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Hannah Arendt

Hannah Arendt
Guilherme Peres

Hannah Arendt (1906-1975) nasceu em Linden, no antigo reino da Prússia. Sua família, com raízes em Königsberg, cidade notável pela figura de Immanuel Kant, tinha um histórico de destaque na comunidade judaica.

Seu avô paterno era um líder influente da comunidade judaica e um defensor fervoroso da identidade germânica, em contraste com a ideologia sionista. A família materna de Arendt chegou a Königsberg fugida da perseguição antissemita na Lituânia, onde as tensões com a Rússia eram intensas. O nacionalismo e suas consequências moldaram profundamente o pensamento de Arendt, refletindo nas suas análises políticas e filosóficas.

Os pensamentos e livros de Hannah Arendt: Além da Banalidade do Mal

Arendt iniciou seus estudos na Universidade de Marburg e continuou na Universidade Albert Ludwig, em Freiburg. Durante esse período, foi orientada por figuras intelectuais proeminentes como Martin Heidegger, Edmund Husserl e Karl Jaspers. Sua tese de doutorado, orientada por Jaspers, abordou o amor no pensamento de Santo Agostinho.

Aos 17 anos, Arendt conheceu Heidegger, um professor de 35 anos, com quem manteve um romance até a ascensão do nazismo. A relação foi prejudicada pela posição política de Heidegger, que, em 1933, tornou-se reitor da Universidade de Freiburg e apoiou o regime nazista.

Arendt foi casada duas vezes. Seu primeiro casamento foi com Günther Stern, também conhecido como Günther Anders, um filósofo e jornalista que havia realizado sua habilitação com Heidegger após concluir o doutorado com Husserl. Anders escreveu sobre Franz Kafka, e sua obra “Kafka: Pró & Contra” influenciou Modesto Carone, que se apaixonou por Kafka e traduziu suas obras no Brasil.

O segundo casamento de Arendt foi com Heinrich Blücher, o grande amor de sua vida e companheiro profissional nos Estados Unidos. Blücher influenciou o envolvimento de Arendt com o marxismo, embora suas apropriações não fossem ortodoxas, como evidenciado em “As Origens do Totalitarismo” (1951) e “A Condição Humana” (1958).

Hannah Arendt e As Origens do Totalitarismo

Hannah Arendt abordou a questão da totalidade política com uma crítica aguda ao totalitarismo. Ela via o totalitarismo como uma tentativa destrutiva de conquista global e domínio total que, em última instância, minava a essência humana. Arendt argumentava que o totalitarismo, ao banalizar o terror e manipular as massas, comprometia a capacidade dos indivíduos de distinguir entre o bem e o mal. Em uma sociedade totalitária, o anonimato coletivo transforma os indivíduos em engrenagens de um sistema que bloqueia o julgamento crítico e promove certezas absolutas.

“A tentativa totalitária da conquista global e do domínio total constituiu a resposta destrutiva encontrada para todos os impasses. Mas a vitória totalitária pode coincidir com a destruição da humanidade, pois, onde quer que tenha imperado, minou a essência do homem. Assim, de nada serve ignorar as forças destrutivas do nosso século. O problema é que a nossa época interligou de modo tão estranho o bom e o mau que, sem a expansão dos imperialistas levada adiante por mero amor à expansão, o mundo poderia jamais ter-se tornado um só; sem o mecanismo político da burguesia que implantou o poder pelo amor ao poder, as dimensões da força humana poderiam nunca ter sido descobertas. sem a realidade fictícia dos movimentos totalitários, nos quais - pelo louvor da força por amor à força - as incertezas essenciais do nosso tempo acabaram sendo desnudadas com clareza sem par, poderíamos ter sido levados à ruína sem jamais saber o que estava acontecendo” (ARENDT, H. 2012, p. 13)

A obra da pensadora dialoga com a noção de “mal radical” de Kant, definindo-o como um mal extremo, desprovido de humanidade e sem propósito. Em “A Origem do Totalitarismo”, ela analisou o extermínio dos judeus pelos nazistas como uma forma de mal que não tinha justificativas utilitárias, desafiando a ideia de que o nazismo representava o auge da maldade humana. Arendt recusou a visão do nazismo como um fenômeno diabólico e inumano, argumentando que ele não era o ápice do mal, mas uma manifestação complexa e radical do mesmo.

A aversão da filosofia pela política

Esse ponto de vista foi notoriamente expresso quando, em 1961, Arendt escreveu para a revista The New Yorker sobre o julgamento de Adolf Eichmann. Arendt descreveu Eichmann como um burocrata comum, um homem que alegava seguir ordens sem questionamento, ao invés de um monstro diabólico. Essa abordagem, que desafiava a dicotomia entre criminosos diabólicos e vítimas inocentes, gerou controvérsia e levou Arendt a se distanciar de alguns grupos judaicos com os quais anteriormente se identificava.

Arendt considerou os campos de concentração não como aberrantes, mas como laboratórios do regime totalitário, onde se tentava despojar o homem de suas características humanas essenciais. Os campos de concentração transformaram a morte em um processo industrializado e sistemático, tentando reduzir o ser humano a um aspecto puramente biológico e social. A política, nesse contexto, deixava de ser uma ação coletiva e se tornava uma mera técnica.

A dinâmica da política na era do animal laborans

Em “A Condição Humana”, Arendt explora o conceito de vida ativa, composta por três atividades fundamentais: trabalho (labor), obra e ação. O trabalho é associado aos processos biológicos de crescimento e metabolismo, essenciais para a sobrevivência e reprodução. A obra refere-se ao mundo artificial das coisas produzidas, proporcionando uma medida de permanência e durabilidade. A ação, por sua vez, é a atividade que emerge da pluralidade humana e da condição social, sendo a esfera onde a política se manifesta.

“Em nossa necessidade de substituir cada vez mais depressa as coisas mundanas que nos rodeiam, já não podemos nos permitir usá-las, respeitar e preservar sua inerente durabilidade; temos de consumir, devorar, por assim dizer, nossas casas, nossa mobília, nossos carros, como se estes fossem as “coisas boas” da natureza que se deteriorariam inaproveitadas se não fossem arrastadas rapidamente para o ciclo interminável do metabolismo do homem com a natureza. É como se houvéssemos rompido à força as fronteiras distintivas que protegiam o mundo, o artifício humano, da natureza, tanto o processo biológico que prossegue dentro dele quanto os processos naturais cíclicos que o rodeiam, entregando-lhes e abandonando-lhes a sempre ameaçada estabilidade de um mundo humano. Os ideais do homo faber, fabricante do mundo, que são a permanência, a estabilidade e a durabilidade, foram sacrificados à abundância, o ideal do animal laborans. Vivemos em uma sociedade de trabalhadores, porque somente o trabalho, com sua inerente fertilidade, tem possibilidade de produzir a abundância; e transformamos a obra em trabalho, separando-a em partículas minúsculas até que ele se prestou à divisão, na qual o denominador comum da execução mais simples é atingido para eliminar do caminho da força de trabalho humana – que é parte da natureza e talvez até a mais poderosa de todas as forças naturais – o obstáculo da estabilidade “não natural” [unnatural] e puramente mundana do artifício humano.” (ARENDT, H. 2014. p. 155)

Imagem do livro a Condição Humana, de Hannah Arendt
Livro "A Condição Humana", de Hannah Arendt


Diferente de Platão, que teria afastado a filosofia da pólis, Arendt via a política como um componente central da vida humana. Ela criticava a transformação da política em mera burocracia e a sociedade de massa, argumentando que isso comprometia a liberdade e a capacidade de fazer política. Para Arendt, o mundo é criado pelos homens para servir de espaço intermediário, onde a política pode florescer e a liberdade ser exercida. A perda desse espaço resultaria no colapso do mundo político, um objetivo do totalitarismo, que busca aniquilar a diferença necessária entre as pessoas e eliminar o espaço público.

A sociedade de massa, para Hannah Arendt, representava a vitória do animal laborans sobre a esfera política, transformando a política em um campo dominado por burocratas. Essa transformação resultava na perda da capacidade de engajar-se na política, o que, por sua vez, provocava uma significativa diminuição da liberdade humana.

Arendt descreve o mundo político como um “espaço intermediário de artefatos e negócios humanos que os congrega sem fazê-los colidir” (ALVES NETO, R. R., 2008, p. 248-249). Em outras palavras, o mundo político era um espaço criado pelos homens para servir de interseção entre eles, permitindo uma convivência que os separava e, ao mesmo tempo, os unia.

A perda desse espaço intermediário levaria ao colapso do mundo político, um objetivo central do totalitarismo, que busca destruir a diferença essencial entre as pessoas. O regime totalitário, portanto, representa a imposição do coletivo sobre o espaço público, resultando na sua morte e na eliminação das esferas de liberdade e pluralidade.

O mundo como o âmbito da pluralidade humana: a Natalidade e os novos começos

Hannah Arendt resgata a importância da ação e do discurso como formas fundamentais de participação política. Ela afirmou que, ao contrário da violência, que é muda e não pode ter grandeza, a ação e o discurso têm o poder de revelar e manter a identidade dos indivíduos. A pluralidade humana e a capacidade de agir coletivamente são centrais para a vida política e para a preservação da liberdade.

“Contudo, embora certamente só a fundação da cidade-Estado tenha possibilitado aos homens passar toda a sua vida na esfera política, em ação e em discurso, a convicção de que essas duas capacidades humanas formam um par, além de serem as mais altas de todas, parece haver precedido a pólis e ter estado presente já no pensamento pré-socrático. A estatura do Aquiles homérico só pode ser compreendida quando se o vê como ‘o realizador de grandes feitos e o pronunciador de grandes palavras’ Diferentemente da compreensão moderna, essas palavras não eram tidas como grandes por exprimirem grandes pensamentos; pelo contrário, como percebemos pelas últimas linhas de Antígona, talvez seja a capacidade de emitir “grandes palavras” (megaloi logoi) em resposta a rudes golpes que finalmente nos ensine o pensamento na velhice. O pensamento era secundário com relação ao discurso; mas o discurso e a ação eram tidos como coevos e iguais, da mesma categoria e da mesma espécie; e isso originalmente significava não apenas que a maioria das ações políticas, na medida em que permanecem fora da esfera da violência, são realmente realizadas por meio de palavras, mas também, mais fundamentalmente, que o ato de encontrar as palavras certas no momento certo, independentemente da informação ou comunicação que transmitem, constitui uma ação. Somente a pura violência é muda, e por esse motivo a violência, por si só, jamais pode ter grandeza.” (ARENDT, H. 2014. p. 30)

Arendt voltou à bios politikos de Aristóteles para descrever a vida política dos seres humanos, caracterizada pela ação e pelo discurso. A bios politikos representa a permanência e a consistência das ações humanas, diferenciando-se do necessário e do útil. Para Arendt, o nascimento e a ação política são formas de inaugurar novos começos e alterar o curso da história. A liberdade está ligada à capacidade de criar leis e respeitar a moral, contrastando com a propensão ao mal que é parte da natureza humana.

Violência e Poder. Sobre a Revolução

Para Hannah Arendt, o conceito de poder está intrinsicamente ligado à capacidade humana de agir em conjunto. O poder, segundo ela, pertence a um grupo e existe apenas enquanto esse grupo permanece unido. Em outras palavras, o poder é um produto do consenso coletivo, e a sua manifestação depende da presença contínua do povo.

“Mas a violência, tal como a mudança, não é adequada para descrever o fenômeno da revolução; apenas quando a mudança ocorre no sentido de criar um novo início, quando a violência é empregada para constituir uma forma de governo totalmente diferente e para gerar a formação de um novo corpo político, quando a libertação da opressão visa pelo menos à constituição da liberdade, é que se pode falar em revolução. E o fato é que, embora sempre tenham existido na história aqueles que, como Alcibíades, queriam o poder para si ou aqueles outros que, como Catilina, eram rerum novarum cupidi, ávidos por coisas novas, o espírito revolucionário dos últimos séculos,ou seja, a avidez em libertar e construir uma nova casa onde possa morar a liberdade, não tem paralelo e não encontra nenhum precedente em toda a história anterior.” (ARENDT, H. 2011, p. 64)

Imagem do livro Sobre a Revolução, de Hannah Arendt
Livro "Sobre a Revolução", de Hannah Arendt


Quando se diz que uma pessoa é poderosa, na verdade, está-se usando uma metáfora: essa pessoa está exercendo o poder momentaneamente, o qual foi delegado a ela pelo grupo e deve ser exercido em nome desse grupo por um tempo determinado. Arendt destaca que “enquanto o vigor é a qualidade natural de um indivíduo isolado, o poder passa a existir entre os homens quando eles agem juntos, e desaparece no instante em que eles se dispersam” (ARENDT, H., 2014, p. 250). Assim, o poder não precisa de justificativa, mas sim de legitimidade.

A justificativa se baseia em objetivos futuros, enquanto a legitimidade deve ser avaliada retrospectivamente, considerando o momento em que o acordo coletivo foi estabelecido. Arendt dialogou com teóricos do Direito, como Hans Kelsen, autor da “Teoria Pura do Direito”, que fundamentou a legalidade no estabelecimento de uma Constituição. Arendt discordou dessa perspectiva por não atribuir o poder a esse ato fundacional.

Para Arendt, poder e violência são opostos simétricos. Ela acreditava que a política não deveria ser tratada como uma profissão, pois isso comprometeria a liberdade essencial para sua prática – embora hoje se observe a ascensão do animal laborans, que é avesso à política e busca um governo tecnocrático.

A violência se distingue por seu caráter instrumental, e a confusão entre violência, poder, força e autoridade é um risco significativo. A autoridade pode ser comprometida tanto pela tirania quanto pela democracia; por exemplo, um pai pode ver sua autoridade questionada tanto por usar violência quanto por se envolver em discussões com seu filho. O maior inimigo da autoridade, na realidade, é o desprezo, que mina a legitimidade da sua posição.

Hannah Arendt também afirmava que o espaço estável entre os homens, o "in-between", é marcado por atos e palavras destinados a persuadir uns aos outros – é o convívio humano. Esse espaço é crucial para situar as pessoas e mantê-las unidas. Para que possamos existir plenamente, devemos ser capazes de aparecer na cena pública e participar da teia de relações humanas sem nos perder nela.

“A ação e o discurso ocorrem entre os homens, uma vez que a eles são dirigidos, e conservam sua capacidade de revelar o agente [agent-revealing] mesmo quando o seu conteúdo é exclusivamente “objetivo” dizendo respeito a questões do mundo das coisas no qual os homens se movem, mundo este que se interpõe fisicamente entre eles e do qual procedem seus interesses específicos, objetivos e mundanos. Esses interesses constituem, na acepção mais literal da palavra, algo que inter-essa [inter-est], que se situa entre as pessoas e que, portanto, é capaz de relacioná-las e mantê-las juntas. A maior parte da ação e do discurso diz respeito a esse espaço-entre [in-between], que varia de grupo para grupo de pessoas, de sorte que a maior parte das palavras e atos refere-se a alguma realidade objetiva mundana, além de ser um desvelamento do agente que atua e fala”. (ARENDT, H., 2014, p. 226)

O totalitarismo e a privação do humano: mal radical e mal banal

A política só pode ser compreendida como um fenômeno que emerge no espaço entre as pessoas, em um ambiente que não é natural, mas essencialmente artificial. Esse domínio está completamente dissociado da natureza biológica ou animal do ser humano, seguindo uma concepção metafísica tradicional. Os autores clássicos falharam em captar plenamente a essência da política porque não perceberam que esse aspecto "artificial" é fundamental para sua compreensão. A política surge nesse "entre" e se estabelece como uma relação, uma ideia bem captada por Hobbes, especialmente em razão das descobertas e transformações provocadas pelas navegações, pela Reforma e pelo desenvolvimento da ciência moderna.

Para entender a política em nosso tempo, é crucial reconhecer os preconceitos que todos carregamos, mesmo que não sejamos profissionais da política. Esses preconceitos são políticos em sua essência e não resultam da arrogância intelectual ou do cinismo, mas refletem realidades inegáveis da situação atual. Ignorá-los seria impossível, pois fazem parte de nós e revelam nossa desorientação, com o risco de que a política seja completamente eliminada da esfera pública.

O perigo reside no fato de que, sob essa influência, a política pode ser substituída por algo que a destrua, tornando inevitáveis as catástrofes como se fossem parte natural da história. Desde a invenção da bomba atômica, o medo de que a humanidade provoque sua própria destruição em razão da política tem alimentado a esperança de um futuro onde se supere a política antes que ela destrua a humanidade. Um exemplo disso seria a criação de um governo mundial capaz de resolver conflitos por meio de uma máquina administrativa, técnica e burocrática. No entanto, essa solução técnica significaria o fim da política tradicional, que sempre envolveu relações de poder.

Em vez do jogo político livre, teríamos o despotismo da competência técnica, criando um abismo social insuperável onde os dominados não teriam como subverter a ordem estabelecida. A instrumentalização técnica da política exigiria um grupo social capacitado para operá-la, um papel historicamente desempenhado pela burocracia e pelo lobby político. Esse despotismo seria ainda mais opressor por ser anônimo e isento de responsabilidade pessoal.

A dominação apolítica resultante dessa dinâmica não permitiria a manutenção de grandes figuras; elas seriam rapidamente esquecidas para preservar o movimento. Nas democracias de massa, a impotência das pessoas e o esquecimento se instalaram silenciosamente, sem terror, mas com efeitos devastadores na esfera política e econômica.

O totalitarismo revelou a ruína de nossas categorias de pensamento, desafiando a compreensão histórica. O verdadeiro perigo do totalitarismo reside na destruição da individualidade e espontaneidade humanas, reduzindo as pessoas a meras marionetes previsíveis. O triunfo do sistema totalitário está em aniquilar a identidade das vítimas antes mesmo de sua execução, assegurando uma submissão completa. Esse despotismo reflete a sensação de superfluidade das massas em um mundo superpovoado, onde a violência e a exploração não visam lucro ou benefício, mas seguem uma lógica perversa.

A crença totalitária na possibilidade de fazer tudo revelou que, na verdade, tudo pode ser destruído. O totalitarismo descobriu crimes que não podem ser punidos nem perdoados, pois são impuníveis e imperdoáveis. Suas vítimas deixam de ser vistas como humanas, e os perpetradores se colocam além da solidariedade humana, criando uma nova forma de mal absoluto.

“Se levarmos a sério as aspirações totalitárias e não nos deixarmos iludir. pela sensata afirmação de que são utópicas e irrealizáveis, veremos que a sociedade dos que estão prestes a morrer, criada nos campos, é a única forma de sociedade em que é possível dominar o homem completamente. Quem aspira ao domínio total deve liquidar no homem toda a espontaneidade, produto da existência da individualidade, e persegui-la em suas formas mais peculiares, por mais apolíticas e inocentes que sejam. O cão de Pavlov, o espécime humano reduzido às reações mais elementares, o feixe de reações que sempre pode ser liquidado e substituído por outros feixes de reações de comportamento exatamente igual, é o ‘cidadão’ modelo do Estado totalitário; e esse cidadão não pode ser produzido de maneira perfeita a não ser nos campos de concentração”. (ARENDT, H. 2012, p. 507)


Imagem do livro Origens do Totalitarismo, de Hannah Arendt
Livro "Origens do Totalitarismo", de Hannah Arendt


Como se aprofundar na teoria de Hannah Arendt

Hannah Arendt fez uma profunda reflexão sobre a política, o totalitarismo e a natureza humana. Sua análise do totalitarismo como uma tentativa destrutiva de conquista global e sua crítica à banalização do mal revelam uma compreensão aguda dos desafios do século XX. Arendt abordou a política não como um domínio separado, mas como uma parte essencial da vida humana, intrinsecamente ligada à ação e ao discurso. Seu trabalho destaca a importância da pluralidade, da liberdade e da moralidade, enquanto critica a transformação da política em burocracia e o papel do totalitarismo na destruição da individualidade humana.

Seu pensamento continua relevante na análise da política contemporânea e nas questões de poder, violência e liberdade. Arendt nos oferece ferramentas para entender e enfrentar as complexidades do mundo moderno, mantendo a consciência crítica e a capacidade de julgar em tempos sombrios.

Ao enfatizar a necessidade de um espaço político genuíno e o impacto corrosivo do totalitarismo sobre a individualidade, ela nos lembra da importância de preservar a autonomia e a moralidade em face das forças desumanizadoras. A compreensão arendtiana da política como um fenômeno que surge no "entre" as pessoas e a sua ênfase na liberdade e na responsabilidade individual continuam a ser fundamentais para a análise e a prática política, especialmente em uma era onde os desafios da técnica, da burocracia e da globalização se tornam cada vez mais prementes.

A reflexão sobre a banalidade do mal e o mal radical oferece um framework crucial para examinar como os sistemas políticos podem desumanizar e manipular as pessoas, desafiando-nos a reconhecer e resistir a essas dinâmicas. Arendt nos convida a não apenas observar, mas a participar ativamente da construção de um espaço político que mantenha a liberdade e a dignidade humanas, reafirmando a importância da ação política consciente e da vigilância moral em um mundo frequentemente marcado por suas contradições e crises.

Hannah Arendt: 4 filmes para conhecer sua história

  1. Os Cadernos Secretos de Nuremberg (Jean-Charles Deniau, 2006)
  1. Only a God Can Save Us - Martin Heidegger and Nazism (Jeffrey van Davis, 2009)
  1. Hannah Arendt (Margarethe von Trotta, 2012)
  1. Vida Ativa - O Espírito de Hannah Arendt (Ada Ushpiz, 2012)

Filosofia e política: 3 sugestões de leitura

  • ARENDT, H. Eichmann em Jerusalém. Companhia das Letras, 1999.
  • ELLENBERGER, W. As Visionárias: Quatro mulheres e a salvação da filosofia em tempos sombrios. Todavia, 2022.
  • YOUNG-BRUEHL, E. Hannah Arendt – Por Amor ao Mundo. Relume-Dumará, 1997.




Referências bibliográficas

ALVES NETO, R. R. “Mundo e alienação na obra de Hannah Arendt” In: Filosofia Unisinos. 9(3):243-257, set/dez 2008.

ARENDT, H. Sobre a Revolução. Companhia das Letras, 2011.

ARENDT, H. Origens do Totalitarismo. Companhia de Bolso, 2012.

ARENDT. H. A Condição Humana. Forense Universitária, 2014.

Mais informações
Nascimento:
1906 - 1975
Escolas
Filosofia Política, Teoria Crítica
Abordagem:
Totalitarismo, Natureza do Poder
Épocas:

Perguntas frequentes

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