O conceito de inconsciente, presente na teoria de Sigmund Freud, é amplamente conhecido e fundamental para a psicanálise e o entendimento da mente humana.
Pode até parecer verdade – e muitos leigos pensam assim –, mas o inconsciente não é somente aquilo que esquecemos – ou que gostaríamos de esquecer –, mas sim um espaço psíquico ativo, que influencia nossas emoções, pensamentos e comportamentos de maneira indireta.
É no inconsciente que ocorrem mecanismos como o recalque, impedindo que certos conteúdos traumáticos ou inaceitáveis se tornem conscientes.
Para Freud, dentro desse contexto, existiam certas manifestações do inconsciente, tais como:
- Sonhos – que ele chamava de "a via régia para o inconsciente".
- Atos falhos – com certeza você já cometeu algum, como trocar o nome do parceiro, por exemplo (polêmico, mas pode revelar um pensamento reprimido).
- Sintomas neuróticos – fobias, ansiedades e compulsões.
Compreender o inconsciente freudiano é essencial para entendermos como nossa mente lida com desejos, traumas e conflitos internos, para isso é preciso observar para além de um depósito de memórias esquecidas.
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Palavra-passe
O conceito de repressão através da história da psicanálise
Falar sobre o recalque pode parecer bastante simples quando pensamos no conceito disseminado pela internet, onde a imagem de um iceberg está sempre em evidência. Tudo bem! É importante desmistificar algumas teorias e trazê-las para o universo contemporâneo, ampliando o alcance de muitos conteúdos acadêmicos.
Porém, também é necessário um certo aprofundamento a fim de termos embasamento suficiente para entendermos como existe um emaranhado de outros conceitos e teorias por trás de cada um dos detalhes apresentados por nomes como Sigmund Freud.
Quando pesquisamos para a elaboração deste texto, esbarramos em um grande conjunto complexo de explicações colocadas por Freud em diferentes épocas de seu trabalho, onde iremos destacar alguns de seus escritos.
No volume XX, que traz trabalhos de 1925 a 1926 – Um estudo autobiográfico: inibições, sintomas e ansiedade; a questão da análise leiga e outros trabalhos – o apêndice A nos oferece algumas referências em que podemos encontrar os conceitos de recalque, bem como de repressão.
O primeiro uso do termo “repressão” apareceu na “Comunicação preliminar”, de 1974 – edição brasileira. Já em “Estudos sobre histeria”, Freud cita o conceito diversas vezes, estando misturado à “defesa”, que começou a desaparecer após o período de Breuer.
Foi então que “repressão” se tornou predominante em suas obras, tendo sido quase que exclusivamente utilizada no famoso caso “Dora” e nos “Três ensaios”. Uma mudança que foi efetivamente chamada à atenção em um artigo sobre sexualidade das neuroses, em 1905.
Encarava a própria divisão psíquica como o efeito de um processo de repulsão que naquela ocasião denominei de “defesa”, e depois, de “repressão”. Freud, em “A história do movimento psicanalítico" (1914d), Edição Standard Brasileira, Vol. XIV, p. 20, IMAGO Editora, 1974.
E foi após 1905 que a palavra “repressão” teve sua dominância, como por exemplo na análise do texto “O homem dos ratos” – de 1909. Dito isso, podemos trazer uma pincelada sobre o sentido de “repressão” para Freud.
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O conceito de repressão de Sigmund Freud
Quando sentimos um impulso instintivo, como um desejo ou necessidade, ele pode encontrar obstáculos que tentam bloqueá-lo. Se fosse um estímulo externo – algo vindo de fora, como um som alto ou um cheiro forte – a solução natural seria fugir. Mas, quando o impulso vem de dentro de nós, não há para onde escapar.
Nesse caso, o que acontece é esse processo inconsciente chamado repressão, uma operação psíquica que procura repelir – ou manter no inconsciente – pensamentos, lembranças, traumas ou imagens que não conseguimos lidar e que podem nos ameaçar a experienciar o desprazer.
Esse conceito foi desenvolvido na psicanálise e ajuda a explicar como lidamos com desejos ou pensamentos que nos causam certo desconforto. Mas a pergunta que fica é: “por que um impulso instintivo precisaria ser reprimido?”
Isso acontece quando a ideia de satisfazê-lo causa mais desprazer do que prazer. Normalmente, nossos instintos nos levam a buscar sensações agradáveis.
No entanto, algumas circunstâncias podem fazer com que algo que deveria ser prazeroso se torne incômodo ou doloroso. Por exemplo, na mente, quando um desejo reprimido se torna desconfortável, nosso cérebro pode tentar afastá-lo para evitar sofrimento.
Vale ressaltar que a repressão, ao contrário do que muitas pessoas pensam, também não acontece uma única vez, de forma definitiva.
Para que a repressão ocorra, primeiro precisa haver uma divisão entre o consciente e o inconsciente. No início, ela impede que um pensamento ou desejo desconfortável chegue ao consciente. Depois, continua atuando sobre ideias e lembranças associadas a esse conteúdo reprimido.
Porém, o que foi reprimido não desaparece. Ele pode se reorganizar no inconsciente, influenciando nossas emoções, comportamentos e até mesmo reaparecendo de formas indiretas, como em sonhos, atos falhos ou sintomas psicológicos, como falamos no início do texto.
Além disso, a repressão exige um esforço contínuo para se manter ativa. Se essa "força de repressão" enfraquece, o conteúdo reprimido pode tentar emergir novamente, exigindo novos esforços para ser contido. Ou seja, a repressão não é um evento único e fixo, mas um processo dinâmico e constante ao longo da vida psíquica.
E é nesse ponto que entramos no conceito de recalque, um mecanismo psíquico mais profundo e estruturado dentro da teoria freudiana. Se a repressão atua como uma barreira inicial, impedindo que certos conteúdos entrem na consciência, o recalque é o processo responsável por mantê-los no inconsciente de forma mais duradoura.
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O que significa recalque?
O recalque é um tipo específico de repressão, podemos dizer que mais profundo e estruturado. Freud usava esse conceito para explicar como certos pensamentos, memórias ou desejos incômodos são "empurrados" para o inconsciente de forma duradoura.
Isso significa que a pessoa não tem acesso direto a esse conteúdo, mas ele continua influenciando sua vida, podendo reaparecer de maneira disfarçada, como em sonhos, atos falhos ou até sintomas neuróticos, como fobias e ansiedades – o que anda lado a lado com a repressão, convenhamos.
Antes de seguirmos, é importante ter atenção ao seguinte adendo: supressão e repressão não são a mesma coisa para Freud:
- Repressão (Verdrängung): como já citado, é um mecanismo de defesa inconsciente, ou seja, ocorre sem que a pessoa perceba. O ego "expulsa" desejos, memórias ou pensamentos indesejáveis da consciência e os mantém no inconsciente para evitar sofrimento.
- Supressão: diferente da repressão, a supressão é um ato consciente. A pessoa decide deliberadamente afastar um pensamento incômodo ou evitar lembrar de algo desagradável – um processo que pode ser revertido quando a pessoa quiser acessar aquela memória ou pensamento novamente.
Ou seja, enquanto a repressão acontece de forma involuntária e inconsciente, a supressão é um esforço consciente de afastar um pensamento incômodo.
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Voltando… diferente da supressão, onde conscientemente evitamos pensar em algo, o recalque acontece de forma involuntária, sem que a pessoa perceba. Ele funciona como um mecanismo de defesa da mente para evitar o sofrimento, impedindo que certos conteúdos perturbadores cheguem à consciência.
No entanto, Freud destacava que o material reprimido não desaparece – ele pode se acumular e se manifestar de outras formas, como angústia, dificuldades emocionais ou padrões de comportamento disfuncionais.
O trabalho da psicanálise, segundo Freud, é justamente trazer esses conteúdos recalcados de volta à consciência, ajudando a pessoa a compreendê-los e, assim, aliviar seus efeitos. Afinal, podemos esquecer por causa do recalque, mas o que é reprimido sempre encontra uma maneira de retornar.
Lendo assim, parece bem confuso de entender – e, acredite em mim, também de explicar –, mas vamos a um resumo prático, com exemplos, a fim de clarificar mais as ideias:
CONCEITO | EXPLICAÇÃO | EXEMPLO |
---|---|---|
Repressão |
Mecanismo de defesa inconsciente que afasta pensamentos, desejos ou lembranças que causam sofrimento. O ego, para evitar o desprazer, bloqueia esses conteúdos e os mantém no inconsciente. Pode ter duas fases:
|
Uma pessoa que sofreu um trauma na infância pode não se lembrar conscientemente do evento, mas ainda sentir ansiedade ou medo sem saber a origem. |
Recalque |
Tipo específico de repressão, mais profundo e estruturado, que está na base da formação do inconsciente. Quando algo é recalcado, ele não só é reprimido, mas também se fixa no inconsciente de forma duradoura, gerando sintomas indiretos. O recalque está na base da teoria freudiana sobre os conflitos psíquicos e a formação dos sintomas neuróticos. |
Um desejo proibido (como uma raiva intensa contra os pais) pode ser recalcado e reaparecer de forma distorcida, como dificuldade em se relacionar com figuras de autoridade. |
Todo recalque é um tipo de repressão, mas nem toda repressão é um recalque.
A barreira do recalque e seu funcionamento
Você sabia que nem tudo o que a gente sente ou pensa chega à consciência? Pois é! Alguns conteúdos podem não conseguir atingir esse lugar, como se passassem por um grande filtro, porém, eles não desaparecem e interferem indiretamente na vida.
Os relacionamentos são um excelente exemplo, visto que crianças que foram rejeitadas pelos pais podem ter dificuldades na vida adulta – seja para confiar nas pessoas ou para escolher seus parceiros (que acabam reforçando essa sensação de abandono).
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Mas essa barreira da mente não é perfeita, visto que alguns desses conteúdos encontram brechas para emergir – através de pequenos deslizes ou pelos conteúdos oníricos dos sonhos (esse é um conceito de Jung que cabe muito bem aqui).
O recalque acontece porque nossa mente busca evitar o sofrimento. Mas o problema é que ignorar um problema não faz com que ele desapareça – apenas o esconde. Com o tempo, conteúdos recalcados podem surgir como ansiedade, fobias ou comportamentos autossabotadores.
A psicanálise acredita que, para reduzir os efeitos negativos do recalque, é necessário trazer esses conteúdos reprimidos à consciência. Dessa forma, terapia, autoconhecimento e até a análise dos sonhos são formas de acessar esses conteúdos e integrá-los à vida de forma saudável.
Em outras palavras, aquilo que você recalca não some – apenas encontra outras formas de se manifestar.
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Referências bibliográficas
FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: A interpretação dos sonhos (segunda parte) e sobre os sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: A história do movimento psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, Sigmund. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Um estudo autobiográfico. Inibições, sintomas e ansiedade. A questão da análise leiga e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996.