O filósofo alemão Friedrich Nietzsche trouxe a poesia para a filosofia, inovando a forma de se filosofar. Inspirado nos pré-socráticos, ele escreveu muitos de seus textos de uma maneira poética e artística, criticando a racionalidade, a religião e a moral que pautavam o pensamento ocidental.
Uma de suas obras mais importantes é Assim Falou Zaratustra, escrita de forma literária. Nietzsche viveu no século XIX, mas se considerava à parte do seu tempo, acreditando que só seria compreendido um século depois. De fato, estava certo. Até hoje sua obra ainda não é completamente compreendida e continua sendo investigada e discutida.
Ele foi considerado o filósofo da cultura por criticar os dogmas da sociedade, a moral judaico-cristã e a própria filosofia. Neste artigo, vamos abordar os principais livros de Friedrich Nietzsche, alguns de seus conceitos e sua trajetória de vida.
O artigo passará pelos seguintes conteúdos:
Índice
Quem foi Friedrich Nietzsche?
Friedrich Nietzsche foi um filósofo alemão que desafiou os cânones do pensamento ocidental ao criticar suas bases morais. Nasceu na cidade de Röcken, na Prússia (atualmente Alemanha), em 15 de outubro de 1844. Sua infância foi marcada pela morte precoce do pai, o pastor Carl Ludwig Nietzsche, que faleceu aos 36 anos de idade, quando o filósofo ainda era uma criança. Além do pai, Nietzsche também perdeu na infância seu irmão caçula, com apenas dois anos de vida.
Dessa maneira, ele ficou aos cuidados da mãe Franziska Oehler e de sua irmã mais velha, Elisabeth Förster-Nietzsche. Aos 14 anos de idade, ingressa na escola de Pforta e, em seguida, vai estudar teologia e filologia clássica na Universidade de Bonn. Em 1865, transferiu-se para a Universidade de Leipzig, com o intuito de acompanhar o professor Friedrich Wilhelm Ritschl, a quem tinha grande apreço.
Apesar de ser filho e neto de pastores protestantes, Nietzsche viria a questionar posteriormente os ensinamentos cristãos. Muitos de seus pensamentos iniciais foram influenciados pela leitura do filósofo Schopenhauer, principalmente a partir da leitura do livro O Mundo como Vontade e Representação.
Em 1869, devido ao seu excelente desempenho nos estudos, foi nomeado professor catedrático de Filologia Clássica na Universidade de Basileia, onde lecionou por anos. Em 1870, ele foi para a Guerra Franco-Prussiana, como auxiliar das equipes de enfermaria. Mas, contraiu difteria que o impediria de continuar servindo ao exército e logo volta para Basileia.
No ano seguinte, 1871, ele publica o seu primeiro livro O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música, obra em ele analisa a importância da música no coro grego e onde ele traz os conceitos de apolíneo e dionisíaco.
Devido a constantes problemas de saúde, ele é afastado da carreira acadêmica e passa a dedicar-se aos seus experimentos filosóficos. Passou muitos anos viajando, em busca de climas mais amenos com o objetivo de curar seus constantes problemas de dores de cabeça, náuseas e dificuldades na visão. Foi durante suas viagens que escreveu grande parte de suas obras.
Nietzsche nunca se casou, embora tenha sido apaixonado pela filósofa e poeta Lou Salomé. Inclusive, ele chegou a pedi-la em casamento por três vezes, mas a pensadora recusou por considerá-lo apenas um amigo.
Além de seus escritos filosóficos, Nietzsche chegou a compor músicas para piano, voz e violino, mas suas composições não foram muito bem recebidas por seus amigos músicos, os maestros alemães Richard Wagner e Hans Von Bülow.
Nietzsche ficou conhecido por criar o conceito de Super-Homem ou Além do Homem e também por sua teoria do eterno retorno. Crítico da cultura, ele se considerava extemporâneo e chegou, inclusive, a escrever quatro ensaios sobre a cultura europeia, intitulados Considerações Extemporâneas. Ele propõe uma nova interpretação para o sentido da vida e realiza uma obra autêntica e profundamente inovadora em relação aos demais filósofos de sua época.
Para conhecer mais sobre a vida e a obra do filósofo, acesse o curso da professora Scarlett Marton, mestra em Filosofia pela Universidade de Paris I Sorbonne e doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Grande especialista na obra de Nietzsche, ela já publicou 10 livros sobre o pensador alemão.
Confira o curso
Nietzsche e Freud: saúde, filosofia e psicanálise
Nietzsche influenciou Freud na concepção da psicanálise, a partir de suas reflexões a respeito das reais motivações das pessoas para realizarem suas ações, já que ele acreditava que os motivos que as pessoas relatavam para justificar suas ações não eram suas motivações reais.
Em 1889, após um colapso mental, Nietzsche foi internado em um sanatório. Ele passou os 11 últimos anos de sua vida em estado de insanidade, tendo constantes delírios, até sua morte em 1900, aos 55 anos. Por ironia do destino, foi justamente nessa época que suas obras começaram a ganhar notoriedade.
Sua irmã, Elisabeth Förster-Nietzsche, foi a grande editora da obra de Nietzsche após sua morte, mas ela alterou os escritos não publicados do filósofo para condizer com suas ideologias ultranacionalistas alemãs, alinhadas com o nazismo.
Esse fato fez com que o filósofo fosse injustamente associado ao nazismo. Inclusive, a doutora em filosofia Scarlett Marton, que é uma das maiores especialistas na obra de Nietzsche, explica que Elisabeth chegou a publicar uma obra de Nietzsche que nunca existiu, afirmando ser o livro capital de seu irmão, intitulado Vontade de Potência. Além disso, Elisabeth também alterou os escritos de Nietzsche nos livros Ecce Hommo e O Anticristo.
Principais Livros de Friedrich Nietzsche
De acordo com a professora Scarlett Marton, Nietzsche foi um escritor de estilo polivalente, produzindo obras em formatos variados, como textos dissertativos, textos panfletários, textos aforismáticos e até mesmo uma paródia dos evangelhos, em Assim Falou Zaratustra.
Em seu primeiro livro, O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música, revela a importância central da música na cultura grega e sua relação com as tragédias clássicas.
Segundo a professora e doutora em filosofia Maria Lúcia Cacciola, Nietzsche descreve os gregos como um povo marcado pelo sofrimento, cujos mitos refletem essa condição. Em sua análise, o filósofo identifica dois princípios fundamentais que orientam a tragédia grega, representados por duas divindades: Apolo e Dionísio. Apolo simboliza a beleza, a luz e a ordem, enquanto Dionísio (equivalente a Baco na mitologia romana) é o deus da embriaguez e do caos.
Para uma explicação mais aprofundada dos conceitos dionisíaco e apolíneo, acesse o conteúdo a seguir da professora Maria Lúcia Cacciola, um conteúdo completo sobre Nietzsche.
A tragédia grega, segundo Nietzsche, nasceria da interação entre os dois princípios opostos: apolíneo e dionisíaco. A música, por sua vez, é vista como o elemento dionisíaco da tragédia, representando a força irracional e instintiva que emerge no coração da obra. A reflexão de Nietzsche sobre a música é profundamente influenciada pela filosofia de Schopenhauer.
Confira a seguir os principais livros de Nietzsche. Essas obras constituem o cerne do pensamento do filósofo e são essenciais para compreender suas críticas à moralidade convencional, à religião cristã e à posição do indivíduo na sociedade:
- O Nascimento da Tragédia (1871)
- Quatro Considerações Extemporâneas (1873 a 1876)
- Humano, Demasiado Humano (1878)
- Aurora (1880)
- A Gaia Ciência (1881)
- Assim Falava Zaratustra (1883-1885)
- Para Além do Bem e do Mal (1886)
- Genealogia da Moral (1887)
- Ecce Homo (1888)
- O Anticristo (1888)
- Nietzsche contra Wagner (1888)
- Crepúsculo dos Ídolos (1888)
- Ditirambos de Dionísio (1888)
- O Caso Wagner (1888)
Assim Falou Zaratustra (1883-1885)
Uma das obras mais emblemáticas de Nietzsche, Assim Falou Zaratustra ou Assim Falava Zaratustra é uma narrativa filosófica que mistura poesia e mitologia. O livro traz uma linguagem simbólica e conta a história de um pensador que se retira para uma montanha e depois desce para ensinar aos homens o que descobriu durante os anos em que passou solitário. Através do personagem Zaratustra, Nietzsche introduz o seu conceito de Übermensch, traduzido para o português como Super-homem ou além-do-homem. Esse seria um ideal de ser humano que transcende as limitações da moralidade convencional e cria seus próprios valores.
O Anticristo (1888)
O Anticristo é uma das obras centrais para entender a filosofia de Nietzsche, especialmente sua crítica radical ao cristianismo e à filosofia ocidental. Em vez de simplesmente rejeitar o cristianismo, Nietzsche busca superá-lo, da mesma maneira que busca superar o sistema filosófico de Platão. Ele critica a ética cristã, pois acredita que ela, ao valorizar a humildade e a submissão, impede o crescimento da vontade de potência do indivíduo e sua afirmação como ser no mundo.
Para Nietzsche, o cristianismo e o platonismo não apenas enfraquecem os indivíduos, mas também favorecem os fracos, que, incapazes de se impor diretamente, recorrem a valores que desvalorizam a força humana. Escrito em 1888, pouco antes do colapso mental de Nietzsche, O Anticristo passou por várias alterações, em uma tentativa de suavizar a obra para fins comerciais.
O título original, Der Antichrist, poderia ser traduzido mais precisamente como "o anti-cristão", refletindo a oposição aos valores cristãos e não contra Cristo em si. Ele propõe uma nova moral – uma moral dos fortes, dos aristocratas, dos dominadores, onde os valores da força, da afirmação da vida e da superação do fraco prevalecem.
A Gaia Ciência (1881)
É nesta obra que ele apresenta o conceito do Eterno Retorno, que é um dos mais enigmáticos e fascinantes da filosofia de Nietzsche. O autor propõe a ideia de que a vida se repetirá infinitamente e que tudo o que já foi vivido retornará exatamente da mesma forma, na mesma ordem e sequência. Nesse contexto, o Eterno Retorno não é apenas uma reflexão sobre o ciclo eterno de repetição da existência, mas também um convite a viver de maneira tão plena e intensa que cada momento seria digno de ser revivido eternamente com prazer.
Nietzsche: Filosofia e Principais Ideias
A filosofia de Nietzsche traz pensamentos críticos à moralidade, à religião e à cultura ocidental. Ele acreditava que as ideias tradicionais, especialmente o cristianismo, haviam enfraquecido os indivíduos e suas capacidades criativas. Nietzsche não se prende a maniqueísmos; para ele, as ações humanas são uma mistura de condutas boas e más, coexistindo simultaneamente.
Seu pensamento é profundamente marcado por suas preocupações filológicas, o que o leva a revisitar os filósofos pré-socráticos. Para Nietzsche, a guerra seria o princípio gerador de todas as coisas. Em contraste, a visão de Sócrates, que priorizava a razão, seria a responsável pela decadência moral do Ocidente. Na visão de Nietzsche, os filósofos pré-socráticos encarnavam saúde e força, enquanto os filósofos de sua época haviam se afastado da vida, da existência e do corpo, encerrando-se em conceitos desconectados da realidade.
Nietzsche promove uma transição da filosofia para a arte, passando de uma linguagem conceitual para uma linguagem dramática, narrativa. Sua obra Assim Falava Zaratustra exemplifica essa filosofia literária.
O dramaturgo Hamilton Vaz Pereira faz uma análise da obra Assim Falava Zaratustra com uma perspectiva teatral, apresentando a trajetória dramática de Zaratustra e sua filosofia trágica.
A filosofia de Nietzsche, de acordo com a professora Scarlett Marton,se sustenta em quatro pilares fundamentais. Em resumo, as quatro marcas de sua filosofia seriam:
- Pluralismo: Diversidade de estilos e formas de expressão.
- Perspectivismo: Abordagem dos temas a partir de diferentes pontos de vista.
- Dinamismo: A crença na transformação constante, no eterno devir
- Experimentalismo: A filosofia como um campo de experimentação mental.
Entre suas ideias centrais, destacam-se:
IDEIAS DE NIETZSCHE | RESUMO |
---|---|
Amor Fati em Nietzsche | Significa uma total aceitação em relação à vida, um amor ao destino, eliminando o peso da culpa. |
O Além-do-Homem (Übermensch) | O conceito do Além-do-Homem é um modelo ideal para a humanidade. Seria um indivíduo que não se submete aos valores impostos pela sociedade ou pela religião. O além-do-homem é capaz de criar os seus próprios valores e viver de forma autêntica e criativa, sem depender de uma moralidade exterior. |
A Morte de Deus | Nietzsche é famoso por afirmar que "Deus está morto", o que significa que os valores tradicionais baseados na religião perderam seu poder e relevância no mundo moderno. Para ele, essa morte representava tanto uma tragédia quanto uma oportunidade para a humanidade, pois abria espaço para a criação de novos valores e para a afirmação da vida. |
A Vontade de Poder | Nietzsche acreditava que a vontade de poder é o principal impulso que guia os seres humanos, que permite o desenvolvimento do seu potencial máximo. Em vez de ser apenas um desejo de domínio sobre os outros, essa vontade é uma força criativa, que busca a autoafirmação e a superação das próprias limitações. |
O Eterno Retorno | O conceito do eterno retorno sugere que a vida, como um ciclo eterno de repetição, deve ser vivida de tal forma que estaríamos dispostos a vivê-la repetidamente, sem arrependimentos. Essa ideia é um convite para viver plenamente o momento presente. |
Frases de Nietzsche
Nietzsche é conhecido por sua crítica à moralidade tradicional, especialmente a moral cristã, que ele considerava repressiva e negativa para a vida. Ele escreveu aforismos, que são pequenos textos, tornando sua obra um pouco mais acessível ao público que não é da área filosófica. Abaixo, citamos algumas de suas frases mais conhecidas:
- "Sem a música a vida seria um erro" (Crepúsculo dos Ídolos)
- “E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
- “Eu só poderia crer em um Deus que soubesse dançar” (Assim Falava Zaratustra)
- Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal (Além do Bem e do Mal)
- “É a partilha da alegria, não do sofrimento, o que faz o amigo” (Humano, Demasiado Humano)
Perguntas Frequentes sobre Friedrich Nietzsche
Quem foi Friedrich Nietzsche?
Friedrich Nietzsche foi um filósofo alemão do século XIX, conhecido por suas críticas à religião, à moralidade tradicional e à cultura ocidental. Sua obra tem influenciado diversas áreas, como a filosofia, a psicologia e as ciências sociais.
Quais são as principais ideias de Nietzsche?
As principais ideias de Nietzsche incluem a morte de Deus, o conceito do além-do-homem, a vontade de poder e o eterno retorno. Ele acreditava que os indivíduos deveriam criar seus próprios valores, rompendo com as normas estabelecidas pela sociedade e pela religião.
Referências:
- https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/5/nietzsche-vida-obra-e-legado
- https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/10/os-pensadores-nietzsche
- https://curadoria.casadosaber.com.br/curso/292/nietzsche-e-o-teatro-de-zaratustra
- https://www.mz.de/lokal/weissenfels/carl-ludwig-nietzsche-gedenken-an-den-vater-des-philosophen-friedrich-2074584
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Nietzsche