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Aristóteles

Aristóteles
Tainá Voltas

Saber quem foi Aristóteles e o que ele pensava talvez seja um dos passos mais importantes para quem deseja aprofundar os conhecimentos acerca da história da filosofia , sobretudo, a da que diz respeito ao recorte ocidental. É o seu caso? Veja o que vai encontrar por aqui:

  • Quem foi Aristóteles?
    • A vida de Aristóteles
  • Quais são as bases do pensamento Aristotélico?
    • Como Aristóteles entendia a política?
    • Qual conceito de Ética para Aristóteles?
    • O que é a Justiça para Aristóteles?
    • O que pensava Aristóteles no campo da Lógica?
  • Qual a relação de Sócrates, Platão e Aristóteles?
    • As principais divergências entre Aristóteles e Platão
      • Filosofia de Platão
      • Filosofia de Aristóteles
    • Quais são as obras de Aristóteles?

Ao lado de Sócrates e Platão, Aristóteles compõe a renomada tríade do pensamento grego antigo, tendo desenvolvido estudos tão diversificados e profundos que seus resultados ainda são bases para reflexões contemporâneas.

Além disso, embora seja considerado um famoso discípulo de Platão, marca a sua trajetória exatamente por, a certo momento, distanciar-se daquilo que afirmava seu mentor, inaugurando uma nova corrente filosófica.

Esta etapa é caracterizada especialmente pela proeminência e valor do empirismo e pela inédita sistematização das áreas que, àquele período, tangenciavam a Filosofia Grega, como:

  • Lógica;
  • Biologia;
  • Física;
  • Retórica;
  • Justiça;
  • Astronomia;
  • Ética e moralidade;
  • Ciência;
  • Política;
  • Educação;
  • Literatura e ficção através de dramas e comédias, por exemplo.


Todos esses assuntos foram trabalhados detidamente por Aristóteles, em uma abordagem inovadora, organizada e estruturada. Por esse motivo, os estudos filosóficos a partir de então passaram a contar com três marcos principais:

Período Cosmológico ou Pré-Socrático Aquele no qual seus representantes (Demócrito, Tales de Mileto, Pitágoras, etc) dedicavam-se aos estudos do universo, da origem do mundo e dos motivos para as mudanças da natureza.
Período Socrático ou Antropológico Representando pelo aprofundamento das questões humanas e do "anthropos" (homem), sendo Sócrates, Platão e Xenofonte seus grandes expoentes.
Período Sistemático Orientado pela sistematização das ideias e teorias filosóficas conhecidas até então, com o objetivo de elaborar uma concepção racional e científica do mundo. Mesmo que Platão também seja reconhecido como pertencente a esse movimento, foi nas obras de Aristóteles e no seu esforço pioneiro de organizar as ideias difundidas na época que passou a ter força e aspectos otimizados. Trata-se de um trabalho mais abrangente, estruturado e científico, com uma abordagem disruptiva e analítica.


Na prática, o período sistemático e o socrático se relacionam na medida em que Platão é influenciado por seu mestre Sócrates, o qual, por sua vez, influencia seu discípulo Aristóteles.

Em uma exposição sobre a vida de Aristóteles, inclusive, Franklin Leopoldo e Silva afirma que "o aprendizado junto a um outro filósofo, de uma outra geração, é também, e ao mesmo tempo, o amadurecimento das ideias originais daquele que está aprendendo".

Ou seja, enquanto Aristóteles comungava das proposições de Platão, também se aventurou em desenvolver e questionar suas próprias teorias e pensamentos filosóficos. Descubra quais são elas e quem realmente foi Aristóteles nos demais tópicos deste texto.

busto de aristoteles
Estátua de Aristóteles na aldeia de Olympiada Halkidiki Grécia


Quem foi Aristóteles?

Aristóteles é considerado por muitos o primeiro cientista da História, uma vez que, além de adotar o empirismo como método de investigação, passou a sistematizar e ordenar as respostas encontradas nas suas pesquisas.

Nessa perspectiva, é representado como precursor e responsável por agrupar em áreas específicas os diversos saberes existentes e, com isso, dar início à chamada 3ª fase da Filosofia Ocidental - a sistemática.

A vida de Aristóteles

Filho do médico Nicômaco, Aristóteles nasceu em Estagira (384 a.C a 322 a.C), cidade da Macedônia, podendo dedicar-se aos estudos desde muito cedo.

Exemplo disso, mudou-se para Atenas aos 17 anos, a fim de concluir a sua jornada de aprendizado na já tradicional Academia de Platão - a primeira universidade da História, com espaço organizado para o ensino e para a produção do conhecimento.

Após cerca de duas décadas como aluno e, posteriormente, professor da instituição, período suficiente para render-lhe o título de um dos mais importantes e obstinados discípulos de Platão,Aristóteles se viu compelido a adotar outros caminhos.

Na época, com a morte de Platão, tanto o senso comum quanto o próprio Aristóteles apostaram na destinação do cargo de liderança da Escola ao filósofo - fosse por sua dedicação à ideologia Platônica ou pelo brilhantismo de suas ideias.

Entretanto, na prática, o próprio sobrinho do guru intelectual, Espeusipo, herdou a Academia depois de Platão . Diz-se que a decisão política teria levado em consideração o fato de Aristóteles ser estrangeiro e também as divergências fundamentais existentes entre ele e seu falecido mestre.

A partir desse momento, a jornada de Aristóteles desenvolveu-se de forma mais abrangente e com reflexos históricos bastante significativos.

Diante da ideia frustrada de ser o sucessor da dinâmica de ensino superior platônico, o filósofo retornou a Macedônia, tornando-se mentor e preceptor do filho do Rei Filipe II, o qual viria a se consagrar como “Alexandre, O Grande”.

Tempo depois, em 340 a.C, já reconhecido como Rei da Babilônia e da Ásia, Alexandre liderou uma campanha militar robusta de conquistas e unificação das cidades-Estado da Grécia, inclusive, de Atenas.

Nesse mesmo período, Aristóteles retornou à pólis helênica, que experenciava agora um contexto de declínio da democracia ateniense e de controle cultural sob domínio macedônico, estabelecendo em 335 a.C sua própria escola filosófica, o Liceu Aristotélico.

Por lá, estruturou cursos regulares sobre geometria, química, botânica, astronomia, matemática, física, entre outras disciplinas, dividindo os períodos do dia em uma ordem específica: discursos esotéricos pela manhã, portanto os internos e com temáticas mais difíceis, e exotéricos na parte da tarde, sempre mais acessíveis e para o grande público.

Além disso, Aristóteles utilizou neste espaço uma metodologia pautada no ensino realizado durante caminhadas pelos jardins do Liceu. Seus alunos, que o acompanhavam nesses trajetos, eram caracterizados como “peripatéticos", em tradução livre "aqueles que passeiam".

Ao longo dessa trajetória, elaborou ainda inúmeras obras nos mais variados campos, destacando-se nas áreas de:

  • biologia, com classificações animais exploradas por mais de mil anos;
  • observações da meteorologia e dos fenômenos naturais, como a chuva, vento e a escala do tempo geológico
  • abordagem da ética a partir de um código de conduta para o bem viver;
  • assim como na sistemática de tratados filosóficos que detalharam a prática da retórica e a importância da lógica e da metafísica, distinguindo matéria e forma

Por fim, com o falecimento de Alexandre, O Grande (em 323 a.C) e a consequente queda macedônica, Aristóteles se viu novamente obrigado a refazer suas escolhas.

Com receio de ter o mesmo fim de Sócrates (condenado à morte em Tribuna), visto que era interpretado como simpatizante do antigo governo, além de acusado de impiedade, deixou o cargo no Liceu, exilando-se em Cálcis, uma Ilha de Eubeia, local onde faleceu pouco tempo depois, em 322 a.C, aos 62 anos.

Visão do parque arqueológico do liceu de Aristóteles em Atenas.

O Parque Arqueológico do Liceu Aristotélico foi descoberto em 1996. Atualmente a visitação das suas ruínas em Atenas é permitida para turistas e interessados nos detalhes do outrora imponente templo da filosofia ocidental. (Fonte: site oficial - © 2024 Hellenic Heritage)

Quais são as bases do pensamento Aristotélico?

Assim como outras correntes gregas, a filosofia de Aristóteles circundava uma questão central: a ideia de "o que é ser", "o que significaria existir", "qual a explicação para as mudanças e inconsistências encontradas na realidade".

A partir do amadurecimento das concepções Platônicas, estruturou uma abordagem guiada pela observação empírica e pelo mundo da experiência , registrando os conhecimentos advindos dessa relação a partir da sistematização dos saberes.

Nesse sentido, o filósofo organizou em caráter inédito as diversas áreas intelectuais, as quais muitas delas, inclusive, mantêm-se com o mesmo nome nos dias de hoje. É o caso, por exemplo, da energia, dinâmica, indução, entre outros exemplos.

Suas obras e pensamentos influenciaram a Filosofia Escolástica e a Moderna, reafirmando a importância não só da criação de hipóteses, como da possibilidade de testá-las e catalogá-las.

Portanto, através, fundamentalmente, do empirismo e da sistematização, a filosofia de Aristóteles comprometeu-se a refletir sobre os seguinte pontos:

1) Como Aristóteles entendia a política?

Aristóteles concebia a política como uma extensão natural da ética, argumentando acerca do ser humano como naturalmente um "animal político”, ou seja, " destinado a viver em comunidade organizada".

Para ele, a cidade-estado (pólis) representava uma estrutura política ideal, na qual os cidadãos poderiam participar ativamente na governança, com o objetivo de buscar o bem comum, o que é justo e de interesse geral.

Em sua obra "Política", Aristóteles classifica diferentes formas de governo, distinguindo aquelas que visavam o benefício coletivo das que serviam aos interesses particulares:

  • realeza: caracterizada pelo governo daquele que é um só para todos;
  • aristocracia: de alguns para todos;
  • politeia (república): de todos para todos.


Nesta dinâmica, a tirania, a oligarquia e a democracia seriam, para o autor, deturpações, degenerações dos anteriores, respectivamente, não estabelecendo uma forma de governo a favor do bem comum.

Ainda assim, o filósofo defendia a soberania do povo, devendo esta ser limitada por algumas restrições, a fim de impedir que a pretensa vontade do povo se tornasse subproduto tirano ou corrompido de governo, quais sejam:

  • os órgãos de deliberação e julgamento, visto estes serem poderes coletivos expressos em uma Constituição;
  • e o dever de agir conforme as leis.

Nesse sentido, Aristóteles retomava a ideia de que a deliberação popular seria benéfica em comparação aquela realizada pelo indivíduo, porém, demandando a existência de um número suficiente de “homens de bem” para qualificar tais decisões. Caso não fosse possível, a realeza ainda se mostraria como a alternativa mais acertada.

Qual conceito de Ética para Aristóteles?

No texto "Ética a Nicômaco", Aristóteles desenvolve uma teoria ética centrada na busca pela eudaimonia, ou pela felicidade.

Segundo o filósofo, a eudaimonia não representava simplesmente o prazer ou sucesso material, mas o resultado da prática constante das virtudes ao longo da vida. Portanto, a ação conscientemente reiterada.

Aristóteles identificava as virtudes como disposições habituais para agir de maneira justa, corajosa, temperada e generosa, situadas no meio-termo entre dois extremos viciosos.

Nessa perspectiva, a ética aristotélica enfatizava a importância do desenvolvimento do caráter e da busca da harmonia na vida moral , compreendendo a ética para além de um conjunto de regras a serem seguidas.

O conceito abrangeria, na verdade, um caminho para alcançar a excelência pessoal e contribuir positivamente para a sociedade.

3) O que é a Justiça para Aristóteles?

Aristóteles assimilava a justiça como a mais alta das virtudes, sendo essencial para o funcionamento harmonioso da sociedade.

Em sua enciclopédia de obras, estabeleceu a discriminação da diferentes formas de justiça, como, por exemplo, a distributiva e a corretiva.

Enquanto a primeira dizia respeito à distribuição equitativa de bens e recursos na comunidade, baseada no mérito e nas necessidades individuais; a segunda, a justiça corretiva, ocupava-se de corrigir desigualdades e injustiças resultantes de transações desonestas ou danosas.

Aristóteles também enfatizava a importância de uma justiça geral, a que se referia à conformidade com a lei e com a moralidade no comportamento público e privado.

Para o filósofo, a prática da justiça era fundamental para promover a ordem social e o bem-estar coletivo.

4) O que pensava Aristóteles sobre a Lógica?

O campo lógico como é visto atualmente tem suas bases diretamente associadas a Aristóteles.

O filósofo é reconhecido por ser o fundador da lógica formal, tendo desenvolvido a teoria do silogismo como uma ferramenta essencial para o raciocínio dedutivo.

Um silogismo consiste em nada mais nada menos do que duas premissas que levam a uma conclusão lógica. Por exemplo:

"Todos os homens são mortais; Sócrates é um homem; portanto, Sócrates é mortal."

Tal estrutura lógica tornou-se o alicerce para a argumentação racional e científica ao longo da História, exercendo um impacto visceral sobre o desenvolvimento das ciências naturais, da metodologia da pesquisa acadêmica e da formulação de teorias em diversas disciplinas.

Aristóteles também explorou conceitos como a dedução, a indução e a definição, estabelecendo fundamentos sólidos para o pensamento crítico e a investigação sistemática.

5) Estudos Aristotélicos sobre Metafísica

Outra área para a qual Aristóteles direcionou esforços substanciais, a "Metafísica" representou um conjunto de 14 escritos deixados pelo filósofo e posteriormente separados e classificados por Andrônico de Rodes, o último discípulo do Liceu Aristotélico.

Os textos tratavam de uma espécie de Filosofia Primeira, Filosofia Anterior, ou simplesmente, filosofia do ser em geral, investigando também a teoria das quatro causas (material, formal, eficiente e final) como uma tentativa de explicar por que as coisas existem e ocorrem.

Causa Material Refere-se à substância da qual algo é feito. É o material básico ou a matéria-prima que constitui um objeto ou fenômeno.
Causa Formal Representa a forma ou a estrutura interna de um objeto, definindo as suas características distintivas e suas propriedades essenciais.
Causa Eficiente Indica a fonte ou a origem de um objeto, ou seja, o agente ou o processo que o traz à existência.
Causa Final Reflete o propósito ou o objetivo para o qual um objeto existe ou é produzido, considerando sua função ou destino final.


Nesse sentido, Aristóteles argumentava que todas as substâncias teriam uma causa material capaz de as constituir, uma forma que as definiria, uma causa eficiente que as originaria e uma causa final que determinaria o seu propósito ou objetivo.

Assim, a metafísica aristotélica buscava uma compreensão abrangente e sistemática do universo, explorando questões ontológicas fundamentais sobre a existência e a essência das coisas.

A profusão das bases do pensamento Aristotélico e a profundidade da Filosofia de Aristóteles para abarcar todas elas, proporcionou uma semelhante polinização dos seus estudos.

Aristóteles é aplicado a diferentes propósitos, desde insights valiosos sobre a natureza da existência, às discussões atemporais sobre ética, política e a ciência.

Qual a relação de Sócrates, Platão e Aristóteles?

A relação de Sócrates, Platão e Aristóteles se dá não apenas por meio de suas influências diretas, mas também pela forma como todos moldaram, expandiram e estabeleceram fundamentos inovadores para a humanidade

Os três filósofos contribuíram ativamente para o desenvolvimento da filosofia ocidental na Grécia Antiga, cada um com uma especificidade.

Sócrates: Platão: Aristóteles:
Visto como o fundador da filosofia ocidental ética e do método socrático, Sócrates enfatizava o questionamento constante e a busca pela verdade através do diálogo dialético.

Influenciou profundamente Platão, seu discípulo mais famoso.
Seguidor de Sócrates, Platão é conhecido por seus diálogos filosóficos que exploram uma diversificada agenda de temas, incluindo ética, política, epistemologia e metafísica.

Fundou a Academia de Atenas, uma das primeiras instituições de ensino superior do mundo ocidental - local que possibilitou o florescimento do pensamento platônico.
Discípulo de Platão, Aristóteles tem renome por sua vasta contribuição para a lógica, metafísica, ética, política, biologia e diversas outras áreas do conhecimento.

Divergiu do idealismo de Platão ao enfatizar uma abordagem mais empirista e sistemática para o estudo da natureza e do pensamento humano.


Dessa relação é necessário ainda destacar as divergências existentes entre mentor e discípulo, Sócrates e Aristóteles.

As principais divergências entre Aristóteles e Platão

Antes de assimilar os aspectos que distanciam Platão e Aristóteles , é recomendável a construção de uma consciência sobre aquilo que os aproxima.

Em suas investigações, Aristóteles parte de um mesmo problema característico a outras filosofias gregas desde o período pré-socrático: “como explicar a mudança?”, “como remetê-las a um elemento estável?”, “como compreender a instabilidade, visto a perspectiva de estabilidade ser essencial para explicar as mudanças e o mundo imediatamente real?”.

Para isso, assim como Platão, adota a dinâmica estruturante do dualismo e da concepção de dois mundos, porém não concebe essa organização de forma transcendente como seu mentor fazia, mas sim em caráter imanente.

Em outras palavras isso significa dizer que a Filosofia de Platão e a Filosofia de Aristóteles utilizam igualmente recursos dualistas para tentar compreender e explicar o Paradoxo de Parmênides, o qual afirma “só o ser é” e “o não-ser não é”.

Ou seja, ambos partem do mesmo problema, com uma solução que é estruturalmente análoga, entretanto apresentando resultados distintos. Veja

Filosofia de Platão

Platão busca resolver a questão do ser, das mudanças e das instabilidades através da separação dualista de um “mundo sensível” e outro “inteligível”.

Para ele, o estabelecimento do “mundo das aparências” e o do “mundo das essências e ideias” solucionaria o dilema de Parmênides, representando uma passagem do ser para aquele do não-ser.

Assim, para Platão , o mundo da verdade (aquele das ideias e do intelecto) está acima e separado do mundo das mudanças e das instabilidades (mundo sensível), de tal forma que passar da existência instável para aquela essencial e absolutamente estável e imutável representa uma elevação, um ato de transcendência.

  • Platão : realidade dividida em duas. O mundo das ideias (mundo inteligível) e o mundo sensível (mundo material);
  • O mundo das ideias só seria alcançado através da razão, portanto, pelo intelecto - onde estaria o conhecimento verdadeiro e a essência das coisas;
  • O mundo sensível seria uma ilusão, algo falso, por ser apenas uma cópia imperfeita do mundo das ideias;
  • A percepção do mundo sensível daria-se através dos cinco sentidos humanos (tato, paladar, olfato, visão e audição). Entretanto, para Platão, esses sentidos seriam limitados e tendentes ao erro, não sendo confiáveis para alcançarem oconhecimento verdadeiro.
  • A passagem do mundo sensível para o inteligível representaria um ato de transcendência.


Filosofia de Aristóteles

Por outro lado, embora também dualista, Aristóteles pressupõe a não separação entre o mundo das ideias e o mundo sensível, sendo ambos parte da mesma realidade - a qual é feita de uma multiplicidade de coisas.

Para ele, a segregação dos dois mundos torna-se desnecessária e sem efeito à medida que representa uma fuga da realidade sensível e não uma solução. Isso porque o filósofo defende que é possível encontrar no mundo inteligível (das ideias), o qual pensa-se fazer existir para solucionar os desafios do mundo sensível (fático), problemas semelhantes aos característicos do mundo material.

Assim, Aristóteles considera que, a partir de uma avaliação aprofundada daquilo que Platão enunciou, é possível elencar diversas dificuldades insolúveis pertencentes à base da sua ideologia, dando à instituição do mundo das idéias uma definição mais problemática do que efetivamente uma solução.

Dificuldade 1:

Para cada ser sensível, há que haver no mundo das ideias um protótipo, um arquétipo. Aquilo que é a essência do objeto sensível e lhe confere realidade.

Nessa sistemática, pode-se supor que na criação de um objeto novo no plano material ele também seguirá o mesmo ritmo no mundo das ideias?

Sabendo que os arquétipos são eternos e imutáveis, não podendo surgir ou desaparecer, o questionamento e a separação dos dois mundos tornam-se infundadas, desestabilizando as Teorias de Platão sobre a divisão dos mundos sensível e inteligível.
Dificuldade 2:

Todas as coisas do mundo sensível estão em constante transformação e não são iguais em dois momentos distintos do tempo.

Consequentemente, se são diferentes, e muitas vezes completamente diferentes, será que a isso também correspondem diferenças essenciais e diferentes arquétipos no mundo das ideias?
Dificuldade 3:

Toda comparação para que se possa estabelecer uma analogia, semelhança, ou outro tipo de relação, supõe critérios. Se há uma comparação, ela é realizada em relação a alguma outra coisa.

Portanto, a comparação do objeto sensível e a do inteligível exige um critério, sendo este uma terceira realidade. Dessa forma, caso Platão estivesse correto, existiriam três mundos e não somente dois.


Nessa dinâmica, Aristóteles diz abordar as dificuldades citadas anteriormente para demonstrar a ineficiência da solução de Platão e como forma de pensar um dualismo que escape de tais percalços.

Diante disso, argumenta sobre a não duplicação dos mundos, sendo a realidade o “aqui e agora”.

Ou seja, o filósofo deixa de pensar em dois mundos distintos para focar nas duas maneiras de considerar o mesmo mundo - uma pela sensibilidade e outra pelo intelecto ou inteligibilidade, simbolizando a ruptura significativa com seu antecessor.

  • Aristóteles: Não há uma separação de mundo sensível e mundo inteligível, ambos são um só. O primeiro é ordenado pelo segundo através de recursos e sentidos intelectuais;
  • Aristóteles defende que a realidade desordenada ainda reserva o conhecimento, desde que o homem saiba aplicar à essa realidade as condições intelectuais que a tornam inteligível;
  • A essência das coisas encontra-se nas próprias coisas. Ou seja, na realidade habitada;
  • Os mundos se relacionam de uma forma imanente e não transcendente;
  • O conhecimento do mundo advém, inicialmente, dos sentidos, para, depois da experiência sensível, gerar ideias por meio do intelecto e da razão;
  • As ideias se revelavam depois das experiências da sensação.


Quadro de Rafael Sanzio sobre a Escola de Atenas com Aristóteles e Platão.
No quadro “Escola de Atenas” de Rafael Sanzio é possível observar ao centro da tela a presença de Aristóteles e Platão. Enquanto o primeiro aponta para acima, fazendo uma alusão ao conhecimento das ideias, o segundo orienta sua mão para baixo como se priorizasse o conhecimento terreno. A pintura evidencia a marcante divergência entre os filósofos. (Fonte: domínio público)


Quais são as obras de Aristóteles?

Atualmente, encontram-se disponíveis 22 textos como de autoria de Aristóteles , sendo eles caracterizados, em sua maioria, por extenso tratados, muitas vezes divididos em várias partes.

Acompanhe cinco delas:

  1. Poética : um tratado sobre a teoria da literatura e as artes dramáticas. Este trabalho é considerado uma das primeiras obras críticas sobre a natureza e os elementos da tragédia. Aristóteles analisa os componentes essenciais da tragédia, como enredo, personagens, pensamento, dicção, música e espetáculo.
  2. Retórica: explora a arte da persuasão a partir de três livros. A "Retórica" de Aristóteles examina os meios de persuasão, os estilos de discurso e os elementos emocionais que influenciam a audiência.
  3. Política: já citado ao longo deste texto, trata-se de uma análise detalhada da organização e funcionamento das comunidades políticas. Aristóteles examina as as formas de governo (monarquia, aristocracia e politeia) e suas corrupções (tirania, oligarquia e democracia desregrada), além de discutir a natureza do estado, a cidadania, a educação e o papel da virtude na vida pública.
  4. Ética a Nicômaco: um tratado ético que explora o conceito de virtude e a busca pela eudaimonia, ou felicidade plena. Aristóteles argumenta sobre a eudaimonia ser alcançada através da prática constante das virtudes, definidas como disposições habituais para agir de maneira justa, corajosa, temperada e generosa. É considerada uma das obras mais importantes sobre a filosofia moral.
  5. Metafísica: uma obra fundamental que investiga questões sobre a existência, a essência e a natureza do ser, abordando questões ontológicas centrais, como o que é ser, a natureza da realidade e a busca pela verdade última. Aristóteles também reflete sobre a causa primeira ou o motor imóvel, um princípio eterno e imutável que ele considera a causa final de todo movimento e mudança no universo. A "Metafísica" é uma das obras mais influentes da filosofia ocidental, estabelecendo fundamentos para a ontologia e a epistemologia.

Além de todas essas contribuições notáveis, a Aristóteles também é reservada a autoria de inúmeras frases de efeito, que, embora muitas vezes sucintas, são perspicazes, reverberando em sentido e significado através dos tempos, como:

“Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito”.


Continue por aqui:

Guia Essencial da Filosofia: Pensamento Clássico - um curso que apresenta o panorama da gênese do pensamento ocidental, a partir de um período que antecede o surgimento da filosofia, com os mitos e os épicos de Homero até Epicuro, passando também pelos pré-socráticos, o teatro grego, Sócrates, Platão e Aristóteles.


Referências:

MAYRINK, Raquel Ribeiro; MOREIRA, Leandro de Assis. O conceito de justiça em Aristóteles e sua relação com as ações afirmativas no direito do trabalho. Revista de Direitos Fundamentais nas Relações do Trabalho, Sociais e Empresariais. Eficácia de direitos fundamentais nas relações do trabalho, sociais e empresariais [Recurso eletrônico on-line]. Organização CONPEDI/UFMG/FUMEC/Dom Helder Câmara; coordenadores: Carlos Luiz Strapazzon, Luiz Fernando Bellinetti, Sérgio Mendes Botrel Coutinho – Florianópolis: CONPEDI, 2015. Disponível em: https://www-periodicos-capes-gov-br.ezl.periodicos.capes.gov.br/index.php/acervo/buscador.html?task=detalhes&source=&id=W2742805977. Acesso em: 15 jul. 2024.

ANGIONI, Lucas. Natureza, substância e metáfora em Aristóteles. Rónai: Revista de Estudos Clássicos e Tradutórios, v. 8, n. 2, p. 246-261, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/ronai/article/view/32433/21795. Acesso em: 15 jul. 2024.

Mais informações
Nascimento:
384 a.C - 322 a.C
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Perguntas frequentes

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