O "Eu", "Isso" e o "Supereu", popularmente conhecidos como "id", "ego" e "superego", representam diferentes instâncias do aparelho psíquico formulado por Freud.
O id (isso) concentra os desejos inconscientes e pulsionais; o ego (eu) atua como mediador entre esses impulsos, a realidade externa e as exigências internas; e o superego (supereu) representa a voz da moralidade e dos ideais.
Juntas, essas três dimensões ajudam a compreender os conflitos internos que marcam nossa vida psíquica e são fundamentais para a teoria psicanalítica. Neste artigo, exploraremos o significado e a função de cada um deles.
O artigo abordará os seguintes tópicos:
Id, ego e superego e a questão da tradução
Antes de começarmos, precisamos fazer uma pequena contextualização. Embora expressões como "id", "ego" e "superego" apareçam em algumas traduções da América Latina, elas não estão tão alinhadas com a escrita de Freud.
No original alemão, as palavras "Ich", "Es" e "Über-Ich" correspondem, respectivamente, a "eu", "isso" e "supereu" em português.
Embora esses termos se refiram às mesmas instâncias do aparelho psíquico, podem gerar pequenas variações na terminologia, mantendo, no entanto, o significado essencial.
Neste texto, portanto, utilizaremos "Eu", "Isso" e "Supereu", por serem mais consistentes ao postulado freudianos. Os conceitos, no entanto, permanecem os mesmos.
Freud nunca utilizou os termos “Id, Ego e Superego”. Essas expressões são fruto das traduções de suas obras, especialmente para o inglês e outras línguas latinas
O que são Eu, Isso e Supereu (Id, Ego e Superego)?
Os conceitos de Eu, Isso e Supereu - popularmente conhecidos como id, ego e superego - formam a segunda grande formulação de Freud sobre o funcionamento da mente. Em linhas gerais:
- Isso: representa a dimensão inconsciente e pulsional, onde estão as forças mais primitivas do desejo.
- Eu: atua como mediador entre essas forças, a realidade externa e as exigências do Supereu.
- Supereu: corresponde à instância moral, que internaliza regras, valores e ideais.
Juntos, esses três sistemas ajudam a explicar como o sujeito lida com seus desejos, limites e conflitos internos, sendo fundamentais para compreender a teoria psicanalítica e os impasses da vida psíquica.
Vejamos cada uma dessas instâncias elaboradas por Freud detalhadamente:
Eu (Ego)
O eu (ego) refere-se à instância psíquica que mediatiza as pressões do Isso, as ordens do Supereu e as exigências da realidade externa.
O desenvolvimento do Eu ocorre através do processo de identificação do bebê com o mundo exterior, funcionando como um espelho que reflete o que ele é e como deve se comportar.
Essa formação é um resultado direto das interações sociais e das representações que os outros têm sobre ele. Ao entrar em contato com a realidade, o Eu se define o resultado dessas identificações.
Freud destaca que o Eu atua como representante da realidade, buscando uma dominação sobre as pulsões, substituindo o princípio de prazer pelo princípio da realidade.
Compreende-se, portanto, que o Eu possui tanto uma dimensão consciente quanto inconsciente, e não é uma instância inata, mas sim uma construção que emerge a partir das interações sociais. Essa instância recalcadora introduz, assim, o princípio da realidade na vida psíquica do indivíduo.
Isso (Id)
O isso (id) é uma instância totalmente inconsciente que está presente no sujeito desde o início da vida, não se subordinando à lógica do tempo cronológico.
O Isso é considerado o reservatório das pulsões, servindo como a força motriz do psiquismo. Seus conteúdos, que representam a expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, sendo compostos tanto por aspectos hereditários e inatos quanto por elementos recalcados e adquiridos.
Sob uma perspectiva econômica, Freud vê o Isso como o reservatório inicial da energia psíquica; enquanto do ponto de vista dinâmico, ele entra em conflito com o Eu e o Supereu.
Assim, o Isso é a sede das paixões humanas, incluindo inveja, ciúmes, vaidade, amor e ódio, consolidando-se como o núcleo pulsional da personalidade.
Supereu (Superego)
O Supereu (superego), conforme descrito por Freud, é uma instância psíquica que possui tanto uma dimensão consciente quanto uma inconsciente.
Ele se caracteriza pelo ideal do eu, que abrange as expectativas de desempenho do sujeito e as ordens morais internalizadas. Essa estrutura é formada por influências da moralidade, dos bons costumes, da religião e dos valores transmitidos pelos cuidadores durante a infância.
Tradicionalmente, o Supereu é visto como o herdeiro do complexo de Édipo, configurando-se a partir da interiorização das exigências e interdições parentais. Essa instância abrange tanto as funções de proibição quanto as de idealização.
Embora a renúncia aos desejos edipianos, tanto amorosos quanto hostis, seja fundamental para a formação do Supereu, Freud argumenta que ele é posteriormente enriquecido por influências sociais e culturais, como educação, religião e moralidade.
Instância | Descrição | Papel na vida psíquica |
---|---|---|
Isso (Id) | É totalmente inconsciente e reúne as pulsões mais primitivas, ligadas ao desejo e à busca imediata do prazer. | Funciona como a fonte de energia do psiquismo, impulsionando o sujeito sem considerar regras ou limites. |
Eu (Ego) | Forma-se no contato com a realidade e atua como mediador entre as exigências do Isso, do Supereu e do mundo externo. | Busca o equilíbrio possível, substituindo o princípio do prazer pelo princípio da realidade, para que o sujeito possa viver em sociedade. |
Supereu (Superego) | É a instância moral, marcada pelas regras, ideais e valores herdados da família e da cultura. | Julga e orienta as ações do Eu, impondo proibições, mas também servindo como guia dos ideais do sujeito. |
Sabia que o Supereu é considerado o herdeiro do complexo de Édipo?
Primeira e Segunda Tópica Freudiana
A formulação de Eu, Isso e Supereu (id, ego e superego), apresentada por Freud em 1923, não surgiu de forma isolada. Ela se apoia em uma elaboração anterior, conhecida como primeira tópica, que descrevia o aparelho psíquico a partir das instâncias do inconsciente, consciente e pré-consciente.
Na prática, isso significa que Freud não abandonou o primeiro modelo, mas o ampliou. A segunda tópica, com Eu, Isso e Supereu, se articula à primeira, oferecendo um olhar mais complexo sobre os conflitos internos e o funcionamento psíquico. Assim, consciente, inconsciente e pré-consciente permanecem ativos, mas agora em diálogo com as forças descritas pelas novas instâncias.
Por isso, compreender a primeira tópica é fundamental para aprofundar o entendimento da segunda. Vejamos brevemente como Freud descreveu essas instâncias em sua obra inicial, mostrando como elas preparam o terreno para a formulação de Eu, Isso e Supereu.

Inconsciente, Pré-consciente e Consciente
Essas três instâncias - inconsciente, consciente e pré-consciente - foram a base da primeira tópica freudiana, desenvolvida em 1900. É a partir delas que Freud constrói mais tarde sua segunda tópica, articulando-as ao Eu, Isso e Supereu (id, ego e superego). Entender como funcionam é, portanto, essencial para captar em profundidade a dinâmica do aparelho psíquico.
- Inconsciente: Os conteúdos recalcados localizam-se no inconsciente, onde podem aparecer para o sujeito em momentos bem específicos. Essa instância psíquica possui uma linguagem própria e não se orienta pelo tempo cronológico. O inconsciente se revela por meio de sonhos, atos falhos e sintomas. O termo "inconsciente" diz respeito ao que está além do nosso conhecimento. Quando Freud afirma que possuímos um inconsciente, ele sugere que não temos uma compreensão total de nós mesmos.
- Consciente: Um estado psíquico que reflete a localização de processos fundamentais do aparelho psíquico, englobando o que estamos conscientes no presente momento. Esse estado opera em conformidade com as regras sociais, levando em consideração o tempo e o espaço. Assim, é através dele que o sujeito estabelece sua relação com o mundo externo.
- Pré-consciente: Funciona como uma barreira permeável entre o inconsciente e o consciente. O pré-consciente abrange conteúdos que podem ser acessados mais facilmente pela consciência, mas que não permanecem nela de forma permanente.
"O eu não é senhor em sua própria morada" - Sigmund Freud
Como aprender mais sobre psicanálise?
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o conceito de Isso, Eu e Supereu na teoria psicanalítica, é fundamental começar pela leitura das obras de Sigmund Freud que tratam desses conceitos.
Alguns exemplos de obras importantes são "A Interpretação dos Sonhos"(1900) , onde Freud apresenta pela primeira vez esses elementos do aparelho psíquico, e "O Eu e o Isso" (1923), texto que detalha a dinâmica entre essas instâncias.
Além disso, investir em cursos especializados sobre a teoria psicanalítica pode ser altamente enriquecedor. A Casa do Saber oferece uma série de cursos ministrados por especialistas reconhecidos, que aprofundam a compreensão de conceitos como eu, isso e supereu, bem como suas implicações no comportamento humano e nos processos psíquicos.
A seguir, destacamos algumas recomendações de cursos disponíveis na plataforma Casa do Saber + que exploram esses temas com profundidade e relevância.
- Freud Fundamental: As Ideias e as Obras
- Egos Alterados: O Mal-Estar e o Bem-Estar da Vida Cronicamente Online
- Freud e os Fundamentos da Psicanálise: Teoria e Clínica
- O Inconsciente: De Freud às Reformulações da Neurociência
Perguntas Frequentes sobre Eu, Isso e Supereu
O que são Eu, Isso e Supereu (Id, Ego e Superego)?
São as três instâncias psíquicas propostas por Freud na sua segunda tópica. O Isso representa as pulsões e desejos inconscientes; o Eu atua como mediador entre os impulsos, a realidade e as exigências sociais; e o Supereu funciona como instância moral, internalizando normas, valores e proibições. Embora sejam conhecidas popularmente como Id, Ego e Superego, esses termos são traduções do alemão que não refletem exatamente a escolha linguística de Freud.
Qual a diferença entre a primeira e a segunda tópica de Freud?
Na primeira tópica, Freud descreve a mente em três sistemas: consciente, pré-consciente e inconsciente. Já na segunda tópica, ele propõe as instâncias Eu, Isso e Supereu, que não substituem a primeira, mas se articulam com ela. Assim, cada modelo oferece uma forma diferente de compreender a dinâmica psíquica, complementando-se na prática clínica e na teoria psicanalítica.
Por que Freud criou os conceitos de Eu, Isso e Supereu?
Freud desenvolveu esses conceitos ao perceber que a primeira tópica não explicava todos os fenômenos psíquicos. Ele buscava compreender como os conflitos internos, as repressões e os ideais sociais moldavam o comportamento humano. Com a segunda tópica, conseguiu descrever de forma mais complexa a relação entre pulsões inconscientes, mediação do Eu e as exigências morais do Supereu.
Qual a função do Supereu na psicanálise?
O Supereu atua como instância crítica e normativa da psique. Ele é considerado o herdeiro do complexo de Édipo, pois representa a internalização das figuras parentais e de suas proibições. Sua função é impor limites, cobrar condutas e gerar sentimentos de culpa ou orgulho, regulando a relação do sujeito com as normas sociais e culturais.
Como aplicar os conceitos de Eu, Isso e Supereu na prática clínica?
Na prática psicanalítica, esses conceitos ajudam a interpretar conflitos internos e compreender sintomas neuróticos, mecanismos de defesa e padrões de comportamento. O analista considera como o Eu lida com as pressões do Isso e as exigências do Supereu, o que permite entender melhor as dinâmicas inconscientes que influenciam o sofrimento psíquico e a vida cotidiana do paciente.

Referências Bibliográficas:
GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Zahar: Rio de Janeiro, 1985.
LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
.ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.