Saber quem foi Aristóteles e o que ele pensava talvez seja um dos passos mais importantes para quem deseja aprofundar os conhecimentos acerca da história da filosofia , sobretudo, a da que diz respeito ao recorte ocidental. É o seu caso? Veja o que vai encontrar por aqui:
- Quem foi Aristóteles?
- A vida de Aristóteles
- Quais são as bases do pensamento Aristotélico?
- Como Aristóteles entendia a política?
- Qual conceito de Ética para Aristóteles?
- O que é a Justiça para Aristóteles?
- O que pensava Aristóteles no campo da Lógica?
- Qual a relação de Sócrates, Platão e Aristóteles?
- As principais divergências entre Aristóteles e Platão
- Filosofia de Platão
- Filosofia de Aristóteles
- Quais são as obras de Aristóteles?
Ao lado de Sócrates e Platão, Aristóteles compõe a renomada tríade do pensamento grego antigo, tendo desenvolvido estudos tão diversificados e profundos que seus resultados ainda são bases para reflexões contemporâneas.
Além disso, embora seja considerado um famoso discípulo de Platão, marca a sua trajetória exatamente por, a certo momento, distanciar-se daquilo que afirmava seu mentor, inaugurando uma nova corrente filosófica.
Esta etapa é caracterizada especialmente pela proeminência e valor do empirismo e pela inédita sistematização das áreas que, àquele período, tangenciavam a Filosofia Grega, como:
- Lógica;
- Biologia;
- Física;
- Retórica;
- Justiça;
- Astronomia;
- Ética e moralidade;
- Ciência;
- Política;
- Educação;
- Literatura e ficção através de dramas e comédias, por exemplo.
Todos esses assuntos foram trabalhados detidamente por Aristóteles, em uma abordagem inovadora, organizada e estruturada. Por esse motivo, os estudos filosóficos a partir de então passaram a contar com três marcos principais:
Período Cosmológico ou Pré-Socrático | Aquele no qual seus representantes (Demócrito, Tales de Mileto, Pitágoras, etc) dedicavam-se aos estudos do universo, da origem do mundo e dos motivos para as mudanças da natureza. |
Período Socrático ou Antropológico | Representando pelo aprofundamento das questões humanas e do "anthropos" (homem), sendo Sócrates, Platão e Xenofonte seus grandes expoentes. |
Período Sistemático | Orientado pela sistematização das ideias e teorias filosóficas conhecidas até então, com o objetivo de elaborar uma concepção racional e científica do mundo. Mesmo que Platão também seja reconhecido como pertencente a esse movimento, foi nas obras de Aristóteles e no seu esforço pioneiro de organizar as ideias difundidas na época que passou a ter força e aspectos otimizados. Trata-se de um trabalho mais abrangente, estruturado e científico, com uma abordagem disruptiva e analítica. |
Na prática, o período sistemático e o socrático se relacionam na medida em que Platão é influenciado por seu mestre Sócrates, o qual, por sua vez, influencia seu discípulo Aristóteles.
Em uma exposição sobre a vida de Aristóteles, inclusive, Franklin Leopoldo e Silva afirma que "o aprendizado junto a um outro filósofo, de uma outra geração, é também, e ao mesmo tempo, o amadurecimento das ideias originais daquele que está aprendendo".
Ou seja, enquanto Aristóteles comungava das proposições de Platão, também se aventurou em desenvolver e questionar suas próprias teorias e pensamentos filosóficos. Descubra quais são elas e quem realmente foi Aristóteles nos demais tópicos deste texto.
Quem foi Aristóteles?
Aristóteles é considerado por muitos o primeiro cientista da História, uma vez que, além de adotar o empirismo como método de investigação, passou a sistematizar e ordenar as respostas encontradas nas suas pesquisas.
Nessa perspectiva, é representado como precursor e responsável por agrupar em áreas específicas os diversos saberes existentes e, com isso, dar início à chamada 3ª fase da Filosofia Ocidental - a sistemática.
A vida de Aristóteles
Filho do médico Nicômaco, Aristóteles nasceu em Estagira (384 a.C a 322 a.C), cidade da Macedônia, podendo dedicar-se aos estudos desde muito cedo.
Exemplo disso, mudou-se para Atenas aos 17 anos, a fim de concluir a sua jornada de aprendizado na já tradicional Academia de Platão - a primeira universidade da História, com espaço organizado para o ensino e para a produção do conhecimento.
Após cerca de duas décadas como aluno e, posteriormente, professor da instituição, período suficiente para render-lhe o título de um dos mais importantes e obstinados discípulos de Platão,Aristóteles se viu compelido a adotar outros caminhos.
Na época, com a morte de Platão, tanto o senso comum quanto o próprio Aristóteles apostaram na destinação do cargo de liderança da Escola ao filósofo - fosse por sua dedicação à ideologia Platônica ou pelo brilhantismo de suas ideias.
Entretanto, na prática, o próprio sobrinho do guru intelectual, Espeusipo, herdou a Academia depois de Platão . Diz-se que a decisão política teria levado em consideração o fato de Aristóteles ser estrangeiro e também as divergências fundamentais existentes entre ele e seu falecido mestre.
A partir desse momento, a jornada de Aristóteles desenvolveu-se de forma mais abrangente e com reflexos históricos bastante significativos.
Diante da ideia frustrada de ser o sucessor da dinâmica de ensino superior platônico, o filósofo retornou a Macedônia, tornando-se mentor e preceptor do filho do Rei Filipe II, o qual viria a se consagrar como “Alexandre, O Grande”.
Tempo depois, em 340 a.C, já reconhecido como Rei da Babilônia e da Ásia, Alexandre liderou uma campanha militar robusta de conquistas e unificação das cidades-Estado da Grécia, inclusive, de Atenas.
Nesse mesmo período, Aristóteles retornou à pólis helênica, que experenciava agora um contexto de declínio da democracia ateniense e de controle cultural sob domínio macedônico, estabelecendo em 335 a.C sua própria escola filosófica, o Liceu Aristotélico.
Por lá, estruturou cursos regulares sobre geometria, química, botânica, astronomia, matemática, física, entre outras disciplinas, dividindo os períodos do dia em uma ordem específica: discursos esotéricos pela manhã, portanto os internos e com temáticas mais difíceis, e exotéricos na parte da tarde, sempre mais acessíveis e para o grande público.
Além disso, Aristóteles utilizou neste espaço uma metodologia pautada no ensino realizado durante caminhadas pelos jardins do Liceu. Seus alunos, que o acompanhavam nesses trajetos, eram caracterizados como “peripatéticos", em tradução livre "aqueles que passeiam".
Ao longo dessa trajetória, elaborou ainda inúmeras obras nos mais variados campos, destacando-se nas áreas de:
- biologia, com classificações animais exploradas por mais de mil anos;
- observações da meteorologia e dos fenômenos naturais, como a chuva, vento e a escala do tempo geológico
- abordagem da ética a partir de um código de conduta para o bem viver;
- assim como na sistemática de tratados filosóficos que detalharam a prática da retórica e a importância da lógica e da metafísica, distinguindo matéria e forma
Por fim, com o falecimento de Alexandre, O Grande (em 323 a.C) e a consequente queda macedônica, Aristóteles se viu novamente obrigado a refazer suas escolhas.
Com receio de ter o mesmo fim de Sócrates (condenado à morte em Tribuna), visto que era interpretado como simpatizante do antigo governo, além de acusado de impiedade, deixou o cargo no Liceu, exilando-se em Cálcis, uma Ilha de Eubeia, local onde faleceu pouco tempo depois, em 322 a.C, aos 62 anos.
Quais são as bases do pensamento Aristotélico?
Assim como outras correntes gregas, a filosofia de Aristóteles circundava uma questão central: a ideia de "o que é ser", "o que significaria existir", "qual a explicação para as mudanças e inconsistências encontradas na realidade".
A partir do amadurecimento das concepções Platônicas, estruturou uma abordagem guiada pela observação empírica e pelo mundo da experiência , registrando os conhecimentos advindos dessa relação a partir da sistematização dos saberes.
Nesse sentido, o filósofo organizou em caráter inédito as diversas áreas intelectuais, as quais muitas delas, inclusive, mantêm-se com o mesmo nome nos dias de hoje. É o caso, por exemplo, da energia, dinâmica, indução, entre outros exemplos.
Suas obras e pensamentos influenciaram a Filosofia Escolástica e a Moderna, reafirmando a importância não só da criação de hipóteses, como da possibilidade de testá-las e catalogá-las.
Portanto, através, fundamentalmente, do empirismo e da sistematização, a filosofia de Aristóteles comprometeu-se a refletir sobre os seguinte pontos:
1) Como Aristóteles entendia a política?
Aristóteles concebia a política como uma extensão natural da ética, argumentando acerca do ser humano como naturalmente um "animal político”, ou seja, " destinado a viver em comunidade organizada".
Para ele, a cidade-estado (pólis) representava uma estrutura política ideal, na qual os cidadãos poderiam participar ativamente na governança, com o objetivo de buscar o bem comum, o que é justo e de interesse geral.
Em sua obra "Política", Aristóteles classifica diferentes formas de governo, distinguindo aquelas que visavam o benefício coletivo das que serviam aos interesses particulares:
- realeza: caracterizada pelo governo daquele que é um só para todos;
- aristocracia: de alguns para todos;
- politeia (república): de todos para todos.
Nesta dinâmica, a tirania, a oligarquia e a democracia seriam, para o autor, deturpações, degenerações dos anteriores, respectivamente, não estabelecendo uma forma de governo a favor do bem comum.
Ainda assim, o filósofo defendia a soberania do povo, devendo esta ser limitada por algumas restrições, a fim de impedir que a pretensa vontade do povo se tornasse subproduto tirano ou corrompido de governo, quais sejam:
- os órgãos de deliberação e julgamento, visto estes serem poderes coletivos expressos em uma Constituição;
- e o dever de agir conforme as leis.
Nesse sentido, Aristóteles retomava a ideia de que a deliberação popular seria benéfica em comparação aquela realizada pelo indivíduo, porém, demandando a existência de um número suficiente de “homens de bem” para qualificar tais decisões. Caso não fosse possível, a realeza ainda se mostraria como a alternativa mais acertada.
Qual conceito de Ética para Aristóteles?
No texto "Ética a Nicômaco", Aristóteles desenvolve uma teoria ética centrada na busca pela eudaimonia, ou pela felicidade.
Segundo o filósofo, a eudaimonia não representava simplesmente o prazer ou sucesso material, mas o resultado da prática constante das virtudes ao longo da vida. Portanto, a ação conscientemente reiterada.
Aristóteles identificava as virtudes como disposições habituais para agir de maneira justa, corajosa, temperada e generosa, situadas no meio-termo entre dois extremos viciosos.
Nessa perspectiva, a ética aristotélica enfatizava a importância do desenvolvimento do caráter e da busca da harmonia na vida moral , compreendendo a ética para além de um conjunto de regras a serem seguidas.
O conceito abrangeria, na verdade, um caminho para alcançar a excelência pessoal e contribuir positivamente para a sociedade.
3) O que é a Justiça para Aristóteles?
Aristóteles assimilava a justiça como a mais alta das virtudes, sendo essencial para o funcionamento harmonioso da sociedade.
Em sua enciclopédia de obras, estabeleceu a discriminação da diferentes formas de justiça, como, por exemplo, a distributiva e a corretiva.
Enquanto a primeira dizia respeito à distribuição equitativa de bens e recursos na comunidade, baseada no mérito e nas necessidades individuais; a segunda, a justiça corretiva, ocupava-se de corrigir desigualdades e injustiças resultantes de transações desonestas ou danosas.
Aristóteles também enfatizava a importância de uma justiça geral, a que se referia à conformidade com a lei e com a moralidade no comportamento público e privado.
Para o filósofo, a prática da justiça era fundamental para promover a ordem social e o bem-estar coletivo.
4) O que pensava Aristóteles sobre a Lógica?
O campo lógico como é visto atualmente tem suas bases diretamente associadas a Aristóteles.
O filósofo é reconhecido por ser o fundador da lógica formal, tendo desenvolvido a teoria do silogismo como uma ferramenta essencial para o raciocínio dedutivo.
Um silogismo consiste em nada mais nada menos do que duas premissas que levam a uma conclusão lógica. Por exemplo:
"Todos os homens são mortais; Sócrates é um homem; portanto, Sócrates é mortal."
Tal estrutura lógica tornou-se o alicerce para a argumentação racional e científica ao longo da História, exercendo um impacto visceral sobre o desenvolvimento das ciências naturais, da metodologia da pesquisa acadêmica e da formulação de teorias em diversas disciplinas.
Aristóteles também explorou conceitos como a dedução, a indução e a definição, estabelecendo fundamentos sólidos para o pensamento crítico e a investigação sistemática.
5) Estudos Aristotélicos sobre Metafísica
Outra área para a qual Aristóteles direcionou esforços substanciais, a "Metafísica" representou um conjunto de 14 escritos deixados pelo filósofo e posteriormente separados e classificados por Andrônico de Rodes, o último discípulo do Liceu Aristotélico.
Os textos tratavam de uma espécie de Filosofia Primeira, Filosofia Anterior, ou simplesmente, filosofia do ser em geral, investigando também a teoria das quatro causas (material, formal, eficiente e final) como uma tentativa de explicar por que as coisas existem e ocorrem.
Causa Material | Refere-se à substância da qual algo é feito. É o material básico ou a matéria-prima que constitui um objeto ou fenômeno. |
Causa Formal | Representa a forma ou a estrutura interna de um objeto, definindo as suas características distintivas e suas propriedades essenciais. |
Causa Eficiente | Indica a fonte ou a origem de um objeto, ou seja, o agente ou o processo que o traz à existência. |
Causa Final | Reflete o propósito ou o objetivo para o qual um objeto existe ou é produzido, considerando sua função ou destino final. |
Nesse sentido, Aristóteles argumentava que todas as substâncias teriam uma causa material capaz de as constituir, uma forma que as definiria, uma causa eficiente que as originaria e uma causa final que determinaria o seu propósito ou objetivo.
Assim, a metafísica aristotélica buscava uma compreensão abrangente e sistemática do universo, explorando questões ontológicas fundamentais sobre a existência e a essência das coisas.
A profusão das bases do pensamento Aristotélico e a profundidade da Filosofia de Aristóteles para abarcar todas elas, proporcionou uma semelhante polinização dos seus estudos.
Aristóteles é aplicado a diferentes propósitos, desde insights valiosos sobre a natureza da existência, às discussões atemporais sobre ética, política e a ciência.
Qual a relação de Sócrates, Platão e Aristóteles?
A relação de Sócrates, Platão e Aristóteles se dá não apenas por meio de suas influências diretas, mas também pela forma como todos moldaram, expandiram e estabeleceram fundamentos inovadores para a humanidade
Os três filósofos contribuíram ativamente para o desenvolvimento da filosofia ocidental na Grécia Antiga, cada um com uma especificidade.
Sócrates: | Platão: | Aristóteles: |
---|---|---|
Visto como o fundador da filosofia ocidental ética e do método socrático, Sócrates enfatizava o questionamento constante e a busca pela verdade através do diálogo dialético. Influenciou profundamente Platão, seu discípulo mais famoso. |
Seguidor de Sócrates, Platão é conhecido por seus diálogos filosóficos que exploram uma diversificada agenda de temas, incluindo ética, política, epistemologia e metafísica. Fundou a Academia de Atenas, uma das primeiras instituições de ensino superior do mundo ocidental - local que possibilitou o florescimento do pensamento platônico. |
Discípulo de Platão, Aristóteles tem renome por sua vasta contribuição para a lógica, metafísica, ética, política, biologia e diversas outras áreas do conhecimento. Divergiu do idealismo de Platão ao enfatizar uma abordagem mais empirista e sistemática para o estudo da natureza e do pensamento humano. |
Dessa relação é necessário ainda destacar as divergências existentes entre mentor e discípulo, Sócrates e Aristóteles.
As principais divergências entre Aristóteles e Platão
Antes de assimilar os aspectos que distanciam Platão e Aristóteles , é recomendável a construção de uma consciência sobre aquilo que os aproxima.
Em suas investigações, Aristóteles parte de um mesmo problema característico a outras filosofias gregas desde o período pré-socrático: “como explicar a mudança?”, “como remetê-las a um elemento estável?”, “como compreender a instabilidade, visto a perspectiva de estabilidade ser essencial para explicar as mudanças e o mundo imediatamente real?”.
Para isso, assim como Platão, adota a dinâmica estruturante do dualismo e da concepção de dois mundos, porém não concebe essa organização de forma transcendente como seu mentor fazia, mas sim em caráter imanente.
Em outras palavras isso significa dizer que a Filosofia de Platão e a Filosofia de Aristóteles utilizam igualmente recursos dualistas para tentar compreender e explicar o Paradoxo de Parmênides, o qual afirma “só o ser é” e “o não-ser não é”.
Ou seja, ambos partem do mesmo problema, com uma solução que é estruturalmente análoga, entretanto apresentando resultados distintos. Veja
Filosofia de Platão
Platão busca resolver a questão do ser, das mudanças e das instabilidades através da separação dualista de um “mundo sensível” e outro “inteligível”.
Para ele, o estabelecimento do “mundo das aparências” e o do “mundo das essências e ideias” solucionaria o dilema de Parmênides, representando uma passagem do ser para aquele do não-ser.
Assim, para Platão , o mundo da verdade (aquele das ideias e do intelecto) está acima e separado do mundo das mudanças e das instabilidades (mundo sensível), de tal forma que passar da existência instável para aquela essencial e absolutamente estável e imutável representa uma elevação, um ato de transcendência.
- Platão : realidade dividida em duas. O mundo das ideias (mundo inteligível) e o mundo sensível (mundo material);
- O mundo das ideias só seria alcançado através da razão, portanto, pelo intelecto - onde estaria o conhecimento verdadeiro e a essência das coisas;
- O mundo sensível seria uma ilusão, algo falso, por ser apenas uma cópia imperfeita do mundo das ideias;
- A percepção do mundo sensível daria-se através dos cinco sentidos humanos (tato, paladar, olfato, visão e audição). Entretanto, para Platão, esses sentidos seriam limitados e tendentes ao erro, não sendo confiáveis para alcançarem oconhecimento verdadeiro.
- A passagem do mundo sensível para o inteligível representaria um ato de transcendência.
Filosofia de Aristóteles
Por outro lado, embora também dualista, Aristóteles pressupõe a não separação entre o mundo das ideias e o mundo sensível, sendo ambos parte da mesma realidade - a qual é feita de uma multiplicidade de coisas.
Para ele, a segregação dos dois mundos torna-se desnecessária e sem efeito à medida que representa uma fuga da realidade sensível e não uma solução. Isso porque o filósofo defende que é possível encontrar no mundo inteligível (das ideias), o qual pensa-se fazer existir para solucionar os desafios do mundo sensível (fático), problemas semelhantes aos característicos do mundo material.
Assim, Aristóteles considera que, a partir de uma avaliação aprofundada daquilo que Platão enunciou, é possível elencar diversas dificuldades insolúveis pertencentes à base da sua ideologia, dando à instituição do mundo das idéias uma definição mais problemática do que efetivamente uma solução.
Dificuldade 1: Para cada ser sensível, há que haver no mundo das ideias um protótipo, um arquétipo. Aquilo que é a essência do objeto sensível e lhe confere realidade. Nessa sistemática, pode-se supor que na criação de um objeto novo no plano material ele também seguirá o mesmo ritmo no mundo das ideias? Sabendo que os arquétipos são eternos e imutáveis, não podendo surgir ou desaparecer, o questionamento e a separação dos dois mundos tornam-se infundadas, desestabilizando as Teorias de Platão sobre a divisão dos mundos sensível e inteligível. |
Dificuldade 2: Todas as coisas do mundo sensível estão em constante transformação e não são iguais em dois momentos distintos do tempo. Consequentemente, se são diferentes, e muitas vezes completamente diferentes, será que a isso também correspondem diferenças essenciais e diferentes arquétipos no mundo das ideias? |
Dificuldade 3: Toda comparação para que se possa estabelecer uma analogia, semelhança, ou outro tipo de relação, supõe critérios. Se há uma comparação, ela é realizada em relação a alguma outra coisa. Portanto, a comparação do objeto sensível e a do inteligível exige um critério, sendo este uma terceira realidade. Dessa forma, caso Platão estivesse correto, existiriam três mundos e não somente dois. |
Nessa dinâmica, Aristóteles diz abordar as dificuldades citadas anteriormente para demonstrar a ineficiência da solução de Platão e como forma de pensar um dualismo que escape de tais percalços.
Diante disso, argumenta sobre a não duplicação dos mundos, sendo a realidade o “aqui e agora”.
Ou seja, o filósofo deixa de pensar em dois mundos distintos para focar nas duas maneiras de considerar o mesmo mundo - uma pela sensibilidade e outra pelo intelecto ou inteligibilidade, simbolizando a ruptura significativa com seu antecessor.
- Aristóteles: Não há uma separação de mundo sensível e mundo inteligível, ambos são um só. O primeiro é ordenado pelo segundo através de recursos e sentidos intelectuais;
- Aristóteles defende que a realidade desordenada ainda reserva o conhecimento, desde que o homem saiba aplicar à essa realidade as condições intelectuais que a tornam inteligível;
- A essência das coisas encontra-se nas próprias coisas. Ou seja, na realidade habitada;
- Os mundos se relacionam de uma forma imanente e não transcendente;
- O conhecimento do mundo advém, inicialmente, dos sentidos, para, depois da experiência sensível, gerar ideias por meio do intelecto e da razão;
- As ideias se revelavam depois das experiências da sensação.
Quais são as obras de Aristóteles?
Atualmente, encontram-se disponíveis 22 textos como de autoria de Aristóteles , sendo eles caracterizados, em sua maioria, por extenso tratados, muitas vezes divididos em várias partes.
Acompanhe cinco delas:
- Poética : um tratado sobre a teoria da literatura e as artes dramáticas. Este trabalho é considerado uma das primeiras obras críticas sobre a natureza e os elementos da tragédia. Aristóteles analisa os componentes essenciais da tragédia, como enredo, personagens, pensamento, dicção, música e espetáculo.
- Retórica: explora a arte da persuasão a partir de três livros. A "Retórica" de Aristóteles examina os meios de persuasão, os estilos de discurso e os elementos emocionais que influenciam a audiência.
- Política: já citado ao longo deste texto, trata-se de uma análise detalhada da organização e funcionamento das comunidades políticas. Aristóteles examina as as formas de governo (monarquia, aristocracia e politeia) e suas corrupções (tirania, oligarquia e democracia desregrada), além de discutir a natureza do estado, a cidadania, a educação e o papel da virtude na vida pública.
- Ética a Nicômaco: um tratado ético que explora o conceito de virtude e a busca pela eudaimonia, ou felicidade plena. Aristóteles argumenta sobre a eudaimonia ser alcançada através da prática constante das virtudes, definidas como disposições habituais para agir de maneira justa, corajosa, temperada e generosa. É considerada uma das obras mais importantes sobre a filosofia moral.
- Metafísica: uma obra fundamental que investiga questões sobre a existência, a essência e a natureza do ser, abordando questões ontológicas centrais, como o que é ser, a natureza da realidade e a busca pela verdade última. Aristóteles também reflete sobre a causa primeira ou o motor imóvel, um princípio eterno e imutável que ele considera a causa final de todo movimento e mudança no universo. A "Metafísica" é uma das obras mais influentes da filosofia ocidental, estabelecendo fundamentos para a ontologia e a epistemologia.
Além de todas essas contribuições notáveis, a Aristóteles também é reservada a autoria de inúmeras frases de efeito, que, embora muitas vezes sucintas, são perspicazes, reverberando em sentido e significado através dos tempos, como:
“Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito”.
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Guia Essencial da Filosofia: Pensamento Clássico - um curso que apresenta o panorama da gênese do pensamento ocidental, a partir de um período que antecede o surgimento da filosofia, com os mitos e os épicos de Homero até Epicuro, passando também pelos pré-socráticos, o teatro grego, Sócrates, Platão e Aristóteles.
Referências:
MAYRINK, Raquel Ribeiro; MOREIRA, Leandro de Assis. O conceito de justiça em Aristóteles e sua relação com as ações afirmativas no direito do trabalho. Revista de Direitos Fundamentais nas Relações do Trabalho, Sociais e Empresariais. Eficácia de direitos fundamentais nas relações do trabalho, sociais e empresariais [Recurso eletrônico on-line]. Organização CONPEDI/UFMG/FUMEC/Dom Helder Câmara; coordenadores: Carlos Luiz Strapazzon, Luiz Fernando Bellinetti, Sérgio Mendes Botrel Coutinho – Florianópolis: CONPEDI, 2015. Disponível em: https://www-periodicos-capes-gov-br.ezl.periodicos.capes.gov.br/index.php/acervo/buscador.html?task=detalhes&source=&id=W2742805977. Acesso em: 15 jul. 2024.
ANGIONI, Lucas. Natureza, substância e metáfora em Aristóteles. Rónai: Revista de Estudos Clássicos e Tradutórios, v. 8, n. 2, p. 246-261, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/ronai/article/view/32433/21795. Acesso em: 15 jul. 2024.
"O homem é livre? Deus existe? O que é um comportamento ético?” Encontre a resposta para essas e outras questões com o professor Clóvis de Barros Filho! Uma jornada sobre os fundamentos de Platão, Aristóteles, Hobbes, Maquiavel, Nietzsche e Foucault.