Psicanálise

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Id, Ego e Superego: Entenda os Conceitos de Freud na Psicanálise
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Id, Ego e Superego: Entenda os Conceitos de Freud na Psicanálise
Descubra a estrutura da mente segundo a teoria de Freud sobre o Id, Ego e Superego. Veja como influenciam o nosso comportamento e personalidade.

Entre os conceitos centrais da teoria psicanalítica destacam-se o "Eu", o "Isso" e o "Supereu", que representam diferentes instâncias do aparelho psíquico formulado por Freud. Neste artigo, exploraremos o significado e a função de cada um desses.

Eu, Isso e Supereu

Antes de começarmos, é importante abordar uma questão de estilo na tradução dos termos freudianos. No original alemão, as palavras "Ich", "Es" e "Über-Ich" correspondem, respectivamente, a "eu", "isso" e "supereu" em português. Embora expressões como "id", "ego" e "superego" apareçam em algumas traduções da América Latina, elas não estão tão alinhadas com a escrita de Freud.

Embora esses termos se refiram às mesmas instâncias do aparelho psíquico, podem gerar pequenas variações na terminologia, mantendo, no entanto, o significado essencial. Neste texto, utilizaremos "Eu", "Isso" e "Supereu", por serem mais consistentes ao postulado freudiano.

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Nesse texto veremos:



Primeira e Segunda Tópica Freudiana

Os conceitos de consciente, pré-consciente e inconsciente são essenciais para entender a estrutura do aparelho psíquico na teoria psicanalítica, integrando a primeira tópica freudiana, formulada em 1900. Vale destacar que essas instâncias não correspondem a locais específicos no aparelho psíquico. No período de 1920 a 1923, Freud revisa sua teoria, introduzindo novas compreensões sobre o aparelho psíquico e apresenta os conceitos de Eu, Isso e Supereu. É importante notar que Freud não substitui a primeira tópica pela segunda, mas as articula de maneira complementar. Assim, consciente, inconsciente e pré-consciente continuam presentes na segunda tópica, enriquecendo a compreensão dos conceitos de Eu, Isso e Supereu.

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Inconsciente, Pré-consciente e Consciente

  • Inconsciente - Os conteúdos recalcados localizam-se no inconsciente, onde podem aparecer para o sujeito em momentos bem específicos. Essa instância psíquica possui uma linguagem própria e não se orienta pelo tempo cronológico. O inconsciente se revela por meio de sonhos, atos falhos e sintomas. O termo "inconsciente" diz respeito ao que está além do nosso conhecimento. Quando Freud afirma que possuímos um inconsciente, ele sugere que não temos uma compreensão total de nós mesmos.
  • Consciente - Um estado psíquico que reflete a localização de processos fundamentais do aparelho psíquico, englobando o que estamos conscientes no presente momento. Esse estado opera em conformidade com as regras sociais, levando em consideração o tempo e o espaço. Assim, é através dele que o sujeito estabelece sua relação com o mundo externo.
  • Pré-consciente - Funciona como uma barreira permeável entre o inconsciente e o consciente. O pré-consciente abrange conteúdos que podem ser acessados mais facilmente pela consciência, mas que não permanecem nela de forma permanente.

foto de freud segurando um charuto
Sigmund Freud


Eu, Isso e Supereu

Em 1923, Freud estabeleceu uma nova estrutura para o entendimento do aparelho psíquico. Anteriormente, como já vimos, sua abordagem se baseava na distinção entre inconsciente, consciente e pré-consciente. Com a introdução dessas novas noções, Freud não apenas enriqueceu a compreensão do funcionamento psíquico, mas também promoveu uma dialética entre as diferentes instâncias, evidenciando como elas interagem e se influenciam mutuamente.

Eu Refere-se à instância psíquica que mediatiza as pressões do Isso, as ordens do Supereu e as exigências da realidade externa. O desenvolvimento do Eu ocorre através do processo de identificação do bebê com o mundo exterior, funcionando como um espelho que reflete o que ele é e como deve se comportar. Essa formação é um resultado direto das interações sociais e das representações que os outros têm sobre ele. Ao entrar em contato com a realidade, o Eu se define o resultado dessas identificações.

Freud destaca que o Eu atua como representante da realidade, buscando uma dominação sobre as pulsões, substituindo o princípio de prazer pelo princípio da realidade. Compreende-se, portanto, que o Eu possui tanto uma dimensão consciente quanto inconsciente, e não é uma instância inata, mas sim uma construção que emerge a partir das interações sociais. Essa instância recalcadora introduz, assim, o princípio da realidade na vida psíquica do indivíduo.
Supereu O Supereu, conforme descrito por Freud, é uma instância psíquica que possui tanto uma dimensão consciente quanto uma inconsciente. Ele se caracteriza pelo ideal do eu, que abrange as expectativas de desempenho do sujeito e as ordens morais internalizadas. Essa estrutura é formada por influências da moralidade, dos bons costumes, da religião e dos valores transmitidos pelos cuidadores durante a infância.

Tradicionalmente, o Supereu é visto como o herdeiro do complexo de Édipo, configurando-se a partir da interiorização das exigências e interdições parentais. Essa instância abrange tanto as funções de proibição quanto as de idealização. Embora a renúncia aos desejos edipianos, tanto amorosos quanto hostis, seja fundamental para a formação do Supereu, Freud argumenta que ele é posteriormente enriquecido por influências sociais e culturais, como educação, religião e moralidade.
Isso É uma instância totalmente inconsciente que está presente no sujeito desde o início da vida, não se subordinando à lógica do tempo cronológico. O Isso é considerado o reservatório das pulsões, servindo como a força motriz do psiquismo. Seus conteúdos, que representam a expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, sendo compostos tanto por aspectos hereditários e inatos quanto por elementos recalcados e adquiridos.

Sob uma perspectiva econômica, Freud vê o Isso como o reservatório inicial da energia psíquica; enquanto do ponto de vista dinâmico, ele entra em conflito com o Eu e o Supereu. Assim, o Isso é a sede das paixões humanas, incluindo inveja, ciúmes, vaidade, amor e ódio, consolidando-se como o núcleo pulsional da personalidade.



Como aprender mais sobre psicanálise?

Para aprofundar seus conhecimentos sobre o conceito de Isso, Eu e Supereu na teoria psicanalítica, é fundamental começar pela leitura das obras de Sigmund Freud que tratam desses conceitos, como "A Interpretação dos Sonhos" (1900), onde Freud apresenta pela primeira vez esses elementos do aparelho psíquico, e "O Eu e o Isso" (1923), texto que detalha a dinâmica entre essas instâncias.

Além disso, investir em cursos especializados sobre a teoria psicanalítica pode ser altamente enriquecedor. A Casa do Saber oferece uma série de cursos ministrados por especialistas reconhecidos, que aprofundam a compreensão dos conceitos de id, ego e superego, bem como suas implicações no comportamento humano e nos processos psíquicos.

A seguir, destacamos algumas recomendações de cursos disponíveis na plataforma Casa do Saber + que exploram esses temas com profundidade e relevância.




Referências Bibliográficas:

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Zahar: Rio de Janeiro, 1985.

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

.ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.







Complexo de Édipo: o que é?
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Complexo de Édipo: o que é?
Saiba o que é o Complexo de Édipo, qual a sua relação com a sexualidade e o que pensava Freud sobre a função paterna e a função materna.

Neste texto veremos um pouco sobre a teorização de Freud sobre o complexo de édipo. Uma das principais ideias da teoria psicanalítica, sendo revolucionária na maneira de pensar a constituição do sujeito e a sexualidade.



A história de édipo: um resumo

Freud se inspirou na tragédia grega de Sófocles Édipo Rei para teorizar sobre o conjunto das relações que a criança estabelece com as figuras parentais e que constituem uma rede em grande parte inconsciente de representações e de afetos entre os dois polos de suas formas positiva e negativa. (Kaufmann, p.135)

Édipo era filho de Laio e Jocasta, rei e rainha de Tebas e o casal recebeu uma profecia por meio de um oráculo de que Édipo iria matar o próprio pai e se casaria com sua mãe. E assustados com o revelado, o casal pediu para um servo matar a criança, contudo ele apenas abandonou o menino em uma árvore porque não teve coragem de matá-lo e com isso Édipo foi encontrado por um camponês que o criou.

Ao passar dos anos, Édipo reencontra com Laio, seu pai, e o mata, mas sem saber que este era seu próprio pai, e como recompensa por salvar Tebas de uma esfinge, se casa com Jocasta, também sem saber que a rainha era sua mãe. Então, a profecia se cumpriu.

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O complexo de édipo para a psicanálise

Pode-se dizer que o complexo de édipo está ligado ao período da constituição do eu, ou seja, atua como um organizador do sujeito. É uma fase do desenvolvimento infantil que a criança passa a ter uma atração pela figura que exerce a função materna, enquanto nutre uma rivalidade com a parte que faz a função paterna.

Freud não tem um texto específico sobre o complexo de édipo, mas no livro inaugural da psicanálise, A Interpretação dos Sonhos, ele já cita o mito do personagem, mas é apenas em 1910 que ele de fato teoriza sobre a questão.

A criança ao nascer necessita ser acolhida por outro ser humano e quem faz essa função materna fica sendo tudo para aquela criança, ou seja, seu primeiro objeto de amor. Com isso, a criança quer a mãe somente para ela e a função paterna entra para fazer essa separação e colocar um certo limite nessa relação mãe-bebê, para estabelecer limites, regras e normas que irão regular futuramente o desejo daquele bebê. Então, pai é visto como a figura que representa a lei e a autoridade, essencial para a formação do supereu, a parte do aparelho psíquico que internaliza os valores sociais e morais.

Na saída do Édipo, irá se constituir a forma que o sujeito irá se vincular com o mundo, com a possibilidade de ser neurótico, psicótico ou perverso, sendo estas as três grandes estruturas clínicas que fundamentam a teoria psicanalítica.

O complexo de édipo em meninos e meninas: características

O Complexo de Édipo apresenta diferenças significativas entre meninos e meninas. Nos meninos, o Édipo e o complexo de castração ocorrem simultaneamente. Já nas meninas, inicialmente se vivencia o pré-Édipo, seguido pelo complexo de castração, e, somente então, elas entram no Complexo de Édipo. Assim, pode-se afirmar que meninos e meninas experienciam o complexo de castração de maneiras distintas: os meninos abandonam o Édipo por medo da castração, enquanto as meninas ingressam no Édipo temendo ser castradas.

O momento crucial da constituição do sujeito situa-se no campo da cena edípica. Dessa forma, o Édipo não é somente o “complexo nuclear” das neuroses, mas também o ponto decisivo da sexualidade humana, ou melhor, do processo de produção da sexuação. Será a partir do Édipo que o sujeito irá estruturar e organizar, sobretudo em torno da diferenciação entre os sexos e de seu posicionamento frente à angústia de castração.

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As fases do desenvolvimento psicossexual

Ao investigar o complexo de Édipo, é fundamental considerar as diferentes fases do desenvolvimento psicossexual da criança, conforme delineado por Freud. Cada etapa — oral, anal e fálica — desempenha um papel crucial na formação da subjetividade

Fase Oral O desenvolvimento infantil inicia-se com uma fase centrada na região oral, que abrange desde o nascimento até cerca de um ano e meio. Nesta etapa, a amamentação se destaca como uma experiência fundamental, proporcionando prazer à criança através da sucção e da satisfação derivada da nutrição. Então, a boca é a principal fonte de prazer. A satisfação vem de atividades como mamar, chupar e explorar objetos com a boca.
Fase anal O prazer se concentra no controle dos esfíncteres. A criança experimenta a satisfação ao controlar a liberação e retenção das fezes. Nessa fase a criança passa a manifestar um interesse exacerbado pela região anal, frequentemente envolvendo-se em atividades relacionadas a suas fezes.
Fase fálica A atenção se volta para os órgãos genitais, e a criança começa a explorar a diferença entre os sexos. É nesta fase que surge o complexo de Édipo. Nessa fase, a criança também começa a explorar as questões de masculinidade e feminilidade.



É importante também observar o período de latência e a fase genital:

Período de latência: aqui acontece um intervalo caracterizado pela repressão de desejos inconscientes. Durante essa etapa, a criança já superou o complexo da fase fálica e, embora os impulsos e desejos sexuais possam persistir, eles se manifestam de maneira assexuada por meio de atividades como amizades, estudos e práticas esportivas, até o início da puberdade.

Período genital: seria o estágio final do desenvolvimento psicossocial, onde o sujeito direciona seus investimentos sexuais - libido - para os órgãos genitais. Esse investimento que vai para além dos seus primeiros cuidadores o leva a se interessar por relações amorosas.

Assim, o complexo de édipo diz respeito de como o sujeito irá se relacionar com o mundo exterior. Então o filho se afeicçoa com o genitor do sexo oposto e rivaliza com o genitor do mesmo sexo. Então pode-se dizer que esse triângulo edípico é o que constitui o humano, tendo em vista que os afetos surgem nesse momento.




Função materna e função paterna

A análise das funções materna e paterna proposta por Lacan revela que não é necessário ter uma mãe ou um pai biológicos para que as dinâmicas do complexo de Édipo se manifestem. Essas funções são simbólicas e podem ser exercidas por outras figuras ou instituições que representem o cuidado, a proteção e a introdução da lei. Dessa forma, a estrutura psíquica e as relações de desejo e rivalidade no contexto do complexo de Édipo são acessíveis a qualquer indivíduo, independentemente de sua configuração familiar, enfatizando a primazia dos significantes sobre as figuras biológicas na constituição da subjetividade.

A função materna transcende a mera figura biológica da mãe, assumindo um papel simbólico que engloba nutrição, cuidado e a introdução da criança no universo dos significantes. Essa função se relaciona à criação de um espaço de amor e proteção, essencial para o desenvolvimento das primeiras relações objetais, pois oferece um ambiente propício à manifestação do desejo. Sua importância se revela na formação do eu e na capacidade de estabelecer vínculos sociais, com a mãe exercendo a função de primeira portadora do desejo, fundamentando, assim, as bases para as relações futuras da criança.

A função paterna não está necessariamente ligada à figura biológica do pai, representando a introdução da lei, da ordem e da castração na vida da criança. Nesse contexto, o pai emerge como o agente responsável por conduzir a criança ao mundo dos limites e normas que são essenciais para a internalização da lei social e para a separação do desejo materno, favorecendo assim a autonomia do indivíduo.

Sua importância se manifesta na formação do supereu, sendo crucial para a capacidade da criança de lidar com a frustração e a ambivalência, permitindo-lhe inserir-se adequadamente na estrutura social e desenvolver uma identidade que não se fundamenta exclusivamente no desejo materno.

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Como aprender mais sobre o complexo de édipo?

O conceito do complexo de Édipo, desenvolvido por Freud, é uma das ideias centrais da psicanálise e merece um estudo aprofundado. Para compreender sua importância, é fundamental analisar as obras de Freud, explorando suas principais obras, como "A Interpretação dos Sonhos" e "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade". Nesses textos, Freud elucida as fases do desenvolvimento psicosexual e a importância da resolução do complexo de Édipo para a formação do eu.

Além disso, a Casa do Saber + e o Programa + Psicanálise oferecem cursos que representam uma oportunidade valiosa para aprofundar a compreensão não apenas do complexo de Édipo, mas também de outros conceitos fundamentais da psicanálise. Esses cursos são elaborados para proporcionar uma análise detalhada e uma discussão enriquecedora, permitindo aos participantes explorar as nuances e as implicações teóricas da psicanálise de maneira mais abrangente.





Referências bibliográficas

FREUD, Sigmund. Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905). São Paulo: Cia das Letras, 2011.

______. A Dissolução do Complexo de Édipo (1924). São Paulo: Cia das Letras, 2016.

LACAN, Jacques. O Seminário 5 - As Formações do Inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.



A melancolia na psicanálise: Freud, Lacan e suas perspectivas
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A melancolia na psicanálise: Freud, Lacan e suas perspectivas
Acompanhe uma breve compreensão sobre o que é a melancolia na teoria psicanalítica, explorando o seu significado e a sua história ao longo do tempo.

O psicanalista Sigmund Freud foi fundamental na redefinição da melancolia no século XX. Em seu trabalho Luto e Melancolia (1917), Freud propôs que a melancolia não era simplesmente uma doença, mas sim uma forma patológica do luto. Em vez de superar a perda de um objeto amado, o sujeito melancólico se identifica com o objeto perdido, o que o impede de seguir em frente e o mantém preso a um sofrimento sem fim.

Freud E A Melancolia

Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, aborda a melancolia em sua obra "Luto e Melancolia" (1917). Para Freud, a melancolia não é apenas um estado de tristeza, mas uma condição psíquica profunda, distinta da depressão comum. Ele identificou que, enquanto o luto é uma reação natural à perda de um objeto significativo, a melancolia está ligada a uma perda interna, mais complexa e inconsciente.

A pessoa melancólica, ao contrário do enlutado, não apenas sofre pela perda do objeto, mas também direciona uma parte significativa de seu sofrimento contra si mesma. Freud propôs que esse processo de autoagressão poderia ser interpretado como uma identificação do eu com o objeto perdido, o que gerava uma intensificação do sofrimento psíquico.

Além disso, Freud destacou a relação entre melancolia e a incapacidade do eu de elaborar e aceitar a perda. Ao contrário do luto, que permite um certo distanciamento emocional do objeto perdido, a melancolia está marcada por um vínculo persistente e patológico com esse objeto. A pessoa melancólica não consegue desvincular-se da perda, o que impede a recuperação emocional e favorece a internalização de sentimentos de culpa e autocensura.

Esse conceito psicanalítico inovador ajudou a entender a melancolia de uma forma mais ampla, não apenas como um distúrbio afetivo, mas como uma dinâmica complexa entre o eu, os desejos inconscientes e a relação com os objetos de amor e perda.

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Lacan E A Melancolia

Para Lacan, a melancolia está intimamente ligada à relação do sujeito com o objeto "a", que representa o objeto causa do desejo. Ao contrário do processo de luto, onde o sujeito busca substituir o objeto perdido, o melancólico não busca esse reposicionamento, mas mantém uma relação com o objeto "a" de forma radicada e excessiva. O melancólico se vê dominado por esse objeto que o transcende, mas que, ao mesmo tempo, se confunde com o próprio sujeito. A ausência desse objeto, que deveria ser um ponto de referência para a constituição do desejo, se transforma em uma presença opressiva que invade o melancólico, dificultando qualquer tentativa de restabelecer a ligação com o mundo exterior e, consequentemente, com o desejo. Essa relação com o objeto ausente leva a uma imersão profunda no vazio, um estado tão intenso que, em casos extremos, pode conduzir à tentativa de aniquilação do próprio sujeito, como forma de escapar dessa ausência insuportável.

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A melancolia e a psicopatologia: luto vs. melancolia

Uma das questões mais debatidas na psicanálise é a diferença entre luto e melancolia. Ambas as condições envolvem a perda de algo importante para o sujeito, mas enquanto o luto é um processo de adaptação a essa perda, a melancolia é caracterizada por uma falha nesse processo.

No luto, a pessoa pode se sentir triste, mas a dor da perda é acompanhada de uma progressiva aceitação e uma retomada da vida. Já a melancolia se caracteriza pela incapacidade do sujeito reconhecer o que perdeu ou o que realmente perdeu com a perda. Em "Luto e Melancolia", Freud descreve a melancolia como uma espécie de luto não resolvido, no qual o sujeito se identifica com o objeto perdido a tal ponto que a perda se torna internalizada, como uma parte de si mesmo.

Uma diferença chave entre os dois é que no luto, o objeto da perda é reconhecido conscientemente, enquanto na melancolia, o sujeito pode não saber exatamente o que perdeu, mas sente a ausência de algo fundamental. Essa ambivalência e confusão são centrais na experiência melancólica.

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A história da melancolia na psiquiatria

Cabe dizer que a melancolia não foi debatida apenas pela psicanálise. Na psiquiatria, o conceito de melancolia tem sido desenvolvido desde o século XIX. Autores como É. Esquirol, H. Dagonet e A. Foville demonstraram grande interesse pela condição, mas também expressaram certo ceticismo em relação ao seu tratamento. Esquirol, por exemplo, preferia o termo "lipemania" (tristeza) para descrever essa condição, relegando a palavra "melancolia" ao domínio dos poetas e moralistas. Esse ceticismo refletia a dificuldade em classificar a melancolia como uma doença orgânica, já que ela se relaciona com a esfera psíquica e emocional.

Por outro lado, a psiquiatria alemã trouxe uma abordagem mais complexa, enfatizando o processo psicológico envolvido na melancolia. Durante o século XIX, psiquiatras alemães começaram a explorar o papel do psiquismo no desenvolvimento de condições como a melancolia, e sua relação com o eu e o inconsciente.

A melancolia é frequentemente confundida com a depressão, mas embora ambas compartilhem sintomas, a melancolia tem características distintas. Ela é definida, na psiquiatria, como uma forma de transtorno afetivo, e pode ser mais intensa e duradoura que a depressão comum. Historicamente, a melancolia foi tratada como uma condição mental separada da psicose maníaco-depressiva (PMD), mas com o tempo os especialistas passaram a revisitar essa categorização.

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Para aprender mais sobre psicanálise

Para aqueles que desejam aprofundar seus conhecimentos sobre psicanálise, a Casa do Saber oferece uma excelente oportunidade por meio do programa + Psicanálise. Este programa foi desenvolvido para quem busca entender as complexidades dessa teoria e suas aplicações práticas, seja no campo clínico, acadêmico ou na vida cotidiana.

Com professores renomados e conteúdos que abrangem desde as principais correntes psicanalíticas até as mais recentes abordagens e interpretações, o programa + Psicanálise é ideal para quem deseja uma formação completa e sólida. Além disso, ao participar, os alunos têm acesso a uma rica troca de ideias com especialistas e colegas de diversas áreas, aprofundando ainda mais o entendimento sobre a psicanálise e suas múltiplas dimensões.

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Referências Bibliográficas

FREUD, Sigmund. Luto e Melancolia (1917). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

LACAN, Jacques. O Seminário 6 - O Desejo e Sua Interpretação (1958-1959). Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

KAUFMANN, Pierre. Dicionário Enciclopédico de Psicanálise: Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998

Consciente, Inconsciente e Pré-consciente: como funcionam?
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Consciente, Inconsciente e Pré-consciente: como funcionam?
Entenda as três instâncias psíquicas propostas por Freud, fundamentais para a psicanálise.

Compreender os conceitos de consciente, pré-consciente e inconsciente é essencial para entender a teoria psicanalítica. Essas três instâncias psíquicas são fundamentais para a compreensão do aparelho psíquico proposto por Freud, que descreve a dinâmica complexa e o funcionamento distinto de cada uma delas.



O Consciente

O conceito de consciente em Freud refere-se à instância do aparelho psíquico que contém os processos de pensamento, percepção e sentimentos dos quais o sujeito tem plena consciência. Ele é, junto com o pré-consciente e o inconsciente, uma das três áreas principais na primeira tópica freudiana.

O consciente envolve tudo aquilo que o sujeito é capaz de perceber de forma direta, como as sensações e pensamentos imediatos, e tem um papel essencial na interação do indivíduo com a realidade externa. Freud, em suas primeiras formulações, afirmou que o consciente não está ligado a uma área específica do cérebro, mas representa um processo psíquico complexo e dinâmico.

A consciência, para Freud, vai além da simples percepção do mundo externo. Ela está relacionada à capacidade de fazer ligações simbólicas e racionais, permitindo ao sujeito ordenar e interpretar suas experiências. No entanto, o acesso ao consciente pode ser dificultado por processos internos como o recalque e a censura, que podem impedir que certos conteúdos psíquicos, especialmente os conflitivos ou traumáticos, se tornem acessíveis à consciência. Esses processos são fundamentais na formação de defesas e no desenvolvimento de sintomas.

Freud também introduziu a ideia de que o consciente interage com o inconsciente e o pré-consciente, e sua função não é estática. Ele propôs que a consciência emerge e desaparece dinamicamente, com as percepções sendo processadas, mas não deixando vestígios permanentes. Esse processo é comparável ao de uma "lousa mágica", onde as informações são apagadas após a tomada de consciência. Isso mostra que a consciência não retém as experiências de forma fixa, mas permite um fluxo contínuo de informações, atualizando constantemente o que é percebido.

Embora Freud tenha dado grande ênfase ao inconsciente, ele nunca ignorou o papel do consciente. Para ele, a psicopatologia não se resume a um conflito entre o consciente e o inconsciente, mas envolve um processo mais complexo de interação entre as diversas forças psíquicas. O estudo dos sonhos e das defesas psíquicas revelou como a consciência pode ser moldada e distorcida, mostrando que ela não é apenas um reflexo direto da realidade externa, mas uma construção influenciada por fatores internos e inconscientes.

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O Pré-Consciente

O conceito de pré-consciente foi introduzido por Sigmund Freud para designar uma das três instâncias fundamentais de sua primeira tópica, junto com o consciente e o inconsciente. Diferente dos conteúdos inconscientes, que estão totalmente fora do alcance da consciência, os conteúdos do pré-consciente estão à disposição da consciência, embora não estejam imediatamente presentes. O pré-consciente pode ser entendido como uma espécie de "armazém" de informações que, embora não ativas, podem ser acessadas com facilidade quando necessário, por meio da atenção ou do esforço consciente.

Freud introduziu o termo de forma mais sistemática em sua correspondência com Wilhelm Fliess, em 1896, associando-o às representações verbais e ao "eu oficial". O pré-consciente, em sua visão, é o sistema que contém as informações que podem emergir para a consciência, desde que atendidas certas condições, como o grau de intensidade ou a ativação por um foco de atenção. Essa instância funciona como uma espécie de filtro, permitindo que conteúdos sejam trazidos à consciência sem a interferência direta do inconsciente, que exige uma modificação maior para acessar a consciência.

Uma característica fundamental do pré-consciente é sua proximidade com o inconsciente. Enquanto o pré-consciente é descrito como inconsciente ele se diferencia do inconsciente dinâmico, já que seus conteúdos podem ser trazidos à consciência com maior facilidade, mesmo que, às vezes, necessitem de uma "censura" para evitar o acesso de conteúdos indesejáveis. Freud, em O eu e o isso, apontou que o pré-consciente age como uma barreira entre o inconsciente e a consciência, com um sistema de triagem que impede que desejos inconscientes, potencialmente perturbadores, se manifestem diretamente na consciência.

Apesar de sua função de "filtro", o pré-consciente também está intimamente ligado ao processo secundário, que regula o pensamento lógico e racional, diferente do processo primário, que está mais relacionado aos impulsos primitivos do inconsciente. Embora o pré-consciente tenha a função de selecionar e organizar informações, ele pode, de maneira "normal", permitir que certos pensamentos reprimidos ou "restos diurnos" reapareçam, como no caso dos sonhos. Ao longo de sua obra, Freud manteve a ideia de que o pré-consciente tem um papel crucial na mediação entre o inconsciente e o consciente, sendo particularmente relevante na relação com a linguagem e a formação dos pensamentos conscientes.

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O Inconsciente

O conceito de inconsciente passou por uma transformação significativa ao longo do tempo, especialmente com a psicanálise de Sigmund Freud. Embora o termo tenha sido utilizado de maneira geral na língua comum para descrever processos mentais fora da consciência, foi Freud quem fez dele um pilar central de sua teoria psicanalítica. O inconsciente freudiano não é apenas uma parte oculta do psiquismo, mas uma instância ativa, onde residem conteúdos reprimidos, impulsos e desejos que não têm acesso direto à consciência. Para Freud, esses conteúdos podem se manifestar de maneiras indiretas, como nos sonhos, atos falhos e lapsos de linguagem, revelando-se de formas disfarçadas, mas significativas.

A psicanálise freudiana introduziu a ideia de que o inconsciente não é apenas um reservatório de conteúdos reprimidos, mas um espaço dinâmico governado por leis próprias, como o processo primário, que se manifesta nos sonhos e nas fantasias. Esses conteúdos inconscientes estão frequentemente relacionados a pulsões que buscam expressão, mas não podem se tornar conscientes diretamente devido ao recalque. Com o tempo, Freud foi refinando a teoria do inconsciente, especialmente com a introdução da segunda tópica, onde ele passou a situar o inconsciente como uma característica tanto do isso, quanto do eu e do supereu.

O conceito de inconsciente:a importância para a psicanálise

A partir da década de 1920, Freud reestruturou suas ideias sobre o inconsciente, ampliando sua concepção para incluir não apenas os conteúdos reprimidos, mas também a dinâmica entre as instâncias psíquicas, como o isso e o eu. A partir de então, ele afirmou que o inconsciente é uma função fundamental na formação da personalidade, essencial para a psicanálise.

No entanto, com a evolução da psicanálise, outros pensadores, como Melanie Klein e Jacques Lacan, revisitaram e expandiram o conceito, com Lacan, por exemplo, propondo uma teoria inovadora em que o inconsciente é estruturado pela linguagem, o que introduziu uma nova dimensão ao entendimento freudiano. Para Lacan, o inconsciente é “o discurso do outro”, e sua estrutura é profundamente ligada à linguagem e ao significante, oferecendo uma visão mais complexa e simbólica da psique humana.

Como aprender mais sobre a teoria psicanalítica

Para aprofundar seus conhecimentos na teoria psicanalítica e entender melhor seus conceitos fundamentais, a Casa do Saber oferece uma excelente oportunidade. Nos cursos especializados, você aprenderá com professores qualificados, que são referência na área, e terão a chance de explorar desde os princípios de Freud até as abordagens contemporâneas.

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Referências Bibliográficas

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.




O que é psicanálise?
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O que é psicanálise?
Entenda o que é e o que faz um psicanalista a partir de uma análise da teoria, da história e da clínica criada por Freud.

A psicanálise tem um legado profundo e complexo na história. Criada por Sigmund Freud no final do século XIX, ela busca compreender os processos inconscientes. Embora sua teoria tenha avançado ao longo dos anos, com diferentes escolas de pensamentos, a psicanálise continua a ser um valioso campo para o tratamento de conflitos internos, angústias e sofrimentos.

A psicanálise como método de pesquisa e tratamento

Freud criou o termo psicanálise para descrever um novo método investigativo, baseado na exploração do inconsciente. Inicialmente, ele usou o termo "psico-análise" em 1896, em um artigo sobre a hereditariedade e a etiologia das neuroses, e mais tarde a psicanálise se consolidou como uma disciplina científica e clínica. Ela tem como base a ideia de que os sintomas, sofrimento e angústias dos sujeitos são resultados de processos psíquicos inconscientes, geralmente reprimidos, que se manifestam de forma distorcida.

Freud reformulou a sua abordagem terapêutica antes de criar a psicanálise, rejeitando o uso da hipnose e da sugestão que eram comuns nas técnicas da época, preferindo um método que estimulasse o paciente a associar livremente seus pensamentos e sentimentos. O método de associação livre é uma das principais técnicas psicanalíticas, que permite ao paciente expressar qualquer pensamento ou sensação que venha à mente, sem censura ou moderação, permitindo ao analista interpretar os significados subjacentes.

Por meio da interpretação dos sonhos, das associações livres e dos conteúdos trazidos pela fala do paciente em sessão, o psicanalista pode identificar as causas dos sintomas que afligem o sujeito. Freud comparava o trabalho do psicanalista com o trabalho de um químico, que disseca uma substância complexa para entender sua composição básica. Da mesma forma, o analista busca decompor os sintomas em seus componentes, como as emoções e os desejos reprimidos, revelando-os ao paciente para facilitar o certo alívio em relação a queixa.

A psicanálise como tratamento consiste em o paciente, em um ambiente seguro, se expresse de forma livre os seus pensamentos, sentimentos e fantasias. Freud chamou esse processo de "associação livre", e o analista, por sua vez, aplica o método de "atenção flutuante", ouvindo sem interferir diretamente, ajudando o paciente a desvendar significados inconscientes ocultos nas palavras e ações.

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Teoria e prática: a dialética freudiana

Uma das características centrais da psicanálise é a relação dialética entre teoria e clínica. A prática clínica, para Freud, nunca deve ser desvinculada da teoria. A teoria psicanalítica é construída com base nas experiências clínicas, enquanto a clínica psicanalítica é moldada pelas descobertas teóricas. Freud enfatiza que a psicanálise não pode ser reduzida a uma simples técnica de verificação de teorias, mas deve se manter atenta às necessidades do paciente.

A promessa de cura, portanto, é um aspecto fundamental de sua prática, embora a "cura" não signifique necessariamente a eliminação de sintomas, mas a transformação da relação do sujeito com seu sofrimento.

De acordo com Freud, o objetivo da psicanálise é mais profundo do que a simples remoção de sintomas. Ele acredita que, por meio da análise, os pacientes podem alcançar uma "verdade" sobre seus desejos inconscientes, e, assim, modificar sua relação com o sofrimento psíquico. Esse processo não visa à cura no sentido médico clássico — com base em diagnósticos orgânicos e físicos — mas sim ao entendimento da "mensagem" que os sintomas têm, dentro do campo da linguagem e dos significados psíquicos.



O sintoma e a linguagem: a psicanálise como “cura pela palavra”

A psicanálise, ao contrário da medicina, que frequentemente vê os sintomas como manifestações de disfunções orgânicas, considera que os sintomas psíquicos têm um significado simbólico. Eles são, na visão psicanalítica, uma expressão da divisão interna do sujeito e das lutas inconscientes que ele enfrenta. O sintoma não é apenas um mal-estar físico ou fisiológico, mas um reflexo de um conflito mais profundo, que precisa ser desvelado e entendido. Através da fala e da associação livre, o paciente começa a compreender o que seus sintomas significam, construindo uma nova relação com o que lhe causa sofrimento. Isso torna a psicanálise um processo de cura pela palavra, ou como Freud descreveu, uma "talking cure".

No entanto, a psicanálise tem seus limites. Como Lacan posteriormente desenvolveu, a castração e a divisão subjetiva representam barreiras que não podem ser totalmente simbolizadas ou resolvidas. O sujeito nunca alcança uma plenitude, pois a castração — entendida como a imposição de limites à satisfação do desejo — sempre deixa algo de irredutível, algo do real que não pode ser simbolizado. Esse limite é o que torna a análise impossível de ser completada de maneira absoluta. A psicanálise, portanto, não oferece uma cura total, mas uma mudança na posição do sujeito em relação ao seu próprio desejo e sofrimento.

O papel do analista: transferência e contratransferência

Outro aspecto fundamental da prática psicanalítica é o papel do analista na construção do setting analítico. Freud destacou a importância da transferência, que é o processo pelo qual o paciente projeta sentimentos, desejos e conflitos inconscientes em relação ao analista. Isso cria um espaço único para que o paciente possa reviver e reprocessar suas experiências de uma maneira segura.

A transferência é um conceito central na psicanálise e refere-se à projeção de sentimentos inconscientes do paciente sobre o analista. Essa dinâmica é cuidadosamente analisada, pois revela aspectos cruciais do relacionamento do paciente com figuras importantes de sua vida, como pais ou outras autoridades. A análise da transferência ajuda a compreender como os conflitos e afetos impactam a vida do paciente e contribuem para seus sintomas.

O analista deve manter uma postura de abstinência e neutralidade, não interferindo diretamente nas associações do paciente. Esse é um ponto central da psicanálise: o desejo do analista não é que o paciente alcance um estado de "normalidade" ou conformidade com certos padrões sociais, mas que ele consiga se encontrar com seus próprios desejos e conflitos inconscientes. Freud acredita que, ao se deparar com a verdade sobre seu desejo inconsciente, o paciente pode ter uma transformação psíquica significativa.

A psicanálise como um campo vivo e evolutivo

A psicanálise continua a evoluir e se expandir, com diferentes escolas teóricas enriquecendo e desafiando a obra de Freud. As teorias pós-freudianas, como as de Lacan, Klein e Winnicott, oferecem novas leituras e interpretações do inconsciente, do desejo e da transferência, mas todas compartilham a premissa básica de que o inconsciente é um campo fundamental que influencia profundamente o sujeito.

Em última análise, a psicanálise não se limita a ser uma técnica terapêutica ou uma teoria psicológica. Ela é, antes de tudo, uma disciplina que busca entender a relação do sujeito com seu desejo e sofrimento, e como, através da fala, podemos acessar essas dimensões ocultas e transformar nossa relação com o inconsciente. Se, como Freud afirmou, a psicanálise não tivesse valor terapêutico, ela não teria sobrevivido e se expandido por mais de cem anos. E, ainda hoje, continua a oferecer uma perspectiva única sobre a mente humana, sendo indispensável tanto para a psicologia quanto para a compreensão das complexidades da experiência humana.

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Como aprender mais sobre psicanálise?

Se você deseja aprender mais sobre psicanálise e explorar profundamente essa fascinante disciplina, a Casa do Saber é um excelente local para isso. Com uma vasta programação de conteúdos ministrados por profissionais renomados da área, a Casa do Saber oferece uma oportunidade única de mergulhar no universo da psicanálise, compreendendo suas origens, conceitos-chave e evolução ao longo dos anos.

Além disso, a Casa do Saber promove um ambiente de aprendizado interativo e acessível, onde você pode participar de debates e discussões enriquecedoras que ampliam sua visão sobre a teoria psicanalítica e suas diversas abordagens.

A partir dos cursos oferecidos na assinatura da Casa do Saber + você terá acesso a uma formação que integra tanto os aspectos teóricos e clínicos da psicanálise, desde as bases de Freud até os pós-freudianos, incluindo as interpretações de psicanalistas como Jacques Lacan, Melanie Klein e outros.

A Casa do Saber se destaca como um espaço que não só transmite conhecimento, mas também instiga uma reflexão crítica sobre o impacto da psicanálise na sociedade e na cultura. Comece a sua jornada de aprendizado em psicanálise agora mesmo.






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.





O que é narcisismo? Entenda a partir da teoria de Freud
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O que é narcisismo? Entenda a partir da teoria de Freud
Você é uma pessoa narcisista? Entenda o que é narcisismo, suas características e conheça o Mito de Narciso através da psicanálise e da obra de Freud.

Vamos percorrer neste texto algumas ideias de Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, que fez contribuições fundamentais para a compreensão do narcisismo.

Freud explorou como o narcisismo se relaciona ao desenvolvimento do eu e à formação da identidade, discutindo a transição entre o amor próprio e o amor aos outros. Suas reflexões sobre a libido e as fases do desenvolvimento infantil estão intrinsecamente ligadas à constituição do sujeito. Através de conceitos como o "narcisismo primário", "narcisismo secundário" e "libido", Freud lançou as bases para o entendimento contemporâneo desse fenômeno.



O que é o mito de Narciso?

O mito de Narciso, oriundo da mitologia grega, narra a trágica trajetória de um jovem de beleza ímpar, filho da ninfa Liríope e do deus do rio Céfiso. Segundo a narrativa, Narciso, ao se inclinar para beber água, se depara com sua própria imagem refletida e, em um ato de deslumbramento, se vê tragicamente consumido por uma obsessão por sua beleza.

Depois desse apaixonamento pela sua imagem, ele se torna surdo à Eco, uma ninfa que estava apaixonada por ele, e não corresponde essa paixão. Narciso então é tragado pela sua própria imagem refletida no lago e morre afogado. E é a partir do mito de narciso que Freud propõe um modelo para entender o que seria a origem do Eu.

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O que é narcisismo para a psicanálise?

O conceito de narcisismo possui características que divergem significativamente do que é geralmente discutido no senso comum, conforme descreveu Freud no artigo de 1914 Introdução ao Narcisismo:

"O narcisismo não seria uma perversão, mas o complemento libidinal do egoísmo do instinto de autoconservação, do qual justificadamente atribuímos uma porção a cada ser vivo" (FREUD, 2010/1914, p. 15)

Para Freud, o narcisismo é uma etapa crucial no desenvolvimento do eu, representando a transição do autoerotismo — onde o prazer é centrado no próprio corpo — para a escolha de outro ser como objeto de amor. Neste estágio, o indivíduo ainda não se distingue plenamente das demais pessoas e do mundo ao seu redor, refletindo uma fase em que a identificação com o eu é predominante.

Investimento libidinal e objeto

É importante observar que na teoria psicanalítica:

  • Investimento libidinal: refere-se à canalização da energia psíquica, ou libido, para objetos ou aspectos da realidade, como pessoas, ideias ou o próprio eu.
  • Objeto: é empregado para designar pessoas ou coisas do ambiente externo, do mesmo modo, a relação de objeto consiste na maneira que o sujeito lida com o mundo exterior.


Narcisimo Primário e Narcisismo Secundário

Assim, para a psicanálise, narcisismo é compreendido como um investimento libidinal no próprio eu, essencial para a formação dele. Esses investimentos necessitam ser direcionados para outros objetos, para o mundo exterior, ou seja, o sujeito precisa fazer investimentos que vão para além de si. Como diz Freud “ É preciso amar para não adoecer" (FREUD, 2010/1014, p. 29) .

A teoria freudiana divide o narcisismo em duas partes, sendo narcisismo primário e narcisismo secundário.

Narcisismo primário Seria o estado precoce em que a criança investe toda a sua libido em si mesma. Essa é a fase do desenvolvimento que a libido está dirigida ao próprio eu. Pode-se dizer que é o reservatório da libido, para onde ela faz o seu retorno, trabalhando no autoerotismo.
Narcisismo secundário Aqui é quando a libido não está somente no eu, ela passa a ir em direção aos objetos externos, porém, acontece o fracasso da pulsão ao tentar obter satisfação por meio de objetos externos, levando o sujeito a novamente redirecionar essa energia para o próprio eu. É quando acontece um recolhimento dos investimentos objetais.


A escolha objetal para Freud

Ainda no mesmo texto, Freud descreve um breve sumário dos caminhos para a escolha de objeto, onde diz que uma pessoa pode amar (FREUD, 2010/1914: p. 36):

Conforme o tipo narcísico:

  • o que ela mesma é (a si mesma),
  • o que ela mesma foi,
  • o que ela mesma gostaria de ser,
  • a pessoa que foi parte dela mesma.

Em contrapartida, ao tipo de escolha narcísica, a escolha anaclítica pode recair sobre:

Conforme o tipo “de apoio”:

  • a mulher nutriz,
  • o homem protetor


A escolha anaclítica é vista como uma forma de projetar necessidades afetivas em outras pessoas que pode caracterizar esse tipo de amor. Essa escolha se contrasta com o amor narcísico, onde a própria pessoa é tomada como modelo e a escolha é segundo a sua imagem e semelhança. Cabe dizer que os dois tipos de escolha estão, ao mesmo tempo, presentes no sujeito.

Retrato de Freud feito por Salvador Dali
Sigmund Freud (1938) | Salvador Dali
Retrato de Freud feito por Salvador Dali



O que é uma pessoa narcisista?

O narcisismo é uma fase necessária da evolução da libido, antes que o sujeito se volte para um objeto sexual externo. É o que estrutura da subjetividade, é um aspecto da condição humana, assim, de algum modo, todos são narcisistas, pois todo sujeito possui uma porção de libido que pode ser investida em si mesmo e para outros objetos. Ela é investida parcialmente nos objetos e parcialmente no eu.


Em suma, pode-se dizer que todos possuem narcisismo, tendo em vista que ele atua como uma forma de organização para o sujeito, garantindo a própria preservação dele. Com isso pode-se afastar a ideia de estigmas associados a comportamentos considerados excessivamente egocêntricos ou vaidosos, pois o narcisismo é um investimento do sujeito em si mesmo.

Assim o narcisismo é importante para a psicanálise tendo em vista que nos estágios iniciais da vida, não se percebe os objetos como algo externo, gradativamente ao longo dos primeiros meses é que o infante aprende a se distinguir de outros objetos. Até aqui pode-se perceber que uma pessoa sem narcisismo seria uma pessoa com uma grave questão, tendo em vista que ela não teria empatia e não conseguiria se identificar com os objetos externos.




Como se aprofundar nos estudos sobre narcisismo?

O conceito de narcisismo é fundamental na psicanálise e, além disso, requer uma análise cuidadosa. Para aprofundar-se, é fundamental investigar a obra de Freud, que estabelece as bases teóricas do narcisismo e suas implicações no desenvolvimento do eu.

É recomendada a leitura de textos clássicos, como Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade (1905), Introdução ao Narcisismo (1914), Luto e Melancolia (1917 [1915]). Jacques Lacan também teorizou sobre o tema no O Seminário 1 - Os Escritos Técnicos de Freud - Jacques Lacan e no escrito O Estádio do Espelho como Formador da Função do Eu.

Assistir aos cursos de psicanálise da plataforma da Casa do Saber é extremamente importante, também para se aprofundar no conceito de narcisismo.

Aqui vão 2 cursos essenciais para entender a teoria do narcisismo:





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, Sigmund. Introdução ao Narcisismo (1914). Companhia das Letras: São Paulo, 2010.

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Zahar: Rio de Janeiro, 1985.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.







Neurose, psicose e perversão: qual a diferença?
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Neurose, psicose e perversão: qual a diferença?
Saiba diferenciar as estruturas psíquicas neurose, psicose e perversão e identifique os seus sintomas pela teoria de Freud sobre as origens inconscien

A compreensão de neurose, psicose e perversão é fundamental para entender os conceitos centrais da teoria psicanalítica. Essas estruturas clínicas descrevem diferentes maneiras pelas quais o sujeito se relaciona com o mundo externo. Neste artigo, vamos explorar as principais diferenças entre neurose, psicose e perversão, suas origens e nas manifestações clínicas.

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Neurose: conflito e recalque

É uma estrutura clínica que os sintomas manifestados funcionam como uma expressão simbólica de um conflito psíquico subjacente, cujas raízes podem ser rastreadas na história infantil do indivíduo. Esse conflito origina-se de um compromisso entre os desejos inconscientes e os mecanismos de defesa, os quais buscam mitigar o impacto do desejo reprimido ou não realizado. Esse fenômeno é muitas vezes interpretado como um reflexo de tensões internas não resolvidas, que emergem na forma de distúrbios psicológicos ou somáticos.

Na estrutura neurótica, encontram-se dois possíveis diagnósticos que auxiliam o psicanalista na direção do tratamento, a histeria e a neurose obsessiva. Ambas representam características e sintomas específicos e se distinguem pelos mecanismos de defesa e por maneiras particulares de manifestação do conflito psíquico.

Histeria As duas formas sintomáticas mais comuns da histeria são a histeria de conversão e a histeria de angústia. Na histeria de conversão, o conflito psíquico se manifesta por meio de sintomas corporais diversos, que podem ter um caráter mais exacerbado. Já na histeria de angústia, a angústia tende a se fixar em um objeto específico do mundo externo, resultando em fobias. Mesmo na ausência de sintomas evidentes, como fobias ou conversões físicas, a especificidade da histeria está ligada a certos mecanismos psicológicos, especialmente o recalque (muitas vezes perceptível), e à predominância de determinadas identificações. Além disso, a histeria está profundamente associada ao conflito edipiano, com seus desdobramentos nos registros libidinais fálico e oral, que desempenham um papel central na dinâmica emocional do sujeito.
Neurose Obsessiva Nessa condição, o conflito psíquico manifesta-se por meio de sintomas compulsivos, como pensamentos obsessivos, a compulsão para realizar atos indesejados, resistência interna a essas tendências, rituais repetitivos, entre outros. Além disso, um traço distintivo desse tipo de neurose é a predominância de um modo de pensar caracterizado pela ruminação mental, pela dúvida constante, pelos escrúpulos, o que frequentemente resulta em inibições tanto do pensamento quanto da ação. Freud, ao longo do tempo, foi refinando sua definição das neuroses obsessivas, considerando suas manifestações e origens psíquicas, com ênfase nos conflitos inconscientes que geram essas condições.



Os sintomas neuróticos são, muitas vezes, uma representação simbólica de conflitos não resolvidos. São manifestações de uma luta interna entre o desejo e as exigências do mundo externo, ou seja, uma expressão de um desejo que não pode ser satisfeito diretamente e com isso se instaura o sintoma como uma formação de compromisso entre essas forças conflitantes.

O que é psicose: a perda de contato com a realidade

Para Freud, a psicose se caracteriza por uma ruptura fundamental entre o sujeito e a realidade externa, indo além de simples sintomas de sofrimento psíquico, como ocorre nas neuroses. A principal distinção entre a psicose e a neurose, segundo Freud, é que o psicótico não possui a capacidade de reconhecer sua distorção da realidade. Enquanto o neurótico é capaz de perceber a disfunção de seus pensamentos e emoções, o psicótico vivencia um mundo completamente alterado, frequentemente marcado por delírios e alucinações.

Freud via a psicose como uma reconstrução inconsciente de uma realidade delirante ou alucinatória, onde o sujeito, isolado em sua própria interpretação do mundo, perde a conexão com a experiência compartilhada pela sociedade. Nesse sentido, a psicose foi entendida como uma reorganização psíquica que busca substituir a realidade externa por uma versão interna.

Afinal, o que é loucura?

O que a ideia de “normalidade” realmente significa? A psicanálise, desde seu início, desafia a ideia de “normalidade” como uma condição vista como “natural” do ser humano, e apresenta uma concepção mais nuançada dessa ideia. O professor, psiquiatra e psicanalista Marcelo Veras desvenda esses pensamentos no curso Somos Todos Loucos? De Perto, Ninguém é Normal.

Assista ao curso de Marcelo Veras na Casa do Saber




O que é perversão: desejo e transgressão

Freud reformula a concepção de perversão, distanciando-a das interpretações populares que a viam como um simples desvio da norma socialmente estabelecida. Embora a palavra "perversão" já fosse utilizada antes de Freud para descrever comportamentos que se afastavam do que era considerado sexualmente normal ou aceitável em uma determinada sociedade, Freud atribui a essa noção um significado mais profundo, relacionado aos processos inconscientes da pulsão. Para ele, a perversão não é apenas um desvio do comportamento socialmente esperado, mas um desvio da própria pulsão, que, em vez de alcançar o objeto tradicional de desejo, se desvia para outras formas de satisfação.

Ele também articula a perversão dentro de uma estrutura clínica mais ampla. Nesse contexto, a perversão é associada à maneira como o sujeito lida com a castração, um conceito fundamental na psicanálise. Ao contrário da neurose e da psicose, onde a castração é enfrentada de outras formas, a perversão é uma maneira de negar a castração. Essa negação não é uma simples rejeição, mas um modo de estruturar a sexualidade de forma a evitar o reconhecimento da falta, substituindo-a por uma busca incessante por objetos que permitam uma satisfação contínua, muitas vezes sem finalização.




Como aprender mais sobre a teoria psicanalítica

Se você se interessa em compreender melhor os complexos conceitos de neurose, psicose e perversão, fundamentais para a psicanálise, uma excelente maneira de aprofundar seus conhecimentos é através de um estudo estruturado e guiado.

Além disso, a Casa do Saber + e o Programa + Psicanálise oferecem cursos que constituem uma excelente oportunidade para aprofundar o entendimento de outros conceitos essenciais da psicanálise. Esses cursos são cuidadosamente estruturados para proporcionar uma análise aprofundada e uma discussão instigante, permitindo aos participantes explorar as complexidades e as implicações teóricas da psicanálise de forma mais ampla e detalhada.

Resumo sobre neurose, psicose e perversão

A neurose, envolve os sintomas de angústia, compulsões e conflitos inconscientes; a psicose é caracterizada pela perda de contato com a realidade, e a perversão, envolve desvios da pulsão e a negação da castração.




Referências Bibliográficas:

LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

A Interpretação dos Sonhos: Freud e o Inconsciente
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A Interpretação dos Sonhos: Freud e o Inconsciente
Explore a interpretação dos sonhos de Freud, a função dos sonhos e o inconsciente, ideias essenciais de Freud que fundaram a psicanálise.

O conceito de inconsciente foi desenvolvido por Sigmund Freud em seu influente livro A Interpretação dos Sonhos, publicado em 1900. Esta obra é amplamente reconhecida como a peça inaugural da psicanálise, estabelecendo as bases para a compreensão do aparelho psíquico proposto por Freud.

Neste texto iremos ver:



O que é a interpretação dos sonhos para Freud?

O livro A Interpretação dos Sonhos, escrito por Sigmund Freud, não apenas estabeleceu as bases fundamentais da teoria psicanalítica, mas também marcou o início da psicanálise. Reconhecida como a obra mais significativa da vasta produção de Freud, esse livro revolucionário apresentou conceitos cruciais que moldaram a psicanálise. Entre os principais aportes, Freud propôs e formulou nesse texto uma estrutura de aparelho psíquico, que abrange os níveis consciente, inconsciente e pré-consciente.

Capa do livro A Interpretação dos Sonhos (1900), de Sigmund Freud, volume 4 da coleção Obras Completas, publicado pela Companhia das Letras, com tradução de Paulo César de Souza.
Capa de 'A Interpretação dos Sonhos', clássico de Sigmund Freud lançado em 1900, parte do volume 4 da coleção Obras Completas, publicado pela Companhia das Letras e traduzido por Paulo César de Souza.


O livro é do final do ano de 1889, mas foi publicado no ano de 1900, pois Freud escolheu essa data para que o livro marcasse a entrada no século XX, por isso foi lançado posteriormente.

Para fundamentar a interpretação do sonho como um método, Freud realiza uma análise minuciosa do sonho, fragmentando-o em suas partes constitutivas. Ele observa atentamente as associações que emergem de cada um desses fragmentos, utilizando essa abordagem em sua famosa (auto)análise do sonho da injeção de Irma.

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O trabalho do sonho

O trabalho do sonho se desenvolve por meio de distintas etapas. A primeira etapa, denominada condensação e a segunda deslocamento.

Condensação

Revela que os sonhos contêm variados tipos de conteúdos, que Freud classificou como manifesto e latente. O conteúdo manifesto, que se expressa de forma mais aparente, representa apenas uma fração do que é efetivamente latente. Os elementos que compõem o conteúdo manifesto se organizam em uma única imagem psíquica, conectando-se por meio de cadeias associativas. Em contrapartida, o conteúdo latente se manifesta de maneira mais intensa em sonhos altamente condensados, pois, esses conteúdos muitas vezes apresentam um caráter perturbador para a consciência.

Deslocamento

O deslocamento é um mecanismo fundamental do trabalho do sonho para converter desejos ou pensamentos inconscientes em representações que se manifestam de forma distinta no sonho. Este processo ocorre quando o conteúdo latente, muitas vezes perturbador ou inaceitável para a consciência, é deslocado para elementos menos significativos ou mais neutros no conteúdo manifesto. Essa distorção resulta em uma representação que, embora não reflita diretamente o desejo original, ainda retém aspectos de seu significado intrínseco. Consequentemente, os sonhos podem exibir imagens ou eventos que parecem desconectados do desejo reprimido, mas que, por meio da análise, revelam suas interconexões subjacentes.



A função e o significado dos sonhos

Freud afirma que os sonhos seguem uma lógica própria, distinta do funcionamento da consciência. Ele argumenta que os sonhos são a principal porta de entrada para o inconsciente, revelando conteúdos e desejos que muitas vezes permanecem ocultos na vida diária.

No contexto de A Interpretação dos Sonhos, Freud elucida que a função dos sonhos é dual, consistindo, primordialmente, na realização de desejos inconscientes e na proteção do sono. Ele argumenta que os sonhos atuam como uma via simbólica para a expressão de desejos reprimidos que, por serem inaceitáveis na consciência, encontram uma forma de manifestação por meio de imagens oníricas. Dessa maneira, mesmo conteúdos perturbadores são traduzidos em representações que permitem sua satisfação, ainda que de forma disfarçada. Simultaneamente, essa função de realização é acompanhada por um aspecto protetivo, assegurando que o estado de repouso não seja interrompido. Assim, os sonhos se configuram como uma janela para o inconsciente.

A interpretação do sonho é uma ferramenta indispensável para a psicanálise, pois é por meio dela que o analista pode acessar o conteúdo inconsciente do paciente, tendo em vista que os sonhos, os sintomas, os atos falhos e os chistes são formações do inconsciente. As formações do inconsciente referem-se a expressões ou manifestações que emergem do inconsciente, revelando desejos, conflitos e experiências que não estão acessíveis à consciência.

O que é inconsciente?

Pode-se dizer que o inconsciente seria uma parte desconhecida para o próprio sujeito, ou seja, não é possível se conhecer por inteiro, existe uma parte que não se revela, ou ao menos, não se mostra tão facilmente. Por exemplo, existem desejos dos quais não se tem o menor conhecimento, mas mesmo assim eles influenciam a vida do sujeito e a sua relação com o outro. Nesse sentido Freud afirmou que:

“o Eu não é senhor em sua própria casa” (FREUD [1917] 2010: p. 186).


Cabe dizer que Freud, em textos anteriores já dava notícias sobre a conceituação de inconsciente, o texto Lembranças Encobridoras (1899), é um exemplo disso, mas a formulação, conceituação e consolidação do aparelho psíquico e seu funcionamento se deu no livro A Interpretação dos Sonhos.




Como aprender mais sobre interpretação dos sonhos?

Para aprofundar seus conhecimentos sobre a interpretação dos sonhos na teoria psicanalítica, é fundamental começar pela leitura das obras clássicas de Sigmund Freud, como A Interpretação dos Sonhos (1900), que estabelece as bases para a compreensão dos processos oníricos e suas relações com o inconsciente. Outro texto importante é Além do Princípio do Prazer (1920), que expande as ideias sobre o significado e a função dos sonhos na realização de desejos.


Além disso, assistir os cursos sobre os conceitos fundamentais da psicanálise na Casa do Saber. Apresentamos algumas recomendações de cursos disponíveis na plataforma Casa do Saber + que abordam a interpretação dos sonhos com rigor acadêmico e relevância prática.

Freud e os Fundamentos da Psicanálise: Teoria e Clínica

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Freud e as Fantasias

thumbnail do curso Freud e as Fantasias, de Ricardo Salztrager




Freud Fundamental: As Ideias e as Obras

thumbnail do curso Freud Fundamental, as obras e as ideias, por Pedro de Santi









Referências bibliográficas:

FREUD, Sigmund. A Interpretação dos Sonhos (1900). Companhia das Letras: São Paulo,

2019.

FREUD, Sigmund. Uma Dificuldade no Caminho da Psicanálise (1917). Companhia das Letras: São Paulo,

2010.

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Freud e o Inconsciente. Zahar: Rio de Janeiro, 1985.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar,

1998.








O que é Fantasia na Psicanálise? O conceito por Freud e Lacan
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O que é Fantasia na Psicanálise? O conceito por Freud e Lacan
Descubra o que é fantasia na psicanálise, a sua importância nas teorias de Freud e Lacan, e como a fantasia revela os desejos profundos do sujeito.

A fantasia é um dos conceitos fundamentais da teoria psicanalítica e desempenha um papel fundamental na psicanálise. Ela não é apenas uma forma de evasão da realidade, mas um meio pelo qual o sujeito lida com suas frustrações e cria representações simbólicas de seus desejos mais profundos.



Freud e a Fantasia

As fantasias se tornaram um tema fundamental na obra de Freud desde os anos de 1897 e 1898, muito antes de ele publicar A Interpretação dos Sonhos em 1900, obra que marcou o início da psicanálise.

Elas passaram a ganhar destaque à medida que Freud aprofundava suas primeiras experiências clínicas com as histéricas, mulheres que apresentavam sintomas corporais inexplicáveis, sem justificativa fisiológica. Freud escutava suas pacientes, mas muitas vezes não conseguia entender completamente a origem desses sintomas. Foi nesse contexto que, em 1896, ele formulou a teoria da sedução sexual, explicando que os sintomas histéricos eram o resultado de cenas de sedução ocorridas na infância, onde as pacientes teriam sido seduzidas por um adulto ou até mesmo por uma criança mais velha.

Ao longo dos anos, Freud desenvolveu ainda mais essa ideia, em textos como Escritores Criativos e o Devaneio (1908) e Fantasia Histérica e Suas Relações com a Bissexualidade (também de 1908), entre outros, sempre com o intuito de entender como as fantasias influenciavam o comportamento e os sintomas das histéricas.

Inicialmente, ele se baseava em relatos de suas pacientes, que, sob hipnose, narravam cenas de sedução envolvendo adultos, incluindo os pais. Porém, com o tempo, Freud se deparou com um desafio: muitas mulheres não relatavam tais cenas de sedução. Esse fato, junto à crescente incidência de histeria na Europa, levou Freud a abandonar a teoria da sedução sexual e a introduzir uma nova compreensão sobre o papel das fantasias na psique humana.

Em uma carta de 1897 para seu amigo Fliess, Freud expressa que abandonou a teoria da sedução e passou a defender a teoria da fantasia, pois essa seria a chave para entender os sintomas histéricos. A fantasia, nesse novo contexto, passou a ser vista como uma construção psíquica capaz de gerar os mesmos efeitos devastadores de uma experiência real, já que, para o sujeito, sua fantasia é muitas vezes vivida como uma realidade verdadeira. Foi nesse momento que Freud introduziu o conceito de realidade psíquica, a realidade das nossas fantasias, que, para ele, tem o poder de moldar nossa percepção do mundo.

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Por que as pessoas fantasiam?

Freud responde que as fantasias surgem como uma forma de dar conta de uma realidade que muitas vezes é insatisfatória. Elas oferecem uma certa satisfação às frustrações da vida e ajudam a compensar desejos que, na realidade, raramente são atendidos. As fantasias, portanto, têm uma função de adaptação, permitindo que se suporte o mundo que não corresponde completamente aos desejos dos sujeitos.

Ao mesmo tempo, Freud diferencia as fantasias dos delírios, que são marcados pela ausência de qualquer dúvida, ao contrário das fantasias, que sempre carregam uma margem de incerteza. É essa flexibilidade que torna as fantasias algo comum e natural, enquanto os delírios são sintoma de distúrbios psíquicos mais graves.

É importante frisar que a fantasia, na psicanálise, se torna eficaz porque o sujeito a aceita como verdadeira, acreditando nela de forma plena. É importante destacar que esse processo de construção da realidade psíquica, esse mecanismo fantasioso, ocorre de maneira inconsciente. Ou seja, assim como muitos aspectos da vida subjetiva, o sujeito não tem plena consciência de que está criando essas fantasias nem de que elas não correspondem à realidade. Todo esse processo subjetivo, em sua essência, acontece fora da percepção consciente do indivíduo.

Nessa temática, entre os textos mais importantes de Freud, destacam-se:

  1. Delírios e Sonhos na Gradiva de Jansen (1908)
  2. Escritores Criativos e Devaneio (1908)


Em essência, Freud busca explorar as relações entre a fantasia e o desejo, analisando como essas dimensões estão ligadas na constituição do sujeito. Esses textos também mostram a ideia de Freud sobre o insuportável da realidade e como a fantasia entra justamente nesse lugar na tentativa de suavizar e compensar essa insatisfação existencial.

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O que é fantasia para Lacan?

Para Jacques Lacan, a fantasia é um conceito central em sua teoria psicanalítica, e ela desempenha um papel crucial na estruturação do desejo e na constituição do sujeito. Diferente da concepção de Freud, que via a fantasia principalmente como uma forma de expressão dos desejos reprimidos e inconscientes, Lacan a entende como um mecanismo estrutural que organiza o desejo e o sujeito em relação ao outro.

Em Lacan, a fantasia está intimamente ligada à ideia de falta — a noção de que o sujeito é fundamentalmente marcado pela ausência ou pela falta de algo, que nunca pode ser plenamente satisfeita. A fantasia, então, é a cena ou o cenário através do qual o sujeito tenta dar forma a essa falta. Ela não é uma simples representação de desejos reprimidos, mas uma construção simbólica que organiza a forma do desejo em relação ao objeto do desejo, que Lacan chama de objet petit a (o objeto a).

A fantasia, para Lacan, é uma estrutura que serve para "tapar" a falta, fornecendo uma espécie de "cenário" onde o sujeito pode experimentar a relação com o objeto a, ou seja, com o que ele imagina que possa preencher essa falta. Em outras palavras, a fantasia é uma tela que projeta os desejos do sujeito e ao mesmo tempo mantém a falta e o desejo vivos, sem que o sujeito nunca possa alcançar uma satisfação plena.

Além disso, Lacan vê a fantasia como algo fundamental para o funcionamento do inconsciente, pois é através dela que o sujeito se coloca no campo simbólico, se identificando com determinadas imagens e cenários que estruturam sua relação com o desejo e com o Outro (representado, por exemplo, pelo grande Outro, ou seja, a linguagem, as normas sociais e a figura do pai).

Portanto, para Lacan, a fantasia não é apenas um mecanismo de defesa ou uma expressão do inconsciente, mas uma estrutura psíquica que organiza o desejo e a posição do sujeito dentro da ordem simbólica, sempre em relação à falta que define sua subjetividade. Ela funciona como um modo de "dar sentido" à experiência do desejo, sem jamais permitir uma satisfação definitiva.

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Como aprender mais sobre o conceito de fantasia na psicanálise?

O conceito de fantasia é central tanto na psicanálise e seu estudo exige uma dedicação cuidadosa para compreender sua complexidade. Para se aprofundar na teoria da fantasia, a plataforma da Casa do Saber oferece cursos sobre a teoria psicanalítica, ministrados por renomados especialistas, e pode ser uma excelente forma de aprofundar o entendimento sobre a fantasia, além de proporcionar uma experiência de aprendizado rica e diversificada.

Adicionalmente, há uma vasta gama de literatura complementar que ajuda a contextualizar as ideias de Freud e Lacan no panorama maior da psicanálise, oferecendo novas perspectivas sobre o papel das fantasias na construção da subjetividade.






O que Freud dizia sobre a literatura? Veja no texto de Ana Suy
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O que Freud dizia sobre a literatura? Veja no texto de Ana Suy
Psicanálise, livros, amor, amizade e criatividade. A professora, autora e psicanalista Ana Suy desvenda o que todas essas coisas têm em comum.

Psicanálise e literatura: uma amizade

Vocês sabiam que em 1930 Freud ganhou o prêmio Goethe de literatura? Como ele já estava doente e se sentia fraco, foi sua filha, Anna, quem foi para Frankfurt recebê-lo. Se Freud viu a psicanálise se espalhar pelo mundo, ainda em vida, certamente teve a ver com sua brilhante relação com a literatura. Me refiro, aqui, tanto ao fato de Freud escrever muitíssimo bem, quanto ao fato de ele reconhecer na arte um saber que antecipava o saber da psicanálise e ilustrar isso com inúmeras citações e trabalhos com Goethe, Leonardo da Vinci, Shakespeare, Hoffmann, Jensen, dentre tantos outros.

No texto “Escritores criativos e devaneios” Freud discorre sobre as nobres habilidades dos escritores de dizerem de fantasias, desejos e acontecimentos que comumente nos causariam repulsa. Mas, nas palavras dos poetas, ganham um tratamento estético, de modo que chegam para nós como sendo agradáveis. Nesse sentido, penso que uma análise psicanalítica se aproxima bastante do fazer literário. Em uma análise falamos dos nossos sofrimentos, confessamos nossos erros, descobrimos culpas soterradas… conteúdos que foram recalcados e distanciados da nossa consciência justamente por serem repulsivos. Não é por acaso que não há análise sem resistência. Ao mesmo tempo que o analisante quer avançar e quer se curar, também tem horror às coisas que tem para dizer.

Se uma análise caminha bem, no entanto, o que acontece é que esse texto tão dito e repetido nas sessões, vai ganhando outras formas e, com isso, seu próprio conteúdo é alterado. Não se trata, é claro, de inventar coisas que não aconteceram. Mas mudar o modo de dizer algo, pode ter como consequências mudar o modo de sentir algo. E não se trata de uma mudança forçada ou sugerida por alguém, mas de uma mudança que é descoberta na própria análise, uma mudança que é única, impossível de ser replicada. Assim como um texto ou uma obra de arte também não são passíveis de replicação.


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Uma análise, tal como a literatura, é uma experiência de linguagem. Tal como lemos um livro e podemos chorar, rir, sentir raiva, nos identificar e até mudar a vida por causa de uma história – também uma análise é um lugar onde faz-se isso tudo, apenas usando as palavras.

Ao contar de uma experiência difícil vivida há três décadas, podemos nos emocionar porque recriamos a experiência, trazemos o passado ao presente, modificando algo dele a cada vez. Na psicanálise e na literatura passado, presente e futuro se entrelaçam, um alterando o outro.

No documentário “Encontro com Lacan” Susanne Hommel, uma mulher judia que viveu a segunda guerra, conta um fragmento de sua análise com Lacan. Nele, Susanne diz de uma sessão onde um ato de seu analista muda a sua vida. Ao dizer em análise do horror que sentia todos os dias, acordando às cinco da manhã assustada, (o horário em que a Gestapo invadia as casas perseguindo os judeus), Lacan levanta-se da poltrona e acaricia o rosto dela, transformando “gestapo” em “gest a peau” (que significa “gesto na pele”, no francês). Susanne conta, com isso, que o ato de Lacan não eliminou o horror que ela sentia às cinco da manhã, mas inscreveu via linguagem em seu corpo, também o que ela chamou de “uma aposta na humanidade”.


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Se a psicanálise tem seus limites, é isso que a funda, pois não se trata de voltar no tempo e alterar o rumo das coisas. Também não se trata de eliminar todo o sofrimento da vida ou curar alguém de sua história. Trata-se de encontrar naquilo que se viveu algo onde cada um de nós tenha podido apostar, e por ali se orientar. Também a literatura, tal como a psicanálise, não pretende eliminar o mal, tornar a vida asséptica ou responder a todas as coisas – como parecem querer fazer quase tudo em nosso mundo contemporâneo.

Por isso, psicanálise e literatura fazem uma amizade tão fértil, são duas maneiras de encontrar ou criar dignidade mesmo em meio ao sofrimento humano – ou melhor, justamente por causa dele.

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O Que é Angústia? Como a psicanálise ajuda a entender e lidar com o sentimento
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O Que é Angústia? Como a psicanálise ajuda a entender e lidar com o sentimento
Entenda o que é angústia, qual a sua relação com a tristeza e o sofrimento, como lidar e o que ela significa pelas teorias de Freud e Lacan.

A angústia ocupa um lugar de destaque na psicanálise, tanto para Sigmund Freud quanto para Jacques Lacan. Enquanto Freud vê a angústia como uma resposta a um conflito psíquico, especialmente em relação ao medo de algo reprimido, Lacan oferece uma leitura mais estrutural, focando na angústia como uma experiência ligada à linguagem e à falta.

Neste texto, vamos explorar as concepções de angústia em Freud e Lacan, destacando as semelhanças e diferenças, e a relevância desses conceitos para a psicanálise contemporânea.



A angústia em Freud: medo e conflito psíquico

Para Sigmund Freud, a angústia é um afeto que surge como uma resposta a um conflito psíquico. Em seus primeiros escritos, Freud descreve a angústia como um sinal de uma ameaça iminente que o Eu não pode controlar ou evitar. Essa ameaça pode se originar de diferentes fontes, como desejos reprimidos, traumas ou fantasias inconscientes que emergem à superfície.

No texto "Além do Princípio do Prazer" (1920), Freud expande sua compreensão da angústia, associando-a ao princípio do prazer e à pulsão. A angústia, nesse contexto, é vista como uma reação do sujeito à percepção de uma ameaça ao equilíbrio psíquico, algo que poderia estar relacionado ao desejo de retornar a um estado de prazer ou à repressão de impulsos conflitantes.

A angústia não é apenas uma reação ao medo de algo concreto, mas uma resposta ao desconhecido e ao incontrolável, muitas vezes surgindo como uma consequência da repressão de desejos ou do medo de uma perda ou separação.



Freud também relaciona a angústia com o conceito de castração, que está ligado ao medo da perda do poder ou da autoridade, ou ainda à ausência de um objeto desejado. Esse medo é frequentemente projetado em símbolos e manifestações inconscientes, levando o sujeito a vivenciar uma sensação de impotência e vulnerabilidade. A angústia, então, surge como um mecanismo de defesa do eu, sinalizando que algo precisa ser simbolizado para aquele sujeito.

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A angústia em Lacan: a falta e a linguagem

Jacques Lacan, psicanalista francês que fez um profundo retorno à obra de Freud, oferece uma nova perspectiva sobre a angústia. Para Lacan, a angústia não é apenas uma resposta a um trauma, medo, ameaça ou a um desejo reprimido, mas um fenômeno estruturante do sujeito. Ele propõe que a angústia está intrinsecamente ligada à linguagem e à estrutura simbólica.

Lacan descreve a angústia como a experiência da falta ou da ausência fundamental, algo que está no cerne da constituição do sujeito. Para ele, o sujeito é moldado pela linguagem e pela entrada no campo do simbólico, onde o desejo e a identidade são estruturados.

Em sua obra, como o seminário "A Angústia" (1962-1963), Lacan afirma que a angústia não é um medo de algo específico, mas uma reação ao que está além do simbolizável, ao que não pode ser representado pela linguagem. A angústia, para Lacan, é o sinal de que o sujeito está diante da "falta", ou seja, diante de uma ausência estrutural que não pode ser preenchida ou resolvida. Essa falta é constitutiva do sujeito humano, e a angústia é a forma como essa falta se manifesta no campo psíquico.

Além disso, Lacan enfatiza que a angústia não é algo que possa ser completamente eliminado ou resolvido. A angústia é, portanto, uma parte da experiência humana, uma condição que aponta para a estrutura de nossa subjetividade e nossa relação com o desejo e a linguagem.

Semelhanças e diferenças: Freud e Lacan

Embora Freud e Lacan compartilhem algumas semelhanças em relação à compreensão da angústia, existem algumas diferenças na elaboração de tal ideia para ambos . A primeira grande diferença está na forma como os dois psicanalistas concebem a origem e a função da angústia.

Para Freud, a angústia é um afeto que atua como resposta a um conflito psíquico. Ela está relacionada ao medo de perder o controle, ao retorno de desejos recalcados ou ao medo de uma ameaça externa (como a castração). A angústia tem uma função defensiva, alertando o sujeito como um sinal de que o Eu está em risco.

Por outro lado, Lacan vê a angústia como um fenômeno estruturante do sujeito, intimamente ligada à linguagem e à falta. Para Lacan, a angústia não é um reflexo de uma ameaça específica, mas uma resposta à estrutura do desejo humano, que é sempre marcado pela ausência. A angústia aparece como o sinal de que o sujeito está diante da impossibilidade de simbolizar seu desejo ou de alcançar a satisfação plena.

Angústia para Freud Angústia para Lacan
Resposta a um conflito psíquico, revelando desejos ou medos Resposta à estrutura do desejo, revelando uma falta
Função defensiva Função estruturante



A relevância da angústia na psicanálise

A teoria da angústia, tanto em Freud quanto em Lacan, é de extrema importância para a psicanálise. No contexto atual, a angústia é frequentemente ligada a transtornos psíquicos, como a ansiedade generalizada, crises existenciais e outros diagnósticos. Muitas vezes, esses quadros não refletem algo específico sobre o sujeito, mas são tratados como condições que podem ser encaixadas em categorias rígidas, com uma medicação pronta para ser prescrita.

A abordagem de Freud sobre a angústia ainda é amplamente utilizada para compreender como os traumas e os conflitos internos se manifestam em sintomas que causam sofrimento. Já a concepção lacaniana da angústia, centrada na falta e na linguagem, continua a influenciar a psicanálise, particularmente em análises sobre a relação entre o sujeito e o desejo, e na compreensão dos fenômenos de subjetividade no mundo moderno.

Em resumo, a angústia em Freud e Lacan oferece duas perspectivas complementares sobre o sofrimento psíquico. Enquanto Freud foca na angústia como uma resposta a conflitos e medos internos, Lacan a vê como uma experiência estruturante do sujeito, ligada à linguagem e à falta. Ambas as concepções continuam a ser de grande importância para a psicanálise, tendo em vista que ela fornece um caminho para direção do tratamento.

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Como aprender mais sobre a angústia

Para entender esse conceito de forma mais aprofundada, é importante explorar os textos fundamentais de Freud, como "O Mal-estar na Civilização" e "A Interpretação dos Sonhos", que ajudam a esclarecer o papel da angústia na formação do sujeito. Freud descreve a angústia como uma resposta à percepção de uma ameaça ao ego, sendo um sinal da repressão de desejos ou do enfrentamento da castração, que desencadeia uma sensação de impotência e vulnerabilidade.

Para quem busca aprofundar o entendimento lacaniano sobre a angústia, é fundamental estudar os escritos de Lacan, especialmente os seminários em que ele aborda o desejo, o gozo e a subjetividade, como no Seminário 10: A Angústia. O estudo da teoria lacaniana permite compreender a angústia não como uma emoção a ser evitada, mas como um fenômeno central para a estrutura psíquica e o entendimento da subjetividade.

Além disso, a Casa do Saber e o programa + Psicanálise oferecem cursos com especialistas no tema. Aqui vão algumas indicações:

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Referências Bibliográficas

FREUD, S. Inibição, sintoma e angústia (1926). In: ______. “Inibição, sintoma e angústia”, “O futuro de uma ilusão” e outros textos (1926-1929). Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 13-123. (Obras completas, 17).

LACAN, J. O seminário, livro 10: a angústia (1962-1963). Texto estabelecido por Jacques-Alain Miller. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. (Campo Freudiano no Brasil).





A compreensão do Luto segundo Freud: um olhar da psicanálise
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A compreensão do Luto segundo Freud: um olhar da psicanálise
Entenda o que é o luto para a psicanálise, a diferença entre luto e melancolia e aprenda como a clínica psicanalítica pode ajudar a lidar com a dor.

Neste texto, propomos um percurso nas ideias de Sigmund Freud, reconhecido como o fundador da psicanálise, cujas contribuições têm sido fundamentais para a compreensão do luto como um processo natural de enfrentamento das perdas que permeiam a experiência humana.

  • O que é luto para a psicanálise?
  • A diferença entre luto e melancolia
  • Como aprender mais sobre o luto?


O que é luto para a psicanálise?

Ao investigar o luto na teoria psicanalítica, é inevitável confrontar-se com a temática da melancolia. Isso se deve à análise realizada por Freud em seu artigo "Luto e Melancolia" (1917), no qual ele estabelece uma comparação entre esses dois estados. Embora Freud defenda que o luto e a melancolia são experiências distintas, ele também aponta semelhanças significativas entre elas. Por exemplo, que em ambos estados são provenientes de causas oriundas das interferências da vida.

Freud descreve que o luto seria uma resposta à perda de um ente querido, mas também se estende à ausência de entidades ou conceitos que desempenharam um papel significativo na vida de uma pessoa, como a pátria, a liberdade ou ideais pessoais. Essa experiência complexa envolve não apenas a dor pela perda física, mas também a necessidade de reconfigurar a percepção do mundo exterior diante da ausência daquilo que foi significativo.

A melancolia está ligada a uma predisposição patológica, diferentemente do luto. Nela acontece um abatimento doloroso, uma cessação do interesse pelo mundo exterior, perda da capacidade de amar, inibição de toda atividade e diminuição de autoestima que se expressa em recriminações e ofensas à própria pessoa.

Em outras palavras, o luto deve ser compreendido como uma experiência que não se enquadra na esfera patológica; trata-se, antes, de uma inércia libidinal que, embora possa envolver sofrimento, é uma resposta normal e esperada à perda. Essa dinâmica se diferencia significativamente da condição do sujeito melancólico, sendo incapaz de realizar o processo de elaboração do luto.

“O luto não pode ser visto como um estado patológico e não carece de indicação de tratamento médico, embora ele cause um afastamento da conduta normal da vida, logo será superado após certo tempo e perturbar esse processo é inapropriado e prejudicial.” (FREUD, 1914/2010. p.172)


No contexto cultural atual, torna-se pertinente refletir sobre a abordagem do luto sob a ótica da medicalização, que visa, de maneira expedita, mitigar a angústia e a dor experimentadas pelo sujeito. Esse processo, muitas vezes, se caracteriza pela prescrição indiscriminada de psicotrópicos, frequentemente desprovida de escuta para que o sujeito se implique, reflita e elabore suas perdas de maneira significativa. A substância atua como um atalho para tamponar de forma imediata todo sofrimento. O luto faz parte da vida de todos e é um caminho necessário para todo sujeito.


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A diferença entre luto e melancolia

Neste momento, torna-se pertinente empreender uma reflexão aprofundada sobre as nuances que não apenas distinguem, mas também interligam o luto e a melancolia, levando em consideração suas particularidades e as intersecções que permeiam esses dois estados.

A melancolia pode ser compreendida como uma manifestação patológica do luto, caracterizada por um movimento inverso ao processo natural de elaboração deste. Enquanto o trabalho de luto permite ao sujeito um desligamento gradual do objeto perdido, na melancolia ocorre uma interiorização da perda, na qual o indivíduo se torna refém de sua própria dor. Nesse estado, o sujeito se responsabiliza pela ausência do objeto, estabelecendo uma identificação tão profunda que seu próprio eu se amalgama ao que foi perdido, culminando em uma desintegração.

Segundo Kaufmann: “Nos dois casos, trata-se das vicissitudes de um investimento de origem narcísica, em sua relação com a realidade, quando dela se vê excluído seu objeto por perda ou abandono.” (1996, p.316)

Deve-se observar que o trabalho realizado pelo luto acontece da seguinte maneira: é uma forma de eliminar as consequências de uma perda libidinal, ou seja, após a consumação do trabalho do luto o Eu fica novamente livre e desimpedido para voltar a investir em novos objetos.

foto em preto e branco de uma mulher solitária ao lado de uma árvore sem folhas, simbolizando o luto em meio a um ambiente melancólico


A experiência da perda se manifesta de maneiras distintas no luto e na melancolia. Na melancolia, o sujeito enfrenta uma dificuldade em reconhecer, de forma consciente, a amplitude daquilo que foi perdido; embora tenha uma noção do objeto em si, ele não compreende completamente o que essa perda impacta no seu próprio eu e o que o unia a esse objeto. Freud caracteriza a melancolia como uma condição de natureza inconsciente, pois o sujeito não consegue articular plenamente a dor que sente, tampouco atribui significado claro à sua angústia. Em contraste, no luto, a perda é enfrentada de maneira consciente; o sujeito tem plena consciência do que perdeu e entende a fonte de seu sofrimento.

No seminário O Desejo e Sua Interpretação (1958-1959), Jacques Lacan discute o luto como uma experiência que gera um "furo no real", ou seja, uma profunda privação causada pela perda. Essa ausência resulta em uma falta que não pode ser plenamente articulada ou compreendida pelos significantes simbólicos que costumam organizar a vida psíquica, revelando a complexidade emocional envolvida na vivência do luto. “ Em outras palavras, o luto, que é uma perda verdadeira, intolerável para o ser humano, lhe provoca um buraco no real.” (LACAN, 2016, p. 360)

Em resumo: embora intimamente relacionados, o luto é uma fase da vida, um processo necessário de elaboração da perda, onde o sujeito de maneira gradual se desvincula do objeto perdido e posteriormente retorna a fazer novos investimentos no mundo exterior e na melancolia o sujeito se agarra ao objeto perdido não fazendo o deslocamento para investir em outros objetos. O melancólico coloca toda energia no objeto, e com a perda dele uma parte sua também se vai, é como se o objeto fizesse parte do próprio sujeito e com isso a perda, na verdade, é de uma parte do seu próprio eu. O melancólico não consegue fazer o luto do objeto perdido, tendo em vista o apego à idealização.

Leia também:

Um panorama detalhado da vida e obra de Jacques Lacan , com um contexto histórico e intelectual que revela as bases e influências de seu pensamento psicanalítico.


Como aprender mais sobre o luto?

Para aprofundar seus conhecimentos sobre o luto na teoria psicanalítica, é essencial começar pela leitura das obras fundamentais de Sigmund Freud, como "Luto e Melancolia" (1917) e outro texto importante é "Além do Princípio do Prazer" (1920), que introduz a noção de pulsão de morte.

Além disso, investir em cursos especializados sobre como lidar com o luto, enfrentar o fim de um relacionamento e suas implicações na psicanálise pode ser extremamente enriquecedor. A Casa do Saber oferece uma variedade de cursos ministrados por professores que são reconhecidos especialistas na área, proporcionando um aprendizado sólido e atualizado. A seguir, apresentamos algumas recomendações de cursos disponíveis na plataforma Casa do Saber + que abordam esse tema com profundidade e relevância.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, Sigmund. Luto e Melancolia (1917). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

LACAN, Jacques. O Seminário 6 - O Desejo e Sua Interpretação (1958-1959). Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

KAUFMANN, Pierre. Dicionário Enciclopédico de Psicanálise: Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

ROUDINESCO, Elisabeth; Plon, Michel. Dicionário de Psicanálise, Rio de Janeiro: Zahar, 1998.