Immanuel Kant é considerado um dos filósofos mais importantes da modernidade e suas ideias sobre ética e moralidade revolucionaram a história da filosofia ocidental. Ele criou um sistema de pensamento que refletia sobre até que ponto a razão pode conhecer as coisas.
A epistemologia, portanto, se destacou como um dos principais temas abordados em sua filosofia. Entusiasta do iluminismo europeu, Kant desenvolveu conceitos como o imperativo categórico, que seria uma maneira de universalizar as ações humanas.
Seu idealismo transcendental estabeleceu as bases para a filosofia moderna e sua filosofia abrange teorias das ciências exatas, fundamentação da moral, do direito e da política. Além disso, ele também escreveu sobre estética e sobre o ensino nas universidades. O pensamento de Kant é essencial para compreender os rumos da filosofia no ocidente.
Quem foi Immanuel Kant?
O filósofo Immanuel Kant nasceu em 22 de abril de 1724, na cidade de Königsberg, que foi a maior cidade da Alemanha oriental até a Segunda Guerra Mundial. Hoje, a cidade se chama Kaliningrado e pertence à Rússia.
Ele viveu toda a sua vida em Königsberg até sua morte, aos 80 anos de idade, em 1804. Nunca saiu de sua cidade e, inclusive, detestava viagens. Era luterano e levou uma vida relativamente pacata.
Foi o quarto filho do casal Johann Georg Kant, fabricante de arreios para cavalgaduras, e Anna Regina Kant. Sua família era profundamente influenciada pelos princípios do luteranismo, o que marcou a formação religiosa e ética do filósofo ao longo da vida.
Kant iniciou sua educação no Colégio Fredericianum, uma escola protestante e em 1740, ingressou na Universidade de Königsberg, onde iniciou seus estudos em Teologia, mas logo se voltou para a Filosofia, com ênfase no pensamento de Leibniz. Kant também se interessou pelas ciências naturais, principalmente Física e Matemática, áreas nas quais desenvolveu conhecimento e escreveu textos, como o Esboço Sumário de Algumas Meditações sobre o Fogo e História Geral da Natureza e Teoria do Céu, ambos de 1755.
Aos 22 anos, em 1746, o pai de Kant morre e ele precisa sair da universidade para buscar meios de sustento. Com isso, passa a trabalhar como professor particular de filhos de famílias ricas de Königsberg. Apesar de afastado da universidade, continuou seus estudos como autodidata.
Apenas em 1754 ele consegue retornar à Universidade, onde completa seu doutorado em Filosofia. Segue carreira de professor, atuando como livre docente. Durante seus anos acadêmicos, Kant foi fortemente influenciado por filósofos como Leibniz e Newton, cujas ideias o ajudaram a estruturar seu entendimento sobre a relação entre a mente humana e o mundo.
Em 1770, Kant foi nomeado para a cátedra de Lógica e Metafísica da Universidade de Königsberg, cargo que manteve por mais de 40 anos, até sua morte. Torna-se uma figura central entre os pensadores alemães, especialmente após a publicação de sua obra mais influente, Crítica da Razão Pura, de 1781.
Teve uma vida solitária e modesta, completamente dedicada à filosofia e ao ensino. Ele jamais se casou e evitava compromissos sociais, preferindo se concentrar em seus estudos e em sua produção intelectual. Era conhecido por sua rotina diária bastante regrada e pontual. Uma curiosidade sobre Kant é que seus vizinhos ajustavam o relógio a partir dos hábitos do filósofo que sempre, às 15h30, saía para dar um passeio. Conta-se que o único dia em que ele perdeu a hora da sua caminhada vespertina foi quando se entreteu lendo uma obra de Rousseau.
Para compreender melhor o pensamento de Immanuel Kant, acesse o curso Os Pensadores: Immanuel Kant, do professor doutor em filosofia pela Unicamp, Daniel Omar Perez. Ele apresenta os principais pensamentos da filosofia kantiana, incluindo uma perspectiva ampla sobre conceitos como liberdade e moralidade universal.
Principais Obras de Immanuel Kant
- Reflexões Sobre a Verdadeira Estimativa das Forças Vivas (1747)
- História Geral da Natureza e Teoria dos Céus (1755)
- Esboço Sumário de Algumas Meditações sobre o Fogo (1755)
- Observações Sobre o Sentimento do Belo e do Sublime (1764)
- Crítica da Razão Pura (1781)
- Resposta à Pergunta: o que é o Esclarecimento? (1784)
- Crítica da Razão Prática (1788)
- Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785)
- Prolegômenos a Qualquer Metafísica Futura (1783)
- Crítica do Juízo (1790)
- A Paz Perpétua (1795)
- Metafísica dos Costumes (1797)
Crítica da Razão Pura (1781)
Crítica da Razão Pura é o livro mais importante de Kant, marcando o início da epistemologia na filosofia moderna. Publicado em 1781, a obra traz o seu idealismo transcendental e revolucionou a filosofia ao estabelecer uma nova perspectiva sobre como o conhecimento é produzido e compreendido. Apesar de ter escrito muitos textos antes deste (como o que refletia sobre a origem do sistema solar, com a hipótese nebular), é aqui que ele traz a necessidade de criticar a própria razão.
Kant estava alinhado com o pensamento moderno, que foi marcado pelo iluminismo e pelo cientificismo, em um momento histórico onde havia um entusiasmo em relação à laicização do estado e ao desenvolvimento do pensamento racional.
Para Kant, o saber só é possível porque o ser humano é racional. Portanto, é preciso criticar a razão porque ela quer sempre saber mais. Nesse sentido, a razão muitas vezes formula questões que a ultrapassa. E Kant se preocupa com essas questões metafísicas. Ele deseja buscar uma via segura para o conhecimento científico. Assim, faz uma distinção entre os fenômenos e a coisa em si. Para ele, só é possível conhecer os fenômenos, nunca “a coisa em si”. Essa seria sua “Revolução Copernicana no modo de pensar”.
O que Kant denomina de “a coisa em si” seriam conceitos metafísicos, que estão além dos fenômenos perceptíveis. Já a natureza seria uma experiência possível para nós, é aquilo que nos aparece, que podemos conhecer. Portanto, é na Crítica da Razão Pura que ele investiga as condições que tornam o conhecimento humano possível.
Sua teoria desafia as abordagens empíricas e racionalistas da época, ao argumentar que a mente humana não é um simples receptor passivo da realidade, mas que é ativa na construção do conhecimento.
Crítica da Razão Prática (1788)
No livro Crítica da Razão Prática, Kant elabora a sua filosofia moral. É nesta obra que ele vai propor o seu conceito de imperativo categórico, um princípio que guiaria as ações humanas e que seria, necessariamente, universal, independente da cultura. Isso significa que ele acreditava em valores morais universais, aplicáveis a todos, onde haveria o certo e o errado.
Embora proponha essa distinção valorativa, ele separa a moral de uma fundamentação religiosa. A moralidade seria baseada na razão que orienta as ações humanas, existiria um dever moral.
Crítica da Faculdade do Juízo (1790)
No livro Crítica da Faculdade do Juízo, Kant explora questões de estética e teleologia. Nessa obra, ele argumenta que o gosto estético, embora subjetivo, possui uma base comum e universal que nos permite avaliar o belo de maneira semelhante.
Kant também aborda a teleologia, a ideia de que a natureza parece ter um propósito ou fim, embora esse fim não possa ser comprovado empiricamente. Essa obra contribuiu para o desenvolvimento da filosofia estética moderna, influenciando filósofos como Hegel e Schopenhauer.
Filosofia de Immanuel Kant: Principais Ideias
A filosofia kantiana se destaca pela tentativa de reconciliar duas correntes filosóficas antagônicas da época: o empirismo e o racionalismo. Kant propôs uma solução inovadora ao afirmar que o conhecimento não é exclusivamente o resultado da experiência sensorial, como defendiam os empiristas, nem derivado unicamente da razão pura, como acreditavam os racionalistas. Em vez disso, ele sugeriu que o conhecimento surge da interação entre os dados sensoriais e as categorias a priori da mente humana, como espaço, tempo e causalidade, que estruturam nossa experiência do mundo.
Kant também concentrou sua filosofia na prática moral humana. Para ele, a razão era o fundamento da moralidade, e a ação moral deveria ser guiada pelo imperativo categórico, princípio segundo o qual as ações humanas devem ser conduzidas por regras que possam ser universalizadas.
Seu lema, "ousa saber", refletia a ideia de que a razão deve ser utilizada para questionar e criticar não apenas os sistemas filosóficos, mas também as estruturas sociais e políticas, incluindo a legislação e a religião. Kant acreditava que a razão deveria dominar a moralidade e racionalizar o comportamento moral humano, o que estava alinhado com o antropocentrismo, a ascensão da ciência moderna e a rejeição da superstição religiosa e da tirania dos reis.
Uma das principais questões filosóficas que Kant abordou foi o conceito de liberdade. Para ele, o uso da razão levaria a humanidade da "menoridade" à "maioridade" – ou seja, para a autonomia intelectual. A menoridade, segundo Kant, é a incapacidade de usar o próprio pensamento, seja por covardia ou preguiça. Ao valorizar a razão, Kant acreditava que a humanidade estava entrando em uma nova era de progresso e liberdade, especialmente após eventos históricos como a Revolução Francesa e a Revolução Científica. A confiança de Kant no progresso humano era baseada na ideia de que tudo o que emana da razão seria benéfico à humanidade.
Em sua análise da Revolução Francesa, Kant reconheceu o movimento como um marco histórico fundamental para o direito e para a liberdade humana, mas também identificou uma antinomia. Embora a Revolução fosse um símbolo do progresso humano, ela foi acompanhada por violência e ilegalidade, o que contradizia os princípios do direito. No entanto, Kant argumentou que, a partir desse momento caótico, emergiria uma ordem jurídica mais racional.
Direito Positivo de Kant
Immanuel Kant introduziu o conceito de direito positivo, em sua obra "Metafísica dos Costumes", publicada em 1797, onde ele diferencia entre direito natural e direito positivo. Ele explora o direito positivo como a base das leis e do Estado, defendendo que essas leis devem promover a liberdade e a justiça.
Para ele, o direito é a legislação criada pela razão humana e deve ser aplicada de forma universal e impessoal, garantindo a liberdade e a dignidade dos indivíduos. Assim, a legislação deveria ser fundamentada na razão prática, e o direito positivo serviria para organizar a convivência social de maneira justa.
Em contraste com o direito natural, que é baseado em direitos universais e normas derivadas da natureza humana, o direito positivo se refere às leis concretas estabelecidas por uma autoridade legítima, como o Estado.
Imperativo Categórico
Em sua ética, Kant formulou o conceito de imperativo categórico, no livro Fundamentação da Metafísica da Moral, publicado em 1785 e que se tornou um dos pilares de sua filosofia moral. Esse princípio afirma que as ações humanas devem ser guiadas por regras universais, ou seja, deveríamos agir de maneira que as máximas de nossas ações pudessem ser universalizadas. Para Kant, a moralidade não depende das consequências das ações, mas da motivação e da razão que as sustentam. O que vai dirigir minha ação tem que se tornar universal.
Estética e Teleologia
Kant também contribuiu para a filosofia da arte e da estética com sua obra Crítica do Juízo, de 1790. Nela, ele explora como o gosto estético, embora subjetivo, tem uma base universal que pode ser compartilhada por todos. Além disso, Kant discutiu a teleologia, ou a ideia de que a natureza parece ser dirigida a um fim ou propósito, mesmo que esse propósito não seja comprovável.
A Revolução Copernicana de Kant
Uma das maiores inovações de Kant foi sua "revolução copernicana" na filosofia. Assim como Copérnico havia proposto que a Terra não era o centro do universo, Kant sugeriu que, em vez de o conhecimento se adaptar à realidade externa, a mente humana desempenha um papel ativo em processar a maneira como percebemos o mundo. Esse insight ajudou a estabelecer a base para o idealismo alemão e outras correntes filosóficas posteriores.
Influência de Kant em Outros Pensadores
A filosofia de Kant exerceu uma influência profunda e duradoura em diversas áreas, como metafísica, epistemologia e teoria política. Seus conceitos inovadores se refletiram em movimentos intelectuais importantes, como o idealismo alemão e a fenomenologia. Seus trabalhos impactaram pensadores como Hegel, Fichte e Schopenhauer.
Perguntas Frequentes sobre Immanuel Kant
Quem foi Immanuel Kant?
Immanuel Kant foi um filósofo alemão do século XVIII, considerado um dos maiores pensadores da filosofia ocidental. Ele é conhecido por suas obras sobre epistemologia, ética e estética, e por transformar a maneira como entendemos o conhecimento, a moralidade e a realidade.
Quais são as principais ideias de Immanuel Kant?
As principais ideias de Kant incluem a distinção entre conhecimento a priori e a posteriori, a moralidade baseada no imperativo categórico, e sua "revolução copernicana", que afirma que a mente humana tem um papel ativo na formação do conhecimento, contribuindo para nossas percepções do mundo.
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Referências:
https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/9/os-pensadores-kant
https://curadoria.casadosaber.com.br/cursos/170/os-pensadores-immanuel-kant
http://educa.fcc.org.br/pdf/conjectura/v22n1/2178-4612-conjectura-22-01-00161.pdf
https://pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_Kant