Psicanálise

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Psicanalista: o que faz, onde atua, formação e linhas teóricas
Camila Fortes
Psicanalista: o que faz, onde atua, formação e linhas teóricas
Entenda o que faz o psicanalista, onde atua e como se tornar um. Saiba as diferenças entre psicanalista e psicólogo e conheça as principais abordagens

A figura do psicanalista desperta cada vez mais interesse, seja por quem busca um processo terapêutico mais profundo, seja por estudantes e profissionais que desejam atuar na área. Mais do que trabalhar uma técnica terapêutica, o psicanalista atua em um campo de conhecimento complexo, que investiga o inconsciente e os caminhos singulares de cada pessoa. Em um mundo cada vez mais marcado pela urgência, a formação em psicanálise defende o tempo da escuta, o valor da palavra e a subjetividade do sujeito.

Neste artigo, apresentaremos um guia completo para entender quem é o psicanalista, o que faz, onde atua, como se dá a sua formação e como é o curso. Além disso, iremos abordar as diferenças entre psicanalista e outros profissionais da saúde mental, apresentando as principais linhas da psicanálise e seus conceitos centrais.



O que é um psicanalista?

O psicanalista é um profissional que atua na escuta e compreensão do inconsciente humano. Sua prática é baseada na psicanálise, um campo criado por Sigmund Freud no século XIX, que busca entender os processos psíquicos profundos através da fala do paciente e da interpretação de sintomas.

O processo interpretativo do psicanalista se baseia não nos sintomas médicos, mas no que está por trás deles: os desejos reprimidos, os traumas inconscientes, as lembranças ocultas, além da interpretação de sonhos e padrões de repetição.

Diferente de outras profissões da saúde mental, o psicanalista foca em tornar conscientes os processos inconscientes que influenciam os comportamentos e ações. Nesse sentido, o profissional da psicanálise tem o potencial significativo de transformar os modos como as pessoas se sentem em relação às suas experiências e ao sofrimento mental.



O que faz um psicanalista?

O psicanalista conduz um processo terapêutico que auxilia o paciente a acessar conteúdos psíquicos que não estão imediatamente disponíveis à consciência, mas que se manifestam por meio das fantasias, sonhos, lapsos, sintomas e repetições.

O seu trabalho consiste em escutar atentamente, interpretar quando necessário e oferecer novas formas de se pensar e ressignificar experiências. Assim, o que o psicanalista faz é construir um espaço seguro para o processo analítico do paciente.

Ao longo do processo terapêutico construído pelo profissional, a sessão se baseia na associação livre, uma técnica em que o paciente é incentivado a falar livremente o que vier à mente, sem censura.

Durante as sessões, emergem fenômenos como a transferência - quando o paciente transfere sentimentos para o psicanalista, relacionados a outras figuras importantes da vida - e a contratransferência - apontada como as reações emocionais do analista ao paciente.

Esses elementos são importantes para a compreensão da dinâmica interna do paciente, pois revelam padrões inconscientes de relacionamento, desejos recalcados e formas de defesa psíquica.

Nesse cenário, é estruturado o que foi denominado por setting analítico, ou seja, um ambiente, um contexto elaborado cuidadosamente para compor as sessões. O objetivo é construir um espaço confiável, com acordos pré-estabelecidos, como a regularidade nos atendimentos, os horários e o formato.

Através da escuta atenta e das interpretações oferecidas em sessão, o psicanalista ajuda o paciente a dar sentido ao que antes era vivido de forma repetitiva, sofrida ou enigmática. Assim, o paciente desenvolve uma nova relação com sua história, podendo romper com repetições que o aprisionam e construir novos caminhos subjetivos.

👉 É importante lembrar que não existe uma “fórmula” para as sessões de psicanálise. O psicanalista não irá oferecer conselhos ou receitas pré-estabelecidas. Cada encontro é único, guiado pelo discurso do paciente e pelas intervenções pontuais do analista.

Por isso, o objetivo terapêutico não é dar “respostas prontas” ao paciente, mas apresentar interpretações que visam abrir caminhos de reflexão e transformação.




Psicanalistas e psicólogos trabalham com a compreensão da mente humana através da escuta. Eles conduzem o processo terapêutico através da investigação sobre questões emocionais e comportamentais, buscando os mecanismos para contribuir com o bem-estar das pessoas.

No entanto, apesar das semelhanças, eles possuem trajetórias, formações, métodos de trabalho e abordagens teóricas bastante distintas. Além disso, também se distinguem na forma como cada um compreende e aborda o sofrimento psíquico. Vamos, então, entender qual a diferença entre esses profissionais.

O psicanalista utiliza o método psicanalítico, baseado nos princípios criados por Freud. Esse método parte do pressuposto de que muitos dos nossos comportamentos e sintomas têm origem no inconsciente, em conteúdos reprimidos, desejos não reconhecidos e memórias recalcadas. O processo analítico envolve não apenas a resolução de sintomas, mas a compreensão inconsciente sobre esses sintomas.

O psicanalista pode atuar em consultórios particulares, clínicas de saúde mental, instituições de ensino, projetos sociais, entre outros espaços. Sua atuação se estende para além da clínica tradicional, podendo contribuir com equipes multidisciplinares e com a produção do conhecimento científico.

Já o psicólogo pode utilizar de diferentes métodos, a depender da sua formação e escolha teórica. Ele tem liberdade para atuar em clínicas, hospitais, escolas, empresas e instituições, e utilizar de diferentes abordagens terapêuticas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Gestalt, Humanista e a Psicologia Analítica.

Além disso, é comum que psicólogos exerçam a própria Psicanálise, após realizar um processo formativo específico para isso.

Ao contrário da prática psicanalítica, as abordagens mais convencionais da psicologia tendem a trabalhar com problemas mais pontuais e objetivos, na busca por estratégias práticas para lidar com eles, visando um alívio mais rápido do sofrimento e a reestruturação do comportamento.

É importante destacar que para se tornar psicólogo, é necessário a formação de graduação na área de Psicologia, com registro no Conselho Regional de Psicologia (CRP). O processo formativo dura, em média, 5 anos, e é necessário realizar estágios supervisionados para exercer a prática clínica.


Como se tornar psicanalista?

Para se tornar psicanalista, primeiramente, é necessário compreender que o processo formativo é apenas o ponto de partida de uma jornada contínua. Dentro da comunidade psicanalítica, há um percurso amplamente reconhecido, que pode nos auxiliar a compreender o que é necessário para essa formação.

  • Interesse e curiosidade pela escuta psicanalítica:

O primeiro passo é conhecer a psicanálise não apenas como técnica, mas como uma forma de compreender o ser humano. Trata-se de um método complexo de compreensão da subjetividade humana, por isso, exige um olhar crítico, atento e curioso pela abordagem e pelos seus contextos.

Assim, investigar, pesquisar e explorar o mundo da psicanálise é essencial.

Uma sugestão de como esse interesse pode ser estimulado, se dá a partir do contato com assuntos relacionados. Livros, cursos introdutórios, filmes, séries e revistas, podem ser um excelente ponto de partida para conhecer mais sobre a psicanálise.

  • Vivência teórica e autoanálise:

Mais do que um curso em psicanálise, esse é um processo de transformação. Se tornar psicanalista não apenas envolve o estudo da teoria, mas também o confronto com o próprio inconsciente e o desenvolvimento de uma escuta refinada e profissional.

Nesse sentido, é importante que seja realizada uma vivência da análise, de preferência, por meio da psicanálise. Passar por um processo analítico estando “do outro lado” é essencial não apenas para compreender como acontece, mas para desenvolver a capacidade de fala e escuta.

Escolher um analista de confiança e explorar essa vivência pode trazer resultados significativos para o processo formativo.

  • Inserção em instituições psicanalíticas:

Muitos profissionais se associam a escolas ou sociedades psicanalíticas para aprofundar os estudos na área. A participação em seminários, congressos, a integração em grupos de pesquisa e a organização de vínculos com a comunidade analítica, também são ótimas vias de acesso à discussões do campo.

Além disso, a busca por cursos reconhecidos e bem avaliados também é necessária, uma vez que a escolha de um instituto ou escola irá influenciar diretamente no processo formativo e na prática psicanalítica.


A formação em psicanálise

O processo formativo acontece, tradicionalmente, a partir do tripé psicanalítico: a análise pessoal, a supervisão clínica, e o estudo teórico das obras de Freud, Lacan, Winnicott, Melanie Klein e outros psicanalistas.

Vamos entender cada etapa:

Na análise pessoal, o foco está na experiência subjetiva do futuro analista - ela é a base da psicanálise. Nessa etapa, ele é estimulado enquanto paciente a explorar seus pensamentos, emoções e sentimentos de forma livre e segura. Geralmente é guiada por algum psicanalista da própria escola ou instituição.

Já na etapa da supervisão clínica, o psicanalista em formação é acompanhado em seus atendimentos por outro analista mais experiente. A supervisão visa auxiliar o profissional a aprimorar suas habilidades terapêuticas e sua capacidade analítica.

Por fim, o estudo teórico é a base conceitual da formação. O conhecimento sobre autores e conceitos como inconsciente, id, superego, pulsão, transferência, desejo, fantasia, são fundamentais na compreensão do comportamento humano a partir da psicanálise.


A formação do psicanalista é singular e se dá fora do sistema universitário tradicional. Embora legalmente não se exija diploma acadêmico para exercer a psicanálise, a maioria dos institutos mais reconhecidos costuma exigir uma formação prévia em áreas como Psicologia, Medicina ou outra das ciências humanas.

Com duração de 1 e 4 anos, a carga horária da formação psicanalítica varia de acordo com a escola ou instituto. Mais do que a formalização acadêmica, o interessante é considerar nesse processo a profundidade e o envolvimento subjetivo do futuro analista.

Além disso, os cursos dos institutos mais reconhecidos mantêm critérios éticos e podem incluir entrevistas de admissão, avaliações regulares e orientações sobre limites éticos da prática analítica.

As sessões de psicanálise, normalmente, adotam um tempo padrão de 50 minutos de duração, podendo variar para mais ou para menos. Independentemente da extensão, o mais importante é a frequência e a constância dos atendimentos.

A regularidade - geralmente de uma a três vezes por semana - é essencial para que o processo analítico ganhe profundidade. Do mesmo modo, é necessário para que o inconsciente possa se expressar em suas repetições, associações e silêncios - que também dizem muito!



Curso de psicanálise: como é?

Os cursos de psicanálise são oferecidos por escolas ou institutos com orientação freudiana, lacaniana, kleiniana, entre outras. Cada linha/escola propõe metodologias de estudo e enfoques específicos.

Entenda:

Psicanálise Freudiana

A escola ou psicanálise freudiana, por exemplo, tem por objetivo analisar as pulsões de vida e morte, as estruturas psíquicas (neurose, psicose e perversão) e a sexualidade. A partir dela, são analisados os sonhos, os padrões e o processo elaborativo do paciente.



Psicanálise Lacaniana

Já a psicanálise lacaniana desenvolvida por Jacques Lacan - também denominada de Escola Francesa -, tem como eixo central a linguagem. Nessa abordagem, a escuta visa captar as rupturas do discurso para tocar o real do sujeito.

Com a linguística, a psicanálise se potencializa para compreender os sentidos de como o paciente se posiciona no mundo e nas relações a partir dos modos como fala.

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Psicanálise Kleiniana

Um outro exemplo é a escola ou psicanálise kleiniana, desenvolvida por Melanie Klein, centrada na relação entre figuras parentais e o mundo interno do bebê. Nessa abordagem, são investigadas as fantasias inconscientes originadas desde a primeira infância, ainda nas primeiras interações, sobretudo, maternas.

Nesse sentido, todas as abordagens investigam sobre o inconsciente, mas cada uma o faz a partir de uma lente específica, com foco em diferentes aspectos do psiquismo e em modos distintos de conduzir a escuta clínica.

banner do curso Melanie Klein e a refundação do eu desenvolvimento psiquico e a teoria das posicoes, do professor Alexandre Patricio, para a Casa do Saber

O que aprendemos sobre o psicanalista: conclusão do guia

Neste artigo, aprendemos como ser psicanalista envolve um compromisso ético profundo com o sofrimento do outro e com uma busca pela autocompreensão do sujeito. Entendemos que a psicanálise não é apenas uma profissão, mas um modo de escutar e compreender o ser humano em sua complexidade.

Se você se interessa pela escuta, pelo inconsciente e pelo cuidado com a subjetividade, a psicanálise pode ser um caminho transformador. E se está em busca de um processo terapêutico profundo, esse método pode proporcionar mudanças e percepções significativas.

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Tripé da Psicanálise: os três pilares da formação do psicanalista
Ricardo Salztrager
Tripé da Psicanálise: os três pilares da formação do psicanalista
Saiba o que é o tripé da psicanálise e por que análise pessoal, supervisão e estudo teórico são indispensáveis na formação de um psicanalista.

Você sabe o que é o tripé da psicanálise? Neste artigo, vamos explorar os três pilares fundamentais para a formação de um psicanalista: a análise pessoal, a supervisão clínica e o estudo teórico. Vamos entender como surgiu a exigência desse tripé, qual a sua importância para a prática ética da psicanálise e de que forma ele ajuda a construir a escuta analítica. Também vamos discutir os riscos de ignorar essas etapas e as implicações éticas na atuação profissional.



O que é o tripé da psicanálise?

O tripé da psicanálise diz respeito aos três pilares da formação de um psicanalista: análise pessoal, supervisão e estudo teórico. De acordo com Freud (1926/1996), somente uma formação fundamentada nestas três bases tornaria um sujeito apto para ser psicanalista.

A formação psicanalítica

A primeira menção de Freud ao tripé da formação psicanalítica data de 1919 quando publicou o pequeno ensaio “Sobre o ensino da psicanálise nas universidades”. No entanto, foi somente entre os anos de 1925 e 1933 que o obedecimento a este tripé foi oficialmente considerado a condição fundamental para a formação de quem quisesse praticar a psicanálise.

Segundo Roudinesco & Plon (1988), tal oficialização se fez dentro da IPA (Associação Psicanalítica Internacional), primeira instituição de formação de psicanalistas fundada por Freud e seu discípulo Ferenczi em 1910. Ora, como a psicanálise vinha desfrutando de uma imensa fama, era comum que os mais variados tipos de pessoas passassem a praticá-la e a se declararem psicanalistas. E o problema era que muitos destes não tinham a preparação necessária para tal.

Deste modo, era necessário barrar o caminho e a admissão na IPA dos chamados “psicanalistas selvagens”, gíria que na época fazia referência aos maus psicanalistas, espécies de “charlatões” que praticavam a psicanálise. Além deles, seriam barrados os psicóticos, os “gurus” e os líderes religiosos. E, neste contexto, uma longa e polêmica discussão também se fez sobre os que praticavam a psicanálise sem possuir o diploma de médico (Freud, 1926/1996).

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O surgimento do tripé da formação psicanalítica

Daí a instituição do tripé da formação psicanalítica: era preciso colocar um mínimo de ordem em tamanha bagunça. E para tal, passou a ser exigido que os psicanalistas em formação passassem por 1) uma análise pessoal; 2) uma supervisão de seus primeiros atendimentos; e 3) se dedicassem aos mais variados estudos teóricos ao longo deste percurso.

Assim, em primeiro lugar, formulou-se a necessidade de um psicanalista passar por uma análise pessoal com outro psicanalista reconhecido pela IPA. Tal procedimento funcionaria como garantia de que ele estava sendo “bem analisado”. E jamais alguém poderia qualificar-se com o título de psicanalista antes de terminar seu processo de análise pessoal.

Em segundo lugar, havia a necessidade de supervisão. Deste modo, após o término de suas análises pessoais e com a devida autorização de seus psicanalistas, os formandos poderiam começar a atender desde que supervisionados por alguém também reconhecido pela IPA.

Por fim, foi exigido que, ao final de todo este percurso, eles apresentassem um trabalho teórico original a ser comunicado em uma das reuniões científicas da IPA. Tal trabalho seria o resultado dos muitos estudos que eles eram obrigados a fazer durante seus processos de análise pessoal e de supervisão.

Com a aprovação deste trabalho teórico, eles poderiam finalmente declarar-se psicanalistas, praticar a profissão e serem reconhecidos pela IPA (Miller, 1989). A seguir analisaremos detalhadamente cada um dos três pilares do tripé da psicanálise.


Análise pessoal: o mergulho necessário no próprio inconsciente

Conforme estamos demonstrando, a primeira base do tripé é a análise pessoal. Em relação a isto, ficou famosa a intervenção de Freud (1910/1996) quando, durante as conferências proferidas nos Estados Unidos, perguntaram-lhe do que precisaria alguém para tornar-se psicanalista. Ele então respondeu que esta pessoa deveria saber “interpretar os próprios sonhos”.

Deste modo, fica marcado ser imprescindível que o futuro psicanalista tenha certo contato com suas tendências inconscientes. Com efeito, a psicanálise é uma prática que se aprende em um divã. De forma que o manejo psicanalítico em si seja algo impossível de ser aprendido apenas em livros, artigos, palestras e mesmo em universidades e cursos de especialização.

Deve o futuro psicanalista passar por um amplo processo de análise pessoal e é apenas através desta experiência que ele conseguirá entender o que se faz em um consultório. Em suma: só entende o trabalho do psicanalista aquele que se propõe a elaborar suas próprias tendências inconscientes.

Aquele que não aceita passar por uma análise pessoal ficaria mais vulnerável a alguns riscos. Dentre eles:

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a) O risco de projetar-se em seus pacientes

Com efeito, aquele que não se submete a uma análise pessoal pode acabar projetando demais suas próprias questões em seus pacientes.

Nas palavras de Freud (1912/1996), “quem não se tiver dignado a tomar a precaução de ser analisado (...) cairá facilmente na tentação de projetar (...) algumas das peculiaridades de sua própria personalidade (...) e desencaminhará os inexperientes” (pp. 130-131).

Como exemplo, podemos mencionar o de um psicanalista bastante ciumento e que, assim, corre o risco de acabar sugerindo a um de seus pacientes que ele é traído. Ou seja, pode o paciente contar-lhe que, volta e meia, sua esposa sai com as amigas ou mesmo sozinha, mas que ele não vê qualquer problema nisso. No entanto, o analista ciumento por demais pode acabar reagindo a esta fala com um estranho conselho de “cuidado que numa dessas, você pode acabar perdendo ela para outro homem”.

Ou então o exemplo de um psicanalista que não lida muito bem com alguns de seus desejos homossexuais e que, assim, pode acabar concluindo que um de seus pacientes é homossexual, sem nem escutá-lo direito. Neste caso, o paciente pode contar-lhe sobre uma forte amizade que mantém com outro rapaz e, assim, sem nem escutar-lhe direito, o psicanalista pode concluir haver um desejo sexual nesta relação meramente amigável.

b) O risco de criar algumas resistências em seu trabalho

O processo de análise pessoal também ajuda o psicanalista a elaborar algumas de suas questões que, caso contrário, funcionariam como verdadeiras resistências ou entraves à sua escuta. Em outros termos, algumas questões suas ainda mal-elaboradas poderiam gerar alguns “pontos cegos” que viciariam sua escuta e o impossibilitaria de ouvir o que seus pacientes efetivamente dizem:

“O médico (...) não pode tolerar quaisquer resistências em si próprio. (...) Deve-se insistir, antes, que tenha passado por uma purificação psicanalítica e ficado ciente daqueles complexos seus que poderiam interferir na compreensão do que o paciente lhe diz. (...) Todo recalque não solucionado nele constitui o que foi apropriadamente descrito por Stekel como um ‘ponto cego’ em sua percepção analítica” (Freud, 1912/1996, pp. 129-130).

Como exemplos destas resistências ou “pontos cegos”, podemos mencionar o caso de um psicanalista que, ainda sem ter elaborado suficientemente algumas questões com seus pais, teria sua escuta contaminada por este problema. Assim, supomos que ele culpe seus pais por alguns de seus fracassos na vida. Neste caso, ao ouvir um paciente que se queixa de tristeza, solidão ou timidez, pode o psicanalista apressadamente concluir que os pais deste paciente são os verdadeiros culpados pelo que ele se queixa.

Ou então o exemplo de um psicanalista que tem sua escuta viciada por ainda não lidar muito bem com o fato de um de seus filhos consumir álcool. Neste sentido, ao ouvir um paciente relatar-lhe que seus filhos gostam de sair com amigos para beber (mas sendo isto um mero detalhe em seu discurso e que nem lhe importa muito) pode o psicanalista privilegiar demais este fragmento, ao invés de centrar-se em questões que efetivamente incomodam o paciente.

Supervisão em psicanálise: escutar o que escutamos

A segunda base do tripé é a supervisão. Ela pode ser definida como a prática de um psicanalista (iniciante ou não) de levar seus casos para discuti-los com outro psicanalista mais experiente.

Deste modo, em supervisão, o psicanalista será devidamente alertado a respeito, por exemplo, das projeções que eventualmente faz em seus pacientes, das possíveis resistências ou “pontos cegos” em sua escuta e, sobretudo, se está ou não conseguindo manter com eles uma “atenção flutuante”.

Conforme vimos no texto sobre a associação livre, a “atenção flutuante” corresponde à necessidade de o psicanalista saber escutar seus pacientes sem, a princípio, privilegiar quaisquer aspectos de seus discursos. Trata-se de uma tarefa bastante difícil de ser cumprida e, neste aspecto, uma supervisão pode muito bem auxiliá-lo.

Por exemplo, quando nos concentramos demais em um material que nossos pacientes nos trazem, é certo que negligenciamos outros tantos. E isto não deve ocorrer em nossos consultórios. Caso atuemos desta forma, estaremos arriscados a jamais descobrirmos nada além do que já sabemos. Neste sentido, uma boa supervisão pode ser muito útil.

Fora que quando um psicanalista cede à tentação de privilegiar apenas um ou poucos aspectos dos discursos de seus pacientes, pode-se ter a certeza de que ele assim age em virtude de suas próprias questões.

Por exemplo, vamos supor que um psicanalista possua uma série de problemas com seus irmãos. Neste caso, quando, dentre tantas outras coisas, algum de seus pacientes vem a narrar-lhe uma briga de família, pode o psicanalista acabar centralizando demais sua escuta neste ponto. O problema aqui é que o paciente pode nem ter se importado muito com a briga e efetivamente querer trabalhar outros assuntos. No entanto, o psicanalista mal supervisionado corre o risco de, em virtude de suas próprias questões, acabar privilegiando este aspecto.



Estudo teórico na psicanálise: teoria como sustentação da escuta

Por fim, o terceiro alicerce do tripé da psicanálise é o estudo teórico. De fato, as mais variadas instituições de formação psicanalítica oferecem uma série de cursos, módulos, palestras, debates e grupos de estudos sobre os mais variados temas da psicanálise.

Assim, durante todo o período no qual o psicanalista em formação faz sua análise pessoal e pratica a supervisão de seus primeiros atendimentos, ele também tem a oportunidade de mergulhar em uma série de estudos teóricos.

Tais estudos teóricos podem se dar sobre os principais conceitos da teoria freudiana: o inconsciente, os sonhos, a sexualidade, o narcisismo, as fantasias, a transferência, as pulsões, a angústia e o desamparo, dentre tantos outros.

Há também nas instituições alguns módulos de estudo sobre os principais autores pós-freudianos: Ferenczi, Balint, Winnicott, Lacan, Klein, dentre outros.

E também é interessante notar a presença de muitos grupos de estudos sobre questões atuais cujas discussões em muito auxiliam em nossa prática: debates sobre racismo, homofobia, debates sobre gênero, etc.

O tripé e a ética do trabalho de psicanalista

Portanto, conclui-se ser necessário o cumprimento deste tripé para que alguém venha a tornar-se psicanalista. Em si, seus três pilares são indissociáveis. Ou seja, de nada adiantaria estudar sem fazer uma análise pessoal ou supervisão. Do mesmo modo, de nada adiantaria apenas fazer supervisão sem uma análise pessoal e um estudo teórico. O mesmo vale para alguém que apenas tenha passado por uma análise pessoal, mas se recusa a estudar e a ser supervisionado.

Deste modo, a formulação deste tripé envolve toda uma discussão ética sobre o trabalho daqueles que se recusam a cumpri-lo. Há muitos, por exemplo, que se dizem psicanalistas apenas por possuírem uma faculdade de psicologia e terem aprendido sobre psicanálise, mas que, por exemplo, nunca se submeteram a uma análise pessoal.

Fora os tantos “psicanalistas selvagens”, “gurus”, líderes religiosos e mesmo “charlatães” que, tal como na época de Freud, ainda existem e fazem seus questionáveis atendimentos por aí.


Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

Freud, Sigmund. (1910). Cinco lições de psicanálise. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 11. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 15-65.

______. (1912). “Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise”. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 12. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 123-135.

______. (1919). “Sobre o ensino da psicanálise nas Universidades”. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 17. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 185-191.

______. (1926). “A questão da análise leiga”. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 20. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 175-249.

Miller, Dominique. (1989). “Tão só como sempre estive em minha relação com a causa analítica”. In: Miller, Gérard. Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.

Roudinesco, Elisabeth. & Plon, Michel. (1998). Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.

Associação Livre na Psicanálise: o que é qual sua importância
Ricardo Salztrager
Associação Livre na Psicanálise: o que é qual sua importância
Associação livre é a técnica central da psicanálise criada por Freud. Entenda o que é, como funciona e como ela permite o acesso ao inconsciente.

A associação livre é considerada por Sigmund Freud a regra fundamental da psicanálise e desempenha um papel central no trabalho clínico. Neste artigo, você vai entender o que é a técnica da associação livre, como ela surgiu, qual sua importância para o acesso ao inconsciente e como é aplicada nas sessões de psicanálise. Também vamos abordar o papel da escuta do analista, o conceito de atenção flutuante, as resistências que podem surgir ao longo do processo e os principais entraves à escuta psicanalítica.



O que é associação livre?

De acordo com Sigmund Freud (1904/1996), a técnica da associação livre é a regra fundamental da psicanálise. Ela é definida como convite que o psicanalista faz aos seus pacientes para que, durante as sessões, digam tudo o que lhes vêm ao pensamento, sobretudo, o que acharem sem importância ou lhes provoquem dor ou vergonha. Através desta técnica, Freud conseguia chegar mais facilmente às tendências inconscientes que tanto lhes causavam sofrimento.

Como surgiu a técnica da associação livre de Freud?

É difícil precisar o momento em que ela surgiu. De fato, mesmo enquanto praticava a sua auto-análise, Freud (1900/1996) já se servia da técnica da associação livre. Assim, visando interpretar seus sonhos, por exemplo, ele pegava um de seus fragmentos e ia associando-o a tudo o que lhe vinha à mente. Ao longo deste trabalho, ele ia descobrindo uma série de desejos inconscientes seus.

No entanto, é comum situar o caso de Emmy von N. (Breuer & Freud, 1895/1996) como aquele no qual a técnica da associação livre foi utilizada pela primeira vez. Freud nos conta que ele costumava falar bastante com esta paciente e até mesmo interferir no livre curso dos seus pensamentos. Até que, certa vez, ela o adverte para que deixasse de intervir a todo instante, de forma que ela pudesse falar à vontade sobre tudo o que lhe vinha ao pensamento.

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A associação livre na psicanálise

Apesar de ter sido utilizada desde muito cedo, a técnica da associação livre só vai se constituir como técnica privilegiada da psicanálise após Freud abandonar a hipnose.

Como muitos já sabem, Freud iniciou sua prática servindo-se da hipnose, vindo a abandoná-la em alguns poucos anos. Tal abandono se deu por vários motivos. O primeiro foi que a hipnose não era considerada exatamente um método científico e, assim, não desfrutava de muito respeito entre os médicos. O segundo foi que nem todo paciente era hipnotizável e, com isto, Freud deixava de atender uma enormidade deles.

No entanto, o principal motivo que o levou ao abandono da hipnose foi a descoberta de que era possível chegar às tendências inconscientes de seus pacientes mesmo com eles acordados. Bastava que se pedisse que dissessem tudo o que lhes vinha ao pensamento, sem maiores censuras ou restrições. Com isto, a livre associação foi alçada à categoria de regra fundamental da psicanálise (Freud, 1904/1996).

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Como funciona a técnica da livre associação?

Conforme destacamos, a técnica da associação livre possibilita que o paciente associe suas ideias de forma livre e sem maiores interferências do analista. Este se limitaria a escutar e a observar aonde as associações vão chegar. De vez em quando, é claro, cabe ao analista fazer algumas perguntas ao paciente, mas sempre com o intuito de melhor estimular suas associações.

Através desta técnica, o paciente consegue, por exemplo, expor seus pensamentos, falar sobre alguns acontecimentos cotidianos e construir um relato sobre aquilo que o faz sofrer. Ele pode também falar de seus conflitos, de seu passado, dos projetos para o futuro e, inclusive, de suas fantasias e ideias de qualquer ordem (Freud, 1904/1996).

Associação livre e o inconsciente

Com efeito, destacamos que a psicanálise parte do pressuposto de que todos nós possuímos desejos inconscientes (desejos dos quais não temos qualquer conhecimento). Segundo Freud (1909/1996), são justamente estes desejos que se escondem por trás de tudo o que nos faz sofrer. Trata-se de desejos sexuais que tiveram de ser afastados da consciência por serem considerados imorais.

Assim, quando um sujeito vem procurar análise, o psicanalista deve com ele trabalhar para trazer estes desejos novamente à consciência. Desta forma, o paciente consegue elaborar seu sofrimento.

De fato, conduzir o material inconsciente à consciência foi considerado o principal objetivo da clínica psicanalítica, pelo menos nos primeiros anos de trabalho de Freud. Para tal, o analista se serviria da associação livre, propondo que seu paciente tudo dissesse e encadeiasse umas às outras as suas associações. Ao longo deste trabalho, acontecia de o paciente perceber em si algumas tendências inconscientes que ele nem desconfiava existir.

À guisa de ilustração podemos tomar o caso de Elisabeth, paciente de Freud, que em muito sofria em virtude de fortes dores na perna. Nesta medida, através da técnica da associação livre, a paciente ia falando, contando sua história, trazendo seu passado e relatando suas mais diversas fantasias e acontecimentos cotidianos.

Até que, ao longo destas tantas associações, ela descobriu possuir os mais ardentes desejos pelo próprio cunhado. Porém, não conseguia “dar um passo adiante” em seus propósitos, justamente, em virtude dos tantos preceitos morais existentes. Deste modo, Elisabeth concluiu que suas dores na perna eram justificadas por seu desejo sexual pelo cunhado aliado à impossibilidade de correr atrás de seus objetivos (Breuer & Freud, 1895/1996).



O método da associação livre e as resistências

Cabe agora perguntar: por que quando o analista solicita que o paciente diga tudo o que lhe vem ao pensamento, ele frisa para que não se exclua aquilo que considere sem importância, pareça-lhe sem sentido ou lhe cause dor, vergonha ou mesmo asco? A resposta é: porque assim acredita-se que o trabalho de associação livre consiga driblar a força das resistências.

Como se pode imaginar, não é tarefa muito fácil fazer com que, a partir das associações livres, os desejos inconscientes cheguem à consciência. Isto porque, ao longo das sessões, as livres associações frequentemente se esbarram com algumas forças contrárias à conscientização dos desejos. Freud (1904/1996) denominou estas forças de “resistências”. Vejamos alguns de seus tantos exemplos.

Alguns exemplos de resistências na psicanálise

Tais resistências podem se reconhecer, por exemplo, quando o paciente silencia em meio às suas associações, quando sente dificuldade em dizer o que lhe vem à mente, quando prontamente se recusa a falar, quando falta à alguma sessão ou mesmo quando coloca uma série de empecilhos para o prosseguimento da análise.

Mas há também as situações nas quais o paciente se embaraça em virtude do que iria contar ou sente vergonha a respeito do que está narrando. Inclusive, há as situações nas quais o prosseguimento das associações livres lhe cause desconforto, tristeza ou mesmo dor. Ademais, há o caso nos quais suas associações pareçam não fazer muito sentido. Em todos estes casos, Freud (1904/1996) diz fazer-se presente a força das resistências.

Um último exemplo remete ao caso de quando o paciente deixa de contar algo porque o considera irrelevante. Geralmente, este é mais um dos pretextos que funciona como uma arma das resistências. Nesta medida, é sempre surpreendente observar que aquilo que o paciente julga como pouco importante é justamente o que mais diretamente vai conduz aos desejos inconscientes.

Daí o pedido para que o paciente não exclua de seu discurso o que considere sem importância ou que venha lhe causar tristeza, dor ou embaraço dentre tantos outros sentimentos penosos. De fato, quanto mais as associações provocam embaraço, desprazer ou sejam consideradas sem sentido ou mesmo sem importância, pode-se ter a certeza de que elas estão se aproximando das tendências inconscientes.

A escuta psicanalítica

Freud (1912b/1996) também destaca que ao ouvir as associações livres de seus pacientes, o psicanalista deve manter uma “escuta flutuante”.

Por “escuta flutuante” ou “atenção flutuante”, ele caracteriza uma escuta que não privilegia qualquer elemento das associações livres de seus pacientes. Deste modo, tal como deve acontecer com as associações do analisando, a escuta do psicanalista deve ser igualmente livre. Por isto, há o destaque de que o psicanalista deve tudo ouvir, de forma a não se concentrar – pelo menos à princípio – em quaisquer dos elementos narrados.

Caso o analista se concentre por demais em determinado elemento das associações livres, ele corre o risco de negligenciar outra série de elementos que podem ser importantes para o caso. Além do mais, ao fechar os ouvidos para estes outros elementos, ele periga não descobrir nada além do que já sabe e, com isto, recorrer a graves enganos.

Os entraves à escuta psicanalítica

Em relação à escuta flutuante, Freud também coloca que ela deve ser isenta de quaisquer entraves. Dentre eles, os três mais conhecidos são: as concepções teóricas que o psicanalista traz consigo, os diversos preconceitos que ele insiste em manter e também alguns julgamentos seus de qualquer ordem.

Daí a necessidade de o psicanalista do tripé psicanalítico, onde deve fazer uma análise pessoal – além de uma supervisão – para se livrar, ao máximo, destas tendências que prejudicam sua escuta. Ilustremos cada um destes três entraves.

  1. Concepções teóricas

    Há, portanto, a necessidade de o psicanalista se esforçar para, de certa maneira, esquecer parte de seus conhecimentos teóricos, pelo menos enquanto escuta seus pacientes. Deste modo, o psicanalista evitaria acabar aplicando aos casos que atende uma teoria conhecida que, talvez, nada tenha a ver com eles.

    Um exemplo grosseiro remete a uma possível paciente que chegue ao seu consultório sentindo fortes dores nas pernas e ele presuma que, assim como aconteceu com Elisabeth, ela estaria apaixonada pelo cunhado.

    Ou então que, em conformidade com o que aprendeu a respeito do complexo de Édipo, o psicanalista venha a concluir de antemão que a esposa de um paciente seu seja a substituta de sua figura materna. Assim, sem nem escutar direito o paciente, o psicanalista acaba dizendo-lhe: “Você provavelmente briga com a sua esposa, igual brigava com a sua mãe”. Ou: “Você sente ciúmes dela tal qual na infância sentiu ciúmes da sua mãe”.
  2. Preconceitos

    Nesta mesma perspectiva, uma análise pessoal aliada a uma supervisão também poderia impedir que determinados preconceitos do analista venham a prejudicar sua escuta. Como ilustrações, há o caso do psicanalista homofóbico que pode vir a achar que seus pacientes homossexuais são relativamente anormais ou perversos. Há também o caso do psicanalista extremamente machista que pode estranhar e mesmo criticar algumas atitudes e pensamentos de suas pacientes mulheres. Além do caso do psicanalista extremamente religioso e moralizatório que possa vir a fazer longos sermões aos pacientes que utilizam drogas lícitas ou mesmo ilícitas.
  3. Julgamentos pessoais

    Outros exemplos correntes remetem aos próprios julgamentos pessoais do psicanalista que prejudicam sua escuta no caso de não serem bem analisados ou supervisionados. Desta forma, há o caso de uma psicanalista que, por exemplo, sofre por nunca ter conseguido ser mãe e que, assim, tenha dificuldade em escutar os motivos de uma paciente que decidiu abortar uma gravidez indesejada. Ou mesmo o caso de um psicanalista com tendências políticas mais reacionárias e que possa vir a ter dificuldade em escutar alguns comportamentos de seus pacientes com visões mais progressistas.



Associação livre e escuta flutuante

A partir de tudo o que foi acima colocado, podemos concluir que a atenção flutuante está para o analista assim como a associação livre está para o analisando e que ambas se complementam durante o tratamento (Freud, 1912/1996). Assim como as associações do paciente devem ser livres de preconceitos ou julgamentos, a escuta do psicanalista também o deve ser. E se o analista abre mão de sua atenção flutuante, ele inevitavelmente joga fora todo o proveito que se poderia retirar das associações livres de seus pacientes.

Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

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Referências:

BREUER, J. & FREUD, S. (1893-1895). Estudos sobre histeria. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 2. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 11-316.

FREUD, S. (1900). A interpretação de sonhos. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vols. 4 e 5. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 13-650.

______. O método psicanalítico de Freud. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 7. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 233-240.

______. (1909). Moral sexual “civilizada” e doença nervosa moderna. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 9. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 165-186.

______. (1912). Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 12. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 121-133.



O que é narcisismo? Entenda a partir da teoria de Freud
Gabriel Cravo Prado
O que é narcisismo? Entenda a partir da teoria de Freud
Você é uma pessoa narcisista? Entenda o que é narcisismo, suas características e conheça o Mito de Narciso através da psicanálise e da obra de Freud.

Vamos percorrer neste texto algumas ideias de Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, que fez contribuições fundamentais para a compreensão do narcisismo.

Freud explorou como o narcisismo se relaciona ao desenvolvimento do eu e à formação da identidade, discutindo a transição entre o amor próprio e o amor aos outros. Suas reflexões sobre a libido e as fases do desenvolvimento infantil estão intrinsecamente ligadas à constituição do sujeito. Através de conceitos como o "narcisismo primário", "narcisismo secundário" e "libido", Freud lançou as bases para o entendimento contemporâneo desse fenômeno.



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O que é o mito de Narciso?

O mito de Narciso, oriundo da mitologia grega, narra a trágica trajetória de um jovem de beleza ímpar, filho da ninfa Liríope e do deus do rio Céfiso. Segundo a narrativa, Narciso, ao se inclinar para beber água, se depara com sua própria imagem refletida e, em um ato de deslumbramento, se vê tragicamente consumido por uma obsessão por sua beleza.

Depois desse apaixonamento pela sua imagem, ele se torna surdo à Eco, uma ninfa que estava apaixonada por ele, e não corresponde essa paixão. Narciso então é tragado pela sua própria imagem refletida no lago e morre afogado. E é a partir do mito de narciso que Freud propõe um modelo para entender o que seria a origem do Eu.

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O que é narcisismo para a psicanálise?

O conceito de narcisismo possui características que divergem significativamente do que é geralmente discutido no senso comum, conforme descreveu Freud no artigo de 1914 Introdução ao Narcisismo:

"O narcisismo não seria uma perversão, mas o complemento libidinal do egoísmo do instinto de autoconservação, do qual justificadamente atribuímos uma porção a cada ser vivo" (FREUD, 2010/1914, p. 15)

Para Freud, o narcisismo é uma etapa crucial no desenvolvimento do eu, representando a transição do autoerotismo — onde o prazer é centrado no próprio corpo — para a escolha de outro ser como objeto de amor. Neste estágio, o indivíduo ainda não se distingue plenamente das demais pessoas e do mundo ao seu redor, refletindo uma fase em que a identificação com o eu é predominante.

Investimento libidinal e objeto

É importante observar que na teoria psicanalítica:

  • Investimento libidinal: refere-se à canalização da energia psíquica, ou libido, para objetos ou aspectos da realidade, como pessoas, ideias ou o próprio eu.
  • Objeto: é empregado para designar pessoas ou coisas do ambiente externo, do mesmo modo, a relação de objeto consiste na maneira que o sujeito lida com o mundo exterior.


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Narcisimo Primário e Narcisismo Secundário

Assim, para a psicanálise, narcisismo é compreendido como um investimento libidinal no próprio eu, essencial para a formação dele. Esses investimentos necessitam ser direcionados para outros objetos, para o mundo exterior, ou seja, o sujeito precisa fazer investimentos que vão para além de si. Como diz Freud “ É preciso amar para não adoecer" (FREUD, 2010/1014, p. 29) .

A teoria freudiana divide o narcisismo em duas partes, sendo narcisismo primário e narcisismo secundário.

Narcisismo primário Seria o estado precoce em que a criança investe toda a sua libido em si mesma. Essa é a fase do desenvolvimento que a libido está dirigida ao próprio eu. Pode-se dizer que é o reservatório da libido, para onde ela faz o seu retorno, trabalhando no autoerotismo.
Narcisismo secundário Aqui é quando a libido não está somente no eu, ela passa a ir em direção aos objetos externos, porém, acontece o fracasso da pulsão ao tentar obter satisfação por meio de objetos externos, levando o sujeito a novamente redirecionar essa energia para o próprio eu. É quando acontece um recolhimento dos investimentos objetais.


A escolha objetal para Freud

Ainda no mesmo texto, Freud descreve um breve sumário dos caminhos para a escolha de objeto, onde diz que uma pessoa pode amar (FREUD, 2010/1914: p. 36):

Conforme o tipo narcísico:

  • o que ela mesma é (a si mesma),
  • o que ela mesma foi,
  • o que ela mesma gostaria de ser,
  • a pessoa que foi parte dela mesma.

Em contrapartida, ao tipo de escolha narcísica, a escolha anaclítica pode recair sobre:

Conforme o tipo “de apoio”:

  • a mulher nutriz,
  • o homem protetor


A escolha anaclítica é vista como uma forma de projetar necessidades afetivas em outras pessoas que pode caracterizar esse tipo de amor. Essa escolha se contrasta com o amor narcísico, onde a própria pessoa é tomada como modelo e a escolha é segundo a sua imagem e semelhança. Cabe dizer que os dois tipos de escolha estão, ao mesmo tempo, presentes no sujeito.

Retrato de Freud feito por Salvador Dali
Sigmund Freud (1938) | Salvador Dali
Retrato de Freud feito por Salvador Dali



O que é uma pessoa narcisista?

O narcisismo é uma fase necessária da evolução da libido, antes que o sujeito se volte para um objeto sexual externo. É o que estrutura da subjetividade, é um aspecto da condição humana, assim, de algum modo, todos são narcisistas, pois todo sujeito possui uma porção de libido que pode ser investida em si mesmo e para outros objetos. Ela é investida parcialmente nos objetos e parcialmente no eu.


Em suma, pode-se dizer que todos possuem narcisismo, tendo em vista que ele atua como uma forma de organização para o sujeito, garantindo a própria preservação dele. Com isso pode-se afastar a ideia de estigmas associados a comportamentos considerados excessivamente egocêntricos ou vaidosos, pois o narcisismo é um investimento do sujeito em si mesmo.

Assim o narcisismo é importante para a psicanálise tendo em vista que nos estágios iniciais da vida, não se percebe os objetos como algo externo, gradativamente ao longo dos primeiros meses é que o infante aprende a se distinguir de outros objetos. Até aqui pode-se perceber que uma pessoa sem narcisismo seria uma pessoa com uma grave questão, tendo em vista que ela não teria empatia e não conseguiria se identificar com os objetos externos.




Como se aprofundar nos estudos sobre narcisismo?

O conceito de narcisismo é fundamental na psicanálise e, além disso, requer uma análise cuidadosa. Para aprofundar-se, é fundamental investigar a obra de Freud, que estabelece as bases teóricas do narcisismo e suas implicações no desenvolvimento do eu.

É recomendada a leitura de textos clássicos, como Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905), Introdução ao Narcisismo (1914), Luto e Melancolia (1917 [1915]). Jacques Lacan também teorizou sobre o tema no O Seminário 1 - Os Escritos Técnicos de Freud - Jacques Lacan e no escrito O Estádio do Espelho como Formador da Função do Eu.

Assistir aos cursos de psicanálise da plataforma da Casa do Saber é extremamente importante, também para se aprofundar no conceito de narcisismo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, Sigmund. Introdução ao Narcisismo (1914). Companhia das Letras: São Paulo, 2010.

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Zahar: Rio de Janeiro, 1985.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.







Neurose, psicose e perversão: qual a diferença?
Gabriel Cravo Prado
Neurose, psicose e perversão: qual a diferença?
Saiba diferenciar as estruturas psíquicas neurose, psicose e perversão e identifique os seus sintomas pela teoria de Freud sobre as origens inconscien

A compreensão de neurose, psicose e perversão é fundamental para entender os conceitos centrais da teoria psicanalítica. Essas estruturas clínicas descrevem diferentes maneiras pelas quais o sujeito se relaciona com o mundo externo. Neste artigo, vamos explorar as principais diferenças entre neurose, psicose e perversão, suas origens e nas manifestações clínicas.



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Neurose: conflito e recalque

É uma estrutura clínica que os sintomas manifestados funcionam como uma expressão simbólica de um conflito psíquico subjacente, cujas raízes podem ser rastreadas na história infantil do indivíduo. Esse conflito origina-se de um compromisso entre os desejos inconscientes e os mecanismos de defesa, os quais buscam mitigar o impacto do desejo reprimido ou não realizado. Esse fenômeno é muitas vezes interpretado como um reflexo de tensões internas não resolvidas, que emergem na forma de distúrbios psicológicos ou somáticos.

Na estrutura neurótica, encontram-se dois possíveis diagnósticos que auxiliam o psicanalista na direção do tratamento, a histeria e a neurose obsessiva. Ambas representam características e sintomas específicos e se distinguem pelos mecanismos de defesa e por maneiras particulares de manifestação do conflito psíquico.

Histeria As duas formas sintomáticas mais comuns da histeria são a histeria de conversão e a histeria de angústia. Na histeria de conversão, o conflito psíquico se manifesta por meio de sintomas corporais diversos, que podem ter um caráter mais exacerbado. Já na histeria de angústia, a angústia tende a se fixar em um objeto específico do mundo externo, resultando em fobias. Mesmo na ausência de sintomas evidentes, como fobias ou conversões físicas, a especificidade da histeria está ligada a certos mecanismos psicológicos, especialmente o recalque (muitas vezes perceptível), e à predominância de determinadas identificações. Além disso, a histeria está profundamente associada ao conflito edipiano, com seus desdobramentos nos registros libidinais fálico e oral, que desempenham um papel central na dinâmica emocional do sujeito.
Neurose Obsessiva Nessa condição, o conflito psíquico manifesta-se por meio de sintomas compulsivos, como pensamentos obsessivos, a compulsão para realizar atos indesejados, resistência interna a essas tendências, rituais repetitivos, entre outros. Além disso, um traço distintivo desse tipo de neurose é a predominância de um modo de pensar caracterizado pela ruminação mental, pela dúvida constante, pelos escrúpulos, o que frequentemente resulta em inibições tanto do pensamento quanto da ação. Freud, ao longo do tempo, foi refinando sua definição das neuroses obsessivas, considerando suas manifestações e origens psíquicas, com ênfase nos conflitos inconscientes que geram essas condições.



Os sintomas neuróticos são, muitas vezes, uma representação simbólica de conflitos não resolvidos. São manifestações de uma luta interna entre o desejo e as exigências do mundo externo, ou seja, uma expressão de um desejo que não pode ser satisfeito diretamente e com isso se instaura o sintoma como uma formação de compromisso entre essas forças conflitantes.

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O que é psicose: a perda de contato com a realidade

Para Freud, a psicose se caracteriza por uma ruptura fundamental entre o sujeito e a realidade externa, indo além de simples sintomas de sofrimento psíquico, como ocorre nas neuroses. A principal distinção entre a psicose e a neurose, segundo Freud, é que o psicótico não possui a capacidade de reconhecer sua distorção da realidade. Enquanto o neurótico é capaz de perceber a disfunção de seus pensamentos e emoções, o psicótico vivencia um mundo completamente alterado, frequentemente marcado por delírios e alucinações.

Freud via a psicose como uma reconstrução inconsciente de uma realidade delirante ou alucinatória, onde o sujeito, isolado em sua própria interpretação do mundo, perde a conexão com a experiência compartilhada pela sociedade. Nesse sentido, a psicose foi entendida como uma reorganização psíquica que busca substituir a realidade externa por uma versão interna.

Afinal, o que é loucura?

O que a ideia de “normalidade” realmente significa? A psicanálise, desde seu início, desafia a ideia de “normalidade” como uma condição vista como “natural” do ser humano, e apresenta uma concepção mais nuançada dessa ideia. O professor, psiquiatra e psicanalista Marcelo Veras desvenda esses pensamentos no curso Somos Todos Loucos? De Perto, Ninguém é Normal.

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O que é perversão: desejo e transgressão

Freud reformula a concepção de perversão, distanciando-a das interpretações populares que a viam como um simples desvio da norma socialmente estabelecida. Embora a palavra "perversão" já fosse utilizada antes de Freud para descrever comportamentos que se afastavam do que era considerado sexualmente normal ou aceitável em uma determinada sociedade, Freud atribui a essa noção um significado mais profundo, relacionado aos processos inconscientes da pulsão. Para ele, a perversão não é apenas um desvio do comportamento socialmente esperado, mas um desvio da própria pulsão, que, em vez de alcançar o objeto tradicional de desejo, se desvia para outras formas de satisfação.

Ele também articula a perversão dentro de uma estrutura clínica mais ampla. Nesse contexto, a perversão é associada à maneira como o sujeito lida com a castração, um conceito fundamental na psicanálise. Ao contrário da neurose e da psicose, onde a castração é enfrentada de outras formas, a perversão é uma maneira de negar a castração. Essa negação não é uma simples rejeição, mas um modo de estruturar a sexualidade de forma a evitar o reconhecimento da falta, substituindo-a por uma busca incessante por objetos que permitam uma satisfação contínua, muitas vezes sem finalização.




Como aprender mais sobre a teoria psicanalítica

Se você se interessa em compreender melhor os complexos conceitos de neurose, psicose e perversão, fundamentais para a psicanálise, uma excelente maneira de aprofundar seus conhecimentos é através de um estudo estruturado e guiado.

Além disso, a Casa do Saber + e o Programa + Psicanálise oferecem cursos que constituem uma excelente oportunidade para aprofundar o entendimento de outros conceitos essenciais da psicanálise. Esses cursos são cuidadosamente estruturados para proporcionar uma análise aprofundada e uma discussão instigante, permitindo aos participantes explorar as complexidades e as implicações teóricas da psicanálise de forma mais ampla e detalhada.

Resumo sobre neurose, psicose e perversão

A neurose, envolve os sintomas de angústia, compulsões e conflitos inconscientes; a psicose é caracterizada pela perda de contato com a realidade, e a perversão, envolve desvios da pulsão e a negação da castração.




Referências Bibliográficas:

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

Qual a diferença entre psicanalista e psicólogo?  Entenda tudo aqui
Camila Fortes
Qual a diferença entre psicanalista e psicólogo? Entenda tudo aqui
Veja as diferenças entre psicanalistas e psicólogos: formação, atuação e abordagens terapêuticas. Entenda de vez como atua cada profissional da área.

Muitas pessoas confundem os papéis do psicanalista e do psicólogo. Ambos os profissionais atuam no cuidado em saúde mental, escutam pacientes e trabalham com questões emocionais e comportamentais. No entanto, apesar das semelhanças na prática clínica, existem diferenças importantes entre eles.

O psicanalista e o psicólogo possuem trajetórias, formações e campos de atuação próprios. Os métodos de trabalho e as abordagens teóricas utilizadas também se diferem, refletindo maneiras distintas de compreender o funcionamento psíquico e de conduzir o processo terapêutico.

Neste artigo, vamos entender o que diferencia o psicanalista do psicólogo, as áreas de atuação, a formação e como eles contribuem para o bem-estar emocional e mental das pessoas.



O que faz um psicanalista?

O psicanalista é um profissional da psicanálise, uma abordagem terapêutica criada por Sigmund Freud. O psicanalista analisa os sintomas, investiga os motivos inconscientes por trás desses sintomas, e busca tratá-los. Além disso, explora questões como a linguagem, os traumas e os sonhos do paciente para acessar conteúdos reprimidos pela psique.

Sua prática é marcada pela abordagem do sujeito a partir das manifestações do desejo, sendo que o objetivo não é a cura em seu sentido biomédico, mas o processo de subjetivação e elaboração psíquica de conflitos pessoais.

O processo analítico na psicanálise costuma ser mais longo, pois analisa questões complexas e subjetivas para o paciente. Nesse processo, a interpretação de padrões de pensamento e comportamento são estratégias centrais para a escuta clínica.


O psicólogo opera para compreender os modos como as pessoas se relacionam com o mundo e com elas mesmas. Na prática, o profissional da psicologia auxilia o paciente a entender os pensamentos, as emoções e percepções, dentro de um contexto de sociabilidade, e elabora soluções para se construir um maior bem-estar.

Embora o processo terapêutico seja mais reduzido a depender do objetivo, a área da psicologia inclui uma multiplicidade de abordagens teóricas e práticas clínicas, o que permite diferentes formas de condução do processo analítico.

Entre as abordagens mais utilizadas, destaca-se a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), focada na identificação de padrões de comportamento disfuncionais e na reestruturação cognitiva para promover mudanças práticas no cotidiano.

Já a Psicologia Humanista valoriza a experiência subjetiva do indivíduo e busca promover seu potencial de crescimento através do vínculo terapêutico. A Gestalt-terapia, por sua vez, é centrada na percepção do “aqui e agora” e na responsabilidade pessoal.

Além disso, muitos psicólogos exercem a própria Psicanálise, após passar por uma formação específica nessa abordagem. Eles encontram nela um campo de aprofundamento teórico e clínico que enriquece a sua prática e amplia os modos de escuta e intervenção sobre o sofrimento humano. Assim, um psicólogo pode se tornar membro de uma escola ou sociedade psicanalítica, que reconhece sua capacitação e atuação na área.


Como Psicólogos e Psicanalistas Entendem a Ansiedade: Um Exemplo

Mencionamos que ambos olham para o sofrimento mental de modos distintos. Mas, como isso acontece?

Um diagnóstico de ansiedade , por exemplo, pode ser analisado por psicólogos a partir de modelos teóricos com foco na função adaptativa ou disfuncional do comportamento ansioso. Na prática, a psicologia irá ajudar a identificar os gatilhos emocionais e a reestruturar os pensamentos ansiosos. Além disso, auxiliará a reduzir os sintomas e ensinar técnicas de manejo emocional, com metas e tempo definidos.

Já para a psicanálise, a ansiedade é interpretada como um sintoma subjetivo, com raízes no inconsciente. Ela denunciaria algum outro aspecto psíquico do sujeito, que precisaria ser analisado profundamente. Na prática, o psicanalista investigaria a relação com traumas, desejos, conflitos e padrões de pensamento e comportamento ansiosos, aprofundando o processo terapêutico.

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O que é psicanálise e o que é psicologia?

Antes de aprofundarmos sobre o processo formativo e os campos de atuação, é preciso entender brevemente o que é cada área.

A psicanálise é uma abordagem terapêutica centrada na investigação do inconsciente sobre a personalidade do paciente. Criada por Sigmund Freud no final do século XIX, a terapia psicanalítica investiga o que está fora da consciência, mas que influencia diretamente nos modos de agir, pensar, sentir e sofrer.

Por outro lado, a psicologia é uma ciência que estuda o comportamento humano e os processos mentais. Ela tem por objetivo trabalhar as dimensões cognitivas, afetivas e comportamentais das pessoas, em todas as fases da vida.


A formação em psicanálise e psicologia

O exercício profissional da psicologia acontece por meio de uma formação de graduação universitária, que dura em média, 5 anos. Além disso, para realizar a prática clínica, é necessário realizar estágios supervisionados e se registrar no Conselho Regional de Psicologia (CRP).

Durante a prática, o psicólogo também pode realizar entrevistas clínicas, testes psicológicos e utilizar de outros recursos que auxilie no processo terapêutico.

Já na psicanálise, a formação tem duração de 1 a 4 anos, dependendo da instituição e da carga horária. Além disso, o processo formativo se dá, tradicionalmente, por meio do tripé psicanalítico: análise pessoal, supervisão clínica e estudo teórico. O estudo contínuo das obras de Freud, Lacan, Melanie Klein, Winnicott, entre outros psicanalistas, é fundamental para o desenvolvimento profissional do psicanalista.

Na psicanálise a formação acontece por meio de institutos ou escolas de psicanálise, de forma livre e independente da graduação universitária. Não sendo uma profissão regulamentada por lei no Brasil, a formação psicanalítica não possui conselho e nem exigência de registro profissional.

Embora, legalmente, a formação em psicanálise não exija diploma universitário, a maioria dos institutos mais reconhecidos costuma exigir formação prévia em áreas como psicologia, medicina ou ciências humanas.

Atenção:

É importante destacar que psicanalistas não podem realizar testes ou emitir laudos e pareceres psicológicos. Do mesmo modo, um psicólogo só pode se apresentar como psicanalista se tiver realizado uma formação específica em psicanálise.




Campos de atuação para psicanalistas e psicólogos

A atuação de psicanalistas e psicólogos também acontece de modos distintos, tanto por questões institucionais e legais, quanto pela concepção de saúde e sofrimento mental adotada por cada campo.

Embora ambas possam trabalhar com escuta clínica, seus espaços de trabalho e formas de inserção na sociedade divergem bastante.

O psicólogo pode atuar nas seguintes áreas regulamentadas por lei:

  • Psicologia Clínica: Oferece psicoterapia individual, de casal, em grupo ou família. Trabalha com diferentes abordagens para promover saúde mental, entre elas, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Humanista, Gestalt, Psicologia Analítica e Psicanálise.
  • Psicologia Jurídica ou Forense: Atua no sistema de justiça, realizando avaliação psicológica em vítimas, réus e seus familiares. Contribui com pareceres técnicos e decisões judiciais, quando envolvem questões subjetivas.
  • Psicologia Hospitalar: Trabalha em hospitais, clínicas e unidades de saúde no cuidado emocional de pacientes, familiares e equipes profissionais. Auxilia na adaptação de diagnósticos, internações e processos de luto.
  • Psicologia Educacional ou Escolar: Atua em instituições de ensino promovendo inclusão e desenvolvimento psíquico de alunos. Responde junto a professores e famílias para auxiliar com dificuldades de aprendizagem e relações escolares.
  • Psicologia Organizacional e do Trabalho: Exerce a prática em empresas e instituições com recrutamento de profissionais. Desenvolve ações de prevenção ao estresse, melhorando a gestão de pessoas e a comunicação.
  • Neuropsicologia: Investiga a relação das funções cognitivas do cérebro com o comportamento humano. Com base nos estudos das neurociências, a neuropsicologia atua para entender as influências de questões neurológicas sob a atenção, a memória, o raciocínio, as emoções e o comportamento do paciente.


A formação psicanalítica, por sua vez, pode abrir portas para áreas de atuação não convencionais. O psicanalista pode explorar a:

  • Clínica psicanalítica: Realiza atendimentos individuais, geralmente em processos mais longos e aprofundados. O foco é na investigação sobre o inconsciente através do estudo dos sonhos, das experiências infantis e relações familiares.
  • Formação de outros psicanalistas: Diversos psicanalistas se dedicam ao processo formativo de outros profissionais da psicanálise. O ensino de cursos livres, a supervisão de atendimentos clínicos e a construção de núcleos de estudos teóricos também integram essa formação.
  • Produção acadêmica: Atuam na elaboração do conhecimento científico, participando de eventos, congressos e espaços de discussão intelectual. Produzem livros e artigos, além de ministrar aulas e palestras, com o objetivo de aprofundar as investigações nos estudos sociais e culturais sob o olhar psicanalítico.
  • Interlocuções profissionais: A formação psicanalítica pode ser somada a outras formações, como psicologia, medicina com foco em psiquiatria, filosofia, literatura, sociologia e outras áreas das humanidades.


A psicanálise também tem ganhado espaço em clubes de leitura, atendimentos populares e projetos culturais, sendo utilizada como ferramenta crítica para analisar fenômenos contemporâneos.

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Tanto a psicanálise quanto a psicologia oferecem caminhos legítimos e potentes para o cuidado em saúde mental.

Para quem deseja seguir carreira, a psicologia oferece possibilidades de atuação em múltiplas áreas, sendo assegurado pelo Conselho (CRP). Já a psicanálise, oferece um campo de atuação mais flexível e livre em termos profissionais, mas que exige comprometimento, estudo contínuo e envolvimento com instituições formadoras.

Já para quem busca atendimento, a escolha entre um psicólogo e um psicanalista pode depender do tipo de abordagem que a pessoa deseja experimentar. Diferentes linhas teóricas podem oferecer caminhos igualmente valiosos e profundos. Por isso, ao procurar um psicólogo, é recomendável se informar sobre a abordagem utilizada para entender se ela está alinhada com o que se busca para o processo terapêutico.

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Referências

https://bvsms.saude.gov.br/psicologia-6/

Psicanálise: o que é, conceitos, autores, como funciona e formação
Paula Delgado
Psicanálise: o que é, conceitos, autores, como funciona e formação
Descubra o que é a psicanálise, como surgiu, principais conceitos e autores. Veja como funciona a sessão de psicanálise e como se tornar psicanalista.

A psicanálise é muito mais do que uma teoria sobre o inconsciente: ela é uma forma de escuta, um método clínico e um campo vasto de investigação sobre o funcionamento da mente humana. Criada por Sigmund Freud no final do século XIX, a psicanálise revolucionou o modo como compreendemos nossos pensamentos, desejos e comportamentos.

Neste artigo, você vai entender o que é psicanálise, quais são seus principais conceitos, quem foram os autores que ajudaram a moldá-la, como funciona uma sessão psicanalítica e de que forma é possível iniciar sua formação na área.



A origem da psicanálise: um breve histórico do surgimento

A história da psicanálise começa antes mesmo dela receber este nome e para isso é importante entender como Sigmund Freud se tornou o “pai da psicanálise”.

Na passagem do século XIX para o século XX, Freud observou que alguns de seus pacientes apresentavam sintomas que não tinham explicações fisiológicas - chamados à época de casos de histeria. Foi quando propôs uma nova forma de olhar para a origem dos sofrimentos.

A partir de então, Freud começou a desenvolver a ideia do que hoje conhecemos como psicanálise: a noção de que os sintomas dos pacientes histéricos são expressões de ideias que estão fora da consciência. Inicialmente, ele utilizou o termo “psico-análise” em um artigo publicado em 1896. Somente mais tarde a psicanálise se consolidou como uma ciência humana e uma prática clínica.

A psicanálise marcou uma ruptura com a medicina tradicional, uma vez que passou a utilizar a escuta subjetiva como instrumento terapêutico e de tratamento. A partir de então, esse campo se expandiu e várias escolas e vertentes teóricas foram sendo desenvolvidas.


O que é psicanálise, afinal?

A psicanálise é um método analítico-terapêutico, criado por Sigmund Freud no final do século XIX, voltado à compreensão da mente humana e de suas manifestações conscientes e inconscientes.

A psicanálise trabalha a partir de alguns conceitos específicos que tem como fim comum compreender o funcionamento da mente humana. O conceito principal para entender o que é psicanálise é o inconsciente.

Primeiramente, inconsciente é o elemento principal no qual o analista vai trabalhar. Quem cunhou este conceito foi Freud em seu livro A Interpretação de Sonhos(1900).

De forma geral, o inconsciente é o lugar onde residem desejos reprimidos, experiências traumáticas e lembranças inaceitáveis para o ego. Resumidamente, por meio do conceito de inconsciente, Freud diz que nós não nos conhecemos totalmente.

Como o inconsciente influencia tanto nossos pensamentos quanto nossas atitudes - e não pode ser compreendido dentro da lógica consciente - ele precisa de outros meios para ser alcançado. A psicanálise, então, oferece o método de escuta como um caminho para acessá-lo.

A partir do momento que o psicanalista oferece a escuta, dá-se início ao processo ativo de investigação clínica, o que Freud chamou de Associação Livre. Você vai entender sobre este e outros conceitos mais adiante.

Ao longo do tempo, a psicanálise foi ressignificada por diversas escolas e autores, mas preserva como essência o compromisso com a escuta dos processos psíquicos e o cuidado com os conflitos que emergem do inconsciente.

Principais conceitos da psicanálise

Agora que você já entendeu o que é a psicanálise, podemos aprofundar nesse universo explorando alguns de seus conceitos fundamentais. O principal deles - e marco inaugural da teoria freudiana - é o inconsciente. Confira um pouco mais sobre este e outros conceitos abaixo.

Inconsciente

É no inconsciente que se encontram os desejos e características das quais não temos conhecimento e que mesmo assim influenciam a nossa vida, comportamento e relações sociais.

Freud foi quem formulou essa noção revolucionária: a de que não somos senhores em nossa própria casa. Ou seja, há algo em nós que nos dirige, mesmo sem sabermos. Este conteúdo inconsciente se manifesta de maneiras indiretas e de forma disfarçada, como em sonhos, atos falhos e lapsos de linguagem.

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Transferência e contratransferência

Os conceitos de transferência e contratransferência foram também desenvolvidos por Sigmund Freud. A transferência refere-se ao vínculo estabelecido entre paciente e analista.

Nesta relação, o paciente pode deslocar sentimentos inconscientes, desejos e experiências passadas em relação a figuras significativas de sua vida (geralmente os pais) para a figura do terapeuta. Freud percebeu que esses sentimentos podem ser tanto positivos quanto negativos e que podem revelar aspectos profundos do inconsciente do paciente.

Já a contratransferência é definida por Freud como o modo através do qual o analista reage às transferências de seus pacientes, que deve ser manejado com cautela pelo profissional.

Associação livre

A associação livre é o processo no qual o paciente é incentivado a falar livremente, abrindo espaço para o analista acessar o inconsciente e interpretar o que é dito de forma distante. Por isso, a psicanálise é comumente conhecida como “terapia da fala”.

ID, Ego e Superego

Id, Ego e Superego são três conceitos da segunda tópica freudiana, que propõe explicar o funcionamento da psique a partir da divisão do aparelho psíquico nesses 3 conceitos.

📌 Nota sobre os termos Id, Ego e Superego

Caso você veja os termos escritos como “Eu”, “Isso” e “Supereu”, existe uma explicação. Freud nasceu em Freiberg, então parte do Império Austro-Húngaro, e escrevia em alemão — sua língua materna. Os termos originais usados por ele eram “Ich” (Eu), “Es” (Isso) e “Über-Ich” (Supereu).

Esses termos foram traduzidos para o inglês como Ego, Id e Superego, utilizando o latim numa tentativa de conferir um tom mais científico à teoria psicanalítica. Essa versão inglesa, feita por James Strachey, tornou-se referência mundial e influenciou as primeiras traduções brasileiras, que foram feitas a partir do inglês — e não diretamente do alemão. Por isso, até hoje, é comum encontrar nos textos em português as formas Id, Ego e Superego, embora elas não correspondam literalmente ao vocabulário original de Freud.



Segundo Freud, o Ego (eu) é a instância psíquica que estrutura a nossa personalidade. Ele representa o mundo externo, ou seja, é formado a partir da relação entre o sujeito e a realidade. Sendo assim, o ego é o elemento conciliador das exigências do ID (isso).

Uma vez que o Ego é responsável por essa mediação, a nossa mente busca estratégias para se proteger de situações de sofrimento, e Freud deu nome a este processo de mecanismos de defesa do ego. Para ele, esses mecanismos atuam como uma defesa para evitar dores e ansiedades diante de conflitos internos ou externos.

Os principais mecanismos de defesa do ego:

  • Recalque (Repressão)
  • Regressão
  • Deslocamento
  • Negação
  • Racionalização
  • Sublimação
  • Projeção


Já o ID (isso), para Freud, é o que representa o mundo interno, a instância psíquica inconsciente, a fonte dos impulsos, desejos e satisfação dos nossos instintos voltados para o prazer. O ID é desconhecido, é indomável.

Por último, temos o Superego, que é a instância psíquica formada a partir do ego que une os valores morais e culturais. Ele é o representante das normas e regras internas que correspondem às expectativas do Eu ideal.

O Superego pode ser considerado como o herdeiro do Complexo de Édipo, uma vez que se torna um representante das influências sociais e culturais, como educação religião imoralidade, que o sujeito recebeu de seus pais e, por isso, exerce a posição de vigiar, julgar e punir o Ego (eu).

Complexo de Édipo

Para entender o Complexo de Édipo, é interessante saber antes: quem foi Édipo?

Édipo é o personagem de uma tragédia grega escrita por Sófocles. Ele era o príncipe de Tebas, filho do rei Laio e da rainha Jocasta.

Édipo foi abandonado ao nascer após seu pai ouvir uma profecia que dizia que o próprio filho o mataria e se casaria com a mãe. Sem saber de sua origem, Édipo cumpre o destino: mata Laio e casa-se com Jocasta. Ao descobrir a verdade, Jocasta se suicida e Édipo fura os próprios olhos.

Freud se inspirou na tragédia grega para exemplificar o que acreditava estar reprimido no inconsciente infantil. Segundo o médico, a criança, na primeira infância, desenvolve um desejo (amoroso e/ou hostil) inconsciente para com os pais.

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Ato falho

O ato falho, conceito também cunhado por Sigmund Freud, é uma manifestação do inconsciente através de deslizes verbais ou comportamentais, que parecem insignificantes, mas que revelam desejos reprimidos ou conflitos internos.

Esses podem surgir em momentos de estresse ou tensão, expondo sentimentos ou pensamentos que estão inconscientes, mas que ainda assim influenciam as ações.

Narcisismo

Conceito muito importante também elaborado por Freud, narcisismo é o termo que se refere a transição do autoerotismo para a escolha de um objeto de amor, etapa crucial no desenvolvimento do eu. E ele pode se dividir em primário e secundário.

Narcisismo primário: Este é o estado em que a criança investe toda a libido em si mesma, ou seja quando a libido está direcionada ao próprio eu. Nesse momento, o sujeito ainda não distingue o eu dos objetos externos e não há direcionamento da libido para o outro. É uma fase em que o bebê vive uma relação de completude consigo mesmo, sendo ele o centro de seu mundo psíquico. Esse tipo de narcisismo é considerado normal e necessário nas primeiras etapas da vida.

Narcisismo secundário: Neste estágio, a libido que foi anteriormente direcionada a objetos externos é retirada e reinvestida no próprio eu. Esse movimento costuma ocorrer quando o sujeito experimenta frustrações ou falhas nas relações com o outro, passando a buscar no eu a fonte de satisfação e proteção psíquica.


Principais autores da psicanálise

Embora Freud tenha fundado a psicanálise, ela vai muito além de sua obra. No começo do século XX, o médico austríaco começou a formar grupos com alguns seletos seguidores que contribuíram muito para o desenvolvimento e difusão da psicanálise.

Às quartas-feiras à noite, Freud convidava um grupo de homens, que era composto por médicos, educadores, intelectuais da época, para dialogar sobre qualquer produção cultural ou científica que fosse relacionada aos estudos psicanalíticos.

A partir disso, fundou-se a Sociedade Psicanalítica de Viena, em 1906, composta inicialmente por Carl Jung, Karl Abraham, Ernest Jones. Ademais, em 1912, Freud criou o “Comitê Secreto “ ou “Círculo Íntimo “ com alguns dos seus integrantes mais próximos, como Ferenczi, Otto Rank e outros ilustres da época.

Apesar de divergências nas abordagens, conceitos e perspectivas teóricas, Freud e seus seguidores contribuíram de forma decisiva para a construção da psicanálise como a conhecemos hoje. Entre os nomes que marcaram a trajetória da psicanálise estão Jacques Lacan, Melanie Klein, Donald Winnicott, Sándor Ferenczi, Wilfred Bion, entre muitos outros.

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Carl Jung

Freud e Jung, desde o início do relacionamento profissional, já anunciavam grandes discordâncias sobre pontos cruciais, como o papel da sexualidade na vida do indivíduo.

Apesar das diferenças, os dois concordavam quanto à relevância do inconsciente e dos processos psíquicos profundos, o que levou a Freud a se interessar pelas pesquisas e experiências de Jung.

Enquanto Freud enfatizava os impulsos instintivos, a libido como ponto central da vida psíquica, Jung propôs um olhar no qual a libido não era apenas sexual, mas uma força mais ampla e criativa.

Além disso, Freud debruçou-se sobre a importância dos traumas da infância na construção do indivíduo. Ao passo que Jung apresentou o conceito de inconsciente coletivo, o qual defende que as experiências universais moldam o psiquismo. Após o rompimento entre os dois, Jung fundou a psicologia analítica.

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Melanie Klein

Melanie Klein, nascida em 1882, é uma psicoterapeuta austríaca e desenvolveu diversos conceitos e estudos sobre a psicanálise infantil, além de grande contribuição na compreensão do conceito de inconsciente.

Alguns dos conceitos desenvolvidos e revisados por Klein foram:

  • Análise do brincar
  • Relações objetais primárias
  • Posição esquizo-paranóide
  • Posição depressiva
  • Teoria da inveja e gratidão
  • Revisão do complexo de Édipo


Suas inovações abriram novos horizontes para a compreensão da análise infantil e novas abordagens na teoria e na clínica psicanalítica.

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Jacques Lacan

Jacques Lacan foi um dos principais psicanalistas pós-freudianos. Ele propôs uma reinterpretação das teorias de Freud a partir da linguística saussuriana, da filosofia heideggeriana e estruturalismo de Lévi-Strauss.

Uma das suas principais contribuições para a psicanálise foi a ideia de que o inconsciente é estruturado como uma linguagem e que nossos pensamentos e desejos são fundamentados a partir disso, influenciando a forma como percebemos o mundo.

Além disso, também introduziu um conceito de estádio do espelho, que descreve o momento em que a criança, ao se olhar no espelho, torna-se capaz de reconhecer a sua própria imagem e ter uma percepção da sua totalidade corporal - a percepção do eu.

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Como funciona uma sessão de psicanálise?

Agora você já conheceu alguns dos principais autores e conceitos da psicanálise. Antes de entendermos como funciona uma sessão de psicanálise, é importante termos compreensão sobre qual a função do psicanalista durante a consulta para saber o que esperar de uma sessão.

Primeiramente, é preciso entender que existem diferentes linhas da psicanálise e cada uma leva a uma condução diferente da sessão. Entretanto, existe um ponto necessariamente comum: a função do psicanalista na construção do setting analítico.

Entendendo o que é o setting psicanalítico

O termo “setting”, do inglês, pode ser traduzido como "configuração” ou “contexto". Portanto, setting psicanalítico refere-se à construção simbólica compartilhada entre analista e paciente que estabelece as diretrizes e procedimentos variáveis, visando criar um ambiente propício para que o tratamento tenha êxito.

O setting se desenvolveu com a consolidação da psicanálise como teoria e prática. Com isso, ele é definido pelo método, pela técnica e pela ética. Em seu texto “Recordar, repetir e elaborar” (1914), Freud aponta alguns dos elementos que compõe o conjunto do setting psicanalítico:

  • analista
  • paciente
  • tempo
  • pagamento
  • regra fundamental
  • atenção flutuante


Resumindo: o setting psicanalítico é uma construção da posição simbólica que o analista assume no percurso de uma análise para que o tratamento tenha êxito.

A sessão de psicanálise

A sessão de psicanálise, segundo os fundamentos de Sigmund Freud, deve ser um espaço de escuta e fala livre - associação livre -, onde o paciente é incentivado a associar ideias sem censura. É comum o analista incentivar que o paciente relate seus sonhos como forma de estimular o acesso ao conteúdo presente em seu inconsciente.

O trabalho com os sonhos é um processo sofisticado que envolve as associações do paciente e, quando pertinente, intervenções do analista. A interpretação dos sonhos, nesse contexto, não é uma decodificação pronta, mas um recurso clínico que busca abrir sentidos a partir do que emerge na fala do analisando.

O setting analítico é fundamental para que a relação flua e seja criado um ambiente de segurança. Desta forma, o paciente sente-se confortável para falar livremente e o profissional consegue exercer de fato a função do psicanalista, que é escutar sempre sem julgamentos, favorecendo o surgimento e o trabalho da transferência.

O final de uma análise é um tema complexo. Algumas pessoas interrompem o processo ao perceberem mudanças significativas, sentindo-se mais capazes de lidar com suas questões — o que pode ser, paradoxalmente, um sinal de que o tratamento está surtindo efeito. Outras continuam por entender que ainda há aspectos importantes a serem trabalhados.

O término da análise não é definido unilateralmente, mas construído ao longo do processo. Cabe ao psicanalista, com escuta atenta e ética, ajudar o paciente a avaliar se ainda há caminhos a serem percorridos ou se chegou o momento de encerrar a travessia analítica.


A dúvida sobre as diferenças entre o psicanalista e o psicólogo é muito comum. Uma questão importante a ser sobre o assunto refere-se ao laudo, configurando uma das grandes diferenças entre eles, além do caminho de formação.

Todo psicólogo pode ser psicanalista, mas a recíproca não é verdadeira. As diferenças entre psicanalista e psicólogo existem, mas os dois profissionais têm como propósito comum cuidar da saúde mental dos pacientes e ajudá-los no tratamento de seus conflitos psíquicos.

O psicólogo é o profissional graduado em Psicologia, podendo se especializar em psicanálise e atuar como psicanalista ou escolher outras abordagens da psicologia para seguir, como a Terapia Cognitivo-Comportamental, Psicologia Analítica, entre tantas outras. Além disso, tem autorização legal para emitir laudos e pareceres psicológicos.

o psicanalista pode ter formação em outras áreas do conhecimento — como Filosofia, Medicina, Letras ou Sociologia — desde que complemente sua formação por meio de estudos específicos em psicanálise. No entanto, por não ser regulamentado por um conselho profissional, o psicanalista não está autorizado a emitir laudos psicológicos formais.

O psicanalista assume a função de escutar o paciente, ajudá-lo a lidar com suas dores e enfrentar os seus conflitos internos, e não de patologizar a sua condição.


Como se tornar psicanalista?

O interesse pela psicanálise vem crescendo e cada vez mais pessoas estão buscando conhecimento e caminhos para começar a estudar psicanálise.

A psicanálise é reconhecida como uma ocupação profissional e, por isso, pode ser exercida por pessoas formadas em diversas áreas do conhecimento, desde que tenham realizado uma formação específica ou especialização em psicanálise.

Embora não exista um caminho único e formalmente regulamentado no Brasil para se tornar um psicanalista, critérios éticos e formativos reconhecidos pelas principais escolas psicanalíticas orientam o exercício da profissão.

Entre esses critérios, destaca-se o chamado “tripé da formação psicanalítica”: a análise pessoal, o estudo teórico e a supervisão clínica, considerados pilares essenciais na formação de um psicanalista.

Alguns dos caminhos que podem te levar à formação em psicanálise clínicas são:

  • Especialização
  • Programa de mestrado
  • Programas de doutorado
  • Residência



Caso você seja um psicanalista e queira aprofundar os seus conhecimentos, você pode buscar cursos para se aperfeiçoar, conhecer novas perspectivas, ficar a par das discussões atuais, novas tendências, debates e autores relevantes para dar continuidade ao processo de aprendizado infinito que a área proporciona e se manter sempre atualizado.

Agora, se você quer se tornar um psicanalista, como já foi dito anteriormente, precisa ter concluído algum curso de graduação. Para exercer a psicanálise clínica, é indicado procurar por cursos de psicanálise de instituições reconhecidas, além de seguir investindo no estudo contínuo.

Caso você queira, antes de começar a profissionalização, dar os primeiros passos para introdução na psicanálise, você pode participar de eventos, workshops e fazer cursos para começar a ter contato com a teoria e prática da psicanálise.

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A psicanálise ajuda a compreender mais sobre quem somos em diferentes contextos. Uma boa dica para explorar o tema, por exemplo, é o curso "A Literatura no Divã: Um Olhar da Psicanálise Sobre Grandes Obras" , de Saulo Durso.

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Esperamos que esse artigo tenha te ajudado a dar os primeiros passos na busca por mais conhecimento sobre o grande e rico universo da psicanálise.

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Referências

BARROS, Glória. O setting analítico na clínica cotidiana. Estudos de Psicanálise, Belo Horizonte, n. 40, p. 71–78, 2013.

PENA, Breno Ferreira; GUERRA, Andréa Máris Campos. Supereu e neurose: dos pecados do pai à demanda do Outro. aSEPHallus, [S.l.], n. 6, p. 1–9, 2019.

Transferência e Contratransferência: O Papel na Psicanálise
Ricardo Salztrager
Transferência e Contratransferência: O Papel na Psicanálise
Entenda o que são transferência e contratransferência na psicanálise, como surgem na clínica, exemplos e sua importância para o analista desde Freud.

Você já ouviu falar em transferência e contratransferência, mas não sabe exatamente o que esses termos significam na prática da psicanálise? Neste texto, você vai entender o que são transferência e contratransferência, suas origens no pensamento de Freud, como se manifestam na clínica e por que exigem tanto cuidado por parte do analista.

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O que é transferência e contratransferência na psicanálise?

A transferência é definida por Freud como o vínculo que o paciente estabelece com seu analista. Este vínculo pode ser, por exemplo, de amor, de ódio, de idealização, de ciúmes, de inveja, etc. Na maioria das vezes, inclusive, uma relação transferencial engloba vários destes sentimentos ao mesmo tempo.

Já a contratransferência é definida por Freud como o modo através do qual o analista reage às transferências de seus pacientes. Tais reações podem ser igualmente de amor, de ódio e dos demais sentimentos acima elencados.

Freud e a descoberta da transferência

A transferência foi descoberta já nos primórdios da psicanálise enquanto Freud observava a relação da paciente Anna O. com seu médico Joseph Breuer (Breuer & Freud, 1895/1996).

Com efeito, era visível que Anna O. apaixonara-se pelo terapeuta. Ela não parava de falar em Breuer, dizia também sentir muitas saudades dele e até – segundo Ernest Jones (1999), biógrafo de Freud – chegou a desenvolver uma espécie de “gravidez psicológica” durante o tratamento.

O amor de transferência

A partir deste e de tantos outros casos, Freud (1915/1996) concluiu ser comum que se estabeleça na clínica uma relação transferencial amorosa da parte do paciente. Ou seja, em uma relação terapêutica, temos, de um lado, um paciente que sofre demais em virtude de seus tantos conflitos e, de outro, alguém que ele supõe poder curá-lo. Assim, a relação terapeuta e paciente passa a ser marcada por uma idealização tal que o analista vem a assumir uma posição central na vida do paciente.

Deste modo, é comum que o paciente venha a pensar demais em seu psicanalista e que não pare de falar dele para seus familiares e amigos. É também corriqueiro que venha a stalkear as redes sociais do analista visando descobrir alguma informação sobre sua vida privada: onde mora, se é casado, se tem filhos... E muitos pacientes são capazes de passar horas e horas vendo repetidas vezes algumas fotos de seus analistas.

Outros exemplos comuns de transferência no vínculo entre terapeuta e paciente

Como o amor é um sentimento que nunca vem sozinho, é normal que o vínculo entre terapeuta e paciente seja também mesclado por intensos ciúmes, ódios, sentimentos de posse, competições, etc.

  • O ciúme: Se onde há amor há ciúme, nada mais previsível que as relações terapêuticas sejam também por ele marcadas. Assim, pode o paciente, por exemplo, vir a detestar os outros pacientes de seu analista e, nesta medida, às vezes, o ambiente de uma sala de espera é marcado por muita hostilidade. É inclusive comum que um paciente questione: “por que você atende tal paciente por mais tempo que a mim?”, “por que você sorri para ele, mas nunca para mim?” ou então “eu tenho certeza que você prefere a ele que a mim”.
  • O ódio: Em todo este contexto é também de se imaginar que a relação terapeuta e paciente seja marcada por um grande ódio. Com efeito, nós também odiamos aqueles que tanto amamos e, por isto, pode acontecer que o paciente diga coisas horríveis sobre a pessoa de seu analista, tenha sonhos maléficos com ele, ou então, que se entregue às mais variadas brigas e disputas. Desta forma, o analista pode ser alvo de algumas ironias e indiretas e a situação às vezes chega ao limite de o paciente descarregar uma grande raiva em cima de seu terapeuta.
  • O sentimento de posse: Outro exemplo é quando o vínculo entre terapeuta e paciente é acompanhado por um intenso sentimento de posse. Daí pode acontecer de o paciente vir a encher o analista de presentes com o intuito de conquistá-lo, tentar manipular sua agenda para que consiga protagonismo diante de seus outros pacientes ou mesmo de se colocar como alguém gentil e amável para que o analista retribua todo o seu amor.
  • A competição: É também provável que este vínculo seja marcado por forte competição. Ou seja, se o paciente presume que o analista tudo sabe, é capaz que ele próprio insista em defender que sabe muito mais que o terapeuta. Uma relação transferencial baseada na competição pode também incluir questionamentos do paciente sobre quem é mais jovial, bonito, magro ou atlético dentre tantas outras coisas.


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Por que ocorre a transferência?

No artigo “A dinâmica da transferência”, Freud (1912/1996) diz que ela ocorre porque quando uma pessoa está em análise, ela costuma deslocar uma série de tendências suas para o psicanalista. Trata-se, geralmente, de algumas formas de se comportar na vida que o paciente traz consigo desde a infância mais remota e que agora serão direcionadas ao terapeuta.

Como exemplo, podemos citar o caso de uma pessoa que, desde criança, sente muita inveja dos outros. Ela agia desta maneira com seus irmãos e irmãs, com as outras crianças do colégio e, conforme crescia, passou a se comportar assim com os amigos, com aqueles que conseguiam namorados melhores que os seus e mesmo com os que tinham um trabalho mais valorizado.

Ora, nada mais óbvio que quando esta pessoa inicie um tratamento, também passe a sentir inveja do analista, já que ela é assim com todo mundo e é desta forma que ela se relaciona.

A transferência e o inconsciente

No entanto, destaca-se que não necessariamente o paciente possui a exata consciência daquilo que transfere ao analista.

Ou seja, se tomarmos o exemplo acima, podemos dizer que tal paciente talvez nem tenha noção do quanto é invejoso nem do quanto transfere suas relações de inveja para o terapeuta. Pelo contrário, a psicanálise estabelece que todos nós temos um inconsciente, ou seja, todos nós desconhecemos grande parte dos nossos desejos, fantasias e comportamentos. Neste sentido, Freud vai dizer que são justamente estas tendências inconscientes aquelas que com maior frequência estarão presentes na cena transferencial.

Como ilustração, tomemos o exemplo de uma pessoa que se julga extremamente boa. Uma pessoa religiosa, caridosa e incapaz de praticar qualquer maldade. No entanto, ela não possui a exata consciência do quanto é agressiva com os outros, fazendo com eles pequenas maldades como fofocas, intrigas e injustiças.

Ora, quando esta pessoa entra em análise, é exatamente desta forma que ela vai se comportar com o psicanalista. É provável que dirá o tempo inteiro o quanto é boa e íntegra, porém sem perceber, direcionará ao analista todas as suas pequenas agressividades. E, assim, ela só poderá se tornar consciente do quanto é agressiva quando isso for apontado por seu psicanalista.


O caso Dora

Conforme colocamos, Freud descobriu a existência da transferência bastante cedo quando seu colega Breuer atendia a Anna O. Todavia, foi a partir de situações vividas com sua paciente Dora que ele concedeu maior atenção ao tema. O conjunto de suas observações sobre o tema está em “Fragmentos da análise de um caso de histeria” (Freud, 1905/1996).

Dora era uma jovem envolta em paixões por algumas pessoas de seu convívio, paixões estas que jamais se concretizavam. Dentre elas, estava seu apaixonamento pelo melhor amigo de seu pai, o Sr. K. Com ele a jovem mantinha uma relação no mínimo curiosa: sem medir quaisquer esforços, Dora seduzia completamente o Sr. K. e se entregava a tal jogo de sedução com todas as suas armas. Porém, quando ela sentia que estava conseguindo seu objetivo, de repente, abandonava a cena e sumia. Claro que a jovem não tinha a exata consciência de que agia desta maneira.

E foi exatamente assim que Dora se comportou com Freud. Seduziu o analista em demasia a ponto de Freud em muito se dedicar a sua análise e, inclusive, ter o desejo de publicar o caso (algo que não acontecia com qualquer paciente seu). Dora também insistia em não relatar determinadas coisas, deixando Freud extremamente curioso e praticamente em suas mãos. E em meio a tamanho jogo de sedução, de repente, Dora abandonou a análise.

Quando se dá o abandono, Freud finalmente percebe o quanto não tinha se dado conta da transferência de Dora.


A contratransferência na psicanálise

Foram poucas as vezes que Freud escreveu sobre a contratransferência. Em linhas gerais, ela é definida como o conjunto de sentimentos que um paciente é capaz de despertar em seu analista: amores, ódios, invejas, raivas, etc. Vale marcar que assim como a transferência do paciente para o analista é marcada por tendências inconscientes, o psicanalista também não possui a exata consciência daquilo que contratransfere.

Deste modo, o terapeuta pode, por exemplo, desenvolver um apaixonamento por certo paciente sem que disso esteja consciente. Da mesma maneira, pode ter inveja de um paciente sem que exatamente perceba isso. E pode até mesmo, sem saber, desenvolver um sentimento de posse em relação a seus pacientes, o que em muito prejudicaria seu trabalho.

A contratransferência e a importância da análise pessoal

Assim, ao contrário da transferência que é tida como algo a ser estimulado no tratamento psicanalítico, Freud (1915/1996) situa a contratransferência como uma coisa a ser incisivamente evitada. Isto porque um amor, um ódio, uma inveja ou uma raiva que o analista venha a sentir de seus pacientes pode, em muito, atrapalhar seus tratamentos.

Daí a necessidade de os analistas também fazerem uma análise pessoal. Ora, é comum – e até mesmo inevitável – que um terapeuta venha a sentir os mais variados afetos por seus pacientes. Alguns podem despertar-lhes maior interesse, outros podem fazer com que o psicanalista se lembre de traumas e ainda há os que ele possa vir a conceder um exagero de cuidados.

Por isso é imprescindível que um analista seja uma pessoa suficientemente analisada. Com sua análise pessoal, ele conseguirá melhor elaborar seus sentimentos e fazer com que suas próprias questões não interfiram tanto em seu trabalho.


O manejo da contratransferência

Com base nesta discussão, podemos perguntar: como um tratamento analítico poderia progredir se o analista respondesse com raiva aos sentimentos transferenciais de seus pacientes? Com certeza, o vínculo entre terapeuta e paciente passaria a ser marcado por uma raiva imensa que em muito prejudicaria o tratamento.

Ou então: como um tratamento analítico pode progredir se o analista responde com certo cansaço às falas de seus pacientes? Aqui a contratransferência também é prejudicial. E a mesma pergunta deve ser feita em relação a outros sentimentos do analista que venham a se manifestar na contratransferência.

Nesta medida, é importante frisar que o psicanalista não deve necessariamente se portar como uma pedra de gelo diante de seus pacientes, pois isso é humanamente impossível. Enquanto ser humano, ele possui os mais variados sentimentos que sempre se manifestarão independentemente de sua boa vontade e demais esforços. Por isso, certa dose de contratransferência é inevitável ao tratamento. Porém, é importante frisar que determinados exageros sentimentais da parte do analista são prejudiciais e por isto devem ser analisados.

banner curso freud e as fantasias, por Ricardo Salztrager

E quando o terapeuta se apaixona pelo paciente?

Foi para responder esta pergunta que Freud (1915/1996) escreveu o artigo “Observações sobre o amor transferencial”.

Apesar de ser uma coisa rara, nenhum psicanalista está livre de se apaixonar por alguns de seus pacientes. De fato, não controlamos nossos sentimentos e, às vezes, quando menos esperamos, eles acabam transbordando. E, assim, cabe ao psicanalista analisar-se e, com sua paixão devidamente elaborada, decidir se o tratamento prossegue ou termina em virtude de seu amor contratransferencial.

Deve o psicanalista orgulhar-se quando um paciente se apaixona por ele?

Uma discussão sobre esta pergunta também se faz em “Observações sobre o amor transferencial”.

Nele, Freud (1915/1996) é incisivo ao responder que não, alertando ser raro um paciente se apaixonar por seu psicanalista devido aos seus encantos pessoais. Conforme vimos, o amor transferencial é induzido pela própria situação analítica, mas jamais pelo charme, beleza ou inteligência do psicanalista. Por isto o terapeuta não teria motivos para orgulhar-se do fato de um paciente estar por ele apaixonado. Tampouco para entregar-se a uma ardente paixão com um de seus clientes.

Este texto foi escrito pelo professor Ricardo Salztrager, psicanalista e professor associado da UNIRIO e da Casa do Saber. Possui Graduação em Psicologia, mestrado e doutorado em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

Conheça os cursos de Ricardo Salztrager



Referências:

BREUER, J. & FREUD, S. (1895/1996). Estudos sobre histeria. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 2. Rio de Janeiro: Imago. p. 11-316.

Freud, Sigmund. (1905/1996). Fragmentos da análise de um caso de histeria. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 7. Rio de Janeiro: Imago. p. 13-116.

_____. (1912/1996). A dinâmica da transferência. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 12. Rio de Janeiro: Imago. p. 107-119.

_____. (1915/1996). Observações sobre o amor transferencial. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. vol. 12. Rio de Janeiro: Imago. p. 173-188.

Jones, Ernest. (1999). A Vida e a Obra de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago.

Cursos de psicanálise: saiba quais são e como começar a estudar
Carolina Tosetti
Cursos de psicanálise: saiba quais são e como começar a estudar
Cursos de Psicanálise: saiba quais são e como começar a estudar

Você sabe o que estuda a psicanálise? Ou, se você já se interessa por essa área de conhecimento, sabe como fazer para começar a se aprofundar nas teorias e ideias dos maiores autores da psicanálise?

Neste artigo, vamos te explicar o passo a passo para aprender alguns dos principais conceitos da psicanálise criados por grandes personalidades reconhecidas mundialmente por suas contribuições à compreensão da psique humana, como Sigmund Freud e Jacques Lacan. Você também irá conhecer alguns dos mais renomados professores e especialistas em psicanálise do Brasil e as instituições que são referência nesta disciplina.

O que é psicanálise?

A psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud, é um método de investigação dos processos mentais, que se utiliza da associação livre para acessar, por inferência, os conteúdos inconscientes do paciente a partir de seus relatos à um analista, a fim de identificar possíveis causas e se utilizar da transferência estabelecida na relação analítica para tratamento dos sintomas.



imagem com diversos cursos da plataforma Casa do Saber


Esta prática é frequentemente associada à ideia de deitar no divã e falar livremente, mas vai muito além disso. A teoria e a prática clínica hoje permitem que o psicanalista interprete padrões, desejos, intenções, pensamentos e comportamentos do paciente. Neste sentido, um dos objetivos da psicanálise é trazer à consciência as questões do inconsciente que afetam o sujeito, sendo efetiva para uma melhora para a saúde mental, o senso crítico e o bem-estar pessoal do analisando. Entretanto, os objetivos de uma análise podem variar entre as escolas. Em maior escala, o impacto de uma análise bem desenvolvida pode ser notado na tomada de consciência e no poder decisão dos pacientes para deixarem de seguir determinados padrões, por exemplo, bem como no relacionamento consigo mesmo e com os outros.

Quais são as principais abordagens e escolas da psicanálise?

A psicanálise é uma área de conhecimento que perdura há mais de 100 anos. Existem várias abordagens dentro da psicanálise, refletindo diferentes escolas de pensamento sobre como os processos inconscientes afetam o comportamento e a vida humana. Abaixo listamos, em resumo, as principais linhas de pensamento da psicanálise e suas características essenciais. As principais incluem a Freudiana, a Lacaniana e a Kleiniana, por exemplo. Dentre as escolas podemos citar principalmente a inglesa, representada por Donald Winnicott e Wilfred Bion, e a francesa associada à Jacques Lacan.

Escola Características
Escola Freudiana Destacam-se os temas do inconsciente, as pulsões de vida e morte, a sexualidade, as estruturas psíquicas (neurose, psicose e perversão), o Complexo de Édipo, os mecanismos de defesa, as resistências, as transferências e as contratransferências em uma análise. Dentre os principais autores estão Sigmund Freud e Anna Freud.
Escola Kleiniana Também conhecida como escola das relações objetais, é a escola fundada pela austríaca Melanie Klein, cujas principais contribuições teóricas são a posição esquizo-paranóide, a posição depressiva, as fantasias infantis e os primitivos mecanismos de defesa, com destaque para a identificação projetiva. Klein é pioneira em análise de crianças, e seus estudos pensam o indivíduo desde o nascimento, acompanhando o seu desenvolvimento principalmente desde a infância.
Escola Francesa Jacques Lacan propôs um retorno a Freud e fez inúmeras contribuições, sobretudo se utilizando da Linguística e da Filosofia. Para Lacan, o inconsciente é estruturado como linguagem, e através dos ditos do sujeito teremos indícios de como ele se posiciona no mundo, nas relações com os outros, de suas alienações a certos ideais e de seus modos de desejar. Dentre diversos conceitos originais destacam-se os significantes, significados, objetos, o estágio do espelho e o corte lacaniano.
Escola de Winnicott Donald Winnicott teve uma vasta experiência no tratamento de crianças como pediatra, e desenvolveu sua teoria com ênfase na relação cuidador-bebê, com conceitos como mãe suficientemente boa: nem perfeita, nem negligente na criação do bebê, e a ideia de que a elaboração imaginativa do corpo e suas funções é que moldam a psique, não sendo uma estrutura pré-existente, mas sim, fruto dos cuidados recebidos. O inconsciente winnicottiano seria uma experiência que a imaturidade do bebê não tornou possível criar uma representação, e não o reprimido da teoria freudiana. Alguns de seus conceitos fundamentais são: holding, handling e integração de objetos, personalização e realização e desenvolvimento emocional primitivo.
Escola de Bion Wilfred Bion foi analisando e discípulo de Klein, mas criou diversos conceitos originais. Dentre suas principais contribuições estão a psicoterapia psicanalítica de grupo, o enfoque nos vínculos e a dinâmica do campo analítico, em que existe uma mútua influência entre analisando e analista e vice-versa.
Escola da Psicologia do Ego Heinz Hartmann é o principal nome ligado a esta escola. Nesta abordagem, o ego desenvolve-se a partir do id enquanto a criança passa a entender a diferença do seu corpo-mente em relação ao mundo e atenção se volta para o “eu”. Funções como percepção, afeto, memória, conhecimento e juízo crítico passam a ter valor para o analista nesta abordagem.
Escola da Psicologia do Self Nesta abordagem, Heinz Kohut (EUA) traz a introspecção e empatia como principais instrumentos da psicanálise, seguidos da tese das “falhas dos self-objetos primitivos”. Retira-se também a hegemonia do conceito de Complexo de Édipo e trata o Narcisismo como importante etapa do desenvolvimento.


Além das escolas mencionadas na tabela anterior, ainda há a psicanálise do húngaro Sándor Ferenczi, que surge a partir da escola freudiana. Ou seja, há muitas abordagens, e cada uma delas oferece uma perspectiva única sobre a estrutura da mente e os métodos de tratamento, influenciando significativamente as ementas dos cursos de psicanálise. Além disso, práticas modernas como a psicanálise relacional e conceitos como a intersubjetividade também estão ganhando espaço, mostrando a evolução e atualização contínua desta área.





Como estudar psicanálise hoje?

Para aqueles interessados em se tornar profissionais nesta área, há diversas opções de formação em psicanálise clínica. Os cursos podem variar, desde:

  • Workshops introdutórios
  • Pós-graduações
  • Programas de mestrado
  • Programas de doutorado
  • Residências


Atualmente, também existem cursos de psicanálise clínica disponíveis online, proporcionando flexibilidade para estudar de acordo com as próprias necessidades e ritmos. Um curso de psicanálise típico cobre fundamentos teóricos, técnicas e manejos terapêuticos e práticas supervisionadas, essenciais para quem busca uma compreensão profunda da mente humana e deseja praticar clinicamente.

Quem pode estudar psicanálise?

Enquanto área de conhecimento, todos! Para saber como começar a estudar psicanálise, acreditamos que o primeiro passo é entender qual é o seu perfil. Na Casa do Saber, sabemos que há variados tipos de interesse em aprender sobre esta disciplina. Abaixo, detalharemos um pouco sobre cada um deles. Veja qual é o seu caso:

1. "Sou psicanalista e quero aprofundar minha formação"

A psicanálise é uma área de estudo constante, por isso, tanto se você é um psicanalista em formação, quanto se você já tem muitos anos de experiência clínica é preciso tomar conhecimento das novas tendências culturais, das obras e dos autores relevantes para ter leituras fundamentais ao trabalho de analista. Mesmo após a conclusão de um curso de psicanálise, é essencial que o profissional continue em um processo de aprendizado contínuo, supervisionado por psicanalistas experientes e se mantenha em constante atualização.





2. "Sou estudante e quero me tornar um psicanalista"

Já que é considerada uma ocupação, a profissão de psicanalista pode ser exercida por qualquer pessoa que tenha concluído um curso de graduação em alguma das mais diversas áreas do saber. A atividade psicanalítica é independente de cursos regulares acadêmicos, sendo os seus profissionais formados pelas sociedades e instituições psicanalíticas.

Qualquer pessoa pode fazer um curso de psicanálise, desde que atenda aos pré-requisitos estabelecidos pela instituição de ensino que oferece o curso, como a exigência de se ter uma graduação completa, por exemplo. Além dos tradicionais cursos de psicologia e medicina associados à prática psicanalítica, têm destaque áreas dialógicas como ciências sociais, filosofia, antropologia, entre outras. O psicanalista em formação precisa também ter, é claro, interesse e afinidade com a área da saúde mental e da psicanálise.

Para exercer o ofício de psicanalista, ou seja, clinicar, dar aulas, entre outros, é recomendado que a pessoa interessada tenha uma formação específica em psicanálise, oferecida por uma instituição reconhecida e que realize um curso completo, com supervisão e análise pessoal. A formação em psicanálise é profunda, demandando uma capacidade de reflexão crítica, de análise, de leitura e de interpretação. No entanto, é possível fazer cursos de introdução à psicanálise, participar de encontros ao vivo, workshops e eventos acadêmicos para absorver conhecimento sobre teoria e prática psicanalítica.

No curso Uma Psicanálise da Existência o renomado professor e psicanalista Christian Dunker traça conceitos e leituras de Freud e Lacan.

Assista às aulas para se embasar nas principais teorias e começar a entender questões que envolvem a todos nós em diferentes momentos da vida.

banner do curso 'Uma psicanálise da existência', de Christian Dunker




3. "Gosto de aprender sobre diversas áreas para compreender o mundo"

A psicanálise permite uma profunda reflexão sobre a condição humana, influenciando várias áreas do conhecimento. Profissionais com noções em psicanálise utilizam suas habilidades não apenas em contextos clínicos, mas também em áreas como literatura, filosofia e estudos culturais. Ao entender como os processos inconscientes determinam comportamentos, decisões e relações sociais, a psicanálise oferece perspectivas interessantes para perceber a complexidade humana em diversos aspectos da vida, ampliando a compreensão sobre como pensamos e interagimos em diferentes contextos. Você só tem a ganhar aprendendo mais sobre essa disciplina extremamente versátil e profunda.





Confira algumas das principais áreas de estudo da psicanálise atualmente:

  • Psicanálise e Saúde Mental: focada no tratamento de distúrbios emocionais e psicológicos, essa área é a pedra angular da prática clínica.
  • Psicanálise e Literatura: utiliza teorias psicanalíticas para analisar textos literários, desvendando os aspectos inconscientes que moldam as narrativas.
  • Psicanálise e Cultura: examina como as normas culturais são internalizadas e como influenciam a identidade e o comportamento social ao longo da história.
  • Psicanálise e Educação: aplica conceitos psicanalíticos para entender dinâmicas de aprendizagem e desenvolvimento em ambientes educacionais.
  • Psicanálise e Arte: investiga a expressão inconsciente na criação e interpretação artística, proporcionando uma compreensão mais aprofundada dos movimentos e obras de arte.

E aí, se identificou? Entenda sobre o comportamento humano de forma aprofundada, considerando sentimentos, emoções, pensamentos, o consciente e o inconsciente.

A Casa do Saber + é a plataforma que permite que você conheça as ideias dos grandes pensadores como Sigmund Freud, Melanie Klein, Jacques Lacan, Donald Winnicott, Wilfred Bion, Sándor Ferenczi e muito mais, aprofundando o seu olhar sobre si mesmo e as suas relações.





Como aprender a teoria psicanalítica?

Se você quer complementar sua formação, se atualizando nos temas contemporâneos, revisitando conceitos importantes, aplicando-os à sua clínica e entendendo as contextualizações necessárias com a teoria das principais referências na área e abordagens é preciso aprender com bons profissionais ou professores. Conheça os grandes nomes da psicanálise no Brasil hoje:

Contardo Calligaris


Alexandre Patrício


Pedro de Santi


Christian Dunker


Marcelo Veras


Ana Suy


Conheça todos os professores da Casa do Saber

Quanto custa estudar psicanálise?

Sabia que você pode estudar sobre a teoria e a prática psicanalítica com os grandes mestres do país e ter um guia das principais obras, autores e conceitos para se aprofundar de forma online e em uma linguagem acessível?

A Casa do Saber + é o streaming do conhecimento: uma plataforma com mais de 60 cursos online de psicanálise exclusivos para você aprender com grandes profissionais, doutores e professores na área como Christian Dunker, Ana Suy, Marcelo Veras, Alexandre Patricio de Almeida, Pedro de Santi, Contardo Calligaris, Fernanda Samico, Daniel Omar Perez, Guilherme Facci, entre muitos outros.

Além dos cursos de psicanálise, a plataforma oferece mais de 600 horas de aulas sobre diversas áreas do conhecimento para você se desenvolver pessoalmente e profissionalmente. Lá você também encontra aulas que fazem aproximações entre a psicanálise e a literatura, a filosofia, as artes e a neurociência, por exemplo, afinal, a proposta da Casa do Saber é desenvolver de forma cultural e interdisciplinar os seus alunos.

Os cursos disponíveis no plano regular da plataforma, no entanto, não habilitam a pessoa a iniciar a prática clínica, servindo principalmente como fontes de aprofundamento, ampliação de repertório clínico e formação continuada.

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Especialização em psicanálise

Agora, se você é psicólogo(a), médico(a), tem graduação em alguma outra área e a sua ideia é se especializar em psicanálise, pode apostar em uma pós-graduação, mestrado, doutorado ou escolher alguma escola ou sociedade de referência para construir o seu caminho nesta área tão importante. Confira algumas opções de destaque no Brasil:

Sociedades Escolas Pós-graduações e especializações
Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo – SBPSP Fórum do Campo Lacaniano - São Paulo Universidade de São Paulo (USP)
Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro – SBPRJ Fórum do Campo Lacaniano - Rio de Janeiro Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto - SBPRP Escola Brasileira de Psicanálise - Salvador Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Escola Brasileira de Psicanálise - Florianópolis Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)




Para começar a entender Freud, Lacan, Melanie Klein e os principais autores da psicanálise

Agora que você já sabe como estudar psicanálise de acordo com o seu objetivo, que tal começar de forma descomplicada, online e com os melhores recursos?

Para conhecer a teoria psicanalítica de Sigmund Freud; entender mais sobre o inconsciente; estabelecer relações entre a literatura, a mitologia e o comportamento humano; esclarecer ideias sobre parentalidade; se relacionar melhor com as pessoas; viver bem no século XXI, entre tantas outras possibilidades que a psicanálise oferece, experimente acessar o conhecimento de onde estiver e quando quiser.

Começar a entender a psicanálise não precisa ser uma tarefa complexa, e aprender com os maiores professores do país não é algo distante ou inacessível. Além disso, ao tornar a sua rotina de estudos adaptável ao seu tempo, espaço e momento você garante mais chances de continuar aprendendo continuamente.

Nesse sentido, a Casa do Saber + te acompanha em todos os lugares e momentos da vida. Você pode assistir às aulas pausando-as e retomando o seu progresso quando precisar, ou até mesmo ouvi-las em forma de podcast. O aplicativo do streaming está disponível para Android e IOS, e você também pode baixá-lo na sua SmarTV ou acessar pelo navegador do computador.

Dedicando 20 minutos do seu dia você baixa o aplicativo, acessa a plataforma e começa a sua primeira aula com um dos grandes mestres em psicanálise do Brasil.

Esperamos que este artigo tenha te ajudado a conhecer mais sobre o universo de conhecimento que te aguarda estudando psicanálise com a Casa do Saber.

Consciente, Inconsciente e Pré-consciente: como funcionam?
Gabriel Cravo Prado
Consciente, Inconsciente e Pré-consciente: como funcionam?
Entenda as três instâncias psíquicas propostas por Freud, fundamentais para a psicanálise.

Compreender os conceitos de consciente, pré-consciente e inconsciente é essencial para entender a teoria psicanalítica. Essas três instâncias psíquicas são fundamentais para a compreensão do aparelho psíquico proposto por Freud, que descreve a dinâmica complexa e o funcionamento distinto de cada uma delas.



O Consciente

O conceito de consciente em Freud refere-se à instância do aparelho psíquico que contém os processos de pensamento, percepção e sentimentos dos quais o sujeito tem plena consciência. Ele é, junto com o pré-consciente e o inconsciente, uma das três áreas principais na primeira tópica freudiana.

O consciente envolve tudo aquilo que o sujeito é capaz de perceber de forma direta, como as sensações e pensamentos imediatos, e tem um papel essencial na interação do indivíduo com a realidade externa. Freud, em suas primeiras formulações, afirmou que o consciente não está ligado a uma área específica do cérebro, mas representa um processo psíquico complexo e dinâmico.

A consciência, para Freud, vai além da simples percepção do mundo externo. Ela está relacionada à capacidade de fazer ligações simbólicas e racionais, permitindo ao sujeito ordenar e interpretar suas experiências. No entanto, o acesso ao consciente pode ser dificultado por processos internos como o recalque e a censura, que podem impedir que certos conteúdos psíquicos, especialmente os conflitivos ou traumáticos, se tornem acessíveis à consciência. Esses processos são fundamentais na formação de defesas e no desenvolvimento de sintomas.

Freud também introduziu a ideia de que o consciente interage com o inconsciente e o pré-consciente, e sua função não é estática. Ele propôs que a consciência emerge e desaparece dinamicamente, com as percepções sendo processadas, mas não deixando vestígios permanentes. Esse processo é comparável ao de uma "lousa mágica", onde as informações são apagadas após a tomada de consciência. Isso mostra que a consciência não retém as experiências de forma fixa, mas permite um fluxo contínuo de informações, atualizando constantemente o que é percebido.

Embora Freud tenha dado grande ênfase ao inconsciente, ele nunca ignorou o papel do consciente. Para ele, a psicopatologia não se resume a um conflito entre o consciente e o inconsciente, mas envolve um processo mais complexo de interação entre as diversas forças psíquicas. O estudo dos sonhos e das defesas psíquicas revelou como a consciência pode ser moldada e distorcida, mostrando que ela não é apenas um reflexo direto da realidade externa, mas uma construção influenciada por fatores internos e inconscientes.

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O Pré-Consciente

O conceito de pré-consciente foi introduzido por Sigmund Freud para designar uma das três instâncias fundamentais de sua primeira tópica, junto com o consciente e o inconsciente. Diferente dos conteúdos inconscientes, que estão totalmente fora do alcance da consciência, os conteúdos do pré-consciente estão à disposição da consciência, embora não estejam imediatamente presentes. O pré-consciente pode ser entendido como uma espécie de "armazém" de informações que, embora não ativas, podem ser acessadas com facilidade quando necessário, por meio da atenção ou do esforço consciente.

Freud introduziu o termo de forma mais sistemática em sua correspondência com Wilhelm Fliess, em 1896, associando-o às representações verbais e ao "eu oficial". O pré-consciente, em sua visão, é o sistema que contém as informações que podem emergir para a consciência, desde que atendidas certas condições, como o grau de intensidade ou a ativação por um foco de atenção. Essa instância funciona como uma espécie de filtro, permitindo que conteúdos sejam trazidos à consciência sem a interferência direta do inconsciente, que exige uma modificação maior para acessar a consciência.

Uma característica fundamental do pré-consciente é sua proximidade com o inconsciente. Enquanto o pré-consciente é descrito como inconsciente ele se diferencia do inconsciente dinâmico, já que seus conteúdos podem ser trazidos à consciência com maior facilidade, mesmo que, às vezes, necessitem de uma "censura" para evitar o acesso de conteúdos indesejáveis. Freud, em O eu e o isso, apontou que o pré-consciente age como uma barreira entre o inconsciente e a consciência, com um sistema de triagem que impede que desejos inconscientes, potencialmente perturbadores, se manifestem diretamente na consciência.

Apesar de sua função de "filtro", o pré-consciente também está intimamente ligado ao processo secundário, que regula o pensamento lógico e racional, diferente do processo primário, que está mais relacionado aos impulsos primitivos do inconsciente. Embora o pré-consciente tenha a função de selecionar e organizar informações, ele pode, de maneira "normal", permitir que certos pensamentos reprimidos ou "restos diurnos" reapareçam, como no caso dos sonhos. Ao longo de sua obra, Freud manteve a ideia de que o pré-consciente tem um papel crucial na mediação entre o inconsciente e o consciente, sendo particularmente relevante na relação com a linguagem e a formação dos pensamentos conscientes.

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O Inconsciente

O conceito de inconsciente passou por uma transformação significativa ao longo do tempo, especialmente com a psicanálise de Sigmund Freud. Embora o termo tenha sido utilizado de maneira geral na língua comum para descrever processos mentais fora da consciência, foi Freud quem fez dele um pilar central de sua teoria psicanalítica. O inconsciente freudiano não é apenas uma parte oculta do psiquismo, mas uma instância ativa, onde residem conteúdos reprimidos, impulsos e desejos que não têm acesso direto à consciência. Para Freud, esses conteúdos podem se manifestar de maneiras indiretas, como nos sonhos, atos falhos e lapsos de linguagem, revelando-se de formas disfarçadas, mas significativas.

A psicanálise freudiana introduziu a ideia de que o inconsciente não é apenas um reservatório de conteúdos reprimidos, mas um espaço dinâmico governado por leis próprias, como o processo primário, que se manifesta nos sonhos e nas fantasias. Esses conteúdos inconscientes estão frequentemente relacionados a pulsões que buscam expressão, mas não podem se tornar conscientes diretamente devido ao recalque. Com o tempo, Freud foi refinando a teoria do inconsciente, especialmente com a introdução da segunda tópica, onde ele passou a situar o inconsciente como uma característica tanto do isso, quanto do eu e do supereu.

O conceito de inconsciente:a importância para a psicanálise

A partir da década de 1920, Freud reestruturou suas ideias sobre o inconsciente, ampliando sua concepção para incluir não apenas os conteúdos reprimidos, mas também a dinâmica entre as instâncias psíquicas, como o isso e o eu. A partir de então, ele afirmou que o inconsciente é uma função fundamental na formação da personalidade, essencial para a psicanálise.

No entanto, com a evolução da psicanálise, outros pensadores, como Melanie Klein e Jacques Lacan, revisitaram e expandiram o conceito, com Lacan, por exemplo, propondo uma teoria inovadora em que o inconsciente é estruturado pela linguagem, o que introduziu uma nova dimensão ao entendimento freudiano. Para Lacan, o inconsciente é “o discurso do outro”, e sua estrutura é profundamente ligada à linguagem e ao significante, oferecendo uma visão mais complexa e simbólica da psique humana.

Como aprender mais sobre a teoria psicanalítica

Para aprofundar seus conhecimentos na teoria psicanalítica e entender melhor seus conceitos fundamentais, a Casa do Saber oferece uma excelente oportunidade. Nos cursos especializados, você aprenderá com professores qualificados, que são referência na área, e terão a chance de explorar desde os princípios de Freud até as abordagens contemporâneas.

Através de uma metodologia envolvente e didática, você poderá aprofundar seu entendimento sobre o inconsciente, os mecanismos de defesa e outros temas essenciais da psicanálise. Não perca a chance de estudar com quem entende do assunto e transformar sua compreensão da psique humana. Inscreva-se hoje e amplie seus horizontes com a Casa do Saber.

Para começar, a Casa do Saber te oferece um conteúdo rico e gratuito para você iniciar seus estudos sobre o inconsciente. Preencha o formulário para receber o material:





Referências Bibliográficas

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.




Id, Ego e Superego: Entenda os Conceitos de Freud na Psicanálise
Gabriel Cravo Prado
Id, Ego e Superego: Entenda os Conceitos de Freud na Psicanálise
Descubra a estrutura da mente segundo a teoria de Freud sobre o Id, Ego e Superego. Veja como influenciam o nosso comportamento e personalidade.

Entre os conceitos centrais da teoria psicanalítica destacam-se o "Eu", o "Isso" e o "Supereu", que representam diferentes instâncias do aparelho psíquico formulado por Freud. Neste artigo, exploraremos o significado e a função de cada um desses.

Eu, Isso e Supereu

Antes de começarmos, é importante abordar uma questão de estilo na tradução dos termos freudianos. No original alemão, as palavras "Ich", "Es" e "Über-Ich" correspondem, respectivamente, a "eu", "isso" e "supereu" em português. Embora expressões como "id", "ego" e "superego" apareçam em algumas traduções da América Latina, elas não estão tão alinhadas com a escrita de Freud.

Embora esses termos se refiram às mesmas instâncias do aparelho psíquico, podem gerar pequenas variações na terminologia, mantendo, no entanto, o significado essencial. Neste texto, utilizaremos "Eu", "Isso" e "Supereu", por serem mais consistentes ao postulado freudiano.

Nesse texto veremos:



Primeira e Segunda Tópica Freudiana

Os conceitos de consciente, pré-consciente e inconsciente são essenciais para entender a estrutura do aparelho psíquico na teoria psicanalítica, integrando a primeira tópica freudiana, formulada em 1900. Vale destacar que essas instâncias não correspondem a locais específicos no aparelho psíquico. No período de 1920 a 1923, Freud revisa sua teoria, introduzindo novas compreensões sobre o aparelho psíquico e apresenta os conceitos de Eu, Isso e Supereu. É importante notar que Freud não substitui a primeira tópica pela segunda, mas as articula de maneira complementar. Assim, consciente, inconsciente e pré-consciente continuam presentes na segunda tópica, enriquecendo a compreensão dos conceitos de Eu, Isso e Supereu.

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Inconsciente, Pré-consciente e Consciente

  • Inconsciente - Os conteúdos recalcados localizam-se no inconsciente, onde podem aparecer para o sujeito em momentos bem específicos. Essa instância psíquica possui uma linguagem própria e não se orienta pelo tempo cronológico. O inconsciente se revela por meio de sonhos, atos falhos e sintomas. O termo "inconsciente" diz respeito ao que está além do nosso conhecimento. Quando Freud afirma que possuímos um inconsciente, ele sugere que não temos uma compreensão total de nós mesmos.
  • Consciente - Um estado psíquico que reflete a localização de processos fundamentais do aparelho psíquico, englobando o que estamos conscientes no presente momento. Esse estado opera em conformidade com as regras sociais, levando em consideração o tempo e o espaço. Assim, é através dele que o sujeito estabelece sua relação com o mundo externo.
  • Pré-consciente - Funciona como uma barreira permeável entre o inconsciente e o consciente. O pré-consciente abrange conteúdos que podem ser acessados mais facilmente pela consciência, mas que não permanecem nela de forma permanente.

foto de freud segurando um charuto
Sigmund Freud


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Eu, Isso e Supereu

Em 1923, Freud estabeleceu uma nova estrutura para o entendimento do aparelho psíquico. Anteriormente, como já vimos, sua abordagem se baseava na distinção entre inconsciente, consciente e pré-consciente. Com a introdução dessas novas noções, Freud não apenas enriqueceu a compreensão do funcionamento psíquico, mas também promoveu uma dialética entre as diferentes instâncias, evidenciando como elas interagem e se influenciam mutuamente.

Eu Refere-se à instância psíquica que mediatiza as pressões do Isso, as ordens do Supereu e as exigências da realidade externa. O desenvolvimento do Eu ocorre através do processo de identificação do bebê com o mundo exterior, funcionando como um espelho que reflete o que ele é e como deve se comportar. Essa formação é um resultado direto das interações sociais e das representações que os outros têm sobre ele. Ao entrar em contato com a realidade, o Eu se define o resultado dessas identificações.

Freud destaca que o Eu atua como representante da realidade, buscando uma dominação sobre as pulsões, substituindo o princípio de prazer pelo princípio da realidade. Compreende-se, portanto, que o Eu possui tanto uma dimensão consciente quanto inconsciente, e não é uma instância inata, mas sim uma construção que emerge a partir das interações sociais. Essa instância recalcadora introduz, assim, o princípio da realidade na vida psíquica do indivíduo.
Supereu O Supereu, conforme descrito por Freud, é uma instância psíquica que possui tanto uma dimensão consciente quanto uma inconsciente. Ele se caracteriza pelo ideal do eu, que abrange as expectativas de desempenho do sujeito e as ordens morais internalizadas. Essa estrutura é formada por influências da moralidade, dos bons costumes, da religião e dos valores transmitidos pelos cuidadores durante a infância.

Tradicionalmente, o Supereu é visto como o herdeiro do complexo de Édipo, configurando-se a partir da interiorização das exigências e interdições parentais. Essa instância abrange tanto as funções de proibição quanto as de idealização. Embora a renúncia aos desejos edipianos, tanto amorosos quanto hostis, seja fundamental para a formação do Supereu, Freud argumenta que ele é posteriormente enriquecido por influências sociais e culturais, como educação, religião e moralidade.
Isso É uma instância totalmente inconsciente que está presente no sujeito desde o início da vida, não se subordinando à lógica do tempo cronológico. O Isso é considerado o reservatório das pulsões, servindo como a força motriz do psiquismo. Seus conteúdos, que representam a expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, sendo compostos tanto por aspectos hereditários e inatos quanto por elementos recalcados e adquiridos.

Sob uma perspectiva econômica, Freud vê o Isso como o reservatório inicial da energia psíquica; enquanto do ponto de vista dinâmico, ele entra em conflito com o Eu e o Supereu. Assim, o Isso é a sede das paixões humanas, incluindo inveja, ciúmes, vaidade, amor e ódio, consolidando-se como o núcleo pulsional da personalidade.



Como aprender mais sobre psicanálise?

Para aprofundar seus conhecimentos sobre o conceito de Isso, Eu e Supereu na teoria psicanalítica, é fundamental começar pela leitura das obras de Sigmund Freud que tratam desses conceitos, como "A Interpretação dos Sonhos" (1900), onde Freud apresenta pela primeira vez esses elementos do aparelho psíquico, e "O Eu e o Isso" (1923), texto que detalha a dinâmica entre essas instâncias.

Além disso, investir em cursos especializados sobre a teoria psicanalítica pode ser altamente enriquecedor. A Casa do Saber oferece uma série de cursos ministrados por especialistas reconhecidos, que aprofundam a compreensão dos conceitos de id, ego e superego, bem como suas implicações no comportamento humano e nos processos psíquicos.

A seguir, destacamos algumas recomendações de cursos disponíveis na plataforma Casa do Saber + que exploram esses temas com profundidade e relevância.




Referências Bibliográficas:

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Zahar: Rio de Janeiro, 1985.

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

.ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.







O que é Psicanálise? História, Conceitos e Como Funciona
Gabriel Cravo Prado
O que é Psicanálise? História, Conceitos e Como Funciona
Entenda o que é e o que faz um psicanalista a partir de uma análise da teoria, da história e da clínica criada por Freud.

A psicanálise tem um legado profundo e complexo na história. Criada por Sigmund Freud no final do século XIX, ela busca compreender os processos inconscientes. Embora sua teoria tenha avançado ao longo dos anos, com diferentes escolas de pensamentos, a psicanálise continua a ser um valioso campo para o tratamento de conflitos internos, angústias e sofrimentos.



O que é a Psicanálise e como ela surgiu?

Freud criou o termo psicanálise para descrever um novo método investigativo, baseado na exploração do inconsciente. Inicialmente, ele usou o termo "psico-análise" em 1896, em um artigo sobre a hereditariedade e a etiologia das neuroses, e mais tarde a psicanálise se consolidou como uma disciplina científica e clínica.

A psicanálise tem como base a ideia de que os sintomas, sofrimento e angústias dos sujeitos são resultados de processos psíquicos inconscientes, geralmente reprimidos, que se manifestam de forma distorcida.

Freud reformulou a sua abordagem terapêutica antes de criar a psicanálise, rejeitando o uso da hipnose e da sugestão que eram comuns nas técnicas da época, preferindo um método que estimulasse o paciente a associar livremente seus pensamentos e sentimentos.



Como funciona a terapia psicanalítica?

O método de associação livre é uma das principais técnicas psicanalíticas , que permite ao paciente expressar qualquer pensamento ou sensação que venha à mente, sem censura ou moderação, permitindo ao analista interpretar os significados subjacentes.

Por meio da interpretação dos sonhos, das associações livres e dos conteúdos trazidos pela fala do paciente em sessão, o psicanalista pode identificar as causas dos sintomas que afligem o sujeito.

Freud comparava o trabalho do psicanalista com o trabalho de um químico, que disseca uma substância complexa para entender sua composição básica. Da mesma forma, o analista busca decompor os sintomas em seus componentes, como as emoções e os desejos reprimidos, revelando-os ao paciente para facilitar o certo alívio em relação a queixa.

A psicanálise como tratamento consiste em o paciente, em um ambiente seguro, se expresse de forma livre os seus pensamentos, sentimentos e fantasias - processo que Freud chamou de "associação livre".

O analista, por sua vez, aplica o método de "atenção flutuante", ouvindo sem interferir diretamente, ajudando o paciente a desvendar significados inconscientes ocultos nas palavras e ações.




Teoria e prática: entenda como é a estrutura da psicanálise clínica

Uma das características centrais da psicanálise é a relação dialética entre teoria e clínica. A prática clínica, para Freud, nunca deve ser desvinculada da teoria.

A teoria psicanalítica é construída com base nas experiências clínicas, enquanto a clínica psicanalítica é moldada pelas descobertas teóricas.

Freud enfatiza que a psicanálise não pode ser reduzida a uma simples técnica de verificação de teorias, mas deve se manter atenta às necessidades do paciente.

A promessa de cura, portanto, é um aspecto fundamental de sua prática, embora a "cura" não signifique necessariamente a eliminação de sintomas, mas a transformação da relação do sujeito com seu sofrimento.

Qual o objetivo da psicanálise?

De acordo com Freud, o objetivo da psicanálise é mais profundo do que a simples remoção de sintomas. Ele acredita que, por meio da análise, os pacientes podem alcançar uma "verdade" sobre seus desejos inconscientes, e, assim, modificar sua relação com o sofrimento psíquico.

Esse processo não visa à cura no sentido médico clássico — com base em diagnósticos orgânicos e físicos — mas sim ao entendimento da "mensagem" que os sintomas têm, dentro do campo da linguagem e dos significados psíquicos.

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O sintoma e a linguagem: a psicanálise como “cura pela palavra”

Ao contrário da medicina, que frequentemente vê os sintomas como manifestações de disfunções orgânicas, a psicanálise considera que os sintomas psíquicos têm um significado simbólico . Eles são, na visão psicanalítica, uma expressão da divisão interna do sujeito e das lutas inconscientes que ele enfrenta.

O sintoma não é apenas um mal-estar físico ou fisiológico, mas um reflexo de um conflito mais profundo, que precisa ser desvelado e entendido.

Através da fala e da associação livre, o paciente começa a compreender o que seus sintomas significam, construindo uma nova relação com o que lhe causa sofrimento. Isso torna a psicanálise um processo de cura pela palavra, ou como Freud descreveu, uma "talking cure".

Os limites da psicanálise

No entanto, a psicanálise tem seus limites. Como Lacan posteriormente desenvolveu, a castração e a divisão subjetiva representam barreiras que não podem ser totalmente simbolizadas ou resolvidas.

O sujeito nunca alcança uma plenitude, pois a castração — entendida como a imposição de limites à satisfação do desejo — sempre deixa algo de irredutível, algo do real que não pode ser simbolizado. Esse limite é o que torna a análise impossível de ser completada de maneira absoluta.

A psicanálise, portanto, não oferece uma cura total, mas uma mudança na posição do sujeito em relação ao seu próprio desejo e sofrimento.



Qual o papel do psicanalista? Entenda sobre a transferência na psicanálise

Outro aspecto fundamental da prática psicanalítica é o papel do analista na construção do setting analítico.

Freud destacou a importância da transferência, que é o processo pelo qual o paciente projeta sentimentos, desejos e conflitos inconscientes em relação ao analista. Isso cria um espaço único para que o paciente possa reviver e reprocessar suas experiências de uma maneira segura.

A transferência é um conceito central na psicanálise e refere-se à projeção de sentimentos inconscientes do paciente sobre o analista.

Essa dinâmica é cuidadosamente analisada, pois revela aspectos cruciais do relacionamento do paciente com figuras importantes de sua vida, como pais ou outras autoridades. A análise da transferência ajuda a compreender como os conflitos e afetos impactam a vida do paciente e contribuem para seus sintomas.


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Qual deve ser a postura do psicanalista?

O analista deve manter uma postura de abstinência e neutralidade, não interferindo diretamente nas associações do paciente.

Esse é um ponto central da psicanálise: o desejo do analista não é que o paciente alcance um estado de "normalidade" ou conformidade com certos padrões sociais, mas que ele consiga se encontrar com seus próprios desejos e conflitos inconscientes.

Freud acreditava que, ao se deparar com a verdade sobre seu desejo inconsciente, o paciente pode ter uma transformação psíquica significativa.


A psicanálise como um campo vivo e evolutivo

A psicanálise continua a evoluir e se expandir, com diferentes escolas teóricas enriquecendo e desafiando a obra de Freud.

As teorias pós-freudianas, como as de Lacan, Klein e Winnicott, oferecem novas leituras e interpretações do inconsciente, do desejo e da transferência, mas todas compartilham a premissa básica de que o inconsciente é um campo fundamental que influencia profundamente o sujeito.

Em última análise, a psicanálise não se limita a ser uma técnica terapêutica ou uma teoria psicológica.

Ela é, antes de tudo, uma disciplina que busca entender a relação do sujeito com seu desejo e sofrimento, e como, através da fala, podemos acessar essas dimensões ocultas e transformar nossa relação com o inconsciente.

Se, como Freud afirmou, a psicanálise não tivesse valor terapêutico, ela não teria sobrevivido e se expandido por mais de cem anos. E, ainda hoje, continua a oferecer uma perspectiva única sobre a mente humana, sendo indispensável tanto para a psicologia quanto para a compreensão das complexidades da experiência humana.


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.