John Locke foi um filósofo iluminista do século XVII, conhecido por seus pensamentos acerca dos direitos naturais e sua teoria do conhecimento. Nascido na Inglaterra, John Locke combateu o absolutismo na política e defendeu a criação de um Estado liberal, criado pela humanidade através de leis que garantissem o direito à vida, à liberdade e à propriedade privada.
Locke foi um dos pensadores do contrato social e desenvolveu a ideia de que a mente humana nasce como uma “tábula rasa” e adquire conhecimento a partir das experiências vividas. Foi, portanto, um filósofo empirista e escreveu obras fundamentais como o Ensaio sobre o Entendimento Humano e O Segundo Tratado sobre o Governo Civil. Formulou conceitos que continuam a ser debatidos e aplicados até hoje. Neste artigo, vamos abordar a biografia de John Locke e suas principais ideias.
O artigo passará pelos seguintes tópicos:
- Quem foi John Locke?
- O que John Locke defendia?
- Principais Livros de John Locke
- O que são os Direitos Naturais para John Locke?
- O que é a Tábula Rasa de John Locke?
- Qual a diferença entre o pensamento de Hobbes e Locke?
- Locke e os Pensadores Iluministas
- Conclusão
- Perguntas Frequentes sobre John Locke
Quem foi John Locke?
John Locke nasceu em 29 de agosto de 1632, na pequena cidade de Wrington, no condado de Somerset, na Inglaterra. Filho de um advogado puritano dono de uma pequena propriedade de terras, Locke cresceu em uma época de intensas tensões políticas, marcadas pelas Guerras Civis Inglesas, que influenciaram profundamente suas ideias.
A educação de Locke foi privilegiada, ele estudou na Westminster School, uma das melhores escolas da Inglaterra, e, em 1652, ingressou na renomada Christ Church College da Universidade de Oxford. Embora seu pai desejasse que ele seguisse a carreira eclesiástica, Locke se formou em medicina e dedicou-se à filosofia e às ciências naturais. Durante sua formação, teve contato com as ideias filosóficas de René Descartes e com o trabalho científico de Robert Boyle, com quem desenvolveria uma estreita amizade e colaboração.
Em 1667, Locke tornou-se médico particular de Lord Ashley Cooper, futuro conde de Shaftesbury, fato que o aproximou das discussões políticas e lhe permitiu desenvolver suas ideias sobre o liberalismo e o governo. Durante esse período, Locke também se interessou pelo movimento científico da época, tornando-se membro da Royal Society de Londres em 1668 e realizando experimentos em diversas áreas do conhecimento, incluindo meteorologia e física dos gases.
Em 1681 o conde de Shaftesbury foi acusado de conspirar contra o rei Carlos II e John Locke de colaborar com seu mentor. Ambos foram exilados na Holanda. Durante os cinco anos em que permaneceu na Holanda, Locke escreveu grande parte de suas obras mais importantes.
Entre elas, destacam-se Cartas sobre a Tolerância, onde Locke defendeu a separação entre Igreja e Estado e a necessidade de tolerância religiosa, e Tratado Sobre o Governo Civil, onde formulou suas ideias sobre os direitos naturais do ser humano (vida, liberdade e propriedade) e o governo legítimo, baseado no consentimento dos governados. John Locke voltou à Inglaterra após a Revolução Gloriosa de 1688 e começou a publicar suas obras sobre filosofia política.
O pensador também teve um papel significativo na evolução do empirismo, defendendo que o conhecimento humano se origina da experiência sensorial e que a mente, ao nascer, é uma tábula rasa, sem ideias inatas. Essa teoria teve grande influência no desenvolvimento do Iluminismo na modernidade. Suas ideias tiveram consequências em diversas áreas do conhecimento, como filosofia, política e economia.
Locke faleceu em 28 de outubro de 1704, na cidade de High Lavre, na Inglaterra, onde passou seus últimos anos. Seu legado perdura até hoje, e suas ideias continuam a ser fundamentais para a compreensão dos direitos humanos, da liberdade política e das bases da democracia moderna. Os sistemas jurídico e político dos Estados Unidos foram criados a partir das ideias de Locke, feito copiado por diversas outras democracias.
O que John Locke defendia?
John Locke, ao lado de Rousseau e Thomas Hobbes, pertence à linha dos filósofos do jusnaturalismo, ou teóricos dos direitos naturais. Para ele, os seres humanos, ao viverem inicialmente no estado de natureza, possuíam direitos naturais inalienáveis, como a vida, a liberdade e a propriedade privada, sendo este último um direito conquistado por meio do trabalho.
Ao contrário de Hobbes, que via o estado de natureza como um cenário de guerra constante, Locke acreditava que o estado natural da humanidade era originalmente equilibrado, no qual os indivíduos possuíam a capacidade de criar normas, julgar e condenar. Esses direitos e capacidades foram fundamentais para a construção da sociedade civil, que seria formada por meio de um contrato social.
Esse pacto não significava que os direitos naturais eram abandonados, mas passavam a ser reconhecidos e protegidos pela sociedade. Para Locke, o Estado deveria garantir a proteção desses direitos, o que gerou uma visão do governo como um meio de assegurar a liberdade, a segurança e a propriedade de seus cidadãos. Nesse processo, o contrato social não eliminava os direitos naturais dos indivíduos, mas os delegava ao Estado. Isso resultava em uma tensão entre os direitos privados e as funções públicas do Estado, algo que Locke não deixou de considerar em sua teoria.
Além de suas contribuições à teoria política, Locke também é conhecido por sua influência no campo do conhecimento, como um dos primeiros defensores do empirismo na filosofia. Em sua obra Ensaio sobre o Entendimento Humano, ele argumenta que a mente humana é uma tábula rasa ao nascer, sem ideias inatas, e que todo o conhecimento provém da experiência sensorial.
Locke acreditava que, por meio dos sentidos e da reflexão sobre essas experiências, formávamos nossas ideias e, assim, nossa compreensão do mundo. Ele via a razão e a experiência como elementos essenciais para a construção do saber.
No campo político, ele foi um dos primeiros a propor a separação dos poderes, defendendo que os poderes executivo, legislativo e federativo deveriam ser exercidos distintamente. Mas, diferente do que foi proposto na teoria da separação dos poderes de Montesquieu, John Locke estabelece uma relação de subordinação entre os poderes, onde todos estariam submetidos ao poder legislativo.
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Principais Livros de John Locke
John Locke escreveu diversas obras que se tornaram fundamentais para a filosofia, abordando temas que vão desde a teoria do conhecimento até a teoria política. Seus escritos influenciaram profundamente a formação do liberalismo e do empirismo, além de terem deixado um legado duradouro no pensamento ocidental. A seguir, listamos alguns de seus principais livros:
- Ensaio sobre o Entendimento Humano (1689)
- Primeiro Tratado sobre o Governo Civil (1689)
- Segundo Tratado sobre o Governo Civil (1689)
- Carta sobre a Tolerância (1689-92)
- Alguns Pensamentos sobre a Educação (1693)
- Razoabilidade do Cristianismo (1695)
- Da Conduta do Entendimento (1706)
Carta sobre a Tolerância (1689 - 92)
Carta sobre a Tolerância, de John Locke, foi publicada pela primeira vez em 1689, em um contexto de grande agitação religiosa e política na Inglaterra, onde o medo de um domínio crescente do catolicismo gerava tensões entre protestantes e católicos. Essa obra surge como uma resposta ao problema das disputas religiosas e à crescente interferência da religião nas questões políticas e sociais. Locke defende a ideia de que a autoridade do governo deve ser limitada à proteção da lei civil e que as questões religiosas pertencem à esfera privada do indivíduo. Ele argumenta que a tolerância religiosa é essencial para a convivência pacífica e que o governo não deve impor ou interferir nas crenças religiosas das pessoas. O filósofo também enfatiza que as leis devem ser elaboradas de forma coletiva pelos cidadãos, refletindo uma visão de liberdade e respeito pelas diferenças. A obra teve grande impacto na promoção da liberdade religiosa e influenciou profundamente o pensamento sobre os direitos individuais e a separação entre igreja e Estado.
Ensaio sobre o Entendimento Humano (1689)
Ensaio sobre o Entendimento Humano é uma das obras mais importantes de John Locke, fundamental para o desenvolvimento da epistemologia moderna. Publicada em 1689, nesta obra Locke rejeita a ideia platônica de que nascemos com ideias inatas e propõe uma nova concepção sobre o conhecimento humano. Ele argumenta que a mente humana é uma "tábula rasa" (uma folha em branco) ao nascer, ou seja, não possui ideias ou conhecimento pré-existentes. Para Locke, todo conhecimento deriva da experiência, que ocorre de duas formas principais: as sensações, que nos fornecem ideias simples sobre o mundo externo, e a reflexão, que nos permite formar ideias mais complexas a partir dessas experiências sensoriais. Assim, Locke estabelece a base para uma teoria empírica do conhecimento, segundo a qual a experiência é a única fonte confiável de todo saber humano. A obra teve grande impacto no empirismo e influenciou o pensamento filosófico sobre como adquirimos e construímos o conhecimento.
Segundo Tratado sobre o Governo Civil (1689)
Segundo Tratado sobre o Governo Civil é uma publicação significativa de John Locke e uma das principais fontes do surgimento do liberalismo moderno. Escrito de forma anônima, o livro foi publicado com o objetivo de combater o absolutismo monárquico, que defendia o poder divino dos reis. Locke argumenta que os indivíduos possuem direitos naturais inalienáveis, como a vida, a liberdade e a propriedade, e que a principal função do governo é proteger esses direitos. Ele refuta a ideia de que o governo se origina da vontade divina e propõe que o poder político surge de um contrato social entre os indivíduos. Para Locke, o Estado é formado por homens que se reúnem para garantir a preservação da liberdade, que é assegurada pela inviolabilidade do corpo, pelo respeito às leis e pela proteção do direito à propriedade. Além disso, Locke introduz a ideia de separação dos poderes, propondo que os poderes executivo, legislativo e federativo estejam em “mãos” distintas. O livro defende que o governo deve ser limitado, baseado no consentimento dos governados, e que sua principal função é garantir os direitos naturais.
O que são os Direitos Naturais para John Locke?
Para John Locke, os direitos naturais são direitos fundamentais que todo ser humano possui desde o nascimento, independentemente de qualquer autoridade ou sistema legislativo. Locke identificou três direitos naturais essenciais: o direito à vida, à liberdade e à propriedade privada. Esses direitos são considerados inalienáveis, ou seja, não podem ser retirados de um indivíduo, nem mesmo pelo governo. O filósofo acreditava que a principal função de um governo legítimo era proteger esses direitos, e que qualquer governo que violasse tais direitos perderia sua legitimidade. A proteção desses direitos era a base para a formação de uma sociedade justa e para a preservação da liberdade individual.
O que é a Tábula Rasa de John Locke?
A “tábula rasa” é um conceito central na epistemologia de John Locke, apresentado em sua obra Ensaio sobre o Entendimento Humano (1689), e refere-se à ideia de que, ao nascer, a mente humana é semelhante a uma "folha em branco", sem qualquer conteúdo ou ideias inatas. Locke rejeita, assim, a concepção cartesiana e platônica de que certos conhecimentos ou ideias são inatos, argumentando que todos os conceitos e saberes do ser humano provêm da experiência. Segundo Locke, a mente humana, ao invés de ter ideias pré-existentes, é um receptáculo vazio que vai sendo preenchido ao longo da vida através de duas fontes principais de experiência: as sensações e a reflexão.
As sensações referem-se às percepções que o indivíduo recebe do mundo externo por meio dos sentidos, enquanto a reflexão diz respeito à experiência interna, ou seja, ao processo de pensar sobre as próprias percepções e experiências sensoriais. A partir dessas fontes de experiência, Locke sustenta que as ideias se formam e evoluem, sendo, portanto, adquiridas e não inatas.
A teoria da tábula rasa tem implicações profundas na concepção de conhecimento de Locke. Ela coloca a ênfase na experiência como a única fonte válida de conhecimento, o que é uma pedra angular do empirismo, corrente filosófica da qual Locke é um dos principais expoentes.
Além disso, o conceito de tábula rasa também tem consequências na filosofia política de Locke, especialmente em sua defesa da liberdade e da igualdade natural dos indivíduos. Se as ideias e os comportamentos são moldados pela experiência, então não há uma natureza humana fixa e determinada desde o nascimento, o que justifica a visão de Locke de que a sociedade deve ser construída com base no consentimento e na experiência dos indivíduos, e não em hierarquias ou modelos predeterminados.
Qual a diferença entre o pensamento de Hobbes e Locke?
A principal diferença entre John Locke e Thomas Hobbes reside em suas visões sobre a natureza humana e o papel do governo. Hobbes, em sua obra Leviatã, tem uma visão pessimista da natureza humana, acreditando que, sem a autoridade central de um soberano absoluto, os seres humanos viveriam em uma "guerra de todos contra todos", motivados pelo egoísmo e pela busca de autopreservação. Para ele, o contrato social implicava a entrega total do poder a um governante centralizado, o "Leviatã", cuja autoridade deveria ser absoluta para garantir a paz e a ordem.
Já Locke, em contraste, tinha uma visão mais otimista sobre a natureza humana. Embora reconhecesse o egoísmo humano, ele acreditava que as pessoas eram racionais e podiam viver em harmonia no estado de natureza, desde que respeitassem os direitos dos outros. Para Locke, o contrato social tinha como objetivo proteger os direitos naturais à vida, liberdade e propriedade, e o governo deveria ser limitado e baseado no consentimento dos governados. Ao contrário de Hobbes, Locke não defendia um governo absoluto, mas sim um sistema de separação dos poderes, onde o governo poderia ser deposto caso violasse os direitos naturais dos cidadãos.
Em relação à propriedade, enquanto Hobbes acreditava que a propriedade só surgiria com a criação do Estado, Locke via a propriedade como um direito natural inalienável, que já existia no estado de natureza e deveria ser protegida pelo governo. Assim, a propriedade era adquirida por meio do trabalho e da utilização dos recursos naturais, e o governo tinha o dever de protegê-la.
Portanto, enquanto Hobbes defendia um governo absoluto e centralizado para evitar o caos, Locke propunha um governo limitado, baseado na proteção dos direitos naturais e no consentimento dos governados. Ambos influenciaram profundamente o pensamento político moderno, com as ideias de Hobbes sendo mais relevantes para o absolutismo e as de Locke para o liberalismo e os direitos humanos.
Locke e os Pensadores Iluministas
John Locke foi uma figura central entre os pensadores do Iluminismo, cujas ideias influenciaram profundamente o desenvolvimento do pensamento moderno. Ele defendeu a importância da razão e da experiência sensorial como fontes do conhecimento, estabelecendo as bases para o empirismo. Sua teoria dos direitos naturais, que inclui os direitos à vida, liberdade e propriedade, teve grande impacto na formação das ideias iluministas sobre os direitos humanos e o papel do governo.
Pensadores iluministas como Voltaire, Montesquieu e Rousseau foram fortemente influenciados por Locke, especialmente em suas críticas ao absolutismo e na defesa da liberdade individual. Immanuel Kant, embora crítico do empirismo de Locke, também reconheceu sua importância. Kant desafiou a visão lockeana ao argumentar que a mente humana não é passiva, mas ativa na organização do conhecimento, introduzindo a ideia de categorias a priori que moldam nossa percepção da realidade. Apesar das divergências, tanto Locke quanto Kant foram fundamentais para a epistemologia.
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Conclusão
John Locke foi um dos pensadores mais importantes da filosofia iluminista, com suas ideias sobre conhecimento, direitos naturais e governo limitado, influenciando profundamente as teorias políticas e filosóficas subsequentes. Seu legado é especialmente marcante no campo do liberalismo, onde suas ideias sobre a liberdade individual, estado laico e separação dos poderes formaram as bases das sociedades democráticas.
Perguntas Frequentes sobre John Locke
Quais são as principais obras de John Locke e suas contribuições filosóficas?
As principais obras de John Locke incluem “Ensaio sobre o Entendimento Humano”, “Segundo Tratado sobre o Governo Civil” e “Carta sobre a Tolerância”. Locke foi fundamental para o desenvolvimento do empirismo, defendendo que todo o conhecimento deriva da experiência. Na política, suas ideias sobre os direitos naturais e o governo baseado no consentimento dos governados influenciaram profundamente o liberalismo e as democracias modernas.
Como a visão de Locke sobre o governo difere da de Hobbes?
John Locke acreditava que o governo deveria ser limitado e baseado no consentimento dos governados, com o objetivo de proteger os direitos naturais, como a vida, liberdade e propriedade. Em contraste, Thomas Hobbes defendia um governo absoluto e centralizado, acreditando que a humanidade necessitava de um soberano forte para evitar o caos e a guerra de todos contra todos. Locke via o governo como um guardião da liberdade, enquanto Hobbes o via como uma necessidade para garantir a ordem.
Referências
https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-20857/john-locke/