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Simone de Beauvoir

Simone de Beauvoir
Xavana Celesnah

Simone de Beauvoir, uma das mais influentes pensadoras do século XX, foi uma filósofa e escritora francesa que revolucionou os estudos sobre a condição feminina e o feminismo. Em sua obra mais famosa, O Segundo Sexo, ela investiga o que significa ser mulher, destacando que "ninguém nasce mulher, torna-se mulher", e desafiando as noções tradicionais que limitavam o comportamento feminino à biologia.

Simone de Beauvoir: Livros, Feminismo e Biografia

Sua filosofia existencialista, ao afirmar que "a existência precede a essência", influenciou sua análise da mulher como um ser moldado pelas experiências e pela sociedade patriarcal. Além de sua contribuição intelectual, Beauvoir foi uma ativista, participou da resistência francesa contra o nazismo e manteve um relacionamento aberto com o filósofo Jean-Paul Sartre, com quem compartilhou suas reflexões sobre liberdade e identidade.

Biografia de Simone de Beauvoir

Simone Lucie Ernestine Marie Bertrand de Beauvoir nasceu em Paris, no dia 9 de janeiro de 1908, em uma família burguesa. Seu pai, o advogado Georges Bertrand de Beauvoir se interessava por dramaturgia e encorajava a filha a pensar criticamente e a desafiar as convenções sociais, o que a influenciou desde jovem. Sua mãe, Françoise Brasseur, por sua vez, era uma católica fervorosa, o que levou Simone a experimentar uma rígida educação religiosa, que logo seria rejeitada pela escritora.

Simone e sua irmã, Hélène, estudaram na Adeline Désir Institut, uma tradicional escola católica, voltada exclusivamente para meninas. Desde criança, a futura escritora já se destacava na família devido à sua dedicação aos estudos e à leitura.

Com cerca de 9 anos de idade, Simone conhece Zaza (Elisabeth Lacoin) que seria sua melhor amiga até a morte precoce, em 1929. Inclusive, um dos livros de Simone de Beauvoir, intitulado As Inseparáveis, aborda a amizade das duas.

Entre as influências que marcaram a jovem intelectual, uma personagem da literatura ganha destaque: Jo March, do clássico romance Adoráveis Mulheres, escrito por Louisa May Alcott. A personagem, assim como a própria Simone de Beauvoir, não queria casar, pois tinha o sonho de seguir a carreira de escritora. A independência intelectual de Simone já refletia precocemente um desejo de romper com as expectativas tradicionais impostas às mulheres.

Formação Acadêmica e Início de Carreira

Apesar de crescer em um ambiente familiar religioso e tradicional, Simone conseguiu despertar sua curiosidade intelectual e levar a cabo seu sonho de adolescente: tornar-se escritora. Em 1925, aos 17 anos, foi aprovada no exame que dava acesso às universidades e licenciou-se em Matemática e Letras Clássicas.

Em 1927, conquistou o certificado em História, Filosofia, Filosofia Geral e Grego pela Sorbonne, em Paris. Ela foi uma das primeiras mulheres a estudar filosofia na universidade, numa época em que as mulheres ainda não tinham o direito ao voto na França nem acesso a esse tipo de educação. Foi na Sorbonne que ela conheceu o filósofo Jean-Paul Sartre, com quem teria um relacionamento amoroso não convencional pelo resto da vida. Inclusive, os dois estão enterrados no mesmo túmulo no Cemitério de Montparnasse, em Paris.

Simone de Beauvoir e o filósofo Jean-Paul Sartre juntos na praia de Copacabana.
Apesar do companheirismo de uma vida inteira com o pensador existencialista, Simone não se casou e não era favorável ao casamento. Para ela, o casamento era uma condição “imoral” imposta às mulheres, por ser definido como um laço eterno, sem levar em consideração que as vontades das partes podem modificar com o passar do tempo.


Aos 21 anos de idade, Simone de Beauvoir torna-se a pessoa mais jovem a ser aprovada no rigoroso exame nacional Agregatión, um concurso para se tornar professora do ensino público francês. E no ano de 1929, torna-se a primeira mulher a ensinar em um Liceu masculino, um marco do início de uma nova era das mulheres no mercado de trabalho.

Foi nessa mesma época que ela e Sartre fizeram um pacto amoroso: ela aos 21 e ele aos 24 anos, decidiram ser sempre verdadeiros e leais um com o outro, mesmo sem estabelecer um vínculo matrimonial. Esse pacto causou curiosidade nos setores mais conservadores da sociedade e até hoje é motivo de polêmica.

De 1931 a 1935, Simone trabalhou como professora nas cidades provincianas de Marselha e Rouen. Ela volta a Paris em 1936, aos 27 anos, para ensinar no Liceu Molière. Foi lá que aconteceram seus famosos casos amorosos com alunas. Simone teria se relacionado com as estudantes Olga, de 19 anos, Bianca, de 17 anos e Nathalie, de 20 anos. E manteve uma amizade com elas por toda a vida.

Contexto Histórico

Diante desse cenário de poliamor vivido por Simone de Beauvoir, eclode em 1939 a Segunda Guerra Mundial. Jean-Paul Sartre é convocado junto com seu amigo Jacques-Laurent Bost para servir às forças francesas. É nessa época que Simone começa a apresentar suas primeiras crises nervosas que permaneceriam pelo resto de sua vida.

Em 1940, os alemães invadem Paris e Simone foge para o interior com a família da sua aluna Bianca. Sartre acaba sendo preso e só volta à liberdade em 1941, quando se reúne com Simone, já de volta a Paris, e outros intelectuais para organizar a resistência francesa contra a ocupação nazista.

É durante a guerra que Simone começa a escrever o seu primeiro romance, A Convidada, cujo lançamento aconteceria apenas em 1943. A história é inspirada no relacionamento entre ela, sua aluna Olga, Sartre e seu amigo Jacques-Laurent Bost.

Neste mesmo ano, a filósofa perde o seu cargo de funcionária pública do ensino francês, após sofrer uma acusação da mãe de Nathalie Sorokine, uma de suas alunas com quem mantinha uma relação amorosa. Porém, no tribunal, Nathalie negou as acusações de sua mãe contra Simone, ao afirmar que já era maior de idade e que as relações entre as duas eram consensuais. Apesar de não ser condenada pelo governo nazista, Simone de Beauvoir perdeu o emprego devido aos seus casos amorosos com estudantes e ao seu relacionamento aberto com Sartre.

Daí em diante, a escritora passa a trabalhar numa rádio. Existiam apenas duas rádios nacionais na época: a Rádio Paris e a rádio Vichy. Ambas estavam sob o domínio nazista. Mas, apesar disso, Simone não colaborou com propagandas do regime. Seu trabalho era como pesquisadora de música na Idade Média.

Quando a guerra acabou, em 1945, Simone de Beauvouir fundou uma revista política, filosófica e literária chamada Les Temps Modernes, ao lado de Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty. A revista teve suas publicações encerradas em 2019, após 74 anos de atividade.

Em 1986, Simone de Beauvoir viria a falecer vítima das complicações decorrentes da pneumonia em Paris, com 78 anos de idade.


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Zélia Gattai Amado, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Jorge Amado e Mãe Senhora durante visita de Sartre e Simone ao Brasil.
Simone de Beauvoir também era uma viajante e conheceu grande parte do mundo. Rodou basicamente toda a Europa, foi para a Ásia, para a África, para as Américas. Conheceu o Brasil em 1960, com Sartre. Eles permaneceram dois meses aqui e conheceram o Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Ouro Preto, Fortaleza e Manaus, em uma visita organizada por Jorge Amado e Zélia Gattai. Créditos: A exposição Jorge Amado e Zélia Gattai, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir: Memórias de Viagem / Fundação Casa de Jorge Amado.


Principais Obras de Simone de Beauvoir

As obras de Simone de Beauvoir englobam uma vasta gama de gêneros, incluindo romances, ensaios filosóficos, textos jornalísticos e autobiografias. Dentre os livros de Simone de Beauvoir, o mais importante é O Segundo Sexo, mas há outras publicações igualmente fundamentais para entender seu pensamento e legado.

Ela também escreveu uma peça de teatro, intitulada As Bocas Inúteis - que é uma crítica aos regimes políticos totalitários - e vários romances, como O Sangue dos Outros e Todos Os Homens São Mortais.

O Segundo Sexo

Em sua obra mais famosa, O Segundo Sexo, onde investiga o que é ser mulher, ela inaugura um novo campo de estudo, trazendo à tona temas que não eram considerados relevantes para a filosofia, como a liberdade da mulher e sua objetificação diante do sujeito, que seria o homem.

Simone de Beauvoir toma por base para suas reflexões a filosofia existencialista, cujo preceito central é a ausência de uma essência primordial que moldaria a existência humana. Assim, ao lado de Jean-Paul Sartre, ela concordava com a premissa “a existência precede a essência”. Ou seja, que o ser humano é formado a partir de suas experiências. Primeiro, ele surge no mundo, se descobre e vai se responsabilizando pelo que se torna. Nesse sentido, para a filosofia existencialista não existe determinismo.

A filósofa incorpora essa ideia primordial do existencialismo para abordar a questão da formação social da mulher, colocando em xeque antigos conceitos que definiam o comportamento feminino a partir da biologia.

Desde muito jovem, ela refletia sobre o que significava ser mulher para ela e para a sociedade. E esse pensamento, ao lado de suas críticas sobre a liberdade no contexto do existencialismo, se tornou a base para a criação de O Segundo Sexo, publicado em 1949. Dividido em dois volumes, o livro faz uma análise histórica e filosófica da situação das mulheres ao longo dos séculos. No primeiro volume, "Fatos e Mitos", Beauvoir discute como as mulheres foram vistas na literatura, filosofia e religião. No segundo volume, "A Experiência Vivida", ela explora como a mulher é tratada e moldada pela sociedade desde o nascimento até a velhice.

O livro, que posteriormente seria considerada sua obra prima, foi duramente criticado, tanto pela direita quanto pela esquerda. Mas, até hoje é considerado um marco no feminismo moderno, sendo uma obra fundamental para compreender de que forma a opressão de gênero foi historicamente construída.

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Demais livros de Simone de Beauvoir

Além de O Segundo Sexo, a filósofa deixou uma vasta obra escrita, contendo romances, ensaios, uma peça de teatro e textos autobiográficos. Confira a seguir um breve resumo de outras de suas principais publicações.

OBRA RESUMO DA OBRA ANO DE PUBLICAÇÃO
Memórias de uma Moça Bem Comportada Autobiografia que aborda os primeiros anos de sua vida, da infância à juventude. 1958
Todos os Homens são Mortais Romance filosófico que explora questões sobre o tempo, o sentido da vida e a busca pela imortalidade. 1946
Os Mandarins Romance vencedor do prêmio Goncourt que mostra um grupo de intelectuais em busca de recompor suas vidas no pós-Segunda Guerra 1954
A Velhice Ensaio que reflete sobre o processo de envelhecimento e suas implicações sociais e psicológicas 1970


Áreas do Conhecimento e Contribuições de Simone de Beauvoir

Simone de Beauvoir desenvolveu um trabalho interdisciplinar, que cruzou as fronteiras da filosofia, sociologia, literatura e feminismo. Sua contribuição principal reside em sua análise da liberdade individual e da opressão social, especialmente no que se refere às mulheres.

As principais áreas de estudo de Simone de Beauvoir incluem:

  • Filosofia Existencialista: ao lado de Jean-Paul Sartre, ela contribuiu significativamente para esta corrente filosófica, especialmente no aprofundamento de ideias sobre liberdade, responsabilidade individual e construção do significado da vida.
  • Feminismo: O feminismo foi uma das principais áreas de estudo e ativismo de Simone de Beauvoir. O Segundo Sexo marcou o início de uma nova era no pensamento feminista, ao sugerir que a opressão das mulheres não era natural, mas socialmente construída.
  • Ética e Moral: ele propõe uma ética existencialista em seu livro A Moral da Ambiguidade, onde rejeita a ideia de uma moral absoluta e acredita na ação responsável, reconhecendo as ambiguidades da vida e a necessidade de construir relações justas a partir da responsabilidade nas ações.
  • Literatura: ela escreveu romances e suas próprias memórias, usando a escrita criativa para falar sobre questões existenciais, feministas e éticas.
  • Política: escreveu ensaios filosóficos e políticos, que trazem à tona o contexto das lutas por liberdade e justiça no século XX. O romance O Sangue dos Outros, de 1945, mostra como as decisões políticas afetam os indivíduos e a coletividade , especialmente em tempos de guerra.


Linhas de Pensamento de Simone de Beauvoir

Principais Ideias e Conceitos

Beauvoir construiu uma obra que abarcou diversas ideias e conceitos filosóficos. Mas, a liberdade individual, o feminismo e o existencialismo estão entre seus temas centrais. Suas obras questionam como as pessoas, especialmente as mulheres, podem conquistar essa liberdade ao desafiar as normas sociais. Sua obra critica a redução das mulheres a meros objetos e propõe uma nova visão de mundo, onde a mulher é um sujeito livre para definir seu próprio destino.

Influência e Relevância no Mundo

As ideias de Simone de Beauvoir tiveram um impacto profundo no movimento feminista mundial, especialmente na segunda onda do feminismo com seu livro O Segundo Sexo. Essa segunda fase do movimento feminista, que começou em 1960 e foi até 1970, ficou marcada pela luta pelos direitos das mulheres pela igualdade sexual, social e reprodutiva.

Ela influenciou gerações de pensadores e ativistas, como Betty Friedan e Gloria Steinem, nos Estados Unidos. Seu trabalho ajudou a articular as demandas dos movimentos feministas no mundo, que começaram a questionar as formas de opressão vivenciadas pelas mulheres em diferentes sociedades.

Além de influenciar o feminismo, Simone de Beauvoir também foi influenciada por outros pensadores e escritores. Sua influência mais óbvia é o filósofo Jean-Paul Sartre, principal nome do existencialismo. Além dele, a fenomenologia de Edmund Husserl também está entre suas referências. Outro pensador com quem Simone de Beauvoir manteve contato foi o médico Frantz Fanon, que manteve um forte engajamento com as questões relacionadas ao racismo e ao colonialismo. Ela também era muito fã de Virginia Woolf, chegou a ler todos os seus livros e a considerava uma grande influência intelectual.

Impacto e Legado de Simone de Beauvoir

Simone de Beauvoir é uma pensadora cujo impacto transcende sua época. De Paris ao resto do mundo, suas ideias permanecem poderosas, influenciando tanto a academia quanto os movimentos sociais. A contribuição de Beauvoir vai além do feminismo, ela também questionou as estruturas de poder, a condição humana e a moralidade. Deixou um legado transformador, tanto na filosofia quanto na literatura.

Perguntas Frequentes sobre Simone de Beauvoir

O que é existencialismo para Simone de Beauvoir?

Para Beauvoir, o existencialismo é uma filosofia que coloca a liberdade individual e a responsabilidade no centro da experiência humana.

Como Simone de Beauvoir enxerga a velhice?

Beauvoir descreveu a velhice como uma fase da vida marcada pela marginalização e invisibilidade, tema que explorou profundamente em seu livro A Velhice. Sua análise da velhice foi inovadora ao destacar como o envelhecimento pode se transformar em mais uma forma de opressão, sobretudo para as mulheres, que enfrentam uma dupla marginalização: como mulheres e como idosas.






Referências

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/07/05/cultura/1562337766_757567.html

https://www.fflch.usp.br/113381

https://revistacult.uol.com.br/home/pensamento-filosofico-feminista-de-beauvoir/

https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2018/01/5-reflexoes-para-entender-o-pensamento-de-simone-de-beauvoir.html

https://www.bbc.com/portuguese/geral-47380084



Mais informações
Nascimento:
1908 - 1986
Escolas
Existencialismo, Feminismo
Abordagem:
Direitos das Mulheres, Gênero e Existência
Épocas:

Perguntas frequentes

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