Nos últimos anos, o termo burnout se popularizou e tem se tornado cada vez mais presente no vocabulário de quem lida com as pressões do ambiente de trabalho e as inúmeras atividades da vida moderna.
Caracterizado por um estado de exaustão física e emocional, o burnout é uma síndrome do esgotamento profissional que afeta especialmente aqueles que vivem em locais de alto estresse. Seus efeitos costumam ser devastadores para o indivíduo acometido e também para seus relacionamentos profissionais e pessoais.
Neste artigo, vamos mostrar como o burnout se desenvolve, quais são seus principais sintomas e discutir o impacto do neoliberalismo nesse cenário, além de apresentar opções de tratamento para lidar com esse problema crescente no mundo do trabalho.
O que é a Síndrome de Burnout?
A síndrome de burnout é um distúrbio emocional que resulta da exposição prolongada ao estresse das exigências do trabalho, seja pelas longas horas da jornada laboral ou pelas responsabilidades das atribuições. O burnout é identificado pela exaustão física e mental que causa no indivíduo, devido às atividades do trabalho.
A síndrome está incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), de 2019, como um fenômeno ocupacional. Ela não é uma doença, mas está descrita como um fator que influencia o estado de saúde.
O termo "burnout" significa "queimar até o fim" e foi adotado pelo psicólogo Herbert Freudenberger na década de 1970, para definir o esgotamento de profissionais de saúde e cuidadores de dependentes químicos. Com o tempo, o conceito se expandiu para qualquer profissional exposto a níveis elevados de pressão e estresse no ambiente de trabalho.
Burnout vai além de um simples cansaço após um dia exaustivo. Trata-se de um processo gradual que leva à exaustão física e mental, prejudicando a saúde psicológica e a produtividade. Com pressão por resultados e a falta de tempo para o autocuidado, o trabalhador começa a perder o entusiasmo pelas tarefas diárias, chegando a se sentir incapaz de atender às expectativas profissionais e até pessoais.
O contexto de competitividade que faz parte da lógica neoliberal cria um terreno propício para o desenvolvimento dos casos de burnout. Principalmente porque o neoliberalismo valoriza a produtividade e o desempenho profissional acima do bem-estar individual.
Causas e Fatores de Risco do Burnout
O burnout não surge repentinamente; ele é o resultado de um acúmulo gradual de fatores estressantes ao longo do tempo. As principais causas incluem:
- Sobrecarga de Responsabilidades: A pressão constante para atender às exigências profissionais, mesmo diante do esgotamento, é um dos principais gatilhos. A sensação de nunca conseguir "fazer o suficiente" alimenta o ciclo de exaustão.
- Horas Extras Frequentes: A necessidade de trabalhar além do horário normal, seja por exigências externas ou internas, compromete o tempo de descanso e acelera o desgaste físico e mental.
- Estresse Contínuo: A exposição constante ao estresse, especialmente em ambientes de alta pressão, pode criar um clima tóxico para a saúde mental e física. Profissionais que enfrentam situações de grande responsabilidade são especialmente vulneráveis.
- Falta de Equilíbrio entre Vida Profissional e Pessoal: A dificuldade em estabelecer limites claros entre trabalho e vida pessoal contribui significativamente para o desenvolvimento do burnout, levando a um esgotamento generalizado.
Sintomas de Burnout: Como Identificar os Sinais de Alerta
A identificação dos sintomas de burnout pode ser difícil, pois, muitas vezes, os sinais iniciais são confundidos com simples cansaço ou falta de motivação temporária. No entanto, existem alguns sintomas específicos que podem indicar o início da síndrome. Entre os sintomas de burnout, destacam-se:
- Exaustão constante: O cansaço físico e mental é profundo e persistente, não se resolvendo com descanso. A pessoa sente que, por mais que tente descansar, sua energia nunca é restaurada.
- Queda na eficiência no trabalho: A exaustão física e mental reduz a capacidade de produzir de forma eficaz, ao contrário da crença popular de que trabalhar mais horas leva a mais resultados. A fadiga só aumenta os erros e a sensação de ineficiência.
- Sentimento de fracasso e incompetência: A sensação de não ser capaz de atender às expectativas – seja de si mesmo ou dos outros – leva à baixa autoestima e a um quadro de insegurança crônica.
- Distanciamento emocional – A pessoa pode começar a se sentir desconectada de suas responsabilidades, criando um certo cinismo em relação ao trabalho, como forma de proteção contra a sobrecarga emocional.
- Sintomas físicos – O estresse excessivo pode causar dores de cabeça, insônia, problemas digestivos, dores musculares e até aumento da pressão arterial, sinais de que o corpo também está sobrecarregado.
- Flutuações de humor: A pessoa com burnout frequentemente experimenta mudanças abruptas de humor, como irritabilidade, ansiedade e episódios depressivos. Essas oscilações afetam negativamente tanto o ambiente de trabalho quanto as relações pessoais.
- Dificuldade de concentração: A perda de foco nas tarefas cotidianas é um dos sinais mais evidentes do burnout, o que resulta em uma queda na performance e um aumento na sensação de incapacidade.
Esses sintomas não aparecem de forma abrupta, mas se desenvolvem ao longo do tempo. Quando não tratados, podem levar a sérios danos à saúde mental e física, criando um ciclo vicioso de exaustão.
O Impacto do Neoliberalismo no Desenvolvimento da Síndrome de Burnout
Nos últimos anos, o ambiente de trabalho tem sido profundamente marcado por uma busca incessante por produtividade. E, de acordo com o professor de filosofia da Universidade de São Paulo, Vladimir Safatle, o neoliberalismo, com seu foco em empreendedorismo e eficiência a qualquer custo, contribui para esse cenário, criando um ambiente onde o trabalhador é constantemente desafiado a se superar, muitas vezes sem considerar suas necessidades emocionais e psicológicas.
A lógica neoliberal, que valoriza a competitividade e a constante busca por resultados, muitas vezes resulta na falta de satisfação e felicidade dos profissionais, fazendo com que o trabalho se torne uma fonte de estresse. O incentivo à "performance" e à "excelência" sem considerar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal contribui significativamente para o aumento de casos de burnout.
Além do impacto no ambiente de trabalho, o neoliberalismo também exerce uma influência significativa sobre a vida psíquica dos indivíduos. Não se trata apenas de uma estrutura organizacional voltada para a economia, mas de uma reconfiguração dos valores e das relações sociais. A transformação promovida pelo neoliberalismo afeta a maneira como as pessoas se percebem e se relacionam, tanto no trabalho quanto em suas interações pessoais.
Ainda segundo o professor Vladimir Safatle, o conceito de "liberdade" defendido pelo neoliberalismo acabou transformando a sociedade em um campo de competição constante. O estado, sob essa ótica, deveria agir para permitir que essa liberdade se desenvolvesse, mas sem intervir nas questões sociais e políticas. Essa visão levou à disseminação do empreendedorismo como um valor central, fazendo com que todas as relações sociais fossem mediadas pela lógica da concorrência, o que, por sua vez, enfraqueceu os laços de solidariedade e cooperação. O impacto do neoliberalismo se reflete em uma reorganização profunda dos valores sociais e emocionais, intensificando o estresse e as pressões no ambiente de trabalho.
Burnout Tratamento: Como Recuperar a Saúde Mental
O tratamento eficaz da síndrome de burnout envolve transformações no local de trabalho e no estilo de vida. O apoio psicológico também é essencial para a superação do quadro e, dependendo do caso, pode ser necessário intervenção medicamentosa. O principal objetivo é aliviar os sintomas do burnout e restaurar o equilíbrio emocional do indivíduo. Veja as principais indicações para recuperar a saúde mental afetada pelo burnout:
Como tratar o Burnout? |
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Redução do Estresse no Ambiente de Trabalho – A primeira medida para combater o burnout é diminuir as fontes de estresse crônico no trabalho. Isso pode incluir a redistribuição de tarefas e o estabelecimento de limites claros em relação à jornada de trabalho. |
Psicoterapia: Buscar apoio psicológico é fundamental para quem sofre de burnout. |
Pausas e Recuperação: O descanso é uma parte essencial do processo de tratamento. Em muitos casos, é necessário um período de afastamento do trabalho para permitir a recuperação física e emocional. |
Apoio Social: Ter uma rede de apoio sólida – composta por familiares, amigos ou colegas de trabalho – pode ser determinante para a recuperação. O isolamento social tende a agravar os sintomas do burnout, enquanto o suporte emocional proporciona alívio e fortalece a resiliência. |
Consequências do Burnout
O burnout gera uma série de consequências quando não é tratado de forma adequada, afetando a saúde mental e física de quem for acometido pela síndrome. No aspecto psicológico, a condição pode evoluir para distúrbios como depressão, ansiedade, e até transtornos mais sérios, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). No corpo, os sintomas físicos do burnout podem se manifestar em problemas como hipertensão, doenças cardíacas, insônia e distúrbios gastrointestinais, afetando a saúde geral.
Além disso, o burnout tende a comprometer de forma significativa a produtividade e o desempenho no trabalho. O profissional exausto torna-se menos eficiente, menos comprometido e menos motivado. A consequência disso é sentida diretamente nos resultados. Assim, acontece uma queda abrupta na qualidade do trabalho, fato que prejudica o psicológico do profissional e afeta a empresa.
A prevenção do burnout começa com o autoconhecimento. Reconhecer os sinais de esgotamento e perceber quando o trabalho está afetando a saúde mental e física é essencial. Estabelecer um equilíbrio saudável entre o trabalho e a vida pessoal ajuda a preservar a energia emocional e física, evitando o colapso.
Nesse contexto, é de suma importância que as empresas também reconheçam o aumento dos casos e repensem suas práticas. Organizações que incentivam uma cultura de respeito aos limites e à saúde dos trabalhadores são menos propensas a ver o burnout afetar seus colaboradores. Ambientes que priorizam o bem-estar coletivo e a colaboração, em vez da competição desenfreada, criam condições mais saudáveis para o desempenho sustentável.
Conclusão
A síndrome de burnout é um reflexo direto da cultura de trabalho atual, que valoriza a produtividade incessante em detrimento do bem-estar dos indivíduos. Embora o trabalho seja importante, ele não deve ser a única prioridade na vida. Cuidar da saúde mental, estabelecer limites e procurar apoio quando necessário são ações essenciais para evitar o burnout.
Se você está sentindo os sintomas dessa síndrome, é fundamental procurar ajuda. A psicoterapia, combinada com práticas de autocuidado, é um caminho eficaz para a recuperação. Não subestime os sinais de sobrecarga – sua saúde deve ser sempre a sua maior prioridade.
O burnout é um alerta para a reflexão sobre as condições de trabalho que favorecem o seu surgimento. As cobranças constantes, as pressões por perfeição e desempenho, impulsionadas por um sistema econômico focado em resultados criam um terreno fértil para a proliferação de profissionais com a síndrome. Para prevenir o burnout, é necessária uma transformação na mentalidade das organizações, evitando as cobranças além da conta e respeitando o tempo de descanso dos profissionais, que muitas vezes precisam ficar respondendo mensagens via whatsapp ou outros aplicativos de mensagem instantânea mesmo estando fora dos seus horários de trabalho.
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Perguntas Frequentes sobre Burnout
- Quais são os principais sinais de que estou sofrendo de burnout?
Os principais sinais incluem exaustão física e mental constantes, sensação de impotência e fracasso, distanciamento emocional do trabalho, dificuldade de concentração e sintomas físicos como dores de cabeça e insônia. Caso esses sintomas persistam, é importante procurar apoio profissional. - Como prevenir o burnout no ambiente de trabalho?
A prevenção envolve o estabelecimento de limites claros entre vida pessoal e profissional, a promoção de uma cultura organizacional que valorize o bem-estar dos colaboradores, e o incentivo à comunicação aberta sobre o estresse e as dificuldades enfrentadas. Além disso, práticas regulares de autocuidado e pausas durante o expediente são fundamentais para manter o equilíbrio.
Referências:
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sindrome-de-burnout
https://www.paho.org/pt/noticias/28-5-2019-cid-burnout-e-um-fenomeno-ocupacional