Psicanálise

Complexo de Édipo: o que é?

Complexo de Édipo: o que é?
Complexo de Édipo: o que é?
Gabriel Cravo Prado
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Neste texto veremos um pouco sobre a teorização de Freud sobre o complexo de édipo. Uma das principais ideias da teoria psicanalítica, sendo revolucionária na maneira de pensar a constituição do sujeito e a sexualidade.



A história de édipo: um resumo

Freud se inspirou na tragédia grega de Sófocles Édipo Rei para teorizar sobre o conjunto das relações que a criança estabelece com as figuras parentais e que constituem uma rede em grande parte inconsciente de representações e de afetos entre os dois polos de suas formas positiva e negativa. (Kaufmann, p.135)

Édipo era filho de Laio e Jocasta, rei e rainha de Tebas e o casal recebeu uma profecia por meio de um oráculo de que Édipo iria matar o próprio pai e se casaria com sua mãe. E assustados com o revelado, o casal pediu para um servo matar a criança, contudo ele apenas abandonou o menino em uma árvore porque não teve coragem de matá-lo e com isso Édipo foi encontrado por um camponês que o criou.

Ao passar dos anos, Édipo reencontra com Laio, seu pai, e o mata, mas sem saber que este era seu próprio pai, e como recompensa por salvar Tebas de uma esfinge, se casa com Jocasta, também sem saber que a rainha era sua mãe. Então, a profecia se cumpriu.

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O complexo de édipo para a psicanálise

Pode-se dizer que o complexo de édipo está ligado ao período da constituição do eu, ou seja, atua como um organizador do sujeito. É uma fase do desenvolvimento infantil que a criança passa a ter uma atração pela figura que exerce a função materna, enquanto nutre uma rivalidade com a parte que faz a função paterna.

Freud não tem um texto específico sobre o complexo de édipo, mas no livro inaugural da psicanálise, A Interpretação dos Sonhos, ele já cita o mito do personagem, mas é apenas em 1910 que ele de fato teoriza sobre a questão.

A criança ao nascer necessita ser acolhida por outro ser humano e quem faz essa função materna fica sendo tudo para aquela criança, ou seja, seu primeiro objeto de amor. Com isso, a criança quer a mãe somente para ela e a função paterna entra para fazer essa separação e colocar um certo limite nessa relação mãe-bebê, para estabelecer limites, regras e normas que irão regular futuramente o desejo daquele bebê. Então, pai é visto como a figura que representa a lei e a autoridade, essencial para a formação do supereu, a parte do aparelho psíquico que internaliza os valores sociais e morais.

Na saída do Édipo, irá se constituir a forma que o sujeito irá se vincular com o mundo, com a possibilidade de ser neurótico, psicótico ou perverso, sendo estas as três grandes estruturas clínicas que fundamentam a teoria psicanalítica.

O complexo de édipo em meninos e meninas: características

O Complexo de Édipo apresenta diferenças significativas entre meninos e meninas. Nos meninos, o Édipo e o complexo de castração ocorrem simultaneamente. Já nas meninas, inicialmente se vivencia o pré-Édipo, seguido pelo complexo de castração, e, somente então, elas entram no Complexo de Édipo. Assim, pode-se afirmar que meninos e meninas experienciam o complexo de castração de maneiras distintas: os meninos abandonam o Édipo por medo da castração, enquanto as meninas ingressam no Édipo temendo ser castradas.

O momento crucial da constituição do sujeito situa-se no campo da cena edípica. Dessa forma, o Édipo não é somente o “complexo nuclear” das neuroses, mas também o ponto decisivo da sexualidade humana, ou melhor, do processo de produção da sexuação. Será a partir do Édipo que o sujeito irá estruturar e organizar, sobretudo em torno da diferenciação entre os sexos e de seu posicionamento frente à angústia de castração.

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As fases do desenvolvimento psicossexual

Ao investigar o complexo de Édipo, é fundamental considerar as diferentes fases do desenvolvimento psicossexual da criança, conforme delineado por Freud. Cada etapa — oral, anal e fálica — desempenha um papel crucial na formação da subjetividade

Fase Oral O desenvolvimento infantil inicia-se com uma fase centrada na região oral, que abrange desde o nascimento até cerca de um ano e meio. Nesta etapa, a amamentação se destaca como uma experiência fundamental, proporcionando prazer à criança através da sucção e da satisfação derivada da nutrição. Então, a boca é a principal fonte de prazer. A satisfação vem de atividades como mamar, chupar e explorar objetos com a boca.
Fase anal O prazer se concentra no controle dos esfíncteres. A criança experimenta a satisfação ao controlar a liberação e retenção das fezes. Nessa fase a criança passa a manifestar um interesse exacerbado pela região anal, frequentemente envolvendo-se em atividades relacionadas a suas fezes.
Fase fálica A atenção se volta para os órgãos genitais, e a criança começa a explorar a diferença entre os sexos. É nesta fase que surge o complexo de Édipo. Nessa fase, a criança também começa a explorar as questões de masculinidade e feminilidade.



É importante também observar o período de latência e a fase genital:

Período de latência: aqui acontece um intervalo caracterizado pela repressão de desejos inconscientes. Durante essa etapa, a criança já superou o complexo da fase fálica e, embora os impulsos e desejos sexuais possam persistir, eles se manifestam de maneira assexuada por meio de atividades como amizades, estudos e práticas esportivas, até o início da puberdade.

Período genital: seria o estágio final do desenvolvimento psicossocial, onde o sujeito direciona seus investimentos sexuais - libido - para os órgãos genitais. Esse investimento que vai para além dos seus primeiros cuidadores o leva a se interessar por relações amorosas.

Assim, o complexo de édipo diz respeito de como o sujeito irá se relacionar com o mundo exterior. Então o filho se afeicçoa com o genitor do sexo oposto e rivaliza com o genitor do mesmo sexo. Então pode-se dizer que esse triângulo edípico é o que constitui o humano, tendo em vista que os afetos surgem nesse momento.




Função materna e função paterna

A análise das funções materna e paterna proposta por Lacan revela que não é necessário ter uma mãe ou um pai biológicos para que as dinâmicas do complexo de Édipo se manifestem. Essas funções são simbólicas e podem ser exercidas por outras figuras ou instituições que representem o cuidado, a proteção e a introdução da lei. Dessa forma, a estrutura psíquica e as relações de desejo e rivalidade no contexto do complexo de Édipo são acessíveis a qualquer indivíduo, independentemente de sua configuração familiar, enfatizando a primazia dos significantes sobre as figuras biológicas na constituição da subjetividade.

A função materna transcende a mera figura biológica da mãe, assumindo um papel simbólico que engloba nutrição, cuidado e a introdução da criança no universo dos significantes. Essa função se relaciona à criação de um espaço de amor e proteção, essencial para o desenvolvimento das primeiras relações objetais, pois oferece um ambiente propício à manifestação do desejo. Sua importância se revela na formação do eu e na capacidade de estabelecer vínculos sociais, com a mãe exercendo a função de primeira portadora do desejo, fundamentando, assim, as bases para as relações futuras da criança.

A função paterna não está necessariamente ligada à figura biológica do pai, representando a introdução da lei, da ordem e da castração na vida da criança. Nesse contexto, o pai emerge como o agente responsável por conduzir a criança ao mundo dos limites e normas que são essenciais para a internalização da lei social e para a separação do desejo materno, favorecendo assim a autonomia do indivíduo.

Sua importância se manifesta na formação do supereu, sendo crucial para a capacidade da criança de lidar com a frustração e a ambivalência, permitindo-lhe inserir-se adequadamente na estrutura social e desenvolver uma identidade que não se fundamenta exclusivamente no desejo materno.

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Como aprender mais sobre o complexo de édipo?

O conceito do complexo de Édipo, desenvolvido por Freud, é uma das ideias centrais da psicanálise e merece um estudo aprofundado. Para compreender sua importância, é fundamental analisar as obras de Freud, explorando suas principais obras, como "A Interpretação dos Sonhos" e "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade". Nesses textos, Freud elucida as fases do desenvolvimento psicosexual e a importância da resolução do complexo de Édipo para a formação do eu.

Além disso, a Casa do Saber + e o Programa + Psicanálise oferecem cursos que representam uma oportunidade valiosa para aprofundar a compreensão não apenas do complexo de Édipo, mas também de outros conceitos fundamentais da psicanálise. Esses cursos são elaborados para proporcionar uma análise detalhada e uma discussão enriquecedora, permitindo aos participantes explorar as nuances e as implicações teóricas da psicanálise de maneira mais abrangente.





Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905). São Paulo: Cia das Letras, 2011.

______. A Dissolução do Complexo de Édipo (1924). São Paulo: Cia das Letras, 2016.

LACAN, Jacques. O Seminário 5 - As Formações do Inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.



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