura neurótica, encontram-se dois possíveis diagnósticos que auxiliam o psicanalista na direção do tratamento, a histeria e a neurose obsessiva. Ambas representam características e sintomas específicos e se distinguem pelos mecanismos de defesa e por maneiras particulares de manifestação do conflito psíquico.

Histeria As duas formas sintomáticas mais comuns da histeria são a histeria de conversão e a histeria de angústia. Na histeria de conversão, o conflito psíquico se manifesta por meio de sintomas corporais diversos, que podem ter um caráter mais exacerbado. Já na histeria de angústia, a angústia tende a se fixar em um objeto específico do mundo externo, resultando em fobias. Mesmo na ausência de sintomas evidentes, como fobias ou conversões físicas, a especificidade da histeria está ligada a certos mecanismos psicológicos, especialmente o recalque (muitas vezes perceptível), e à predominância de determinadas identificações. Além disso, a histeria está profundamente associada ao conflito edipiano, com seus desdobramentos nos registros libidinais fálico e oral, que desempenham um papel central na dinâmica emocional do sujeito.
Neurose Obsessiva Nessa condição, o conflito psíquico manifesta-se por meio de sintomas compulsivos, como pensamentos obsessivos, a compulsão para realizar atos indesejados, resistência interna a essas tendências, rituais repetitivos, entre outros. Além disso, um traço distintivo desse tipo de neurose é a predominância de um modo de pensar caracterizado pela ruminação mental, pela dúvida constante, pelos escrúpulos, o que frequentemente resulta em inibições tanto do pensamento quanto da ação. Freud, ao longo do tempo, foi refinando sua definição das neuroses obsessivas, considerando suas manifestações e origens psíquicas, com ênfase nos conflitos inconscientes que geram essas condições.



Os sintomas neuróticos são, muitas vezes, uma representação simbólica de conflitos não resolvidos. São manifestações de uma luta interna entre o desejo e as exigências do mundo externo, ou seja, uma expressão de um desejo que não pode ser satisfeito diretamente e com isso se instaura o sintoma como uma formação de compromisso entre essas forças conflitantes.

O que é psicose: a perda de contato com a realidade

Para Freud, a psicose se caracteriza por uma ruptura fundamental entre o sujeito e a realidade externa, indo além de simples sintomas de sofrimento psíquico, como ocorre nas neuroses. A principal distinção entre a psicose e a neurose, segundo Freud, é que o psicótico não possui a capacidade de reconhecer sua distorção da realidade. Enquanto o neurótico é capaz de perceber a disfunção de seus pensamentos e emoções, o psicótico vivencia um mundo completamente alterado, frequentemente marcado por delírios e alucinações.

Freud via a psicose como uma reconstrução inconsciente de uma realidade delirante ou alucinatória, onde o sujeito, isolado em sua própria interpretação do mundo, perde a conexão com a experiência compartilhada pela sociedade. Nesse sentido, a psicose foi entendida como uma reorganização psíquica que busca substituir a realidade externa por uma versão interna.

Afinal, o que é loucura?

O que a ideia de “normalidade” realmente significa? A psicanálise, desde seu início, desafia a ideia de “normalidade” como uma condição vista como “natural” do ser humano, e apresenta uma concepção mais nuançada dessa ideia. O professor, psiquiatra e psicanalista Marcelo Veras desvenda esses pensamentos no curso Somos Todos Loucos? De Perto, Ninguém é Normal.

Assista ao curso de Marcelo Veras na Casa do Saber




O que é perversão: desejo e transgressão

Freud reformula a concepção de perversão, distanciando-a das interpretações populares que a viam como um simples desvio da norma socialmente estabelecida. Embora a palavra "perversão" já fosse utilizada antes de Freud para descrever comportamentos que se afastavam do que era considerado sexualmente normal ou aceitável em uma determinada sociedade, Freud atribui a essa noção um significado mais profundo, relacionado aos processos inconscientes da pulsão. Para ele, a perversão não é apenas um desvio do comportamento socialmente esperado, mas um desvio da própria pulsão, que, em vez de alcançar o objeto tradicional de desejo, se desvia para outras formas de satisfação.

Ele também articula a perversão dentro de uma estrutura clínica mais ampla. Nesse contexto, a perversão é associada à maneira como o sujeito lida com a castração, um conceito fundamental na psicanálise. Ao contrário da neurose e da psicose, onde a castração é enfrentada de outras formas, a perversão é uma maneira de negar a castração. Essa negação não é uma simples rejeição, mas um modo de estruturar a sexualidade de forma a evitar o reconhecimento da falta, substituindo-a por uma busca incessante por objetos que permitam uma satisfação contínua, muitas vezes sem finalização.




Como aprender mais sobre a teoria psicanalítica

Se você se interessa em compreender melhor os complexos conceitos de neurose, psicose e perversão, fundamentais para a psicanálise, uma excelente maneira de aprofundar seus conhecimentos é através de um estudo estruturado e guiado.

Além disso, a Casa do Saber + e o Programa + Psicanálise oferecem cursos que constituem uma excelente oportunidade para aprofundar o entendimento de outros conceitos essenciais da psicanálise. Esses cursos são cuidadosamente estruturados para proporcionar uma análise aprofundada e uma discussão instigante, permitindo aos participantes explorar as complexidades e as implicações teóricas da psicanálise de forma mais ampla e detalhada.

Resumo sobre neurose, psicose e perversão

A neurose, envolve os sintomas de angústia, compulsões e conflitos inconscientes; a psicose é caracterizada pela perda de contato com a realidade, e a perversão, envolve desvios da pulsão e a negação da castração.




Referências Bibliográficas:

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

Id, Ego e Superego: Entenda os Conceitos de Freud na Psicanálise
This is some text inside of a div block.
Id, Ego e Superego: Entenda os Conceitos de Freud na Psicanálise
Descubra a estrutura da mente segundo a teoria de Freud sobre o Id, Ego e Superego. Veja como influenciam o nosso comportamento e personalidade.

Entre os conceitos centrais da teoria psicanalítica destacam-se o "Eu", o "Isso" e o "Supereu", que representam diferentes instâncias do aparelho psíquico formulado por Freud. Neste artigo, exploraremos o significado e a função de cada um desses.

Eu, Isso e Supereu

Antes de começarmos, é importante abordar uma questão de estilo na tradução dos termos freudianos. No original alemão, as palavras "Ich", "Es" e "Über-Ich" correspondem, respectivamente, a "eu", "isso" e "supereu" em português. Embora expressões como "id", "ego" e "superego" apareçam em algumas traduções da América Latina, elas não estão tão alinhadas com a escrita de Freud.

Embora esses termos se refiram às mesmas instâncias do aparelho psíquico, podem gerar pequenas variações na terminologia, mantendo, no entanto, o significado essencial. Neste texto, utilizaremos "Eu", "Isso" e "Supereu", por serem mais consistentes ao postulado freudiano.

banner 'Ebook Guia para Entender o Inconsciente '

Nesse texto veremos:



Primeira e Segunda Tópica Freudiana

Os conceitos de consciente, pré-consciente e inconsciente são essenciais para entender a estrutura do aparelho psíquico na teoria psicanalítica, integrando a primeira tópica freudiana, formulada em 1900. Vale destacar que essas instâncias não correspondem a locais específicos no aparelho psíquico. No período de 1920 a 1923, Freud revisa sua teoria, introduzindo novas compreensões sobre o aparelho psíquico e apresenta os conceitos de Eu, Isso e Supereu. É importante notar que Freud não substitui a primeira tópica pela segunda, mas as articula de maneira complementar. Assim, consciente, inconsciente e pré-consciente continuam presentes na segunda tópica, enriquecendo a compreensão dos conceitos de Eu, Isso e Supereu.

banner curso freud e as fantasias, por Ricardo Salztrager

Inconsciente, Pré-consciente e Consciente

  • Inconsciente - Os conteúdos recalcados localizam-se no inconsciente, onde podem aparecer para o sujeito em momentos bem específicos. Essa instância psíquica possui uma linguagem própria e não se orienta pelo tempo cronológico. O inconsciente se revela por meio de sonhos, atos falhos e sintomas. O termo "inconsciente" diz respeito ao que está além do nosso conhecimento. Quando Freud afirma que possuímos um inconsciente, ele sugere que não temos uma compreensão total de nós mesmos.
  • Consciente - Um estado psíquico que reflete a localização de processos fundamentais do aparelho psíquico, englobando o que estamos conscientes no presente momento. Esse estado opera em conformidade com as regras sociais, levando em consideração o tempo e o espaço. Assim, é através dele que o sujeito estabelece sua relação com o mundo externo.
  • Pré-consciente - Funciona como uma barreira permeável entre o inconsciente e o consciente. O pré-consciente abrange conteúdos que podem ser acessados mais facilmente pela consciência, mas que não permanecem nela de forma permanente.

foto de freud segurando um charuto
Sigmund Freud


Eu, Isso e Supereu

Em 1923, Freud estabeleceu uma nova estrutura para o entendimento do aparelho psíquico. Anteriormente, como já vimos, sua abordagem se baseava na distinção entre inconsciente, consciente e pré-consciente. Com a introdução dessas novas noções, Freud não apenas enriqueceu a compreensão do funcionamento psíquico, mas também promoveu uma dialética entre as diferentes instâncias, evidenciando como elas interagem e se influenciam mutuamente.

Eu Refere-se à instância psíquica que mediatiza as pressões do Isso, as ordens do Supereu e as exigências da realidade externa. O desenvolvimento do Eu ocorre através do processo de identificação do bebê com o mundo exterior, funcionando como um espelho que reflete o que ele é e como deve se comportar. Essa formação é um resultado direto das interações sociais e das representações que os outros têm sobre ele. Ao entrar em contato com a realidade, o Eu se define o resultado dessas identificações.

Freud destaca que o Eu atua como representante da realidade, buscando uma dominação sobre as pulsões, substituindo o princípio de prazer pelo princípio da realidade. Compreende-se, portanto, que o Eu possui tanto uma dimensão consciente quanto inconsciente, e não é uma instância inata, mas sim uma construção que emerge a partir das interações sociais. Essa instância recalcadora introduz, assim, o princípio da realidade na vida psíquica do indivíduo.
Supereu O Supereu, conforme descrito por Freud, é uma instância psíquica que possui tanto uma dimensão consciente quanto uma inconsciente. Ele se caracteriza pelo ideal do eu, que abrange as expectativas de desempenho do sujeito e as ordens morais internalizadas. Essa estrutura é formada por influências da moralidade, dos bons costumes, da religião e dos valores transmitidos pelos cuidadores durante a infância.

Tradicionalmente, o Supereu é visto como o herdeiro do complexo de Édipo, configurando-se a partir da interiorização das exigências e interdições parentais. Essa instância abrange tanto as funções de proibição quanto as de idealização. Embora a renúncia aos desejos edipianos, tanto amorosos quanto hostis, seja fundamental para a formação do Supereu, Freud argumenta que ele é posteriormente enriquecido por influências sociais e culturais, como educação, religião e moralidade.
Isso É uma instância totalmente inconsciente que está presente no sujeito desde o início da vida, não se subordinando à lógica do tempo cronológico. O Isso é considerado o reservatório das pulsões, servindo como a força motriz do psiquismo. Seus conteúdos, que representam a expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, sendo compostos tanto por aspectos hereditários e inatos quanto por elementos recalcados e adquiridos.

Sob uma perspectiva econômica, Freud vê o Isso como o reservatório inicial da energia psíquica; enquanto do ponto de vista dinâmico, ele entra em conflito com o Eu e o Supereu. Assim, o Isso é a sede das paixões humanas, incluindo inveja, ciúmes, vaidade, amor e ódio, consolidando-se como o núcleo pulsional da personalidade.



Como aprender mais sobre psicanálise?

Para aprofundar seus conhecimentos sobre o conceito de Isso, Eu e Supereu na teoria psicanalítica, é fundamental começar pela leitura das obras de Sigmund Freud que tratam desses conceitos, como "A Interpretação dos Sonhos" (1900), onde Freud apresenta pela primeira vez esses elementos do aparelho psíquico, e "O Eu e o Isso" (1923), texto que detalha a dinâmica entre essas instâncias.

Além disso, investir em cursos especializados sobre a teoria psicanalítica pode ser altamente enriquecedor. A Casa do Saber oferece uma série de cursos ministrados por especialistas reconhecidos, que aprofundam a compreensão dos conceitos de id, ego e superego, bem como suas implicações no comportamento humano e nos processos psíquicos.

A seguir, destacamos algumas recomendações de cursos disponíveis na plataforma Casa do Saber + que exploram esses temas com profundidade e relevância.




Referências Bibliográficas:

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Zahar: Rio de Janeiro, 1985.

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

.ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.







Complexo de Édipo: o que é?
This is some text inside of a div block.
Complexo de Édipo: o que é?
Saiba o que é o Complexo de Édipo, qual a sua relação com a sexualidade e o que pensava Freud sobre a função paterna e a função materna.

Neste texto veremos um pouco sobre a teorização de Freud sobre o complexo de édipo. Uma das principais ideias da teoria psicanalítica, sendo revolucionária na maneira de pensar a constituição do sujeito e a sexualidade.



A história de édipo: um resumo

Freud se inspirou na tragédia grega de Sófocles Édipo Rei para teorizar sobre o conjunto das relações que a criança estabelece com as figuras parentais e que constituem uma rede em grande parte inconsciente de representações e de afetos entre os dois polos de suas formas positiva e negativa. (Kaufmann, p.135)

Édipo era filho de Laio e Jocasta, rei e rainha de Tebas e o casal recebeu uma profecia por meio de um oráculo de que Édipo iria matar o próprio pai e se casaria com sua mãe. E assustados com o revelado, o casal pediu para um servo matar a criança, contudo ele apenas abandonou o menino em uma árvore porque não teve coragem de matá-lo e com isso Édipo foi encontrado por um camponês que o criou.

Ao passar dos anos, Édipo reencontra com Laio, seu pai, e o mata, mas sem saber que este era seu próprio pai, e como recompensa por salvar Tebas de uma esfinge, se casa com Jocasta, também sem saber que a rainha era sua mãe. Então, a profecia se cumpriu.

banner 'Ebook Guia para Entender o Inconsciente '

O complexo de édipo para a psicanálise

Pode-se dizer que o complexo de édipo está ligado ao período da constituição do eu, ou seja, atua como um organizador do sujeito. É uma fase do desenvolvimento infantil que a criança passa a ter uma atração pela figura que exerce a função materna, enquanto nutre uma rivalidade com a parte que faz a função paterna.

Freud não tem um texto específico sobre o complexo de édipo, mas no livro inaugural da psicanálise, A Interpretação dos Sonhos, ele já cita o mito do personagem, mas é apenas em 1910 que ele de fato teoriza sobre a questão.

A criança ao nascer necessita ser acolhida por outro ser humano e quem faz essa função materna fica sendo tudo para aquela criança, ou seja, seu primeiro objeto de amor. Com isso, a criança quer a mãe somente para ela e a função paterna entra para fazer essa separação e colocar um certo limite nessa relação mãe-bebê, para estabelecer limites, regras e normas que irão regular futuramente o desejo daquele bebê. Então, pai é visto como a figura que representa a lei e a autoridade, essencial para a formação do supereu, a parte do aparelho psíquico que internaliza os valores sociais e morais.

Na saída do Édipo, irá se constituir a forma que o sujeito irá se vincular com o mundo, com a possibilidade de ser neurótico, psicótico ou perverso, sendo estas as três grandes estruturas clínicas que fundamentam a teoria psicanalítica.

O complexo de édipo em meninos e meninas: características

O Complexo de Édipo apresenta diferenças significativas entre meninos e meninas. Nos meninos, o Édipo e o complexo de castração ocorrem simultaneamente. Já nas meninas, inicialmente se vivencia o pré-Édipo, seguido pelo complexo de castração, e, somente então, elas entram no Complexo de Édipo. Assim, pode-se afirmar que meninos e meninas experienciam o complexo de castração de maneiras distintas: os meninos abandonam o Édipo por medo da castração, enquanto as meninas ingressam no Édipo temendo ser castradas.

O momento crucial da constituição do sujeito situa-se no campo da cena edípica. Dessa forma, o Édipo não é somente o “complexo nuclear” das neuroses, mas também o ponto decisivo da sexualidade humana, ou melhor, do processo de produção da sexuação. Será a partir do Édipo que o sujeito irá estruturar e organizar, sobretudo em torno da diferenciação entre os sexos e de seu posicionamento frente à angústia de castração.

banner curso complexo de edipo e sexualidade, por Fernanda Samico

As fases do desenvolvimento psicossexual

Ao investigar o complexo de Édipo, é fundamental considerar as diferentes fases do desenvolvimento psicossexual da criança, conforme delineado por Freud. Cada etapa — oral, anal e fálica — desempenha um papel crucial na formação da subjetividade

Fase Oral O desenvolvimento infantil inicia-se com uma fase centrada na região oral, que abrange desde o nascimento até cerca de um ano e meio. Nesta etapa, a amamentação se destaca como uma experiência fundamental, proporcionando prazer à criança através da sucção e da satisfação derivada da nutrição. Então, a boca é a principal fonte de prazer. A satisfação vem de atividades como mamar, chupar e explorar objetos com a boca.
Fase anal O prazer se concentra no controle dos esfíncteres. A criança experimenta a satisfação ao controlar a liberação e retenção das fezes. Nessa fase a criança passa a manifestar um interesse exacerbado pela região anal, frequentemente envolvendo-se em atividades relacionadas a suas fezes.
Fase fálica A atenção se volta para os órgãos genitais, e a criança começa a explorar a diferença entre os sexos. É nesta fase que surge o complexo de Édipo. Nessa fase, a criança também começa a explorar as questões de masculinidade e feminilidade.



É importante também observar o período de latência e a fase genital:

Período de latência: aqui acontece um intervalo caracterizado pela repressão de desejos inconscientes. Durante essa etapa, a criança já superou o complexo da fase fálica e, embora os impulsos e desejos sexuais possam persistir, eles se manifestam de maneira assexuada por meio de atividades como amizades, estudos e práticas esportivas, até o início da puberdade.

Período genital: seria o estágio final do desenvolvimento psicossocial, onde o sujeito direciona seus investimentos sexuais - libido - para os órgãos genitais. Esse investimento que vai para além dos seus primeiros cuidadores o leva a se interessar por relações amorosas.

Assim, o complexo de édipo diz respeito de como o sujeito irá se relacionar com o mundo exterior. Então o filho se afeicçoa com o genitor do sexo oposto e rivaliza com o genitor do mesmo sexo. Então pode-se dizer que esse triângulo edípico é o que constitui o humano, tendo em vista que os afetos surgem nesse momento.




Função materna e função paterna

A análise das funções materna e paterna proposta por Lacan revela que não é necessário ter uma mãe ou um pai biológicos para que as dinâmicas do complexo de Édipo se manifestem. Essas funções são simbólicas e podem ser exercidas por outras figuras ou instituições que representem o cuidado, a proteção e a introdução da lei. Dessa forma, a estrutura psíquica e as relações de desejo e rivalidade no contexto do complexo de Édipo são acessíveis a qualquer indivíduo, independentemente de sua configuração familiar, enfatizando a primazia dos significantes sobre as figuras biológicas na constituição da subjetividade.

A função materna transcende a mera figura biológica da mãe, assumindo um papel simbólico que engloba nutrição, cuidado e a introdução da criança no universo dos significantes. Essa função se relaciona à criação de um espaço de amor e proteção, essencial para o desenvolvimento das primeiras relações objetais, pois oferece um ambiente propício à manifestação do desejo. Sua importância se revela na formação do eu e na capacidade de estabelecer vínculos sociais, com a mãe exercendo a função de primeira portadora do desejo, fundamentando, assim, as bases para as relações futuras da criança.

A função paterna não está necessariamente ligada à figura biológica do pai, representando a introdução da lei, da ordem e da castração na vida da criança. Nesse contexto, o pai emerge como o agente responsável por conduzir a criança ao mundo dos limites e normas que são essenciais para a internalização da lei social e para a separação do desejo materno, favorecendo assim a autonomia do indivíduo.

Sua importância se manifesta na formação do supereu, sendo crucial para a capacidade da criança de lidar com a frustração e a ambivalência, permitindo-lhe inserir-se adequadamente na estrutura social e desenvolver uma identidade que não se fundamenta exclusivamente no desejo materno.

banner curso Psicanálise e Mitologia, Uma Introdução, por Ricardo Salztrager

Como aprender mais sobre o complexo de édipo?

O conceito do complexo de Édipo, desenvolvido por Freud, é uma das ideias centrais da psicanálise e merece um estudo aprofundado. Para compreender sua importância, é fundamental analisar as obras de Freud, explorando suas principais obras, como "A Interpretação dos Sonhos" e "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade". Nesses textos, Freud elucida as fases do desenvolvimento psicosexual e a importância da resolução do complexo de Édipo para a formação do eu.

Além disso, a Casa do Saber + e o Programa + Psicanálise oferecem cursos que representam uma oportunidade valiosa para aprofundar a compreensão não apenas do complexo de Édipo, mas também de outros conceitos fundamentais da psicanálise. Esses cursos são elaborados para proporcionar uma análise detalhada e uma discussão enriquecedora, permitindo aos participantes explorar as nuances e as implicações teóricas da psicanálise de maneira mais abrangente.





Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905). São Paulo: Cia das Letras, 2011.

______. A Dissolução do Complexo de Édipo (1924). São Paulo: Cia das Letras, 2016.

LACAN, Jacques. O Seminário 5 - As Formações do Inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.



A Interpretação dos Sonhos: Freud e o Inconsciente
This is some text inside of a div block.
A Interpretação dos Sonhos: Freud e o Inconsciente
Explore a interpretação dos sonhos de Freud, a função dos sonhos e o inconsciente, ideias essenciais de Freud que fundaram a psicanálise.

O conceito de inconsciente foi desenvolvido por Sigmund Freud em seu influente livro A Interpretação dos Sonhos, publicado em 1900. Esta obra é amplamente reconhecida como a peça inaugural da psicanálise, estabelecendo as bases para a compreensão do aparelho psíquico proposto por Freud.

Neste texto iremos ver:



O que é a interpretação dos sonhos para Freud?

O livro A Interpretação dos Sonhos, escrito por Sigmund Freud, não apenas estabeleceu as bases fundamentais da teoria psicanalítica, mas também marcou o início da psicanálise. Reconhecida como a obra mais significativa da vasta produção de Freud, esse livro revolucionário apresentou conceitos cruciais que moldaram a psicanálise. Entre os principais aportes, Freud propôs e formulou nesse texto uma estrutura de aparelho psíquico, que abrange os níveis consciente, inconsciente e pré-consciente.

Capa do livro A Interpretação dos Sonhos (1900), de Sigmund Freud, volume 4 da coleção Obras Completas, publicado pela Companhia das Letras, com tradução de Paulo César de Souza.
Capa de 'A Interpretação dos Sonhos', clássico de Sigmund Freud lançado em 1900, parte do volume 4 da coleção Obras Completas, publicado pela Companhia das Letras e traduzido por Paulo César de Souza.


O livro é do final do ano de 1889, mas foi publicado no ano de 1900, pois Freud escolheu essa data para que o livro marcasse a entrada no século XX, por isso foi lançado posteriormente.

Para fundamentar a interpretação do sonho como um método, Freud realiza uma análise minuciosa do sonho, fragmentando-o em suas partes constitutivas. Ele observa atentamente as associações que emergem de cada um desses fragmentos, utilizando essa abordagem em sua famosa (auto)análise do sonho da injeção de Irma.

banner 'Ebook Guia para Entender o Inconsciente '

O trabalho do sonho

O trabalho do sonho se desenvolve por meio de distintas etapas. A primeira etapa, denominada condensação e a segunda deslocamento.

Condensação

Revela que os sonhos contêm variados tipos de conteúdos, que Freud classificou como manifesto e latente. O conteúdo manifesto, que se expressa de forma mais aparente, representa apenas uma fração do que é efetivamente latente. Os elementos que compõem o conteúdo manifesto se organizam em uma única imagem psíquica, conectando-se por meio de cadeias associativas. Em contrapartida, o conteúdo latente se manifesta de maneira mais intensa em sonhos altamente condensados, pois, esses conteúdos muitas vezes apresentam um caráter perturbador para a consciência.

Deslocamento

O deslocamento é um mecanismo fundamental do trabalho do sonho para converter desejos ou pensamentos inconscientes em representações que se manifestam de forma distinta no sonho. Este processo ocorre quando o conteúdo latente, muitas vezes perturbador ou inaceitável para a consciência, é deslocado para elementos menos significativos ou mais neutros no conteúdo manifesto. Essa distorção resulta em uma representação que, embora não reflita diretamente o desejo original, ainda retém aspectos de seu significado intrínseco. Consequentemente, os sonhos podem exibir imagens ou eventos que parecem desconectados do desejo reprimido, mas que, por meio da análise, revelam suas interconexões subjacentes.



A função e o significado dos sonhos

Freud afirma que os sonhos seguem uma lógica própria, distinta do funcionamento da consciência. Ele argumenta que os sonhos são a principal porta de entrada para o inconsciente, revelando conteúdos e desejos que muitas vezes permanecem ocultos na vida diária.

No contexto de A Interpretação dos Sonhos, Freud elucida que a função dos sonhos é dual, consistindo, primordialmente, na realização de desejos inconscientes e na proteção do sono. Ele argumenta que os sonhos atuam como uma via simbólica para a expressão de desejos reprimidos que, por serem inaceitáveis na consciência, encontram uma forma de manifestação por meio de imagens oníricas. Dessa maneira, mesmo conteúdos perturbadores são traduzidos em representações que permitem sua satisfação, ainda que de forma disfarçada. Simultaneamente, essa função de realização é acompanhada por um aspecto protetivo, assegurando que o estado de repouso não seja interrompido. Assim, os sonhos se configuram como uma janela para o inconsciente.

A interpretação do sonho é uma ferramenta indispensável para a psicanálise, pois é por meio dela que o analista pode acessar o conteúdo inconsciente do paciente, tendo em vista que os sonhos, os sintomas, os atos falhos e os chistes são formações do inconsciente. As formações do inconsciente referem-se a expressões ou manifestações que emergem do inconsciente, revelando desejos, conflitos e experiências que não estão acessíveis à consciência.

O que é inconsciente?

Pode-se dizer que o inconsciente seria uma parte desconhecida para o próprio sujeito, ou seja, não é possível se conhecer por inteiro, existe uma parte que não se revela, ou ao menos, não se mostra tão facilmente. Por exemplo, existem desejos dos quais não se tem o menor conhecimento, mas mesmo assim eles influenciam a vida do sujeito e a sua relação com o outro. Nesse sentido Freud afirmou que:

“o Eu não é senhor em sua própria casa” (FREUD [1917] 2010: p. 186).


Cabe dizer que Freud, em textos anteriores já dava notícias sobre a conceituação de inconsciente, o texto Lembranças Encobridoras (1899), é um exemplo disso, mas a formulação, conceituação e consolidação do aparelho psíquico e seu funcionamento se deu no livro A Interpretação dos Sonhos.




Como aprender mais sobre interpretação dos sonhos?

Para aprofundar seus conhecimentos sobre a interpretação dos sonhos na teoria psicanalítica, é fundamental começar pela leitura das obras clássicas de Sigmund Freud, como A Interpretação dos Sonhos (1900), que estabelece as bases para a compreensão dos processos oníricos e suas relações com o inconsciente. Outro texto importante é Além do Princípio do Prazer (1920), que expande as ideias sobre o significado e a função dos sonhos na realização de desejos.


Além disso, assistir os cursos sobre os conceitos fundamentais da psicanálise na Casa do Saber. Apresentamos algumas recomendações de cursos disponíveis na plataforma Casa do Saber + que abordam a interpretação dos sonhos com rigor acadêmico e relevância prática.

Freud e os Fundamentos da Psicanálise: Teoria e Clínica

thumbnail curso freud e os fundamentos da psicanalise de Ricardo Salztrager




Freud e as Fantasias

thumbnail do curso Freud e as Fantasias, de Ricardo Salztrager




Freud Fundamental: As Ideias e as Obras

thumbnail do curso Freud Fundamental, as obras e as ideias, por Pedro de Santi









Referências bibliográficas:

FREUD, Sigmund. A Interpretação dos Sonhos (1900). Companhia das Letras: São Paulo,

2019.

FREUD, Sigmund. Uma Dificuldade no Caminho da Psicanálise (1917). Companhia das Letras: São Paulo,

2010.

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Zahar: Rio de Janeiro, 1985.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar,

1998.








O que é Fantasia na Psicanálise? O conceito por Freud e Lacan
This is some text inside of a div block.
O que é Fantasia na Psicanálise? O conceito por Freud e Lacan
Descubra o que é fantasia na psicanálise, a sua importância nas teorias de Freud e Lacan, e como a fantasia revela os desejos profundos do sujeito.

A fantasia é um dos conceitos fundamentais da teoria psicanalítica e desempenha um papel fundamental na psicanálise. Ela não é apenas uma forma de evasão da realidade, mas um meio pelo qual o sujeito lida com suas frustrações e cria representações simbólicas de seus desejos mais profundos.



Freud e a Fantasia

As fantasias se tornaram um tema fundamental na obra de Freud desde os anos de 1897 e 1898, muito antes de ele publicar A Interpretação dos Sonhos em 1900, obra que marcou o início da psicanálise.

Elas passaram a ganhar destaque à medida que Freud aprofundava suas primeiras experiências clínicas com as histéricas, mulheres que apresentavam sintomas corporais inexplicáveis, sem justificativa fisiológica. Freud escutava suas pacientes, mas muitas vezes não conseguia entender completamente a origem desses sintomas. Foi nesse contexto que, em 1896, ele formulou a teoria da sedução sexual, explicando que os sintomas histéricos eram o resultado de cenas de sedução ocorridas na infância, onde as pacientes teriam sido seduzidas por um adulto ou até mesmo por uma criança mais velha.

Ao longo dos anos, Freud desenvolveu ainda mais essa ideia, em textos como Escritores Criativos e o Devaneio (1908) e Fantasia Histérica e Suas Relações com a Bissexualidade (também de 1908), entre outros, sempre com o intuito de entender como as fantasias influenciavam o comportamento e os sintomas das histéricas.

Inicialmente, ele se baseava em relatos de suas pacientes, que, sob hipnose, narravam cenas de sedução envolvendo adultos, incluindo os pais. Porém, com o tempo, Freud se deparou com um desafio: muitas mulheres não relatavam tais cenas de sedução. Esse fato, junto à crescente incidência de histeria na Europa, levou Freud a abandonar a teoria da sedução sexual e a introduzir uma nova compreensão sobre o papel das fantasias na psique humana.

Em uma carta de 1897 para seu amigo Fliess, Freud expressa que abandonou a teoria da sedução e passou a defender a teoria da fantasia, pois essa seria a chave para entender os sintomas histéricos. A fantasia, nesse novo contexto, passou a ser vista como uma construção psíquica capaz de gerar os mesmos efeitos devastadores de uma experiência real, já que, para o sujeito, sua fantasia é muitas vezes vivida como uma realidade verdadeira. Foi nesse momento que Freud introduziu o conceito de realidade psíquica, a realidade das nossas fantasias, que, para ele, tem o poder de moldar nossa percepção do mundo.

banner 'Ebook Guia para Entender o Inconsciente '

Por que as pessoas fantasiam?

Freud responde que as fantasias surgem como uma forma de dar conta de uma realidade que muitas vezes é insatisfatória. Elas oferecem uma certa satisfação às frustrações da vida e ajudam a compensar desejos que, na realidade, raramente são atendidos. As fantasias, portanto, têm uma função de adaptação, permitindo que se suporte o mundo que não corresponde completamente aos desejos dos sujeitos.

Ao mesmo tempo, Freud diferencia as fantasias dos delírios, que são marcados pela ausência de qualquer dúvida, ao contrário das fantasias, que sempre carregam uma margem de incerteza. É essa flexibilidade que torna as fantasias algo comum e natural, enquanto os delírios são sintoma de distúrbios psíquicos mais graves.

É importante frisar que a fantasia, na psicanálise, se torna eficaz porque o sujeito a aceita como verdadeira, acreditando nela de forma plena. É importante destacar que esse processo de construção da realidade psíquica, esse mecanismo fantasioso, ocorre de maneira inconsciente. Ou seja, assim como muitos aspectos da vida subjetiva, o sujeito não tem plena consciência de que está criando essas fantasias nem de que elas não correspondem à realidade. Todo esse processo subjetivo, em sua essência, acontece fora da percepção consciente do indivíduo.

Nessa temática, entre os textos mais importantes de Freud, destacam-se:

  1. Delírios e Sonhos na Gradiva de Jansen (1908)
  2. Escritores Criativos e Devaneio (1908)


Em essência, Freud busca explorar as relações entre a fantasia e o desejo, analisando como essas dimensões estão ligadas na constituição do sujeito. Esses textos também mostram a ideia de Freud sobre o insuportável da realidade e como a fantasia entra justamente nesse lugar na tentativa de suavizar e compensar essa insatisfação existencial.

banner curso freud e as fantasias, por Ricardo Salztrager

O que é fantasia para Lacan?

Para Jacques Lacan, a fantasia é um conceito central em sua teoria psicanalítica, e ela desempenha um papel crucial na estruturação do desejo e na constituição do sujeito. Diferente da concepção de Freud, que via a fantasia principalmente como uma forma de expressão dos desejos reprimidos e inconscientes, Lacan a entende como um mecanismo estrutural que organiza o desejo e o sujeito em relação ao outro.

Em Lacan, a fantasia está intimamente ligada à ideia de falta — a noção de que o sujeito é fundamentalmente marcado pela ausência ou pela falta de algo, que nunca pode ser plenamente satisfeita. A fantasia, então, é a cena ou o cenário através do qual o sujeito tenta dar forma a essa falta. Ela não é uma simples representação de desejos reprimidos, mas uma construção simbólica que organiza a forma do desejo em relação ao objeto do desejo, que Lacan chama de objet petit a (o objeto a).

A fantasia, para Lacan, é uma estrutura que serve para "tapar" a falta, fornecendo uma espécie de "cenário" onde o sujeito pode experimentar a relação com o objeto a, ou seja, com o que ele imagina que possa preencher essa falta. Em outras palavras, a fantasia é uma tela que projeta os desejos do sujeito e ao mesmo tempo mantém a falta e o desejo vivos, sem que o sujeito nunca possa alcançar uma satisfação plena.

Além disso, Lacan vê a fantasia como algo fundamental para o funcionamento do inconsciente, pois é através dela que o sujeito se coloca no campo simbólico, se identificando com determinadas imagens e cenários que estruturam sua relação com o desejo e com o Outro (representado, por exemplo, pelo grande Outro, ou seja, a linguagem, as normas sociais e a figura do pai).

Portanto, para Lacan, a fantasia não é apenas um mecanismo de defesa ou uma expressão do inconsciente, mas uma estrutura psíquica que organiza o desejo e a posição do sujeito dentro da ordem simbólica, sempre em relação à falta que define sua subjetividade. Ela funciona como um modo de "dar sentido" à experiência do desejo, sem jamais permitir uma satisfação definitiva.

banner do curso Jacques Lacan, de Christian Dunker, para a Casa do Saber

Como aprender mais sobre o conceito de fantasia na psicanálise?

O conceito de fantasia é central tanto na psicanálise e seu estudo exige uma dedicação cuidadosa para compreender sua complexidade. Para se aprofundar na teoria da fantasia, a plataforma da Casa do Saber oferece cursos sobre a teoria psicanalítica, ministrados por renomados especialistas, e pode ser uma excelente forma de aprofundar o entendimento sobre a fantasia, além de proporcionar uma experiência de aprendizado rica e diversificada.

Adicionalmente, há uma vasta gama de literatura complementar que ajuda a contextualizar as ideias de Freud e Lacan no panorama maior da psicanálise, oferecendo novas perspectivas sobre o papel das fantasias na construção da subjetividade.






O que Freud dizia sobre a literatura? Veja no texto de Ana Suy
This is some text inside of a div block.
O que Freud dizia sobre a literatura? Veja no texto de Ana Suy
Psicanálise, livros, amor, amizade e criatividade. A professora, autora e psicanalista Ana Suy desvenda o que todas essas coisas têm em comum.

Psicanálise e literatura: uma amizade

Vocês sabiam que em 1930 Freud ganhou o prêmio Goethe de literatura? Como ele já estava doente e se sentia fraco, foi sua filha, Anna, quem foi para Frankfurt recebê-lo. Se Freud viu a psicanálise se espalhar pelo mundo, ainda em vida, certamente teve a ver com sua brilhante relação com a literatura. Me refiro, aqui, tanto ao fato de Freud escrever muitíssimo bem, quanto ao fato de ele reconhecer na arte um saber que antecipava o saber da psicanálise e ilustrar isso com inúmeras citações e trabalhos com Goethe, Leonardo da Vinci, Shakespeare, Hoffmann, Jensen, dentre tantos outros.

No texto “Escritores criativos e devaneios” Freud discorre sobre as nobres habilidades dos escritores de dizerem de fantasias, desejos e acontecimentos que comumente nos causariam repulsa. Mas, nas palavras dos poetas, ganham um tratamento estético, de modo que chegam para nós como sendo agradáveis. Nesse sentido, penso que uma análise psicanalítica se aproxima bastante do fazer literário. Em uma análise falamos dos nossos sofrimentos, confessamos nossos erros, descobrimos culpas soterradas… conteúdos que foram recalcados e distanciados da nossa consciência justamente por serem repulsivos. Não é por acaso que não há análise sem resistência. Ao mesmo tempo que o analisante quer avançar e quer se curar, também tem horror às coisas que tem para dizer.

Se uma análise caminha bem, no entanto, o que acontece é que esse texto tão dito e repetido nas sessões, vai ganhando outras formas e, com isso, seu próprio conteúdo é alterado. Não se trata, é claro, de inventar coisas que não aconteceram. Mas mudar o modo de dizer algo, pode ter como consequências mudar o modo de sentir algo. E não se trata de uma mudança forçada ou sugerida por alguém, mas de uma mudança que é descoberta na própria análise, uma mudança que é única, impossível de ser replicada. Assim como um texto ou uma obra de arte também não são passíveis de replicação.


banner curso A literatura no Divã, de Saulo Durso para a Casa do Saber


Uma análise, tal como a literatura, é uma experiência de linguagem. Tal como lemos um livro e podemos chorar, rir, sentir raiva, nos identificar e até mudar a vida por causa de uma história – também uma análise é um lugar onde faz-se isso tudo, apenas usando as palavras.

Ao contar de uma experiência difícil vivida há três décadas, podemos nos emocionar porque recriamos a experiência, trazemos o passado ao presente, modificando algo dele a cada vez. Na psicanálise e na literatura passado, presente e futuro se entrelaçam, um alterando o outro.

No documentário “Encontro com Lacan” Susanne Hommel, uma mulher judia que viveu a segunda guerra, conta um fragmento de sua análise com Lacan. Nele, Susanne diz de uma sessão onde um ato de seu analista muda a sua vida. Ao dizer em análise do horror que sentia todos os dias, acordando às cinco da manhã assustada, (o horário em que a Gestapo invadia as casas perseguindo os judeus), Lacan levanta-se da poltrona e acaricia o rosto dela, transformando “gestapo” em “gest a peau” (que significa “gesto na pele”, no francês). Susanne conta, com isso, que o ato de Lacan não eliminou o horror que ela sentia às cinco da manhã, mas inscreveu via linguagem em seu corpo, também o que ela chamou de “uma aposta na humanidade”.


banner do curso Jacques Lacan, de Christian Dunker, para a Casa do Saber


Se a psicanálise tem seus limites, é isso que a funda, pois não se trata de voltar no tempo e alterar o rumo das coisas. Também não se trata de eliminar todo o sofrimento da vida ou curar alguém de sua história. Trata-se de encontrar naquilo que se viveu algo onde cada um de nós tenha podido apostar, e por ali se orientar. Também a literatura, tal como a psicanálise, não pretende eliminar o mal, tornar a vida asséptica ou responder a todas as coisas – como parecem querer fazer quase tudo em nosso mundo contemporâneo.

Por isso, psicanálise e literatura fazem uma amizade tão fértil, são duas maneiras de encontrar ou criar dignidade mesmo em meio ao sofrimento humano – ou melhor, justamente por causa dele.

4 livros de Ana Suy para você conhecer:

  1. A corda que sai do útero, 2024
  2. As cabanas que o amor faz em nós
  3. Não pise no meu vazio: Ou o livro do vazio
  4. A gente mira no amor e acerta na solidão


3 cursos para entender mais sobre psicanálise com Ana Suy

Amor e Solidão: Uma psicanálise das conexões humanas, por Ana Suy

thumb curso 'amor e solidao' de ana suy para casa do saber

O que realmente significa amor e solidão? Por que tememos tanto a solidão como se ela fosse o oposto do amor? E onde entra o amor próprio nisso tudo? No curso de Ana Suy, essas questões são exploradas à luz da psicanálise. Descubra as diferenças entre amor e paixão, compreenda o papel do desejo e do ciúme, e entenda como amor e solidão impactam profundamente nossas vidas.

Confira o curso!

Do Amor e Das Trevas: Depressão e Psicanálise, por Ana Suy e Alexandre Patrício

thumb curso 'amor e solidao' de ana suy para casa do saber

Organizado com exclusividade pelos psicanalistas Ana Suy e Alexandre Patricio, este curso apresenta uma jornada profunda, ampla e sensível sobre a depressão, um dos mais complexos e relevantes fenômenos da contemporaneidade, a partir do olhar da psicanálise.

Confira o curso!

Depressão na era digital, por Ana Suy e Alexandre Patrício

thumb curso 'amor e solidao' de ana suy para casa do saber

O curso apresenta uma discussão sobre saúde mental, cultura e sociedade a partir da psicanálise, oferecendo uma imersão nas complexidades do adoecimento psíquico na era atual, em especial sobre o fenômeno da depressão.

Confira o curso!





O Que é Angústia? Como a psicanálise ajuda a entender e lidar com o sentimento
This is some text inside of a div block.
O Que é Angústia? Como a psicanálise ajuda a entender e lidar com o sentimento
Entenda o que é angústia, qual a sua relação com a tristeza e o sofrimento, como lidar e o que ela significa pelas teorias de Freud e Lacan.

A angústia ocupa um lugar de destaque na psicanálise, tanto para Sigmund Freud quanto para Jacques Lacan. Enquanto Freud vê a angústia como uma resposta a um conflito psíquico, especialmente em relação ao medo de algo reprimido, Lacan oferece uma leitura mais estrutural, focando na angústia como uma experiência ligada à linguagem e à falta.

Neste texto, vamos explorar as concepções de angústia em Freud e Lacan, destacando as semelhanças e diferenças, e a relevância desses conceitos para a psicanálise contemporânea.



A angústia em Freud: medo e conflito psíquico

Para Sigmund Freud, a angústia é um afeto que surge como uma resposta a um conflito psíquico. Em seus primeiros escritos, Freud descreve a angústia como um sinal de uma ameaça iminente que o Eu não pode controlar ou evitar. Essa ameaça pode se originar de diferentes fontes, como desejos reprimidos, traumas ou fantasias inconscientes que emergem à superfície.

No texto "Além do Princípio do Prazer" (1920), Freud expande sua compreensão da angústia, associando-a ao princípio do prazer e à pulsão. A angústia, nesse contexto, é vista como uma reação do sujeito à percepção de uma ameaça ao equilíbrio psíquico, algo que poderia estar relacionado ao desejo de retornar a um estado de prazer ou à repressão de impulsos conflitantes.

A angústia não é apenas uma reação ao medo de algo concreto, mas uma resposta ao desconhecido e ao incontrolável, muitas vezes surgindo como uma consequência da repressão de desejos ou do medo de uma perda ou separação.



Freud também relaciona a angústia com o conceito de castração, que está ligado ao medo da perda do poder ou da autoridade, ou ainda à ausência de um objeto desejado. Esse medo é frequentemente projetado em símbolos e manifestações inconscientes, levando o sujeito a vivenciar uma sensação de impotência e vulnerabilidade. A angústia, então, surge como um mecanismo de defesa do eu, sinalizando que algo precisa ser simbolizado para aquele sujeito.

banner aula gratuita sobre ciumes, de por Ana Suy


A angústia em Lacan: a falta e a linguagem

Jacques Lacan, psicanalista francês que fez um profundo retorno à obra de Freud, oferece uma nova perspectiva sobre a angústia. Para Lacan, a angústia não é apenas uma resposta a um trauma, medo, ameaça ou a um desejo reprimido, mas um fenômeno estruturante do sujeito. Ele propõe que a angústia está intrinsecamente ligada à linguagem e à estrutura simbólica.

Lacan descreve a angústia como a experiência da falta ou da ausência fundamental, algo que está no cerne da constituição do sujeito. Para ele, o sujeito é moldado pela linguagem e pela entrada no campo do simbólico, onde o desejo e a identidade são estruturados.

Em sua obra, como o seminário "A Angústia" (1962-1963), Lacan afirma que a angústia não é um medo de algo específico, mas uma reação ao que está além do simbolizável, ao que não pode ser representado pela linguagem. A angústia, para Lacan, é o sinal de que o sujeito está diante da "falta", ou seja, diante de uma ausência estrutural que não pode ser preenchida ou resolvida. Essa falta é constitutiva do sujeito humano, e a angústia é a forma como essa falta se manifesta no campo psíquico.

Além disso, Lacan enfatiza que a angústia não é algo que possa ser completamente eliminado ou resolvido. A angústia é, portanto, uma parte da experiência humana, uma condição que aponta para a estrutura de nossa subjetividade e nossa relação com o desejo e a linguagem.

Semelhanças e diferenças: Freud e Lacan

Embora Freud e Lacan compartilhem algumas semelhanças em relação à compreensão da angústia, existem algumas diferenças na elaboração de tal ideia para ambos . A primeira grande diferença está na forma como os dois psicanalistas concebem a origem e a função da angústia.

Para Freud, a angústia é um afeto que atua como resposta a um conflito psíquico. Ela está relacionada ao medo de perder o controle, ao retorno de desejos recalcados ou ao medo de uma ameaça externa (como a castração). A angústia tem uma função defensiva, alertando o sujeito como um sinal de que o Eu está em risco.

Por outro lado, Lacan vê a angústia como um fenômeno estruturante do sujeito, intimamente ligada à linguagem e à falta. Para Lacan, a angústia não é um reflexo de uma ameaça específica, mas uma resposta à estrutura do desejo humano, que é sempre marcado pela ausência. A angústia aparece como o sinal de que o sujeito está diante da impossibilidade de simbolizar seu desejo ou de alcançar a satisfação plena.

Angústia para Freud Angústia para Lacan
Resposta a um conflito psíquico, revelando desejos ou medos Resposta à estrutura do desejo, revelando uma falta
Função defensiva Função estruturante



A relevância da angústia na psicanálise

A teoria da angústia, tanto em Freud quanto em Lacan, é de extrema importância para a psicanálise. No contexto atual, a angústia é frequentemente ligada a transtornos psíquicos, como a ansiedade generalizada, crises existenciais e outros diagnósticos. Muitas vezes, esses quadros não refletem algo específico sobre o sujeito, mas são tratados como condições que podem ser encaixadas em categorias rígidas, com uma medicação pronta para ser prescrita.

A abordagem de Freud sobre a angústia ainda é amplamente utilizada para compreender como os traumas e os conflitos internos se manifestam em sintomas que causam sofrimento. Já a concepção lacaniana da angústia, centrada na falta e na linguagem, continua a influenciar a psicanálise, particularmente em análises sobre a relação entre o sujeito e o desejo, e na compreensão dos fenômenos de subjetividade no mundo moderno.

Em resumo, a angústia em Freud e Lacan oferece duas perspectivas complementares sobre o sofrimento psíquico. Enquanto Freud foca na angústia como uma resposta a conflitos e medos internos, Lacan a vê como uma experiência estruturante do sujeito, ligada à linguagem e à falta. Ambas as concepções continuam a ser de grande importância para a psicanálise, tendo em vista que ela fornece um caminho para direção do tratamento.

banner aula gratuita sobre ciumes com Ana Suy


Como aprender mais sobre a angústia

Para entender esse conceito de forma mais aprofundada, é importante explorar os textos fundamentais de Freud, como "O Mal-estar na Civilização" e "A Interpretação dos Sonhos", que ajudam a esclarecer o papel da angústia na formação do sujeito. Freud descreve a angústia como uma resposta à percepção de uma ameaça ao ego, sendo um sinal da repressão de desejos ou do enfrentamento da castração, que desencadeia uma sensação de impotência e vulnerabilidade.

Para quem busca aprofundar o entendimento lacaniano sobre a angústia, é fundamental estudar os escritos de Lacan, especialmente os seminários em que ele aborda o desejo, o gozo e a subjetividade, como no Seminário 10: A Angústia. O estudo da teoria lacaniana permite compreender a angústia não como uma emoção a ser evitada, mas como um fenômeno central para a estrutura psíquica e o entendimento da subjetividade.

Além disso, a Casa do Saber e o programa + Psicanálise oferecem cursos com especialistas no tema. Aqui vão algumas indicações:

banner do curso Vocabulario dos Afetos, de Christian Dunker

Banner do curso Luto, rejeição e abandono, de Carol Tilkian, disponível na Casa do Saber

banner do curso Jacques Lacan, de Christian Dunker, para a Casa do Saber

banner curso freud e as fantasias, por Ricardo Salztrager


Referências Bibliográficas

FREUD, S. Inibição, sintoma e angústia (1926). In: ______. “Inibição, sintoma e angústia”, “O futuro de uma ilusão” e outros textos (1926-1929). Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 13-123. (Obras completas, 17).

LACAN, J. O seminário, livro 10: a angústia (1962-1963). Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. (Campo Freudiano no Brasil).





Cursos de psicanálise: saiba quais são e como começar a estudar
This is some text inside of a div block.
Cursos de psicanálise: saiba quais são e como começar a estudar
Cursos de Psicanálise: saiba quais são e como começar a estudar

Você sabe o que estuda a psicanálise? Ou, se você já se interessa por essa área de conhecimento, sabe como fazer para começar a se aprofundar nas teorias e ideias dos maiores autores da psicanálise?

Neste artigo, vamos te explicar o passo a passo para aprender alguns dos principais conceitos da psicanálise criados por grandes personalidades reconhecidas mundialmente por suas contribuições à compreensão da psique humana, como Sigmund Freud e Jacques Lacan. Você também irá conhecer alguns dos mais renomados professores e especialistas em psicanálise do Brasil e as instituições que são referência nesta disciplina.

O que é psicanálise?

A psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud, é um método de investigação dos processos mentais, que se utiliza da associação livre para acessar, por inferência, os conteúdos inconscientes do paciente a partir de seus relatos à um analista, a fim de identificar possíveis causas e se utilizar da transferência estabelecida na relação analítica para tratamento dos sintomas.



imagem com diversos cursos da plataforma Casa do Saber


Esta prática é frequentemente associada à ideia de deitar no divã e falar livremente, mas vai muito além disso. A teoria e a prática clínica hoje permitem que o psicanalista interprete padrões, desejos, intenções, pensamentos e comportamentos do paciente. Neste sentido, um dos objetivos da psicanálise é trazer à consciência as questões do inconsciente que afetam o sujeito, sendo efetiva para uma melhora para a saúde mental, o senso crítico e o bem-estar pessoal do analisando. Entretanto, os objetivos de uma análise podem variar entre as escolas. Em maior escala, o impacto de uma análise bem desenvolvida pode ser notado na tomada de consciência e no poder decisão dos pacientes para deixarem de seguir determinados padrões, por exemplo, bem como no relacionamento consigo mesmo e com os outros.

Quais são as principais abordagens e escolas da psicanálise?

A psicanálise é uma área de conhecimento que perdura há mais de 100 anos. Existem várias abordagens dentro da psicanálise, refletindo diferentes escolas de pensamento sobre como os processos inconscientes afetam o comportamento e a vida humana. Abaixo listamos, em resumo, as principais linhas de pensamento da psicanálise e suas características essenciais. As principais incluem a Freudiana, a Lacaniana e a Kleiniana, por exemplo. Dentre as escolas podemos citar principalmente a inglesa, representada por Donald Winnicott e Wilfred Bion, e a francesa associada à Jacques Lacan.

Escola Características

Escola Freudiana

Destacam-se os temas do inconsciente, as pulsões de vida e morte, a sexualidade, as estruturas psíquicas (neurose, psicose e perversão), o Complexo de Édipo, os mecanismos de defesa, as resistências, as transferências e as contratransferências em uma análise. Dentre os principais autores estão Sigmund Freud e Anna Freud.
Escola Kleiniana Também conhecida como escola das relações objetais, é a escola fundada pela austríaca Melanie Klein, cujas principais contribuições teóricas são a posição esquizo-paranóide, a posição depressiva, as fantasias infantis e os primitivos mecanismos de defesa, com destaque para a identificação projetiva. Klein é pioneira em análise de crianças, e seus estudos pensam o indivíduo desde o nascimento, acompanhando o seu desenvolvimento principalmente desde a infância.
Escola Francesa Jacques Lacan propôs um retorno a Freud e fez inúmeras contribuições, sobretudo se utilizando da Linguística e da Filosofia. Para Lacan, o inconsciente é estruturado como linguagem, e através dos ditos do sujeito teremos indícios de como ele se posiciona no mundo, nas relações com os outros, de suas alienações a certos ideais e de seus modos de desejar. Dentre diversos conceitos originais destacam-se os significantes, significados, objetos, o estágio do espelho e o corte lacaniano.
Escola de Winnicott Donald Winnicott teve uma vasta experiência no tratamento de crianças como pediatra, e desenvolveu sua teoria com ênfase na relação cuidador-bebê, com conceitos como mãe suficientemente boa: nem perfeita, nem negligente na criação do bebê, e a ideia de que a elaboração imaginativa do corpo e suas funções é que moldam a psique, não sendo uma estrutura pré-existente, mas sim, fruto dos cuidados recebidos, e que o desenvolvimento emocional se dá continuamente. O inconsciente winnicottiano seria uma experiência que a imaturidade do bebê não tornou possível criar uma representação, e não o reprimido da teoria freudiana. Alguns de seus conceitos fundamentais são: holding, handling e integração de objetos, personalização e realização e desenvolvimento emocional primitivo.
Escola de Bion Wilfred Bion foi analisando e discípulo de Klein, mas criou diversos conceitos originais. Dentre suas principais contribuições estão a psicoterapia psicanalítica de grupo, o enfoque nos vínculos e a dinâmica do campo analítico, em que existe uma mútua influência entre analisando e analista e vice-versa.
Escola da Psicologia do Ego Heinz Hartmann, é o principal nome ligado à esta escola. Nesta abordagem, o ego desenvolve-se a partir do id enquanto a criança passa a entender a diferença do seu corpo-mente em relação ao mundo e atenção se volta para o “eu”. Funções como percepção, afeto, memória, conhecimento e juízo crítico passam a ter valor para o analista nesta abordagem.
Escola da Psicologia do Self Nesta abordagem Heinz Kohut (EUA) traz a introspecção e empatia como principais instrumentos da psicanálise, seguidos da tese das “falhas dos self-objetos primitivos”. Retira-se também a hegemonia do conceito de Complexo de Édipo e trata o Narcisismo como importante etapa do desenvolvimento.


Além das escolas mencionadas na tabela anterior, ainda há a psicanálise do húngaro Sándor Ferenczi, que surge a partir da escola freudiana. Ou seja, há muitas abordagens, e cada uma delas oferece uma perspectiva única sobre a estrutura da mente e os métodos de tratamento, influenciando significativamente as ementas dos cursos de psicanálise. Além disso, práticas modernas como a psicanálise relacional e conceitos como a intersubjetividade também estão ganhando espaço, mostrando a evolução e atualização contínua desta área.





Como estudar psicanálise hoje?

Para aqueles interessados em se tornar profissionais nesta área, há diversas opções de formação em psicanálise clínica. Os cursos podem variar, desde:

  • Workshops introdutórios
  • Pós-graduações
  • Programas de mestrado
  • Programas de doutorado
  • Residências


Atualmente, também existem cursos de psicanálise clínica disponíveis online, proporcionando flexibilidade para estudar de acordo com as próprias necessidades e ritmos. Um curso de psicanálise típico cobre fundamentos teóricos, técnicas e manejos terapêuticos e práticas supervisionadas, essenciais para quem busca uma compreensão profunda da mente humana e deseja praticar clinicamente.

Quem pode estudar psicanálise?

Enquanto área de conhecimento, todos! Para saber como começar a estudar psicanálise, acreditamos que o primeiro passo é entender qual é o seu perfil. Na Casa do Saber, sabemos que há variados tipos de interesse em aprender sobre esta disciplina. Abaixo, detalharemos um pouco sobre cada um deles. Veja qual é o seu caso:

1. "Sou psicanalista e quero aprofundar minha formação"

A psicanálise é uma área de estudo constante, por isso, tanto se você é um psicanalista em formação, quanto se você já tem muitos anos de experiência clínica é preciso tomar conhecimento das novas tendências culturais, das obras e dos autores relevantes para ter leituras fundamentais ao trabalho de analista. Mesmo após a conclusão de um curso de psicanálise, é essencial que o profissional continue em um processo de aprendizado contínuo, supervisionado por psicanalistas experientes e se mantenha em constante atualização.





2. "Sou estudante e quero me tornar um psicanalista"

Já que é considerada uma ocupação, a profissão de psicanalista pode ser exercida por qualquer pessoa que tenha concluído um curso de graduação em alguma das mais diversas áreas do saber. A atividade psicanalítica é independente de cursos regulares acadêmicos, sendo os seus profissionais formados pelas sociedades e instituições psicanalíticas.

Qualquer pessoa pode fazer um curso de psicanálise, desde que atenda aos pré-requisitos estabelecidos pela instituição de ensino que oferece o curso, como a exigência de se ter uma graduação completa, por exemplo. Além dos tradicionais cursos de psicologia e medicina associados à prática psicanalítica, têm destaque áreas dialógicas como ciências sociais, filosofia, antropologia, entre outras. O psicanalista em formação precisa também ter, é claro, interesse e afinidade com a área da saúde mental e da psicanálise.

Para exercer o ofício de psicanalista, ou seja, clinicar, dar aulas, entre outros, é recomendado que a pessoa interessada tenha uma formação específica em psicanálise, oferecida por uma instituição reconhecida e que realize um curso completo, com supervisão e análise pessoal. A formação em psicanálise é profunda, demandando uma capacidade de reflexão crítica, de análise, de leitura e de interpretação. No entanto, é possível fazer cursos de introdução à psicanálise, participar de encontros ao vivo, workshops e eventos acadêmicos para absorver conhecimento sobre teoria e prática psicanalítica.

No curso Uma Psicanálise da Existência o renomado professor e psicanalista Christian Dunker traça conceitos e leituras de Freud e Lacan, assista às aulas para se embasar nas principais teorias e começar a entender questões que envolvem a todos nós em diferentes momentos da vida.

3. "Gosto de aprender sobre diversas áreas para compreender o mundo"

A psicanálise permite uma profunda reflexão sobre a condição humana, influenciando várias áreas do conhecimento. Profissionais com noções em psicanálise utilizam suas habilidades não apenas em contextos clínicos, mas também em áreas como literatura, filosofia e estudos culturais. Ao entender como os processos inconscientes determinam comportamentos, decisões e relações sociais, a psicanálise oferece perspectivas interessantes para perceber a complexidade humana em diversos aspectos da vida, ampliando a compreensão sobre como pensamos e interagimos em diferentes contextos. Você só tem a ganhar aprendendo mais sobre essa disciplina extremamente versátil e profunda.





Confira algumas das principais áreas de estudo da psicanálise atualmente:

  • Psicanálise e Saúde Mental: focada no tratamento de distúrbios emocionais e psicológicos, essa área é a pedra angular da prática clínica.
  • Psicanálise e Literatura: utiliza teorias psicanalíticas para analisar textos literários, desvendando os aspectos inconscientes que moldam as narrativas.
  • Psicanálise e Cultura: examina como as normas culturais são internalizadas e como influenciam a identidade e o comportamento social ao longo da história.
  • Psicanálise e Educação: aplica conceitos psicanalíticos para entender dinâmicas de aprendizagem e desenvolvimento em ambientes educacionais.
  • Psicanálise e Arte: investiga a expressão inconsciente na criação e interpretação artística, proporcionando uma compreensão mais aprofundada dos movimentos e obras de arte.

E aí, se identificou? Entenda sobre o comportamento humano de forma aprofundada, considerando sentimentos, emoções, pensamentos, o consciente e o inconsciente.

A Casa do Saber + é a plataforma que permite que você conheça as ideias dos grandes pensadores como Sigmund Freud, Melanie Klein, Jacques Lacan, Donald Winnicott, Wilfred Bion, Sándor Ferenczi e muito mais, aprofundando o seu olhar sobre si mesmo e as suas relações.





Como aprender a teoria psicanalítica?

Se você quer complementar sua formação, se atualizando nos temas contemporâneos, revisitando conceitos importantes, aplicando-os à sua clínica e entendendo as contextualizações necessárias com a teoria das principais referências na área e abordagens é preciso aprender com bons profissionais ou professores. Conheça os grandes nomes da psicanálise no Brasil hoje:

Contardo Calligaris


Alexandre Patrício


Pedro de Santi


Christian Dunker


Marcelo Veras


Ana Suy


Conheça todos os professores da Casa do Saber

Quanto custa estudar psicanálise?

Sabia que você pode estudar sobre a teoria e a prática psicanalítica com os grandes mestres do país e ter um guia das principais obras, autores e conceitos para se aprofundar de forma online e em uma linguagem acessível?

A Casa do Saber + é o streaming do conhecimento: uma plataforma com mais de 60 cursos online de psicanálise exclusivos para você aprender com grandes profissionais, doutores e professores na área como Christian Dunker, Ana Suy, Marcelo Veras, Alexandre Patricio de Almeida, Pedro de Santi, Contardo Calligaris, Fernanda Samico, Daniel Omar Perez, Guilherme Facci, entre muitos outros.

Além dos cursos de psicanálise, a plataforma oferece mais de 600 horas de aulas sobre diversas áreas do conhecimento para você se desenvolver pessoalmente e profissionalmente. Lá você também encontra aulas que fazem aproximações entre a psicanálise e a literatura, a filosofia, as artes e a neurociência, por exemplo, afinal, a proposta da Casa do Saber é desenvolver de forma cultural e interdisciplinar os seus alunos.

Os cursos disponíveis no plano regular da plataforma, no entanto, não habilitam a pessoa a iniciar a prática clínica, servindo principalmente como fontes de aprofundamento, ampliação de repertório clínico e formação continuada.

Consulte os planos disponíveis

Você pode ter uma assinatura anual que te permite acesso a centenas de cursos para estudar psicanálise de forma interdisciplinar e responder suas perguntas mais profundas.

Quanto custa e como posso pagar?

Atualmente a Casa do Saber conta com o plano anual no valor de R$ 478,80. O parcelamento pode ser realizado através do cartão de crédito em até 12x de R$ 39,90, ou à vista no cartão de crédito com 10% de desconto, no valor de R$ 430,92. Também existe a opção de pagamento à vista via pix ou boleto bancário.

Com o plano anual desta plataforma de streaming você garante acesso a mais de 300 cursos disponíveis em 9 áreas distintas do conhecimento, ministrados por grandes nomes da atualidade. Todas as aulas são gravadas e emitem certificados com horas assistidas. Assim, você pode escolher a quais aulas assistir, quando e quantas vezes quiser. Legal, né?

O acesso aos cursos pode ser feito por meio do site ou do aplicativo para Android e iPhone Casa do Saber+. Para ter acesso ilimitado a todo conteúdo durante um ano, basta assinar o serviço. Caso queira, você consegue dar uma olhadinha no catálogo completo.

Programa +Psicanálise

O programa de expansão em teoria e clínica psicanalítica da Casa do Saber é especialmente desenvolvido para profissionais e estudantes de psi que buscam aprofundar seus conhecimentos em psicanálise. Os inscritos ganham acesso por 1 ano a uma jornada de conteúdos exclusivos em diferentes formatos: cursos gravados conduzidos pelos maiores professores e profissionais do Brasil, ciclos de aulas online e ao vivo e materiais complementares. Os alunos ainda garantem participação em grupos para networking com os outros profissionais e estudantes. A inscrição também dá direito aos conteúdos bônus, que estabelecem uma relação interdisciplinar com os cursos gravados em forma de podcasts, séries, entre outros.

Atualmente, o +Psicanálise está com a sua primeira turma aberta, para saber mais sobre as condições e valores não deixe de conferir toda a ementa do programa. O acesso aos conteúdos é feito também pela plataforma Casa do Saber +, ou seja, você pode estudar de onde estiver e como quiser.

Especialização em psicanálise

Agora, se você é psicólogo(a), médico(a), tem graduação em alguma outra área e a sua ideia é se especializar em psicanálise, pode apostar em uma pós-graduação, mestrado, doutorado ou escolher alguma escola ou sociedade de referência para construir o seu caminho nesta área tão importante. Confira algumas opções de destaque no Brasil:

Sociedades Escolas Pós-graduações e especializações
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo – SBPSP Fórum do Campo Lacaniano - São Paulo Universidade de São Paulo (USP)
Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro – SBPRJ Fórum do Campo Lacaniano - Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto - SBPRP Escola Brasileira de Psicanálise - Salvador Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Escola Brasileira de Psicanálise - Florianópolis Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)


Para começar a entender Freud, Lacan, Melanie Klein e os principais autores da psicanálise

Agora que você já sabe como estudar psicanálise de acordo com o seu objetivo, que tal começar de forma descomplicada, online e com os melhores recursos?

Para conhecer a teoria psicanalítica de Sigmund Freud; entender mais sobre o inconsciente; estabelecer relações entre a literatura, a mitologia e o comportamento humano; esclarecer ideias sobre parentalidade; se relacionar melhor com as pessoas; viver bem no século XXI, entre tantas outras possibilidades que a psicanálise oferece, experimente acessar o conhecimento de onde estiver e quando quiser.

Começar a entender a psicanálise não precisa ser uma tarefa complexa, e aprender com os maiores professores do país não é algo distante ou inacessível. Além disso, ao tornar a sua rotina de estudos adaptável ao seu tempo, espaço e momento você garante mais chances de continuar aprendendo continuamente.

Nesse sentido, a Casa do Saber + te acompanha em todos os lugares e momentos da vida. Você pode assistir às aulas pausando-as e retomando o seu progresso quando precisar, ou até mesmo ouvi-las em forma de podcast. O aplicativo do streaming está disponível para Android e IOS, e você também pode baixá-lo na sua SmarTV ou acessar pelo navegador do computador.

Dedicando 20 minutos do seu dia você baixa o aplicativo, acessa a plataforma e começa a sua primeira aula com um dos grandes mestres em psicanálise do Brasil.

Esperamos que este artigo tenha te ajudado a conhecer mais sobre o universo de conhecimento que te aguarda estudando psicanálise com a Casa do Saber.

A compreensão do Luto segundo Freud: um olhar da psicanálise
This is some text inside of a div block.
A compreensão do Luto segundo Freud: um olhar da psicanálise
Entenda o que é o luto para a psicanálise, a diferença entre luto e melancolia e aprenda como a clínica psicanalítica pode ajudar a lidar com a dor.

Neste texto, propomos um percurso nas ideias de Sigmund Freud, reconhecido como o fundador da psicanálise, cujas contribuições têm sido fundamentais para a compreensão do luto como um processo natural de enfrentamento das perdas que permeiam a experiência humana.

  • O que é luto para a psicanálise?
  • A diferença entre luto e melancolia
  • Como aprender mais sobre o luto?


O que é luto para a psicanálise?

Ao investigar o luto na teoria psicanalítica, é inevitável confrontar-se com a temática da melancolia. Isso se deve à análise realizada por Freud em seu artigo "Luto e Melancolia" (1917), no qual ele estabelece uma comparação entre esses dois estados. Embora Freud defenda que o luto e a melancolia são experiências distintas, ele também aponta semelhanças significativas entre elas. Por exemplo, que em ambos estados são provenientes de causas oriundas das interferências da vida.

Freud descreve que o luto seria uma resposta à perda de um ente querido, mas também se estende à ausência de entidades ou conceitos que desempenharam um papel significativo na vida de uma pessoa, como a pátria, a liberdade ou ideais pessoais. Essa experiência complexa envolve não apenas a dor pela perda física, mas também a necessidade de reconfigurar a percepção do mundo exterior diante da ausência daquilo que foi significativo.

A melancolia está ligada a uma predisposição patológica, diferentemente do luto. Nela acontece um abatimento doloroso, uma cessação do interesse pelo mundo exterior, perda da capacidade de amar, inibição de toda atividade e diminuição de autoestima que se expressa em recriminações e ofensas à própria pessoa.

Em outras palavras, o luto deve ser compreendido como uma experiência que não se enquadra na esfera patológica; trata-se, antes, de uma inércia libidinal que, embora possa envolver sofrimento, é uma resposta normal e esperada à perda. Essa dinâmica se diferencia significativamente da condição do sujeito melancólico, sendo incapaz de realizar o processo de elaboração do luto.

“O luto não pode ser visto como um estado patológico e não carece de indicação de tratamento médico, embora ele cause um afastamento da conduta normal da vida, logo será superado após certo tempo e perturbar esse processo é inapropriado e prejudicial.” (FREUD, 1914/2010. p.172)


No contexto cultural atual, torna-se pertinente refletir sobre a abordagem do luto sob a ótica da medicalização, que visa, de maneira expedita, mitigar a angústia e a dor experimentadas pelo sujeito. Esse processo, muitas vezes, se caracteriza pela prescrição indiscriminada de psicotrópicos, frequentemente desprovida de escuta para que o sujeito se implique, reflita e elabore suas perdas de maneira significativa. A substância atua como um atalho para tamponar de forma imediata todo sofrimento. O luto faz parte da vida de todos e é um caminho necessário para todo sujeito.


Banner do curso Vocabulario dos Afetos, de Christian Dunker, disponível na Casa do Saber


A diferença entre luto e melancolia

Neste momento, torna-se pertinente empreender uma reflexão aprofundada sobre as nuances que não apenas distinguem, mas também interligam o luto e a melancolia, levando em consideração suas particularidades e as intersecções que permeiam esses dois estados.

A melancolia pode ser compreendida como uma manifestação patológica do luto, caracterizada por um movimento inverso ao processo natural de elaboração deste. Enquanto o trabalho de luto permite ao sujeito um desligamento gradual do objeto perdido, na melancolia ocorre uma interiorização da perda, na qual o indivíduo se torna refém de sua própria dor. Nesse estado, o sujeito se responsabiliza pela ausência do objeto, estabelecendo uma identificação tão profunda que seu próprio eu se amalgama ao que foi perdido, culminando em uma desintegração.

Segundo Kaufmann: “Nos dois casos, trata-se das vicissitudes de um investimento de origem narcísica, em sua relação com a realidade, quando dela se vê excluído seu objeto por perda ou abandono.” (1996, p.316)

Deve-se observar que o trabalho realizado pelo luto acontece da seguinte maneira: é uma forma de eliminar as consequências de uma perda libidinal, ou seja, após a consumação do trabalho do luto o Eu fica novamente livre e desimpedido para voltar a investir em novos objetos.

foto em preto e branco de uma mulher solitária ao lado de uma árvore sem folhas, simbolizando o luto em meio a um ambiente melancólico


A experiência da perda se manifesta de maneiras distintas no luto e na melancolia. Na melancolia, o sujeito enfrenta uma dificuldade em reconhecer, de forma consciente, a amplitude daquilo que foi perdido; embora tenha uma noção do objeto em si, ele não compreende completamente o que essa perda impacta no seu próprio eu e o que o unia a esse objeto. Freud caracteriza a melancolia como uma condição de natureza inconsciente, pois o sujeito não consegue articular plenamente a dor que sente, tampouco atribui significado claro à sua angústia. Em contraste, no luto, a perda é enfrentada de maneira consciente; o sujeito tem plena consciência do que perdeu e entende a fonte de seu sofrimento.

No seminário O Desejo e Sua Interpretação (1958-1959), Jacques Lacan discute o luto como uma experiência que gera um "furo no real", ou seja, uma profunda privação causada pela perda. Essa ausência resulta em uma falta que não pode ser plenamente articulada ou compreendida pelos significantes simbólicos que costumam organizar a vida psíquica, revelando a complexidade emocional envolvida na vivência do luto. “ Em outras palavras, o luto, que é uma perda verdadeira, intolerável para o ser humano, lhe provoca um buraco no real.” (LACAN, 2016, p. 360)

Em resumo: embora intimamente relacionados, o luto é uma fase da vida, um processo necessário de elaboração da perda, onde o sujeito de maneira gradual se desvincula do objeto perdido e posteriormente retorna a fazer novos investimentos no mundo exterior e na melancolia o sujeito se agarra ao objeto perdido não fazendo o deslocamento para investir em outros objetos. O melancólico coloca toda energia no objeto, e com a perda dele uma parte sua também se vai, é como se o objeto fizesse parte do próprio sujeito e com isso a perda, na verdade, é de uma parte do seu próprio eu. O melancólico não consegue fazer o luto do objeto perdido, tendo em vista o apego à idealização.

Leia também:

Um panorama detalhado da vida e obra de Jacques Lacan , com um contexto histórico e intelectual que revela as bases e influências de seu pensamento psicanalítico.


Como aprender mais sobre o luto?

Para aprofundar seus conhecimentos sobre o luto na teoria psicanalítica, é essencial começar pela leitura das obras fundamentais de Sigmund Freud, como "Luto e Melancolia" (1917) e outro texto importante é "Além do Princípio do Prazer" (1920), que introduz a noção de pulsão de morte.

Além disso, investir em cursos especializados sobre como lidar com o luto, enfrentar o fim de um relacionamento e suas implicações na psicanálise pode ser extremamente enriquecedor. A Casa do Saber oferece uma variedade de cursos ministrados por professores que são reconhecidos especialistas na área, proporcionando um aprendizado sólido e atualizado. A seguir, apresentamos algumas recomendações de cursos disponíveis na plataforma Casa do Saber + que abordam esse tema com profundidade e relevância.

Banner do curso Luto, rejeição e abandono, de Carol Tilkian, disponível na Casa do Saber



Banner do curso Amor e Solidão: uma psicanálise das conexoes humanas, de Ana Suy, disponível na Casa do Saber



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, Sigmund. Luto e Melancolia (1917). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

LACAN, Jacques. O Seminário 6 - O Desejo e Sua Interpretação (1958-1959). Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

KAUFMANN, Pierre. Dicionário Enciclopédico de Psicanálise: Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.