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Michel Foucault

Michel Foucault
Xavana Celesnah

Michel Foucault: filósofo analisou as diferentes formas de Poder

Michel Foucault foi um filósofo e psicólogo francês do século XX, que estudou profundamente o conceito de poder na sociedade contemporânea. Desenvolveu a ideia de microfísica do poder, demonstrando que instituições como escolas, hospitais, quarteis e até mesmo grupos de amigos estão permeados por relações de poder, que pretendem docilizar os corpos através da disciplina.

Foucault escreveu obras marcantes como História da Loucura e História da Sexualidade e seu legado é de suma importância não apenas para a Filosofia, mas também para as Ciências Sociais, a Psicologia, a Psiquiatria e a História. Neste artigo, vamos abordar a vida e os principais livros de Michel Foucault, além de conceitos como microfísica do poder, biopoder e panóptico. Confira!



Quem é Michel Foucault?

Paul-Michel Foucault foi um pensador francês que nasceu no dia 15 de outubro de 1926, na cidade de Poitiers, em uma família tradicional de médicos. Ele não atendeu às expectativas de seu pai, Paul Foucault, médico cirurgião e professor de anatomia, que desejava que o filho seguisse a carreira de medicina. Desde jovem, Michel Foucault já revelava um forte interesse por História e Filosofia. Sua mãe, Anna Malapert, ao contrário de seu pai, o apoiou em sua decisão de estudar filosofia.

Em 1945, mudou-se para Paris e no ano seguinte ingressou na Escola Normal Superior de Paris, onde se formou em filosofia. Foi aluno do filósofo Jean Hippolyte, que o introduziu aos trabalhos de Hegel e de Louis Althusser. Foucault se interessou profundamente por psicologia, psiquiatria e psicanálise, além de ter estudado as obras de filósofos como Platão, Hegel, Marx, Nietzsche, Freud e Kant.

Após concluir sua graduação em Filosofia, em 1951, Foucault obteve o diploma em Psicologia no ano seguinte. Aos 28 anos, publicou Doença Mental e Psicologia. Trabalhou alguns anos como diplomata cultural no exterior e, ao retornar à França, publicou o livro A História da Loucura, que o consagraria entre os maiores pensadores contemporâneos. Atuou como psicólogo em hospitais e prisões, além de exercer a docência universitária.

Ao longo de sua trajetória, ministrou palestras em diversas universidades europeias e norte-americanas, incluindo duas passagens pela Universidade de São Paulo (USP), a primeira em 1965 e a segunda em 1975.

Entre 1966 e 1968, Foucault lecionou na Universidade de Túnis, na Tunísia, antes de retornar à França, onde assumiu a direção do departamento de Filosofia na Universidade Paris VIII. Em 1970, foi nomeado professor no Collège de France, onde ocupou a cátedra de História dos Sistemas do Pensamento até sua morte, em 1984.

Sua trajetória intelectual foi marcada por uma incessante busca para compreender as diferentes formas de poder e como elas se manifestam na sociedade. Foucault dedicou-se a investigar como os discursos, instituições e práticas sociais moldam e disciplinam os indivíduos e as sociedades. Sua experiência prática como psicólogo em hospitais e penitenciárias contribuiu para a elaboração de obras como Vigiar e Punir e História da Loucura.

Antes de falecer, ele publicou O Uso dos Prazeres, que analisa a sexualidade na Grécia Antiga, e O Cuidado de Si. Foucault morreu em 25 de junho de 1984, aos 57 anos, em decorrência de complicações relacionadas à AIDS, mas seu legado continua vivo, influenciando as ciências sociais e a filosofia contemporânea.

Se você quiser entender melhor a noção do “cuidado de si” desenvolvida por Foucault, assista às aulas do professor de História da Filosofia Antiga, Mauricio Pagotto Marsola, que abordam a relação entre conhecimento e cuidado de si nos pensamentos de Sócrates, Platão e Foucault. Clique no botão abaixo e veja um trecho da aula gratuitamente:



Quais são as Fases do Pensamento de Foucault?

O trabalho de Foucault pode ser dividido em três fases distintas: a primeira delas é a arqueologia do saber; a segunda, trata do método genealógico, onde ele aborda as formas de poder e a última fase está voltada para suas investigações acerca da sexualidade, com a publicação dos dois últimos volumes da série inacabada História da Sexualidade. Embora frequentemente relacionado ao pós-estruturalismo, Foucault preferia caracterizar seu pensamento como uma investigação crítica da modernidade.

Primeira Fase: A Arqueologia do Saber

Nessa fase, Foucault desenvolve o conceito de arqueologia do conhecimento, focando em como as formas de saber se estruturam ao longo da história e como as ciências humanas surgem e se consolidam. Ele investiga as condições históricas que possibilitam a formação dos saberes, utilizando o seu “método arqueológico”. Também analisou, nesse período, a Filosofia, a Linguística e a Literatura. As principais obras da fase arqueológica são:

  • As Palavras e as Coisas (1966)
  • A Arqueologia do Saber (1969)


Segunda Fase: A Genealogia do Poder

Na segunda fase de sua obra, Foucault passa a entender o poder como algo disseminado por toda a sociedade, em vez de centralizado em uma autoridade estatal, por exemplo. Além disso, ele investiga como as práticas sociais, políticas e morais se formaram a partir de relações de poder, colocando a liberdade em xeque. Influenciado por suas experiências em clínicas e instituições correcionais e pelo método genealógico de Nietzsche, ele examina a evolução das práticas de punição e controle social, além da construção do discurso sobre a sexualidade como forma de controle. Esse período é marcado pela publicação de obras como:

  • Vigiar e Punir (1975)
  • A Vontade de Saber (1976 - primeiro volume de História da Sexualidade)


Terceira Fase: Ética, Moral e Sexualidade

Na terceira fase de sua obra, Foucault se concentra em estudar ética e moralidade, destacando a noção do “cuidado de si", uma prática originada na filosofia grega antiga. Ele investiga como a moralidade e o comportamento sexual foram regulados ao longo da história, vinculando essas questões ao poder e à formação do sujeito ético. Suas principais obras dessa fase incluem:

  • A História da Sexualidade Volume 2: O Uso dos Prazeres (1984)
  • A História da Sexualidade Volume 3: O Cuidado de Si (1984)


Principais Livros de Michel Foucault

Michel Foucault escreveu uma série de obras fundamentais que abordam temas como poder, saber, sexualidade e a formação do sujeito. A seguir, listamos alguns dos principais livros de Michel Foucault:

  • História da Loucura (1961)
  • Doença Mental e Psicologia (1962)
  • O Nascimento da Clínica (1963)
  • As Palavras e as Coisas (1966)
  • A Arqueologia do Saber (1969)
  • Isto Não é um Cachimbo (1973)
  • Vigiar e Punir (1975)
  • História da Sexualidade: Volume 1 - A Vontade de Saber (1976)
  • História da Sexualidade: Volume 2 - O Uso dos Prazeres (1984)
  • História da Sexualidade: Volume 3 - O Cuidado de Si (1984)
  • Microfísica do Poder (1982, coletânea de palestras)
  • A Ordem do Discurso (1971, conferência)
  • Sociedade e Poder (coletânea de palestras de 1977–1978


História da Loucura de Michel Foucault (1961)

capa do livro 'História da Loucura', de Michel Foucault

História da Loucura é considerado o primeiro trabalho significativo de Foucault, no qual ele examina a evolução da concepção de loucura na sociedade ocidental. O filósofo analisa como a loucura foi tratada ao longo da história e como as instituições psiquiátricas desempenharam um papel crucial na marginalização dos indivíduos considerados "loucos".

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Vigiar e Punir (1975)

capa do livro Vigiar e Punir de Michel Foucault

Vigiar e Punir é uma obra que se insere na investigação genealógica de Foucault, que busca entender as origens de certas práticas e discursos, conectando-os com as relações de poder. O filósofo argumenta que as relações de poder geram saberes, e esses saberes, por sua vez, produzem efeitos de poder. No livro, ele analisa a evolução das práticas disciplinares nas sociedades ocidentais, com foco nas prisões, e explora a transição do poder soberano, caracterizado pela violência, para o poder disciplinar, mais sutil e focado na vigilância. O autor revela como esses sistemas de punição passaram a normatizar e controlar os corpos na sociedade moderna.

A Arqueologia do Saber (1969)

capa do livro A Arqueologia do Saber, de Michel Foucault

A Arqueologia do Saber é uma das obras fundamentais de Foucault, onde ele aborda a epistemologia e os métodos utilizados para analisar as disciplinas do conhecimento. O filósofo investiga como as ideias, linguagens e saberes se formam e são legitimados ao longo do tempo dentro das sociedades. O livro se concentra em como as formas de conhecimento são constituídas e como se tornam aceitas e institucionalizadas nas diversas esferas sociais.

História da Sexualidade (1976)

capa do livro História da Sexualidade, de Michel Foucault

Em História da Sexualidade, Foucault analisa como a sexualidade foi moldada como um instrumento de poder nas sociedades ocidentais. No primeiro volume, A Vontade de Saber (1976), argumenta que, em vez de ser silenciada, a sexualidade foi intensamente regulamentada e definida por normas sociais e pelo discurso médico, refletindo relações de poder.

Em 1984, Foucault publicou os volumes O Uso dos Prazeres, que examina a sexualidade na Grécia Antiga, e O Cuidado de Si, que aborda a Roma Antiga. A série de livros sobre a sexualidade permaneceu inacabada, mas os livros que foram publicados analisam a constituição do desejo sexual e como ele foi regulado ao longo do tempo, destacando o papel das instituições sociais nesse processo.

O que é o Biopoder de Michel Foucault?

O conceito de biopoder em Michel Foucault descreve formas de poder que não se manifestam por meio de proibições diretas, mas pelo controle da vida em sociedade. O filósofo introduz o conceito de biopoder no livro História da Sexualidade, relacionando a ideia a uma forma do Estado controlar os indivíduos, através de políticas públicas, coletas de dados e disciplina dos corpos.



A disciplina agiria de forma mais sutil, mas igualmente eficaz na subjugação das pessoas, em comparação com o poder soberano. Foucault descreve assim a microfísica do poder, exercida em instituições como escolas, hospitais, prisões e fábricas, onde técnicas disciplinares adestram os indivíduos. Por outro lado, ele também aborda a macrofísica do poder, controle exercido por uma autoridade central, como um monarca, que usava o medo e punições físicas para dominar a população. Assim, Foucault propõe que o poder não se limita à violência explícita, mas se espalha por formas sutis de controle que influenciam os comportamentos e a subjetividade dos indivíduos.

Mecanismos de Adestramento dos Corpos para Foucault

MECANISMOS DE ADESTRAMENTO RESUMO
Arte da Distribuição Distribuição dos Corpos no Espaço, em Quadriculamentos, em locais como indústrias, hospitais, escolas
Controle das Atividades Controle do Tempo, do horário em que as pessoas entram e saem de determinadas instituições, como escolas, quarteis
Organização das Genesis Como são as técnicas para a evolução da aprendizagem
Composição das Forças Combinações de indivíduos que promovem uma maior docilidade e utilidade. Cada corpo se constitui uma peça numa engrenagem, onde há uma obediência por meio de sinais


O Panóptico e a Vigilância Social em Michel Foucault

Em Vigiar e Punir, Foucault utiliza a metáfora do panóptico – uma estrutura prisional idealizada pelo filósofo Jeremy Bentham – para ilustrar como as instituições modernas utilizam a vigilância constante para disciplinar os corpos e adestrar comportamentos.

O panóptico é uma torre localizada no centro de uma prisão que permite a observação de todos os prisioneiros, criando uma sensação de vigilância permanente. Foucault estende essa metáfora à sociedade contemporânea, sugerindo que estamos constantemente sob observação, com a possibilidade de punição a qualquer momento.

Nesse sistema, cada indivíduo se transforma, potencialmente, em um observador de si mesmo e dos outros. Foucault afirma que a vigilância não se limita a punir, mas também incentiva a auto-monitorização, resultando na internalização das regras e no controle dos comportamentos. Para ele, as prisões não têm o objetivo de reabilitar os indivíduos, mas sim de exercer controle sobre eles. De forma semelhante, instituições como escolas, fábricas, quartéis e hospitais operam como prisões, impondo normas e disciplinando os corpos dos seus membros.

Conclusão

Michel Foucault transformou profundamente a maneira como compreendemos as relações de poder e saber nas sociedades contemporâneas. Sua análise das instituições, da disciplina e da produção do conhecimento continua a ser uma referência essencial para os pensadores atuais. O impacto de suas ideias se reflete na forma como hoje entendemos o controle social, as estruturas de poder e os mecanismos de manipulação social.

Perguntas Frequentes sobre Michel Foucault

O que é a Microfísica do Poder para Foucault?

A microfísica do poder é o conceito de Foucault que descreve o poder como algo disperso e exercido em pequenas interações cotidianas. Ao invés de ser centralizado em um governante ou uma autoridade única, o poder circula por diversos espaços e práticas sociais, como nas escolas, hospitais, fábricas e prisões. Esse poder é mais sutil, mas igualmente eficaz, pois se manifesta em normas e comportamentos que moldam a sociedade.

Qual é a diferença entre o poder soberano e o poder disciplinar segundo Foucault?

Foucault diferencia o poder soberano, caracterizado pela violência direta e pela punição física (como execução e tortura), do poder disciplinar, que age de maneira mais sutil, com o objetivo de normatizar e controlar o comportamento por meio de vigilância e práticas de disciplina. O poder disciplinar, ao contrário do soberano, cria sujeitos "dóceis" por meio de técnicas que regulam os corpos e comportamentos.





Referências

https://colunastortas.com.br/michel-foucault/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Michel_Foucault

Mais informações
Nascimento:
1926 - 1984
Escolas
Filosofia Francesa Contemporânea
Abordagem:
Análise das relações de poder, Estudos sobre sexualidade e biopolítica
Épocas:

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